quarta-feira, 4 de abril de 2018

A garra da águia no penta

"Benfica favorito a seis jornadas do fim: vitória sobre o FC Porto na Luz praticamente garante título. Braga melhor que FCP e SCP na segunda volta.

O colapso do FC Porto em Belém deixou o Benfica na liderança a seis jornadas do fim, numa posição de favoritismo ao título que ainda não tinha tido nesta temporada. Nunca como agora o penta pareceu tão palpável: a águia já tem as garras em cima dele. Partindo do princípio que Benfica (em Setúbal) e FCP (Aves, em casa) vencem na próxima jornada, o jogo do título, dia 15, na Luz, ganha ainda mais relevância. Ao FC Porto deixou de bastar o empate: só a vitória interessa. Ao Benfica, mais do que nunca, convirá a vitória para abrir vantagem de 4 pontos (que são 5) e afastar o incómodo espectro de ter de pontuar em Alvalade na penúltima jornada. É um facto que o clássico com o FCP na nova Luz tem sido um trauma para os benfiquistas (apenas 3 vitórias contra 5 derrotas e 5 empates), mas nunca como neste momento se percebeu tão nitidamente a grande vantagem do Benfica sobre os rivais (além do calendário muito mais desafogado): os jogadores do Benfica têm hábitos e cultura de vitória solidamente enraizados. São combatíveis e não desanimam com facilidade. Só assim se compreende não terem entrado em pânico em finais de Dezembro, quando tudo apontava para um fiasco monumental. Afastados de todas as competições a eliminar e deprimidos com o desastre de magnitude inédita na Champions (foram a única das 80 equipas presentes na fase regular das competições europeias que não conseguiu fazer qualquer ponto!), os benfiquistas fizeram das fraquezas forças para não se atrasarem irremediavelmente na única frente que lhes restava, o campeonato. Conseguiram resistir, beneficiando, é certo (mas isso também vale para os outros dois) da perturbante falta de competitividade do futebol doméstico. De resto, Rui Vitória nenhuma culpa tem da falta de estofo dos adversários directos. Sérgio Conceição parece estar a quebrar na recta decisiva como aconteceu a Nuno na época passada, e Jorge Jesus lidera a quarta pior equipa da segunda volta: o Sporting soma 22 pontos (golos: 15-8), contra 25 pontos do FCP (golos: 25-7), 27 do SC Braga (golos: 29-9) e 31 do Benfica (35-5). Vitória tem feito o seu trabalho com tanta eficácia que nesta segunda volta o Benfica só perdeu num jogo (Estádio do Restelo, 1-1)...

Sporting: 14 dias críticos
Entre o jogo de amanhã no Wanda Metropolitano e a recepção ao FC Porto para a decisiva 2.ª mão da meia-final em Alvalade), o Sporting joga a época. Quer dizer, a definição da época: excelente, suficientemente boa ou fiasco. Será excelente se os leões ganharem a Liga Europa e a Taça de Portugal, a juntar à Taça da Liga ganha em Braga. Será um fiasco caso o Sporting, com o plantel mais forte e mais caro dos últimos largos anos, seja eliminado pelo Atlético de Madrid e pelo FC Porto e apresente a vitoria na Taça da Liga (conseguida sem particular brilhantismo, lembre-se: uma vitória em cinco jogos...) como único retorno de investimento de 60 milhões de reforço do plantel. Amanhã começa um ciclo de 14 dias críticos que poderão adiar - ou não - para finais de Maio o balanço da terceira temporada de Jorge Jesus em Alvalade. Tarefa nada fácil. Atlético de Madrid é grande da Europa... e Sérgio tem-se dado bem com Jesus, embora seja difícil prever o estado anímico portista quando se quando se apresentar em Alvalade... três dias depois do jogo do título na Luz. Para já, o que se pode afirmar é que o Sporting está longe do objectivo principal (campeonato) e da qualificação para a Champions. Sem surpresa: a equipa não tem mostrado futebol digno de candidato a campeão. Falta-lhe fluidez, continuidade, autoridades... e eficiência; sobram desculpas, algumas delas muito estafadas; mas Jesus ainda pode terminar a época em glória se ganhar a final europeia de Lyon (16 de Maio) e a do Jamor, quatro dias depois. Sabe o leitor quantas vezes o Sporting ganhou três competições na mesma época? Nunca! Pois...

FC Porto: 4 dias críticos
As más notícias para o portismo é que a equipa, à semelhança do que aconteceu na época passada com Nuno Espírito Santo, está a acusar falta de estofo (traduzido em muita ansiedades, nervosismo, precipitação...) na hora H. É má altura para tremedeiras: no horizonte já se avista a final de dia 15 no Estádio da Luz (30.ª jornada) e a visita a Alvalade, 3 dias depois (18), para a decisiva 2.ª mão da meia-final da Taça de Portugal. Ou seja, nestes quatro dias o FC Porto joga muito provavelmente a época. Quer dizer, a definição da época: excelente, muito boa, suficientemente boa ou fiasco. Será excelente se o FCP ganhar o campeonato e a Taça de Portugal. Será muito boa se ganhar o campeonato, pondo ponto final a jejum de quatro anos. Será suficientemente boa se, mesmo perdendo o campeonato (o que será sempre uma enorme desilusão, tendo em conta a vantagem que chegou a ter sobre o Benfica...) eliminar o Sporting e ganhar no Jamor. A temporada portista será um fiasco se houver desaire no campeonato e na Taça de Portugal (a juntar ao falhanço na Taça da Liga). Lembro que em 19 de Maio próximo passarão cinco anos exactos sobre o último título do FCP - o campeonato de Kelvin.
(...)"

André Pipa, in A Bola

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