sábado, 31 de março de 2018

'Ícaro'

"Vi há dias o documentário Ìcaro, que há um mês venceu um óscar. É um trabalho histórico e foi previsto como experiência de dopagem na qual o realizador Bryan Fogel se assume como objecto da própria falsificação que o tornaria um ciclista mais forte - Fogel é um corredor amador (de nível alto) e comparou participações numa corrida francesa antes, ao natural, e depois, dopado. Em todo o caso, isso foi o menos, pois quis o acaso da investigação que Fogel conhecesse o químico russo Grigory Rodchenkov, criador/regulador de um esmerado sistema de dopagem alegadamente inserido em planos nacionais para tornar atletas  russos mais competitivos. Recomendo-se Ícaro, porque raramente um filme falhado, por se ter afastado da boa ideia inicial, terá sido tão comprovado, tão relevante e tão oportuno.
O resto sabe-se: Rodchenkov explanou a Fogel, entre a verdade e a ingenuidade, como tudo se accionava - desde as doses e substâncias ao contrabando de urina por aeroportos - e acabou a fugir para os EUA, onde agora benefício de programa de protecção de testemunhas.
A Rússia, pois, por estas e outras relações e relatórios (sobretudo o McLaren), foi corrida de provas olímpicas e queixa-se de ataques mentirosos, mas prepara-se para receber o Mundial. E quando se pensava que a ambiência não podia ser mais constrangedora, eis que o Reino Unido culpa os russos de assassínio de um ex-espião, promete ausência diplomática no Mundial e acusa Putin de ser um Hitler nos Jogos de 1936; consequentemente, a comunidade internacional desata e expulsar diplomatas russos. E vice-versa. Entretanto, Fogel e Rodchenkov já deram a entender, nos EUA, que têm informação que interessará à FIFA relacionada com este Mundial...
«Estamos a chegar a situação muito similar à da Guerra Fria», lamentou o secretário-geral da ONU, António Guterres. Caminhamos, no mínimo, para o Mundial frio. Dois mais frios de sempre."

Miguel Cardoso Pereira, in A Bola

O preço a que estão as bolas

"Não consta um único árbitro português de carne e osso na lista de nomeados da FIFA para o Mundial. Trata-se de uma discriminação cometida contra o país campeão da Europa? Os nossos melhores árbitros não são, certamente, piores do que os piores entre os seus colegas estrangeiros que vão estar na Rússia. Não terão os árbitros portugueses quem os defenda nos imponentes centros das decisões desta indústria global? Não, provavelmente, não têm. O facto de não haver árbitros compatriotas no próximo campeonato do mundo não deve, no entanto, ser considerado como um sintoma de desconsideração. No campo do optimismo, é um sinal do nosso progresso. Árbitros-tradicionais-jeitosos é o que mais há por toda a parte. Vídeo-árbitros-jeitosos é que são mais difíceis de encontrar. Daí haver ainda a justificadíssima esperança de a FIFA convocar dois VARs portugueses para o Mundial da Rússia. Que vão e sejam felizes são os desejos de todos os que, por cá, se entretém semanalmente a usufruir das excelências desta modernidade testada em Portugal.
O país do campeão da Europa é de extremos. Tanto se deleita com a tal modernidade que vamos agora exportar para a Rússia como se deprime com misérias impossíveis de ultrapassar. Esta jornada do campeonato arrancou na noite de 5.ª feira na Vila das Aves sob uma intempérie que alagou o campo e atrasou o início do jogo. Fenómenos meteorológicos e os decorrentes relvados impraticáveis são vulgares por esse mundo fora. Quando a bola não rola não pode haver espectáculo. O que é só nossa, mesmo só nossa, é aquela miseriazinha a que se assistiu no fim de tudo quando foi recusada a oferta da bola do jogo a Edinho, autor de 4 golos em 27 minutos. O poker do veterano avançado do Vitória de Setúbal não teve direito à tradicional recompensa esférica porque as bolas de futebol custam dinheirinho. Só pagando, Edinho. Oh, pobreza.
Com maior ou menor aparato, vai dando conta a imprensa da cobiça de emblemas estrangeiros pelos serviços de João Félix, o mais promissor jovem jogador português dos tempos que correm. É provável, vão-nos dizendo de mansinho, que João Félix não chegue a fazer sequer um jogo pela equipa principal do Benfica porque a voragem internacional em torno do seu nome poderá levá-lo da Luz já no próximo mercado de Verão. Só não lhe poderemos chamar o novo Bernardo Silva porque o actual jogador do Manchester City ainda jogou meia-dúzia de minutos na equipa de honra – era assim que se dizia antigamente – antes de embarcar para o Mónaco. Os adeptos do Benfica que se têm revelado pacientes, e até solidários com a administração, face a todos os ataques públicos e privados, oficiais e oficiosos, de que a SAD tem sido alvo, poderão muito basicamente perder a paciência se lhes for sonegado o direito de ver, pelo menos uma vez, este Félix jogar na equipa adulta do Benfica. Oh, pobreza."

