quarta-feira, 4 de abril de 2018

Jesus está a sair caro

"No jogo de Braga o principal problema de Jesus chamou-se Abel Ferreira, um treinador da nova geração e a quem ainda não conseguiu ganhar.

Na conferência de imprensa que se seguiu ao Braga - Sporting uma jornalista perguntou a Jorge Jesus se tinha condições para continuar no cargo. O treinador, obviamente, não gostou, mas teve a resposta célere, precisa e concisa: claro que sim, há mais um ano de contrato para cumprir.
Ponto, como costuma dizer o presidente do clube, o qual ficou desde já informado que se lhe passar pela cabeça eventual alteração no comando técnico do plantel profissional deverá ter o cuidado de agarrar-se a uma máquina calculadora e avaliar quanto é que isso poderá custar-lhe. Seguramente muito, quer Jesus fique, pela exorbitância que aufere, quer saia, pela milionária indemnização a que terá direito.
Ou seja, Bruno de Carvalho parece refém de uma situação cuja complexidade é evidente. A não ser que as metas traçadas pelo treinador como chegar à final da Liga Europa e da Taça de Portugal se transformem em vencer a Liga Europa e a Taça da Portugal, ou uma delas. Ou, ainda, no pior dos cenários, recuperar o segundo lugar e tentar o acesso à Liga dos Campeões.
Deve sublinhar-se, no entanto, que Jesus tão só procura salvaguardar a sua posição. Se há responsabilidades pelo elevado volume de dinheiro em equação, mesmo sem conquistas reluzentes, devem atribuir-se a quem resolveu melhorar e prolongar a relação contratual, partindo-se do princípio que essa medida coube, em última instância, ao presidente.

Até entrar no Benfica, e já com vinte anos de carreira, Jesus nenhum título registava no seu currículo, sendo irrecusável, pois, que essa contratação derivou de uma conjuntura muito especial.
Luís Filipe Vieira, confrontado com experiências anteriores mal sucedidas, viu-se obrigado a chegar-se à frente no controlo próximo do futebol e dar a cara pela mudança com vista a recolocar a águia na rota do sucesso.
Depois de seis anos na Luz, porém, com três campeonatos nacionais vencidos e três perdidos, continuo a defender que, nas mesmas condições de trabalho e com igual investimento no fortalecimento do plantel, qualquer outro treinador sem ser sobredotado, apenas com a competência necessária, teria erigido empreitada idêntica ou superior.
Sem retirar valor ao trabalho de Jesus, a verdade é que ainda hoje não consigo descortinar as proezas que muitos identificaram e identificam com uma profusão que me admira.
Verifico, isso sim, que o Benfica fez dele um treinador campeão e... ricamente pago, com base em suposição nunca confirmada.

Quando se deu a viagem para o outro lado da Segunda Circular, aplaudida em Alvalade e chorada na Luz, com os excessos naturais de ambos os lados, na festa e na lamúria, aleitei neste espaço para questões mal esclarecidas: sendo Jesus um treinador de duas faces, com 50 por cento de eficácia ao serviço da águia em matéria de campeonatos, qual delas o Sporting escolhera, a do Jesus ganhador ou do Jesus perdedor? Por outro lado, alguma pesquisa fora desenvolvida no sentido de investigar por que milagre, depois de três anos a fracassar e em 2013, com tudo em cacos, se escutou gigantesco clamor pelo seu despedimento, mesmo assim, diria contra tudo e todos, Vieira segurou-o e ele voltou a ser campeão. Com sacrifício da estrutura de apoio e... mais esforço financeiro, mas voltou.
Acredito que o presidente leonino não tenha sido devidamente informado. Contaram-lhe apenas uma parte da história, o lado bom, ocultando o que não interessava. Por isso, compreendo mal que ao fim de quase três temporadas de promessas não concretizadas haja entre a família do leão quem veja na contratação de Jesus apenas e só um tiro certeiro e devastador nas ambições do vizinho, sem admitir, sequer, que talvez lhe tenha resolvido um problema: «Jesus saiu da Luz e o Benfica foi campeão sem ele; Jesus entrou em Alvalade e, já em terceira época, o Sporting ainda não foi campeão com ele» (A Bola de 9 de Janeiro de 2018, pág. 37).

No intenso e interessante jogo de Braga o principal problema de Jesus chamou-se Abel Ferreira, um treinador de nova geração, que pensa de maneira diferente e a quem ele ainda não conseguiu ganhar.
Nas três ocasiões em que se defrontaram, além da vitória no último sábado, Abel ganhou (1-0) e empatou (2-2) em Alvalade. Em termos de pontos dá sete a um.
O resultado do último sábado só causa estranheza a distraídos ou a facciosos empedernidos. Jesus pode queixar-se da expulsão de Piccini e da influência que ela teve na decisão do jogo, mas afirmar que «atraiçoou a equipa» é inaceitável e aproveitamento deselegante para colocar o ónus na intervenção irreflectida de um seu jogador.
Nada que espante também. É assim que pensa: ganha ele, perdem os jogadores."

Fernando Guerra, in A Bola

Vamos passar das palavras aos actos?

"Comité Olímpico de Portugal (COP), Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Direcção da Liga, Sindicato de Jogadores, APAF e Governo estão de acordo numa coisa: o estado de demência em que vive o futebol português não pode continuar. Porque, por um lado, fere de morte esta indústria e, por outro e mais importante, configura um retrocesso civilizacional e uma ameaça à segurança que a sociedade não pode tolerar. A natureza do futebol é ser um meio de vida, um espaço de festa e alegria, baseado em paixões que tornem as pessoas melhores e não o contrário.
Por tudo o que foi possível ver ao longo do último ano, não será crível que os pirómanos de serviço - uns por dever de ofício, outros por maneira de ser e outros ainda em nome de uma linha estratégica - sejam sensíveis a qualquer chamamento à razão. Daí que, para que possamos contar com uma alteração de paradigma, os regulamentos precisem de ser alterados, no sentido do que disseram ontem na Assembleia da República os presidentes da FPF, do COP e o secretário de Estado da Juventude e Desporto. Dura lex, sed lex, sanções que realmente sejam dissuasoras para quem teimar na política de terra queimada e uma nova abordagem à questão das claques, que seja eficaz e regule o que anda à solta sem rei nem roque. Corajosas as palavras de José Manuel Constantino, presidente do COP, a este propósito: «Tratar os líderes das claques como uma espécie de parceiros sociais, respeitáveis cidadãos, os quais há que ouvir, é qualquer coisa que choca para quem tenha da vida em sociedade valores e princípios cujo limite, se ultrapassados, nos desqualificam»."

José Manuel Delgado, in A Bola

A garra da águia no penta

"Benfica favorito a seis jornadas do fim: vitória sobre o FC Porto na Luz praticamente garante título. Braga melhor que FCP e SCP na segunda volta.