Contos de fadas

"O secretário de Estado da Juventude e do Desporto quer que os dirigentes só falem das coisas boas do futebol, mas os problemas não desaparecem por magia

No clássico Peter Pan, de J. M. Barrie, a fada Sininho consegue fazer qualquer pessoa voar com os seus pós de perlimpimpim: basta que tenham pensamentos felizes. João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto, tem uma abordagem parecida em relação aos problemas do futebol português: basta que os dirigentes falem dele apenas pelas boas razões. Claro que Peter Pan é uma obra infantil enquanto o futebol português é pelo menos o que se joga fora das quatro linhas, um espectáculo apenas para adultos. A ideia de que não se deve falar dos problemas, com a esperança de que voem para longe por artes mágicas, é enternecedora, mas infantil e, por isso mesmo, irresponsável. Ora, as crianças podem ser irresponsáveis, os governantes não. Quando o primeiro-ministro fica descansado porque, por cá, ao contrário do que aconteceu na Grécia, ainda não chegámos ao ponto de ver um dirigente entrar com uma pistola no meio do campo, fica a ideia de que também ele prefere os pensamentos felizes. De resto, não é a primeira vez que um governante português não dá muito crédito aos avisos que chegam da Grécia. Claro que, para tal, é preciso ignorar que, não há assim tanto tempo como isso, um adepto morreu atropelado numa rixa, com o Ministério Público a descrever o clima entre as duas claques rivais - ou grupos de adeptos organizados - em causa como sendo de "guerra permanente". Mas é melhor não falar sobre isso. Lembrem-se: só pensamentos felizes e pós de perlimpimpim. A questão é que, com a cabeça assim enfiada na areia, não vai ser fácil voar, mas não se pode ter tudo até porque isto, definitivamente, não é um conto de fadas."


PS: O engraçado é que o cronista tem razão, mas está enganado em relação ao alvo: os criminosos que andam a minar isto tudo, são os 'patrões' do escriba!!!

Carlos Lopes primeiro português com medalha de Ouro Olímpica

"Nos Jogos da Olimpíada de 1912 que se realizaram em Estocolmo, Francisco Lázaro desistiu na prova da Maratona (publicação nestas páginas, no passado dia 8 de Janeiro). Durante quatro Jogos da Olimpíada, 1920 (Antuérpia), 1924 (Paris), 1928 (Amesterdão) e 1932 (Los Angeles) a Missão Olímpica portuguesa não teve participantes portugueses naquela prova.
Nos Jogos de Berlim (1936), Manuel Dias ficou classificado no 17º lugar (2:49:00 horas), entre 56 concorrentes e Jaime Mendes desistiu. Manuel Dias utilizou uns sapatos de ginástica, muito leves, que lhe haviam oferecido dias antes sem os experimentar e que foram fatais por se terem desfeito. Ficou com os pés em sangue e teve que trocar os sapatos por umas botas que um escuteiro da juventude hitleriana lhe cedeu a dada altura do percurso para poder terminar a prova. Em Tóquio (1964), Armando Aldegalega, alcançou o 44º lugar (2:38:02 horas) entre 68 concorrentes, para nos Jogos de Munique (1972) ter melhorado a sua posição com um 41º lugar (2:28:24 horas) entre 69 concorrentes. Nos Jogos seguintes realizados em Montreal (1976) e Moscovo (1980) o atleta Anacleto Pinto ficou respectivamente em 22º (2:18:53 horas) entre 67 concorrentes e 16º (2:17:04 horas) entre 74 concorrentes.
Carlos Lopes é um longo projeto de uma paciente e sofredora caminhada para o êxito, sendo para os jovens que sonham com a fama e a glória um grande exemplo de como se “constrói” um campeão, acabando por ser um excelente atleta no corta-mato, na pista e na estrada.
Oriundo de um grupo de amigos que gostavam de brincar e de correr, quando inicialmente fez um treino de 20 quilómetros andou três dias agarrado às paredes, para em Novembro de 1966 não ter participado numa prova em Lamego, devido a uma queimadura num pé.
A sua primeira medalha ganhou na S. Silvestre de Viseu em 1966, quando ficou em 2º lugar, para duas semanas depois ser campeão regional de corta-mato em Juniores também naquela cidade em representação do Lusitano de Vildemoinhos (criado em 14 de Agosto de 1916), para acabar em 3º lugar no campeonato nacional de corta-mato em Juniores na cidade de Évora. Com apenas três meses de treino, foi seleccionado para representar Portugal no escalão de Juniores em Marrocos na cidade de Rabat, quando da realização do Crosse das Nações nesse mesmo ano, ficando em 25º lugar. Em 1967 participa no corta-mato com um 3º lugar no Torneio de Abertura ainda como Júnior. Estreou-se em grandes competições internacionais no dia 20 de Maio de 1967, no I Marrocos – Portugal com um 3º lugar nos 10.000 metros (33:34:8 minutos) com muito calor e entre outras competições teve a primeira participação nos Campeonatos da Europa em 1971, com um modesto 33º lugar e último classificado na prova dos 10.000 metros (30:05:6 minutos), alcançando igualmente um 9º lugar na segunda eliminatória dos 3.000 metros obstáculos, com o tempo de 8:54:8 minutos.
Na sua primeira presença nos Jogos Olímpicos, em 1972 na cidade de Munique, saldou-se por uma muito discreta classificação, não passando de dois nonos lugares nas eliminatórias de 5.000 metros (14:29:6 minutos) e 10.000 metros, com o tempo de 28:53:6 minutos.
Em 1976 nos Jogos de Montreal ficou em 2º lugar na prova de 10.000 metros (27:45:17 minutos), depois de ter ganho a sua eliminatória com 28:04:53, tendo ido ao controlo antidopagem, quando o atleta classificado em primeiro lugar não foi submetido a tal, não se tendo livrado da fama de utilizar dopagem sanguínea. Teve a honra de ser o porta-bandeira da Missão Portuguesa quando a realização da cerimónia inaugural.
Nos Jogos de Los Angeles (1984), no último dia dos Jogos da 23ª Olimpíada, Cidálio Caetano e Delfim Moreira desistiram da prova da Maratona onde Carlos Lopes foi o grande vencedor no dia 12 de Agosto, entre 107 concorrentes (desistiram 30) de 59 Missões Olímpicas, numa demonstração inolvidável de quanto pode o querer e perseverança de um atleta, que, ganhando a Maratona da forma mais convincente, não se limitou a fazer uma corrida sensacional para ganhar uma medalha. Anteriormente, no dia 24 de Outubro de 1982, teve a sua primeira experiência na Maratona de Nova Iorque desistindo a 8 quilómetros do fim, porque a preparação então efectuada não dava para mais. 
Terminara uma Maratona reconhecida como melhor marca europeia de 2:08:39 horas, precisamente a 9 de Abril de 1983 em Roterdão, sendo o segundo classificado a dois segundos do australiano Rob de Castella. O andamento foi muito forte com 14:47 minutos para a légua entre os 35 e 40 quilómetros, com 6:17 minutos nos últimos 2.195 quilómetros, o que deu uma média de 2:51:7 ao quilómetro. Os recordes mundiais da Maratona foram reconhecidos pela Federação Internacional de Atletismo a partir de Janeiro de 2004. Até esta data eram reconhecidos como melhor marca mundial.
Deu então uma expressão ao melhor tempo Olímpico da Maratona, contra o tempo de 2:58:50 horas da primeira Maratona Olímpica, que tinha a distância de 40 quilómetros. A 14 de Abril de 1984 voltar a Roterdão, mas como o andamento ia muito rápido, não completou a prova a partir dos 30 quilómetros, argumentando uma lesão, mas já com o pensamento na prova de Los Angeles, pois aquela quilometragem fazia parte da sua preparação. Quinze dias antes da prova, foi atropelado quando efectuava um treino na Segunda Circular em Lisboa por um comandante da uma companhia de aviação, que por sinal era um candidato à presidência do Sporting. Ao levantar-se sentiu que conseguia correr e logo pensou que tinha a medalha ganha. Se não tinha morrido e nada tinha partido, era porque os deuses estavam com ele.
Antes da partida, dada às 17 horas (dorsal 723), estava com 46 pulsações por minuto, mas encetou uma corrida inteligente, sabendo resguardar-se o necessário sem nunca perder o contacto com o grupo da frente, Lopes resistiu bem, nos momentos críticos da corrida, aos ataques desferidos por alguns companheiros de prova que estavam dispostos a imprimir um andamento bem duro à prova na primeira légua, por intermédio dos holandeses Gerard Nijboer e Cor Lambregts que desistiram, para que depois os africanos Juna Ikangaa (Tanzânia, seria 6º com 2:11:10 horas), Kimurgor Ngeny (seria 68º com 2:37:19 horas), Joseph Nzau (Quénia, seria 7º com 2:11:28 horas) e, com menos intensidade, Gidamis Shahanga (Tanzânia, seria 22º com 2:16:27 horas), na terceira légua o atleta da Somália, Ahmed Mohamed Ismail (seria 47º com 2:23:27 horas), imprimisse um andamento louco. Os outros não se importavam, mas seguiram-no.