O colapso do FC Porto em Belém deixou o Benfica na liderança a seis jornadas do fim, numa posição de favoritismo ao título que ainda não tinha tido nesta temporada. Nunca como agora o penta pareceu tão palpável: a águia já tem as garras em cima dele. Partindo do princípio que Benfica (em Setúbal) e FCP (Aves, em casa) vencem na próxima jornada, o jogo do título, dia 15, na Luz, ganha ainda mais relevância. Ao FC Porto deixou de bastar o empate: só a vitória interessa. Ao Benfica, mais do que nunca, convirá a vitória para abrir vantagem de 4 pontos (que são 5) e afastar o incómodo espectro de ter de pontuar em Alvalade na penúltima jornada. É um facto que o clássico com o FCP na nova Luz tem sido um trauma para os benfiquistas (apenas 3 vitórias contra 5 derrotas e 5 empates), mas nunca como neste momento se percebeu tão nitidamente a grande vantagem do Benfica sobre os rivais (além do calendário muito mais desafogado): os jogadores do Benfica têm hábitos e cultura de vitória solidamente enraizados. São combatíveis e não desanimam com facilidade. Só assim se compreende não terem entrado em pânico em finais de Dezembro, quando tudo apontava para um fiasco monumental. Afastados de todas as competições a eliminar e deprimidos com o desastre de magnitude inédita na Champions (foram a única das 80 equipas presentes na fase regular das competições europeias que não conseguiu fazer qualquer ponto!), os benfiquistas fizeram das fraquezas forças para não se atrasarem irremediavelmente na única frente que lhes restava, o campeonato. Conseguiram resistir, beneficiando, é certo (mas isso também vale para os outros dois) da perturbante falta de competitividade do futebol doméstico. De resto, Rui Vitória nenhuma culpa tem da falta de estofo dos adversários directos. Sérgio Conceição parece estar a quebrar na recta decisiva como aconteceu a Nuno na época passada, e Jorge Jesus lidera a quarta pior equipa da segunda volta: o Sporting soma 22 pontos (golos: 15-8), contra 25 pontos do FCP (golos: 25-7), 27 do SC Braga (golos: 29-9) e 31 do Benfica (35-5). Vitória tem feito o seu trabalho com tanta eficácia que nesta segunda volta o Benfica só perdeu num jogo (Estádio do Restelo, 1-1)...

Sporting: 14 dias críticos
Entre o jogo de amanhã no Wanda Metropolitano e a recepção ao FC Porto para a decisiva 2.ª mão da meia-final em Alvalade), o Sporting joga a época. Quer dizer, a definição da época: excelente, suficientemente boa ou fiasco. Será excelente se os leões ganharem a Liga Europa e a Taça de Portugal, a juntar à Taça da Liga ganha em Braga. Será um fiasco caso o Sporting, com o plantel mais forte e mais caro dos últimos largos anos, seja eliminado pelo Atlético de Madrid e pelo FC Porto e apresente a vitoria na Taça da Liga (conseguida sem particular brilhantismo, lembre-se: uma vitória em cinco jogos...) como único retorno de investimento de 60 milhões de reforço do plantel. Amanhã começa um ciclo de 14 dias críticos que poderão adiar - ou não - para finais de Maio o balanço da terceira temporada de Jorge Jesus em Alvalade. Tarefa nada fácil. Atlético de Madrid é grande da Europa... e Sérgio tem-se dado bem com Jesus, embora seja difícil prever o estado anímico portista quando se quando se apresentar em Alvalade... três dias depois do jogo do título na Luz. Para já, o que se pode afirmar é que o Sporting está longe do objectivo principal (campeonato) e da qualificação para a Champions. Sem surpresa: a equipa não tem mostrado futebol digno de candidato a campeão. Falta-lhe fluidez, continuidade, autoridades... e eficiência; sobram desculpas, algumas delas muito estafadas; mas Jesus ainda pode terminar a época em glória se ganhar a final europeia de Lyon (16 de Maio) e a do Jamor, quatro dias depois. Sabe o leitor quantas vezes o Sporting ganhou três competições na mesma época? Nunca! Pois...

FC Porto: 4 dias críticos
As más notícias para o portismo é que a equipa, à semelhança do que aconteceu na época passada com Nuno Espírito Santo, está a acusar falta de estofo (traduzido em muita ansiedades, nervosismo, precipitação...) na hora H. É má altura para tremedeiras: no horizonte já se avista a final de dia 15 no Estádio da Luz (30.ª jornada) e a visita a Alvalade, 3 dias depois (18), para a decisiva 2.ª mão da meia-final da Taça de Portugal. Ou seja, nestes quatro dias o FC Porto joga muito provavelmente a época. Quer dizer, a definição da época: excelente, muito boa, suficientemente boa ou fiasco. Será excelente se o FCP ganhar o campeonato e a Taça de Portugal. Será muito boa se ganhar o campeonato, pondo ponto final a jejum de quatro anos. Será suficientemente boa se, mesmo perdendo o campeonato (o que será sempre uma enorme desilusão, tendo em conta a vantagem que chegou a ter sobre o Benfica...) eliminar o Sporting e ganhar no Jamor. A temporada portista será um fiasco se houver desaire no campeonato e na Taça de Portugal (a juntar ao falhanço na Taça da Liga). Lembro que em 19 de Maio próximo passarão cinco anos exactos sobre o último título do FCP - o campeonato de Kelvin.
(...)"

André Pipa, in A Bola

Vamos mas é cortar fitas

"Há qualquer coisa de penoso quando futebol e a política se misturam, como ontem aconteceu na Assembleia da República. O futebol, até pelo papel de destaque que tem na sociedade portuguesa, deveria ser alvo de um apertado controlo das autoridades judiciais e legislativas, mas o que se vê é sucessivos Governos a atirar para o ar pífios manifestos de intenções e a deixar tudo numa gaveta bem fundo e escondida, de preferência numa subcave.
Não sei se mexer no futebol, correndo com isso o risco de desagradar a meia dúzia de clubes e alguns milhões de adeptos, custa popularidade ou votos. Um dos poucos exemplos conhecidos foi o de Rui Rio, que até ganhou a Câmara Municipal do Porto em três eleições, mesmo em guerra declarada com o presidente do clube mais representativo da cidade, o FC Porto. O que prova que, se calhar, os futebóis ficam mesmo à porta das mesas de voto.
Ontem, na Assembleia da República, assistimos a intervenções importantes, algumas boas ideias, mas hoje é um novo dia. O que, neste caso, é o mesmo que dizer que hoje é um dia como qualquer outro anterior - vai continuar a gritaria, o clima de suspeição e a violência, verbal ou até física. Pelo meio, algum secretário de Estado surgirá num evento público para cortar umas fitas muito importantes e garantirá, com uma cara muito séria, que o Governo "está atento" ao futebol.
Não sei como o Governo, ou a Assembleia da República, poderia meter a mão no futebol. O que sei é que dias como o de ontem pouco ou nada irão mudar."