Entretanto, durante boa parte da corrida o campeão português, com 53 quilos, deu a sensação de pautar a sua corrida pela de Rob de Castella (seria 5º com 2:11:09 horas), atleta que a imprensa americana, conjuntamente com Alberto Salazar, um cubano naturalizado norte-americano (seria 15º com 2:14:19 horas), apontavam como os grandes favoritos à medalha de ouro, não contando por isso com a contrariedade que Carlos Lopes conseguiu impor e da maneira como o fez.
O atleta português aproveitava todas as oportunidades para se refrescar, poupando-se o mais possível, atendendo que a temperatura estava nos 29 graus e 84 por cento de humidade. Ao décimo nono quilómetro, Carlos Lopes, muito bem colocado no pelotão, numa segunda fila, atrás dos africanos, repara que Alberto Salazar começa a descolar, aparecendo Rod Dixon (Nova Zelândia, seria 10º com 2:12:57 horas) no comando por volta dos 23 quilómetros, para aos 25 quilómetros Charles Spedding (Reino Unido), assumir o comando, continuando os favoritos (já só iam 12), à parte de Alberto Salazar, no pelotão da frente, ainda compacto, mas perdendo unidade aos poucos. Aos 32 quilómetros, quando a prova verdadeiramente “começa”, eram onze os atletas que iam na frente, começando desta forma a seleção dos melhores, para aos 34 quilómetros Rob de Castella descolar desse pelotão, ficando o mesmo reduzido a sete unidades, ou seja, Charles Spedding, Carlos Lopes, Juma Ikangaa, Joseph Nzau, John Treacy (Irlanda), Takeshi So (Japão, seria 4º com 2:10:55 horas) e Toshihiko Seko (Japão), que seria 14º classificado com 2:14:13 horas. Charles Spedding, na frente, faz uns diabólicos cinco quilómetros, que deixaria marcas, mas antes já o grupo da frente estava reduzido a três atletas.
Por volta dos 35 quilómetros, outro dos favoritos, Toshihiko Seko descola, para aos 36 quilómetros ser a vez de Juma Ikangaa e Takeshi So. Aos 37 quilómetros, Joseph Nzau, luta desesperadamente para se manter no grupo, mas, a dada altura, cede mesmo e em manifesta dificuldade vai perdendo lugares, até chegar à sétima posição, com a consequente perda de mais de dois minutos nos últimos cinco quilómetros.
Ao 38º quilómetro, Carlos Lopes já ia no comando há cerca de dois minutos, impondo o seu andamento enquanto pensava: “Quem vier veio”. Observando os adversários, isolava-se com 1:54:40 hora de prova, ganhando rapidamente vantagem e não foi alcançado, tendo percorrido a légua entre os 35 e os 40 quilómetros em 14:33 minutos.
Para Carlos Lopes, os 39, 40, 41 e 42 quilómetros foram uma caminhada imparável a caminho da meta, aumentando sucessivamente o seu avanço que, quando entrou no Estádio se cifrava em cerca de 200 metros sobre os dois mais directos perseguidores, John Treacy, da Irlanda (2º com 2:09:56 horas, e Charles Spedding, do Reino Unido (3º com 2:09:58 horas), que pela insistência com que olhavam para trás, mais pareciam interessados em segurar o lugar que desse uma medalha de prata ou de bronze do que tentarem aproximar-se de Carlos Lopes, que lá na frente continuava em ritmo verdadeiramente impressionante tendo feito 14:30 minutos nos últimos cinco quilómetros.
E tão à-vontade cortou o fio da chegada às 19:09:20:42 horas, com o tempo de 2:09:21 horas e 35 segundos de vantagem de John Treacy, continuando a correr dando mais uma volta à pista, mas desta feita de consagração, aplaudido pelos mais de 90 mil espectadores do Coliseum e observado ainda por mais de dois biliões e meio de telespectadores.
Não precisou de “sprintar” para vencer a mais espectacular prova dos XX Jogos da 23ª Olimpíada da Era Moderna, a vigésima Maratona Olímpica, trazendo para Portugal, aos 37 anos de idade, a primeira medalha de Ouro e conseguindo assim, o mais alto momento do Desporto Português, quando em Portugal eram 3:10 horas da manhã. Como curiosidade, fica o registo do atleta Dieudonné Lamothe (Haiti), último classificado (78º) na prova, com o tempo de 2:52:18 horas. Carlos Lopes na sua preparação para os Jogos Olímpicos tinha feito cerca de 12 mil quilómetros, treinando muito a um ritmo de competição com temperaturas de 36 graus e 70 por cento de humidade, fazendo aquilo que mais gostava, procurando fazer sempre o melhor possível com uma preparação para chegar à meta com 200 metros de avanço. As suas características físicas e psicológicas levavam a nunca ter medo dos adversários, mas sim dos 42,195 quilómetros, como diria no fim da prova a dureza da mesma eram os 42 quilómetros do costume.
O tempo obtido pelo Campeão Olímpico Carlos Lopes durou seis Olimpíadas, tendo sido batido pelo queniano, Samuel Kamau Wanjiru com o tempo de 2:06:32 horas em 2008, nos Jogos da Olimpíada de Seoul, tempo que ainda durará pelo menos até aos próximos Jogos Olímpicos em Tóquio no ano de 2020.
No ano de 1985, no dia 20 de Abril, em Roterdão fez o melhor tempo mundial na prova da Maratona, que era desde 1984 de Steve Jones (2:08:05 horas) do Reino Unido, tendo alcançado 2:07:11 horas, quase a 20 quilómetros por hora (19,906 Km) aos 38 anos sendo o primeiro atleta do Mundo a baixar o tempo das 2 horas e 8 minutos. Com andamento regularíssimo fez cada légua entre 14:41 e 15:25 minutos, a uma média inferior a 3:01 minutos por quilómetro, tempo este que durou até ao ano de 1988, quando Belayneh Dinsamo (Etiópia) fez 2:06:50 horas.
Participou em cinco Maratonas, com duas desistências e nas três que chegou ao fim, fez em cada uma o melhor tempo Europeu, Olímpico e Mundial.
Acabamos este pequeno artigo sobre o primeiro Campeão Olímpico Português mencionando as suas Condecorações: 23 de Dezembro de 1977, Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique; 4 de Julho de 1984, Oficial da Ordem do Infante D. Henrique; 26 de Outubro de 1984, Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique; 24 de Agosto de 1985, Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique."