A ’’Primavera‘‘ da disciplina de ’’motricidade humana‘‘

"É pena que a “Comunicação Social” não tenha jornalistas especializados no Fenómeno Desportivo, que não tem nada a ver com Futebol Espectáculo

O “Correio da Manhã” de 20/03/18, data em que entrou a Primavera de 2018, anuncia na pág. 22, em letras enormes, que a “Educação Física”, vs. “Motricidade Humana” vs. “Cinesiologia”, (este é o nome, no futuro), vai passar a contar para a entrada na Universidade.
É de facto triste que, passados 78 anos da criação da 1ª Escola Superior de “Educação Física” (Cinesiologia), do Estado, seja notícia bombástica, o que significa duas coisas: primeiro, que Portugal ainda é um país muito atrasado e que se enquadra, perfeitamente, no ambiente em que George Balandier, apelidava de “Terceiro Mundo”; segundo, que seja notícia de 1ª página aquilo , que, desde sempre, devia ser, uma coisa perfeitamente natural, aparecer agora como um fenómeno excepcional, e quase sobre-natural, o que só coloca mal o Ministério da Educação, ou melhor, a sua Equipa Dirigente, pois, segundo o “C.M.”, ainda não é garantido, que a medida avance, desde já.
Em 2012, com Nuno Crato, aquela “disciplina”, deixou de contar para a média de acesso ao Ensino Superior, o que só prova que ainda é possível haver governantes políticos, no Ministério da Educação, com esta mentalidade tão retrógrada, que ficariam “bem”, na fotografia dos anos “30”, do século passado.
Para ser sociólogo, não basta estudar Sociologia, é preciso muito mais que isso, e nós tivemos a sorte de termos sido incentivados para esta área, pela mão de um verdadeiro cientista das coisas sociais, nosso colega numa Instituição de Ensino Superior, de seu nome Sedas Nunes, que nos disse que “até nas barracas de madeira, no passeio do Campo Grande, se fazia e ensinava Sociologia, e o que era importante era ensinar as pessoas a pensar, e tudo o resto surgiria de forma natural”. Com ele aprendemos, nos anos 60, que Sociólogos há poucos, sociologistas há muitos, a diferença é que estes últimos trabalham em Sociologia, servindo-se das ideias dos outros, enquanto que os Sociólogos criam Sociologia, acrescentam qualquer coisa, têm ideias próprias, são uma mais valia para a sociedade, pois podem ajudar a projectar o futuro, através de uma visão prospectiva, que conseguem ter, fruto do conhecimento do passado (História), e das vivências do presente.
Daqui que a Doutora Filomena Mónica seja uma referência no conhecimento, na inteligência, no espírito livre, de ideias próprias, e uma mais valia para a sociedade portuguesa, pois esteve sempre, à frente, levando meio século de avanço, no campo das ideias.
Já opinámos que é absurdo, em nossa opinião, não ser a Universidade a escolher directamente os seus futuros alunos, através de um exame de admissão, próprio, aliás como era no passado, e não está provado que os actuais “licenciados” de Bolonha, sejam melhores que os da “reforma anterior” (5 anos, em vez de 3 anos), pois que, alguns, até são conhecidos por “analfabetos funcionais”, ou seja, sabem ler mas não entendem aquilo que leem.
É pena que a “Comunicação Social” não tenha jornalistas especializados no Fenómeno Desportivo, que não tem nada a ver com Futebol Espectáculo, porque dessa forma entenderia para que serve a tal “Disciplina”, que a maioria da população portuguesa desconhece.
“Desenvolvimento e Adaptação Motora”, como disciplina teórica, daria aos alunos, quer do Secundário, quer das Faculdades, acompanhada de uma cadeira de Higiene Geral, a noção do que é o seu (deles) organismo, como se pode educá-lo, como é possível chegar aos 80 anos sem tomar qualquer remédio, saber qual a anatomia do corpo humano, em que condições é possível a adaptação, sem atingir uma fadiga extrema (parabiose), que pode levar à morte, qual o interesse da homeostasia, qual a importância de sermos homeotérmicos e não poiquilotérmicos, como podemos educar o movimento, o que é o estereótipo motor-dinâmico, o que é uma “dieta”, o que são aminas vitais, quantos litros de sangue temos (5 litros), o que é o síndrome geral de adaptação, etc., etc. ...
Depois de saberem isto, então percebem o que é e para que serve a dita (ainda) “Educação Física”, e percebem que não interessa nada que o Ministério da Educação perceba isto, ou não, a sociedade e os cidadãos, é que têm que saber, porque isso faz com que estejam vivos, com qualidade de vida (saúde) e com alegria e felicidade de viver e de ter conhecimento, e consciência, de que temos de ser nós a determinar o nosso futuro e não o Estado."

E assim de repente Benfica é favorito

"A seis jornadas do fim, o Benfica passa para a frente do campeonato. Agora, passa a ser, de forma algo surpreendente, o principal candidato ao título. É, apenas, como se tem provado, algo de muito teórico e muito pouco certo, mas depois de uma jornada preciosa para os benfiquistas, em que Sporting e FC Porto perderam os seus jogos, a equipa de Rui Vitória é, agora, quem tem mais pontos, menos derrotas, mais golos marcados e fica empatada com os portistas em golos sofridos. Faltando receber o FC Porto na Luz, é óbvio que deve ser agora considerada favorita ao título.
O famoso penta, que durante quase toda a época pareceu uma miragem, torna-se, assim, uma realidade possível, o que, a acontecer, daria a Rui Vitória a definitiva consagração e, talvez, o merecimento da inauguração no Estádio da Luz, de um busto como o de Béla Guttmann.
Mas é evidente que nada está adquirido. Por ninguém. Não fora o caos em que alguns desequilibrados da vida fizeram mergulhar o futebol português e este poderia ser, pois, um campeonato a ficar para ser sempre recordado como um exemplo de emoção, de dúvida até ao final e de competitividade.
Temo, porém, que esta época do futebol português possa ficar registada na memória dos portugueses por razões piores. É injusto, sobretudo, para os principais protagonistas do jogo, futebolistas e treinadores, mas é difícil esquecer esta época de pornográfica discussão, que tudo desvaloriza e quase tudo apaga.
Última justa palavra de elogio para o Belenenses. Tirou pontos ao Benfica e ao FC Porto. O Sporting ainda irá ao Restelo. Os leões que se cuidem..."

Vítor Serpa, in A Bola

Premier League

"O que em Inglaterra é uma incidência do jogo, para nós é um drama nacional.

Não é de hoje nem de ontem. A excelência do campeonato do inglês é algo que citamos com frequência inusitada. Não raras vezes, técnicos, dirigentes, comentadores ou jornalistas usam o exemplo britânico como expoente máximo do que de melhor existe no mundo do futebol. Seja porque os árbitros deixam jogar, porque os adeptos se sabem comportar ou porque os jogadores não costumam simular... o que não faltam são referências de boas práticas, regra geral usadas como medida comparativa com o futebol português. Não sendo certo que a qualidade dos árbitros ingleses seja superior à dos nossos (pelo contrário), não deixa de ser verdade que em termos financeiros, organizacionais e de interesse competitivo as coisas correm muito, muito bem por aquelas bandas.
Muito recentemente, a Sky Sports divulgou um estudo realizado pela PGMO (Professional Game Match Officials), onde constam dados estatísticos relativos às decisões dos árbitros e árbitros assistentes em jogos da Premier League. Convém passar os olhos nalguns das conclusões:
1. Cada árbitro toma, em média, 245 decisões por jogo. Na prática, o triplo do número de vezes que um jogador toca na bola, num jogo da Premier League;
2. Isso significa que, a cada 22 segundos, é tomada uma decisão;
3. De todas essas decisões, 60 são técnicas (para sinalizar pontapés de canto ou baliza, lançamentos laterais, foras de jogo, etc) e as restantes 185 são para avaliar eventuais infracções técnicas ou disciplinares;
4. 28 destas resultam numa intervenção directa e activa do árbitro (interromper o jogo e sancionar as respectivas faltas/incorrecções), sendo que as outras 157 referem-se à opção de não punir (por exemplo, decidir não assinalar um pontapé de penálti ou não advertir/expulsar um jogador);
5. Média de erros que cada árbitro comete por jogo: 2. Perante o número total de decisões que tomam, a sua taxa de acerto é de 99,2%;
6. Já os árbitros assistentes tomam cerca de 110 decisões por jogo, incluindo avaliação de foras de jogo, indicações de recomeço e apoio técnico/disciplinar ao chefe de equipa;
7. Dessas, 39 referem-se à análise de eventuais foras de jogo. No entanto, apenas uma média de 5 são sinalizadas (com a bandeira) como infracção;
8. A sua taxa de eficácia global ronda os 98%;
9. Actualmente (em 2017/18), os árbitros ingleses fazem mais sprints do que faziam há nove épocas (na verdade, mais 70%). Além disso, fazem cerca de 24 corridas de alta intensidade por jogo;
10. A média percorrida por um jogador da Premier League, nesse ritmo, é de 525 metros/jogo. No último Manchester City/Arsenal, o internacional Michael Oliver correu 936 metros em alta rotação;
11. Na Premier League, a média de sprints percorridos por um jogador é de 160m/jogo. No último Tottenham/Southampton, o juiz do encontro percorreu 290m;
12. Em 40 jogos desta época, vários árbitros e assistentes atingiram uma velocidade máxima superior a 30.3 Km/hora, registo bem superior à média dos jogadores profissionais nas mesmas partidas.
Estes são dados factuais. O problema não está na percentagem de eficácia dos árbitros, na forma como se preparam, como trabalham ou como evoluíram nos últimos anos. O problema é que, mesmo assim, erram. Lá como cá. Cá como na Coreia. Na Coreia como no Suriname. E é aí que reside a grande diferença entre o nosso futebol e o deles. Na educação, na cultura desportiva, no fair-play. No aceitar acerto e erro como uma inevitabilidade da competição. O que para eles é uma incidência de jogo, que hoje prejudica e amanhã beneficia, para nós é um drama nacional, uma cabala de alguém contra alguém. Uma verdadeira campanha orquestrada.
Enquanto não melhorarmos aí (algo que demorará séculos... se começarmos já), não há estudos, números ou estatísticas que resistam. Repisar este sentimento não é agradável, mas recordá-lo em permanência é uma das formas mais eficazes de incentivar à mudança."

Duarte Gomes, in A Bola

B ou não B, eis a questão (II)

"A semana passada dei aqui conta do cepticismo com que encaro a proposta de criação de mais um campeonato – sub-23 –, promovido pela Federação, e que implica um desinvestimento ou até o fim da participação das equipas B nas competições organizadas pela Liga.
Esta opção terá custos para o futebol português, em particular de selecções. Desde 2012, ano da criação das equipas B, as selecções de sub-21 passaram a ter um sucesso nas competições internacionais que, até então, não haviam tido. Por muitos méritos que o trabalho da Federação tenha tido, e, em particular, o de Rui Jorge (o sucessor natural de Fernando Santos), a explicação está, em importante medida, no upgrade competitivo a que os novos talentos nacionais foram sujeitos na 2ª Liga, saltando etapas formativas e ganhando maturidade.
Hoje, queria aduzir dois pontos. Um sobre a competição sub-23 em Inglaterra e outro sobre as vantagens financeiras que a equipa B tem trazido ao Benfica.
A crer no pouco que por aí se vai lendo sobre a nova competição (há alguma razão para decisões destas serem tomadas sem um debate público informado, com argumentos que possam ser discutidos racionalmente?), o campeonato sub-23 português busca inspiração na experiência inglesa, que, alegadamente, promoveu o sucesso das selecções jovens do país. Ora, a explicação para este sucesso está muito mais na aposta que, nos últimos anos, os clubes da Premier League têm feito nas academias. Sintomaticamente, como Guardiola não se tem cansado de sublinhar, a incorporação dos jovens da formação nas primeiras equipas continua difícil, muito por força de terem um contexto competitivo desinteressante, jogando em estádios vazios, em jogos de baixa intensidade física. É por isso mesmo que o catalão vem apelando à criação de equipas B para expor os talentos das academias a ambientes mais exigentes. Alternativamente, tem defendido uma política de empréstimos a clubes de outros países (será este o caminho a seguir pelos três grandes portugueses, caso acabem as equipas B).
Resta a questão financeira. Na sexta-feira, para a Aposta Tripla da SportTV+, fiz umas contas toscas e conservadoras sobre as receitas de vendas de jogadores do Benfica B desde 2012. Toscas porque assentes nos dados públicos do TransferMarkt (ou seja, não consultei os relatórios e contas); conservadoras porque considerei apenas os jogadores cujas passagens pela equipa B foram relevantes para a sua afirmação (por exemplo, deixei de fora Ederson) e não considerei empréstimos pagos, nem acréscimos ao valor da venda inicial (o que aconteceu com a ida de Bernardo para o City ou de André Gomes para o Barça). Em cinco temporadas, cheguei a 232 milhões de euros de vendas. Foi com satisfação que registei que, curiosamente, o Record de ontem dava conta do mesmo exercício feito pela Liga (com a mesma fonte) e com valores muito semelhantes. Persiste a pergunta: qual a razão para se estar a matar a galinha dos ovos de ouro do futebol português?"

O futebol no Parlamento

"É preciso que os deputados percebam que a sua lealdade não é para ser demonstrada aos clubes cuja camisola vestem em espaços de banalidades, como o dos 'biscates' na SporTV. Nem aos interesses a que ficam devedores, porque nunca há almoços grátis. A única irmandade que os deveria mobilizar seria a de um desporto com leis que não permitisse aos dirigentes comportarem-se como instigadores de muito daquilo que de mal acontece no futebol