Que futuro para as equipas B?

"Tudo indica que a criação do campeonato sub-23, por parte da FPF, será mesmo uma realidade na próxima época, mas muitas dúvidas se levantam em relação ao futuro das equipas B. Alguns clubes parecem mesmo dispostos a acabar com as equipas secundárias e passar a competir apenas na nova prova. Seria bom pensar no eventual retrocesso que esta situação pode vir a representar, depois do impacto positivo que teve a introdução das equipas B na 2.ª Liga nos últimos 6 anos.
A criação de uma competição que possa ajudar a contornar as dificuldades que centenas de jovens jogadores portugueses sentem na transição da formação para as camadas seniores é uma ideia meritória. Faz sentido e trará certamente benefícios ao futebol português e suas equipas profissionais. Tratar-se-á de uma etapa importante na progressão dos jogadores. Mas esta prova não oferecerá o mesmo nível competitivo que a 2.ª Liga dá aos atletas que têm passado pelas equipas B, com efeitos evidentes na sua rápida evolução. E esta é uma questão central.
O presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Pedro Proença, revelou esta semana, que as transferências de jogadores que passaram pelas equipas B nacionais, desde 2012, superaram os 375 milhões de euros, um valor que não pode ser subestimado. Estamos a falar de uma média superior a 60 milhões de euros de vendas dos clubes por época.
Pedro Proença referiu ainda que as equipa B e o campeonato sub-23 são duas realidades "complementares" que podem "viver em perfeita harmonia". E há muitos treinadores a defenderem a continuidade das equipas B na 2.ª Liga, situação que não agrada a alguns clubes participantes na prova. Mas seria importante encontrar uma solução que fosse aceite por todas as partes. "Manter este espaço, sem hipotecar o de outros", disse o presidente da Liga. Uma posição sensata e acertada.
A ideia do campeonato sub-23 é algo que os ingleses adoptaram nos últimos anos, com benefícios no seu futebol de formação (as selecções jovens da Inglaterra têm estado em excelente plano, conquistando títulos), mas ainda sem o sucesso pretendido, nomeadamente ao nível da capacidade competitiva e rápida progressão dos atletas, ao ponto de muitos especialistas daquele país olharem para o modelo das equipas B portuguesas com elevado interesse. Acaba por ser caricato se acabarmos por seguir um caminho inverso.
É visível que os clubes têm tirado dividendos com a venda de atletas. E além da questão financeira, há ainda a desportiva, com muitos jovens a conseguirem-se impor nas equipas principais depois de mostrarem valor na formação secundária, como são os casos, por exemplo, de Diogo Dalot (FC Porto), Rúben Dias (Benfica), Gelson Martins (Sporting) ou Bruno Xadas (Braga), entre muitos outros.
Por seu lado, as próprias selecções jovens têm ganho com isso. E ainda esta semana, deram uma prova dessa maturidade competitiva. Os sub-21 deram a volta a uma desvantagem de 2 golos e venceram a Suíça por 2-4, liderando o grupo de apuramento para o Europeu da categoria, e os sub-19 venceram a Ronda de Elite de apuramento para o Europeu, com 3 vitórias em 3 jogos, tendo apontado 10 golos e sofrido nenhum.
O trabalho dos clubes e das selecções é notório no aproveitamento do espaço que as equipas B oferecem para a evolução das nossas jovens promessas. Há que tentar optimizar ainda mais este processo (e o campeonato sub-23 vem nesse sentido) e não prejudicar o percurso até aqui percorrido. Acabar com as equipas B pode ser um erro estratégico.
Uma Páscoa Feliz para todos os leitores de Record.