Percebo a intenção de reflectir sobre a violência no desporto, em particular a que afecta o futebol, precisamente no espaço mais nobre da Assembleia da República. Os organizadores quiseram levar a discussão para o centro do debate político, lembrar aos agentes desportivos, como fez Fernando Gomes, presidente da FPF, no seu discurso, que são necessárias leis e regulamentos mais eficazes para combater um fenómeno que demasiadas vezes se gera no descrédito fomentado pelos próprios dirigentes e outros responsáveis. E para isso também é preciso ‘explicar’ a quem habitualmente frequenta aquele espaço, os deputados, legisladores, o que se espera deles, da sua responsabilidade e obrigação.
Não tenho a certeza de que o pessoal político tenha recebido a sua parte da mensagem, principalmente aqueles que se dedicam ao ‘biscate’ remunerado na SporTV, a pretexto de analisarem as incidências da semana futebolística. Para esses, inteligentemente repartidos por quase todos os partidos, não vá o regulador ser demasiado perspicaz a analisar a confederação no principal negócio do futebol (os direitos televisivos) dos três grandes operadores de telecomunicações, chamados a preencherem a progressiva falta de músculo financeiro do antigo monopólio de Joaquim Oliveira (reservando-lhe ainda assim um quarto do bolo), a chamada de atenção faz todo o sentido. É preciso que os deputados percebam que a sua lealdade não é para ser demonstrada aos clubes cuja camisola vestem nesses espaços de banalidades. Nem aos interesses a que ficam devedores, porque nunca há almoços grátis. A única irmandade que os deveria mobilizar seria a de um desporto com leis que não permitisse aos dirigentes comportarem-se como instigadores de muito daquilo que de mal acontece. Há bastante trabalho a fazer com o pessoal político.
Eu recordo-me de como Pinto da Costa, que inventou os petiscos com deputados na Assembleia, era recebido em delírio pelos simpatizantes e sócios do seu clube com assento no hemiciclo da República. E de como, logo depois, Benfica e Sporting não se ficaram atrás proporcionando a muitos outros representantes do Povo a possibilidade de perceberem a felicidade do “emplastro” verdadeiro, comportando-se, aliás, como tal.
Do ponto de vista de quem acompanha de fora, entendo a convocação de todos os clubes, embora, no momento actual, resulte perverso ver ali como protagonista destacado alguém que, como Bruno de Carvalho, se tem comportado como potencial rastilho de muitos problemas. Ainda estão frescas as suas lamentáveis e insultuosas intervenções na semana do recente Braga-Sporting.
Também é desanimador, mesmo que Luís Filipe Vieira se tenha mantido calado, constatar que o presidente do clube que acha que não tem claques, e por isso não as legaliza, como seria a sua obrigação, está ali como se não tivesse a responsabilidade de retirar o nome do Benfica do apoio a organizações semi-clandestinas que têm práticas violentas e pelo menos já dois mortos no cadastro. E, porque não estive lá e só vi o que a comunicação social mostrou, sempre gostaria de saber se alguém perguntou às forças policiais, ali representadas, o que fizeram perante os conflitos que se travaram há poucos dias nas instalações da Justiça, no Parque das Nações, em Lisboa. Foram aqueles desordeiros identificados, proibidos de frequentar os eventos desportivos, como aconteceria em Inglaterra ou qualquer outro país civilizado? Ou, como suspeito, vendo a habitual cumplicidade com que se conduzem as claques aos estádios, tudo se resolveu com a habitual placidez que é marca do compromisso podre e característico da sociedade portuguesa?
Não quero ser demasiado pessimista. Prefiro, ainda, acreditar que mesmo com estes protagonistas alguma coisa pode mudar. Que a lei não contemporizará eternamente com tiranetes. Que no edifício do desporto e do futebol se perderá o medo às guardas pretorianas. Só nessa altura poderemos saborear devidamente golos como os de Cristiano Ronaldo à Juventus; discutir como esta semana Vítor Pereira ganhou a Paulo Bento num excelente jogo na China; percebermos o que vale o momento divertido da conferência de imprensa conjunta entre Mourinho e Carvalhal na Premiership; descobrir o novo goleador da família Vidigal que brilha no Fortuna Sittard; e, por cá, enaltecer o profissionalismo dos jogadores do Belenenses na vitória sobre o FC Porto, que expurgou os fantasmas convocados por antecedência; desfrutarmos de uma Liga competitiva e emocionante, na qual quatro equipas ainda podem matematicamente ganhar o título, e que inaugurou o VAR, dando um grande exemplo de busca da verdade desportiva no País campeão da Europa.
Esperemos, então, melhores notícias – porque de boas intenções está o futebol português cheio."


PS: O Sr. Marcelino, mesmo depois da sua 'reforma' do Rascord, continua a sentir uma tremenda azia com o vermelho, talvez seja genético!!!

Sistema educativo e sistema desportivo

"Desporto Escolar em Portugal: A convergência, desde sempre, adiada entre sistema educativo e sistema desportivo

O desporto escolar (DE) deve ter um papel inequívoco na promoção de estilos de vida saudáveis, na formação da cidadania e no desenvolvimento de capacidades e competências. Não obstante o tema ser demasiado extenso e complexo quer na óptica da valorização social do DE, quer na das condições de desenvolvimento da actividade, o que nos preocupa é a relação, desde sempre adiada, entre o DE e o Desporto Federado (DF).
O DE integrado no plano de actividade da escola e coordenado no âmbito do sistema educativo (Decreto-Lei n.º 95/1991), abrange, para todos os alunos interessados (ensino público, particular, cooperativo), um sistema de modalidades e de práticas organizadas de modo a integrar o ensino, o treino, a recreação e a competição. Além de implementar as recomendações da OMS e da Assembleia da República (n.º 94/2013) relativas à promoção do desporto escolar e à prática desportiva, procura promover o sucesso educativo, o bem-estar dos alunos e colaborar com o desenvolvimento desportivo nacional (1).
O DE desenvolve-se em quatro níveis: nível I, actividades de continuidade dos conteúdos curriculares da disciplina de Educação Física; nível II, actividades de treino desportivo de grupos equipa e de competição desportiva; nível III, actividades de treino e competição em modalidades e grupos equipa de elevado potencial desportivo; nível IV, Centros de Formação Desportiva (CFD), que visam a melhoria do desempenho desportivo, através da concentração de recursos humanos e materiais em locais para onde possam convergir alunos de vários agrupamentos, quer nos períodos lectivos, quer em estágios.
Tendo em consideração a existência de 939.232 alunos (dados de 2016) no sistema educativo, participam nas actividades de nível I (mega sprint, corta mato e basquetebol 3x3) cerca de 8.24% do total dos alunos; nas actividades de nível II, nas diferentes fases (Campeonatos Escolares; Regionais Escolares; Nacionais Escolares e Internacionais), em 38 modalidades desportivas, cerca de 19.83% alunos (186.304); e nas actividades de nível 4 cerca de 2.4% dos alunos (2). Sendo o desporto uma actividade comum a ambos os sistemas e que pressupõe uma formação desportiva, apesar de em meios e contextos diferenciados, que implica o treino e a competição, na qual são necessários recursos humanos, logísticos, administrativos, temporais e de enquadramento que garantam as efectivas possibilidades de participação dos jovens que também são alunos, não se afigura uma atitude responsável a manutenção do deficit actual de articulação que se verifica entre o sistema desportivo e o sistema educativo, para além das iniciativas pontuais mais fruto das relações pessoais do que das institucionais.
Esta coordenação é determinante para dar resposta às recomendações da OMS e AR (1); para mitigar as consequências negativas da pirâmide demográfica invertida, criando hábitos de prática sistemática nos alunos em fase crítica de aprendizagem e não pressupõe nem a subalternização nem a balcanização de um sistema pelo outro, mas sim uma convergência de acções e partilha de recursos e de boas práticas num processo de generalização da prática desportiva em contexto escolar e associativo.
Isto num contexto actual de evidência de experiências de sucesso no âmbito de coordenação entre os dois sistemas com as Unidades de apoio ao alto rendimento escolar, UAARES, que têm resultado para o alto rendimento desportivo e sucesso académico, atestando a importância de acções desta natureza quando bem consagradas entre os dois sistemas.
A realidade é que o modelo actual, não favorece as possibilidades de desenvolvimento desta relação, apesar da desnecessidade de definir um modelo único e universal. O que deve ser equacionado é a possibilidade de enquadrar diferentes estratégias e fases de implementação que tenham como referência o contexto e a modalidade específica, tendo sempre como objectivo o aumento do número de jovens com acesso à prática desportiva, (inclusiva) e o seu devido enquadramento social, escolar e desportivo.
Este facto requer a existência de uma coordenação global, entre a Direcção Geral da Educação (DGE) e as Federações Desportivas dotadas de Utilidade Pública (FDUP), via IPDJ, que defina princípios que orientem a estruturação de projectos específicos ao nível regional e local, possibilitando a existência de configurações diferenciadas em função das realidades específicas, valorizando a coordenação entre as escolas e agrupamentos de escolas, os clubes e associações, com envolvimento efectivo de alunos e professores, atletas e treinadores numa relação próxima com as autarquias locais.  
Quadro das acções a implementar
Considerando a missão do sistema Educativo e Desportivo, devem as entidades do DE (coordenação nacional do desporto escolar, CLDE - Coordenações Locais do Desporto Escolar e as Direcções de Serviços Regionais- DSR"s) e do DF (Federações dotadas de UPD, associações desportivas e clubes) coordenar acções em três grandes sectores: i) formação de RH (Professores, técnicos desportivos e árbitros); ii) quadros competitivos; iii) projectos desportivos.
Existem acções gerais que a montante devem ser dirimidas de forma a facilitar as sinergias que garantam a eliminação de obstáculos administrativos/legais na coordenação entre os dois sistemas, nomeadamente: i) ao nível dos seguros de participação (desportivo vs. Escolar); ii) regras de restrição/promoção à participação de alunos federados nas competições de nível II e nível IV do DE, garantindo um alargamento da formação desportiva a mais alunos e a coordenação entre projectos dos centros de formação desportiva e selecções regionais do sistema desportivo; iii) sistema de contabilização dos indicadores de prática contribuindo ambos como métricas da prática desportiva nacional.
Ao nível da formação, importa desenvolver processos de formação dos professores/treinadores para acções desenvolvidas no âmbito do sistema educativo ou federado, especificamente:
Certificação de competências adquiridas em sede de formação contínua na formação inicial de treinadores para professores/treinadores de grupos equipa;
Dupla certificação no âmbito da formação contínua de professores, créditos necessários para progressão na carreira, e formação complementar para renovação da cédula de treinador desportivo; 
Alargamento da formação elementar de árbitros/alunos conjuntamente com o sistema desportivo.

Ao nível dos projectos desportivos
Estender o desporto como complemento da actividade e formação escolar das crianças no 1º ciclo E. Básico pela coordenação entre os agrupamentos de escolas verticais e o DF (clubes e associações); 
Implementar a captação e acompanhamento de crianças e jovens praticantes com talento, assente nas unidades de ensino e treino do Desporto Escolar;
Fomentar a criação de estruturas próprias de prática desportiva nas escolas, e rentabilizá-las com clubes/entidades associados ao DF (clubes e associações territoriais) envolvidas.
Ao nível dos quadros competitivos, fomentar e desenvolver a participação de equipas das escolas (DE) em quadros competitivos mistos, não só pela incorporação de grupos/equipas de nível II/III nos quadros competitivos do sistema federado e vice-versa, promovendo assim uma participação "mista" (Desporto Escolar e Desporto Federado) em idades de formação.
Todos estas acções carecem, desde logo, duma coordenação entre o DE e o DF, que passa acima de tudo pela partilha de informações, recursos humanos, logísticos e materiais devidamente faseados no tempo. Exista vontade política pois os restantes recursos necessários existem. Basta aproveitar de forma correta e convergente as cercas de 22.000 h de créditos horários assegurados pelo Ministério da Educação (Despacho 6827/2017) e a disponibilidade dos RH adstritos às FDUP."

Quão interventivos queremos que os VAR sejam?

"Até há cerca de um mês, os árbitros, quando em função de videoárbitro, tinham instruções para apenas intervir, sugerindo ao árbitro de campo a revisão de um lance, quando as imagens mostrassem inequivocamente que a decisão tomada tinha sido errada. Não intervir em lances nos quais a interpretação tivesse grande preponderância na decisão (intensidade do empurrão, lances de mão em que a intencionalidade não fosse óbvia, entre outros), era outra das recomendações.
Esta postura foi alterada, seguramente por indicações do Conselho de Arbitragem da FPF e dos seus responsáveis técnicos, no sentido de permitir aos videoárbitros passarem a intervir sempre que, na sua opinião, o árbitro de campo errasse uma decisão (prevista no protocolo). A opinião, mesmo que subjectiva, do VAR passou a ser critério justificador de intervenção deste. Até então não o era.
As consequências deste alargar de critério de intervenção dos VAR foram que os árbitros começaram mais vezes a ser chamados para rever lances e que passou para eles, árbitros de campo, a responsabilidade ou a oportunidade de poderem tomar mais vezes decisões com apoio das câmaras de televisão.
Ora, a partir do momento em que lances menos claros ou óbvios passaram a ser revistos, também as consequentes decisões passaram a ser não tão consensuais.
Para além das discussões do “por que é que o VAR não interviu?”, que existiram desde o início deste projecto e que se vão manter sempre, passámos a ter um novo tópico, até agora residual, que se baseia no “porque é que o VAR chamou o árbitro neste lance? E como é que o árbitro, a ver as imagens, conseguiu errar a decisão?!”.
Presos por ter cão e presos por não ter. Previsível.
Nos lances enquadráveis no que acima referi, o que envolveu Gelson Martins e Paulinho, resultando na anulação de um golo ao Sp. Braga no jogo deste fim-de-semana com o Sporting, é aquele de que mais se fala no momento. Descrever o lance é fácil: Gelson Martins tinha a posse de bola e Paulinho esticou a perna não conseguindo tocar nesta. O jogador do Sporting caiu, o Sp. Braga recuperou a bola e a jogada resultou em golo na baliza de Rui Patrício. Luís Godinho entendeu, num primeiro momento, que não houve qualquer falta tendo, inclusive, feito sinal para que Gelson se levantasse. O videoárbitro, o internacional João Pinheiro, ao rever as imagens de toda a jogada, terá entendido que Gelson foi tocado no joelho pela biqueira de Paulinho. Chamou o árbitro que, após visionar as mesmas imagens, concordou com o seu colega anulando o golo e assinalando a falta.
Lance discutível. Muito discutível.
A minha opinião é de que houve mesmo toque no joelho de Gelson. Baseio-me nas imagens televisivas que, não mostrando objectivamente o contacto, mostram uma deflexão repentina do pé de Paulinho aquando da passagem do joelho pela zona da biqueira da bota do jogador do Sp. Braga. A meu ver, não me parece real que aquela movimentação repentina do pé fosse possível sem que existisse algum contacto. É uma leitura rebuscada? É. É a minha opinião? É.
Por norma aceito muito facilmente que haja opiniões divergentes da minha. Neste caso em particular, e pela pouca clareza do lance, percebo ainda melhor essas discordâncias. Como tantas vezes aconteceu, desde 1863, uns vão ficar com uma razão e outros com a sua outra razão. É o futebol.
A pergunta que pode resultar deste lance e sobre a qual todos devemos reflectir é “Quão interventivos queremos que os videoárbitros sejam?”. Já agora, que depois de respondermos a esta questão, sejamos capazes de lidar com as consequências dessa solução."