O Craque – Boa surpresa em Chaves
O mercado sérvio tem fornecido bons valores para o futebol português e foi lá que o Chaves encontrou uma das revelações do nosso campeonato. O defesa central Nikolas Maras tem sido uma boa surpresa. Com 22 anos, este internacional jovem pela Sérvia, que até já alinhou pela selecção principal, destaca-se pela estampa física e acerto defensivo, assim como pela inteligência com que consegue ler o jogo. Jogador rápido na antecipação, mostra que tem perfil para liderar uma defesa e uma margem de progressão muito interessante.

A Jogada – O jogo da jornada
O Sporting chega à próxima jornada com aspirações de chegar mais longe na tabela classificativa, tendo de ganhar os seus jogos para poder vir a tirar dividendos do Benfica-FC Porto que se aproxima. Já o Braga está numa série de 6 vitórias consecutivas na liga, praticando bom futebol e ainda pode espreitar o pódio. Tudo isto são ingredientes que fazem do Braga-Sporting de amanhã, o jogo da jornada entre duas grandes equipas. O ruído alimentado pelos dirigentes de ambos os clubes, em torno de assuntos que não deviam ser tratados em praça pública, é que era escusado.

A Dúvida – Desafios futuros
Uma exibição cinzenta frente ao Egipto, com 2 golos nos descontos, e a derrota de Portugal com a Holanda por 3-0 fez soar os alarmes da crítica. Nem 8 nem 80. A Selecção Nacional tem qualidade, mas é normal que existam coisas a melhorar e se há jogos com margem para testar e errar, é precisamente nos amigáveis de preparação. Os principais problemas parecem estar na composição do meio-campo e na falta de ligação ao ataque. Porém, sem Danilo Pereira ou William Carvalho, o seleccionador teve de encontrar soluções e a ausência de rotinas notou-se. Há tempo para corrigir? Acredito que sim."

Falta pouco para isto começar

"Até 14 de Junho é um salto. E embora ainda haja interesse nas competições relativas aos clubes, o aroma a Mundial já mexe connosco e os projectos tácticos dos vários seleccionadores das selecções estrangeiras ganham maior pertinência em vésperas de convocatórias finais.
Tanto o Brasil como a França viajaram à Rússia para tomar um aperitivo, em Moscovo e São Petersburgo, respectivamente. A ‘Sbornaya’ está devastada com a praga de lesões, com particular incidência no eixo da defesa, e Cherchesov encarou o duplo compromisso com desconfiança, tanto que perdeu os dois jogos porque a equipa não supera o estado de mediania. Porque Uruguai e Egipto são equipas boas, chegar aos "oitavos" não será um milagre para a Rússia, mas quase.
Mesmo sem Neymar, Tite sentiu a Canarinha em grande estilo e o triunfo em Berlim confirma-os num patamar de respeito, próximos das maiores potências: Alemanha e Espanha. A França ainda está num degrau abaixo dos brasileiros em termos de consistência. Prova disso foi a segunda parte descafeinada contra a Colômbia em St.Denis, quando Pekerman percebeu que tinha de bloquear a intervenção de Lemar no meio. Olho nos ‘cafeteros’…
Deschamps aceitou a falência parcial do 4-4-2 nos ‘Bleus’, reformulou o desenho táctico para enquadrar três centrocampistas no estádio do Zenit e deu ao papa-léguas M’Bappé, o novo camisola 10, a posição de ponta de lança, ladeado por Martial e Dembélé. Coman está lesionado e não foi. No Mónaco, de Jardim, M'bappé já havia jogado centrado no ataque, mas com Radamel Falcao em dupla. Sozinho no ataque é que não é tão frequente. Extremo-direito no PSG e possível avançado-centro na selecção, o prodígio de Bondy é a figura máxima do futebol francês da actualidade e destruiu Neustädter num pestanejar. Faz sentido aproximá-lo da baliza, mas importa saber como funcionará a coexistência com Griezmann, sem prejuízo da eficácia na fase defensiva, num período em que foi preterido Moussa Sissoko, anteriormente protegido por Deschamps pelo alcance tremendo na faixa direita e zona central.
Contra a Holanda e Itália, Southgate ordenou novamente a Inglaterra com os três defesas-centrais e é a partir dessa base que a equipa dos Três Leões vai tentar reinar. Ainda assim, recuperar a forma de Lallana é prioritário para a equipa ter criatividade a inventar soluções ofensivas.
A Bélgica é uma das maiores incógnitas. Tem um dos agregados mais entusiasmantes do mundo, mas daí a fazer uma equipa harmoniosa vai uma certa distância e as coisas ainda não fluem como toda a gente esperava que fluíssem. Hazard, Mertens e Lukaku formam um ataque teoricamente fabuloso, mas De Bruyne precisa de maior cobertura no meio e o equilíbrio colectivo ainda é intermitente. O entendimento entre Nainggolan e Martínez não é o melhor e não é garantido que o “ninja” da Roma aceite o estatuto de suplente, resultado do comportamento desviante fora do campo, na leitura do seleccionador.
Não dá para falar de todos neste espaço, mas atentem na intrépida selecção de Marrocos, que é mais forte do que aquilo aparenta à primeira vista. Esqueçam as falácias dos 'rankings'. Habituado às andanças do futebol africano, Renard tem sabido formar uma equipa em que alguns dos jogadores são absolutamente deslumbrantes no controlo de bola, como Ziyech, Boussoufa, Belhanda, Boufal e Harit. Benatia, da Juventus, lidera a defesa e Boutaib, o avançado, dá trabalho que se farta. O Irão tem menos recursos, mas Azmoun é mais útil na selecção do que no Rubin Kazan, ao mesmo tempo que Alireza, do AZ Alkmaar, é um dos melhores extremos-direitos da presente edição da liga holandesa.
Talvez o maior destaque mediático desta semana de jogos de selecções tenha sido a derrocada argentina no WM, em Madrid. Não foi insignificante, mas não lhe dou um relevo acentuado, em virtude das múltiplas modificações feitas por Sampaoli. Na hora da verdade, serão uma das equipas mais difíceis de ultrapassar."

Só o nosso jogo nos deve preocupar

"Rivalidade é salutar e sadia, uma graça ou picardia são até fundamentais para dar sal e pimenta, mas esta indigência é de mais

Nem em Semana Santa se conseguiu algum tempero no léxico utilizado pelos dirigentes do futebol nacional.
Confesso que as expressões utilizadas, o modo, o estilo e o conteúdo são bem mais tristes e lesivas do nosso futebol, que perder por 3-0 num jogo treino contra um bom adversário. A Argentina levou seis de uma Espanha desfalcada e irá à Rússia com uma intocável vontade de vencer.
A rivalidade é salutar e sadia, uma graça ou picardia até são fundamentais para dar o sal e pimenta sempre necessários, mas esta indigência é demais, ignora-se o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, ou o Presidente da República e os seus avisos, porque, no fundo, só se fala para os presidentes das suas claques.
Este fim de semana volta a Liga e a luta pelos pontos. O Benfica tem um adversário que foi muitas vezes de má memória, mesmo que nos lembre o jogo do último título, no ano transacto. Os 5-0 deram-nos o 36, uma vitória amanhã mostra-nos o caminho do 37.
Temos que estar focados na luz e no nosso jogo, só isso nos deve preocupar. Belém e Braga são contas de outros rosários. Sábado de aleluia, tem que ser isso mesmo, sábado de fé na ressureição da esperança, rumo ao penta. Desejamos um estádio cheio, ambiente que ajude a equipa, num jogo onde ganhar é decisivo. Mais de 60 mil é uma resposta à Benfica.
Os órgãos de comunicação social dão como possível a recuperação de Rúben Dias, e isso será uma óptima notícia. Vão ser precisos todos os melhores para vencer o Vitória de Guimarães, saído de umas eleições disputadas e sempre com a pressão de vencer.
Procurar o que queremos do jogo, e não ficar à espera que o jogo nos dê o que queremos, é a atitude à Benfica para evitar desaires.
Rui Vitória conhece como ninguém o que irá encontrar do outro lado. Neste Benfica só há margem para vencer.
Nota de merecido destaque na última semana desportiva para a prestação de João Sousa no Masters 1000 de Miami. De regresso aos bons resultados e excelentes exibições que fazem prognosticar uma segunda metade de temporada com uma ascensão no ranking ATP.
Uma Boa Páscoa para todos os leitores de A Bola."

Sílvio Cervan, in A Bola

Desaire inesperado...

Guimarães 87 - 77 Benfica
16-20, 21-19, 22-22, 28-16

Descalabro no 4.º período... contra uma equipa, com pouca rotação, é difícil encontrar explicação para esta 'branca'!!! Pelo menos ganhámos nas Perdas de Bola: 22/8 !!! Se os pontos do Robinson estão a fazer falta, o comando e a defesa do Sanders está a fazer ainda mais falta!!!
Esta é a segunda derrota em Guimarães esta época, se calhar é mesmo melhor 'emparelhar' com os Corruptos nas Meias-finais do que ir a Guimarães!!!
Continuamos lideres, mas em igualdade pontual com a Oliveirense...