PS: A resposta é fácil! As decisões do árbitro, só devem ser alteradas, se a prova em imagens for inequívoca... simples! Portanto, a leitura rebuscada do lance, é sinal que as imagens não são evidentes... Portanto, a decisão do Godinho, foi errada! Simples...

(...) explica a relação entre árbitro e videoárbitro: quem decide o quê, como, porquê e quando

"Este é mais um artigo sobre árbitros e videoárbitros.
O que me proponho hoje, aqui e agora, é (tentar) explicar ao caro leitor quem decide o quê, como, porquê e quando.
É que os 'quandos' também são importantes: quando é que os árbitros devem (ou não) consultar os écrans, quando é que devem (ou não) aceitar a recomendação do VAR, quando é que devem (ou não) manter a decisão inicial. Quando, quando, quando.
Demasiadas perguntas, muitas dúvidas, várias interrogações. Como sempre acontece em tudo o que é novidade impactante. Em alterações estruturantes num actividade importante.
Então vamos a isso, com a maior simplicidade e ligeireza possível...
1. Os árbitros tomam as decisões (de punir ou não punir determinados lances) com base na percepção que têm deles, à primeira. Até aqui tudo certo. Nada de novo.
2. Se o lance em questão for um dos quatro previstos no Protocolo, o VAR deve fazer sempre uma validação (em silêncio) daquela decisão. Se, na sua opinião, ela foi correta, não diz nada. Se, pelo contrário, entende que ela foi errada, informa o seu colega de campo.
3. O árbitro sabe que há sempre "revisão silenciosa" daquele tipo de lances, por isso nunca deve permitir que o jogo recomece (após a interrupção seguinte) sem ter do VAR o respectivo "ok".
4. Até há pouco tempo, as instruções dos Videoárbitros era para que houvesse rigor absoluto na regra do "erro claro e evidente". Ou seja, só deviam informar o árbitro que um daqueles quatro lances poderia estar mal decidido se as imagens o comprovassem de forma óbvia e inequívoca.
Há umas jornadas para cá, a prática mostrou que havia demasiada inflexibilidade nessa intervenção. Os VAR passaram então a recomendar a alteração (ou o visionamento) de determinado lance desde que, na sua opinião, pudesse haver erro de análise/avaliação do árbitro, em campo.
5. É por esse motivo que, ultimamente, temos visto os árbitros a recorrerem mais vezes às imagens que estão junto ao relvado.
6. O princípio mantém-se, no que diz respeito à opção de ver o lance ou de aceitar, de imediato, a indicação do VAR: se o erro for claro, objectivo, factual... o árbitro deve evitar perder tempo em consultar os écrans: aceita logo a indicação do colega.
Se, por outro lado, o alegado erro for relativo a lance mais subjectivo (onde, por exemplo, esteja em causa a intensidade de um contacto ou a dúvida de uma mão deliberada ou não), o protocolo sugere que o árbitro reveja, ele próprio, o lance.
7. É aqui que moramos, neste momento, em matéria de vídeo-intervenção, ou seja:
- O árbitro decide no relvado;
- O VAR tem "opinião" que foi cometido um erro e informa-o;
- O árbitro aceita logo a indicação se esta for de lance claro e evidente (por exemplo, agressão óbvia nas suas costas ou penálti absolutamente indiscutível);
- O árbitro consulta a imagem se se tratar de jogada de interpretação ou menos objectiva.
8. No fim... a decisão é sempre só do árbitro que está no relvado.
Ele é o chefe de equipa em todos os momentos do jogo. E o VAR, seja ele quem for, tenha a categoria ou estatuto que tiver... é, naquela partida, apenas mais um dos seus assistentes.
9. Quando o árbitro consulta o écran e decide alterar a sua decisão, é porque viu imagens suficientes para considerar que cometeu um erro claro e evidente. Em tese.
Se não a alterar, das duas uma: ou entende que a sua primeira leitura estava correta... ou entende que as imagens que viu não foram suficientes para comprovar ter existido o tal "erro claro e evidente". Aí, mantém a decisão inicial. Em tese.
Feito o resumo possível daqueles que são os procedimentos formais pré-estabelecidos nesta matéria, deixo para o fim a parte mais difícil de explicar: o lado humano da coisa.
E é este, tantas vezes este, que justifica alguns dos erros de análise a que temos assistido ao longo desta época.
Percebam a mensagem sem ver nela uma tentativa de justificar enganos ou de defender o indefensável. É a minha convicção plena do que conheço, do que vivi e do que tenho assistido e analisado:
- Em campo, os árbitros (tal como os jogadores) estão em permanente stress. Stress físico (cansaço) e stress psicológico (ter que analisar a toda a hora e ter que decidir bem a todo o momento).
Quando tomam uma decisão, querem muito que ela esteja certa. Muito mesmo!
Vêem o lance numa fracção de segundos e interiorizam a sua primeira leitura como verdade absoluta. Mais do que aquilo que todos vemos nas imagens (onde a visão é o único sentido a ter em conta), eles ouvem pancadas, lêem reacções, observam expressões, sentem o lance com toda a sua experiência e com todos os seus sentidos.
Quando alguém lhes diz "cometeste um erro e tens que o corrigir", todo aquele stress, todas aquelas emoções... entram em tilt.
É como se o Tico dissesse ao Teco que ele tinha feito tudo mal. E o Teco, claro... não gosta.
É contranatura.
É algo com o qual nunca tiveram que lidar - a sua autoridade sempre foi absoluta e irrefutável - e que de repente surge como uma nova verdade mas em segunda mão.
Esta realidade colide de frente com toda a sua formatação. Com anos e anos a decidir com base na imagem dinâmica do jogo jogado. Tudo isto abana a razão. Sacode a emoção. Confunde a percepção. 
Para ajudar à festa, falta pesar ainda o valente coro de assobios, a orquestra de jogadores a dar música e a pressão tremenda de todo um mundo a querer perceber se há golo ou não, se era penálti ou não.
E no meio desse turbilhão de coisas novas, os árbitros - sempre mascarados de homens serenos, podem optar por uma de três soluções:
- Ver a imagem, constatar o erro e corrigir a decisão inicial (ou então mantê-la, se não houver evidência de lapso). Este é o cenário perfeito, que repõe a verdade desportiva.
- Ver a imagem e mesmo que ela mostre claramente algo diferente do que julgaram inicialmente, manter como certa a primeira decisão porque aquilo que estão a ver é "a sua verdade" e não a verdade que todo o mundo vê claramente.
Em psicologia, chama-se a isto entrar em negação (às vezes, os árbitros precisam de distanciar-se para finalmente reconhecerem que avaliaram mal um lance);
- Ver a imagem que não prova que erraram ou até mostra que acertaram à primeira, mas a insistência ou convicção do VAR é tal que acabam por mudar a decisão, sem base legal para o fazer. Afinal de contas, o videoárbitro está sentado, sem stress, com várias televisões à frente e tem todas as condições para ver melhor do que ele.
Aí cometem o erro de decidir não com base no que vêem mas com base no que ouvem. Confiam na percepção do colega e não na sua.
Se juntarmos a estes processos puramente psicológicos, falhas pontuais da tecnologia (áudio menos perceptível, imagens menos claras, ângulos pouco favorecidos, zooms menos nítidos, etc), talvez percebamos porque se diz que este é um processo muito mais longo e demorado do que todos nós imaginávamos.
Os árbitros estão tecnicamente bem preparados para a tecnologia. São bem acompanhados e têm apoio da estrutura a todos os níveis.
O seu maior inimigo, nesta fase de aprendizagem e de alteração radical de procedimentos e conceitos... são eles próprios. A sua humanidade. A sua natureza terrena.
Trabalhando isso, mantendo o resto e optimizando a tecnologia, a ferramenta tem tudo para ser absolutamente fantástica... e o homem terá tudo para a manusear com excelência."

Está Jesus a deixar de ser Jesus?

"Se há alguém capaz de contrariar aquele mito de que a primeira vez nunca é nada de especial é Jorge Jesus. Alguém mais fundamentado que me contradiga mas, no futebol, pelo menos, a primeira amostra de Jesus costuma ser a melhor.
Talvez porque o povo também costume dizer que não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão, não há grandes dúvidas que Jorge Jesus é mais pelas entradas com o pé direito do que pelas saídas em ombros. Mesmo que no futebol ninguém festeje um campeonato em Outubro.
É cada vez mais evidente que o Jorge Jesus de hoje já não é bem o de outros tempos. Parece esgotar-se, abaixo do esperado, diferente, menos entusiasmante. Menos Jesus, no fundo.
Não tenho grandes dúvidas que a melhor temporada de Jorge Jesus no Benfica, por exemplo, foi a primeira. O ano do rolo compressor que apanhou rivais desprevenidos e só parou no título. Trouxe ao futebol português um sistema vertiginoso, de ataque em carrossel que tornava complicada a vida a qualquer rival menos preparado para ter a bola.
Um treinador da nossa praça, por exemplo, poucos dias depois de o FC Porto de Vítor Pereira ter sido tricampeão, disse-me que, sem colocar em causa a justiça do título, para a maioria das equipas do campeonato era extremamente mais difícil travar o Benfica. Tem a ver com a intensidade que Jesus exigia à sua equipa, o que desgastava o rival e trazia, inevitavelmente, mais oportunidades. Contra equipas como o FC Porto com um bloco baixo, entreajuda e, claro, alguma sorte, era «mais possível». Palavras dele.
Ora, depois desse primeiro ano no Benfica, vieram três anos abaixo do esperado, dois anos de título novamente e a mudança para o Sporting.
E o primeiro ano no Sporting voltou a ser a todo o gás. Em dados momentos, fez lembrar o primeiro ano no Benfica, não só pelo que a equipa jogava, mas também pelo contraste. É verdade que Marco Silva tinha conquistado a Taça de Portugal e dado seguimento à aproximação do Sporting à disputa na frente que Leonardo Jardim, com menos recursos, tinha iniciado. Mas foi Jesus a voltar a colocar, verdadeiramente, o Sporting na discussão. Até ao fim.
Falhou por centímetros e o que aconteceu a seguir foi, de todo, inesperado.
Os últimos dois anos não parecem de Jorge Jesus. Mesmo nas épocas em que perdeu o título para André Villas-Boas e Vítor Pereira, em longos períodos o Benfica de Jesus mostrava réplicas do futebol do ano inaugural. No Sporting, o sismo inicial não parece ter seguimento.
O futebol de Jesus, da nota artística, do vaivém constante, da vertigem, da intensidade, dos rivais praticamente trucidados, já é quase uma recordação. A ponto de o próprio Jesus não o reconhecer: equipa italiana, disse ele sobre o Sporting. Um discípulo de Criujff a atraiçoar a doutrina em prol do resultado.
Na verdade, não fosse alguns acasos felizes, como Feira, Vila do Conde, Tondela ou as recepções a Moreirense, Sp. Braga ou V. Setúbal, e o Sporting estaria ainda mais longe do primeiro lugar. Não se trata de analisar cenários hipotéticos mas focar uma tendência.
É verdade que uma conquista da Taça de Portugal, a que se soma, sublinhe-se, a Taça da Liga, colocará a época do Sporting num patamar tépido, até porque a campanha europeia foi, até agora, satisfatória, também. Mas o futebol praticado, esse, fica a léguas do primeiro ano. Evolução, nesse campo, não houve. Já dá para concluir.
Jesus, um personagem único e verdadeiro num futebol de eufemismos e lugares comuns, está diferente. Do arranque ficaram as memórias e se é verdade que não há apenas um caminho para o sucesso, também é certo que desviar-se de uma matriz que foi sempre a sua dificulta a tarde.
Jesus está diferente. Está longe do que foi. Está, enfim, menos Jesus."

Respeito pelos jogadores

"O Sindicato dos Jogadores promoveu, a pedido dos capitães de equipa da primeira e segunda ligas, reuniões com a Liga, Federação e Secretaria de Estado da Juventude e Desporto. Acima de tudo, a iniciativa pretende marcar uma posição na defesa da classe e exigir o respeito que os profissionais de futebol merecem.
Esta acção foi tomada face ao actual clima de crispação em que o futebol português vive, destinando-se a clarificar a posição dos jogadores quanto ao repudio dos ataques individualizados, à mediatização das denúncias anónimas, à instrumentalização dos praticantes como "arma de arremesso" nas guerras clubísticas.
O momento da época desportiva que atravessamos exige ponderação e responsabilidade de todos os agentes, tendo presente que o ambiente incendiário tem afectado os jogadores na esfera profissional, pessoal e familiar, o que é absolutamente inaceitável.
Sabemos que o problema, sobre o qual o governo e as entidades que tutelam o futebol não conseguiram actuar eficazmente até aqui, não tem resposta fácil ou unilateral. Exige compromissos políticos, traduzidos em medidas preventivas e educativas, eventuais alterações regulamentares ou propostas de alteração legislativa, uma maior eficácia no exercício das competências disciplinares e criminais, bem como uma actuação dos media que valorize o futebol, pela positiva.
Nesta fase decisiva da época desportiva, faço um apelo aos dirigentes para que respeitem os jogadores, escusando-se de comentários públicos que coloquem em causa a sua dignidade e impossibilitem a defesa do seu bom nome e reputação."