Desaire esperado...

Benfica 24 - 29 Sporting
(10-12)

Já escrevi muito sobre esta equipa esta ano: estamos a falar de uma diferença de orçamentos enorme, cerca de 4 vezes menos!!! Os Lagartos com o plantel que têm, deveriam golear em todos os jogos...
Hoje, equilibramos na 1.ª parte, o arranque do 2.º tempo foi mau, e a recuperação final acabou por ficar curta...!!!
Mesmo assim, 'eles' estavam com medo!!! A dupla Nicolau/Caçador deu show!!! Uma vergonha, como já é costume... E não foi incompetência, foi premeditado...!!! O orçamento dá para tudo!!!

O máximo que podemos aspirar com algum realismo é mesmo o 2.º lugar... O mais frustrante, é que mesmo com a diferença brutal de orçamento, fica a ideia, que com 2 estrangeiros de qualidade, estaríamos na luta...

Complexado (com maiúscula)

"Em Fevereiro de 1907, o Sport Lisboa derrotou o 'invencível' Carcavellos, dos ingleses do Cabo Submarino, por 2-1, logo lhes sendo colocado, pela imprensa da época, o epíteto 'gloriosíssimo'. No verão seguinte, um jovem endinheirado, fascinado pela valentia e mestria do grupo de Belém, convenceu a quase totalidade da equipa, oferecendo melhores condições para a prática do futebol, a representar o seu clube, o Sporting. Goularde, Bragança, Cosme Damião e Félix Bermudes encontraram a fórmula para a revitalização do afamado grupo de Belém, mantendo vivas as suas cores e emblema e, pouco mais tarde, encontrando casa em Benfica, com sucesso imediato. Em 1910 e 1911 já o Benfica goleava o Sporting com regularidade. Em 1914, Artur José Pereira, à época o melhor jogador português, trocou o Benfica pelo Sporting, tornando-se o primeiro futebolista pago em Portugal.
O 'lagartismo' está bem impregnado em Bruno de Carvalho. Ou seja, a matriz genética do seu inabalável sportinguismo inclui a evidente, ainda que inconsciente, admiração pelo Benfica, embora trasvestida de desdém extremo. Nem se digna a escrever Benfica com maiúscula, apesar de vá ter vindo buscar o treinador, contratado vários ex-atletas e se inspirado para a fundação, a loja na Baixa, o museu (com a originalidade da vitrine vazia, metáfora perfeita para o Sporting das últimas décadas), o canal de televisão o kit sócio, etc.
O uso do B minúsculo arregimenta os seus pares e serve para apregoar uma suposta e delirante superioridade moral e desportiva, mas denota, sobretudo, o complexo de inferioridade em relação ao Benfica que tanto os caracteriza, martiriza e condiciona. Têm sido 'cinco anos maravilhosos', pois têm..."

João Tomaz, in O Benfica

Por nós

"Amanhã, às seis e um quarto, temos de estar lá todos. De preferência na Catedral, mas se não for possível, não deixem esta equipa sozinha. Em casa, no café, com a família, com os amigos, sozinhos no carro a ouvir o relato... tanto faz. É preciso que os Tetra-campeões sintam que nunca estão sós. Já sabemos o que andam a tentar desde o verão passado. E no verão anterior e nos anos que o antecederam. Já não há capacidade para medir o nível de azia e de frustração a que chegaram os nossos inimigos. Já não dá para usar os termos 'adversários' ou 'rivais', lamento. O ponto tão baixo a que chegaram já não permite que se usem eufemismos para caracterizar a corja que quer destruir o Sport Lisboa e Benfica. Dos corruptos aos choramingas, dos delinquentes aos amorfos que cruzam os braços perante a indecência, todos têm culpas no cartório.
Sim, aceito que os dirigentes do SL Benfica deixaram passar demasiado tempo até dar o murro na mesa. E sei que eles não me levam a mal por dizer isto. É natural que o tenham feito, porque ninguém no seu perfeito juízo poderia acreditar que se chegasse a este ponto. Não é de esperar que, num estado com regras e leis, as mesmas possam ser infringidas todos os dias, a todos as horas, para tentar deitar abaixo uma máquina de vencer. Já o disse noutros anos e volto a repetir: joguem mais, trabalhem mais, treinem mais, sejam mais e melhores, porque só assim poderão ter hipóteses de lutar connosco. Amanhã, por nós e nunca contra os outros, vamos ganhar. Estamos cada vez mais perto. Juntos."

Ricardo Santos, in O Benfica

Um adepto preocupado com a selecção nacional

"Uma característica fascinante no adepto do futebol é a facilidade com que interroga as opções do treinador. À excepção da minha mãe, estudiosa consagrada em qualquer área - médica enfermeira quando adoeço, cheffe de cozinha quando tenho fome, doméstica quando viro a cara do avesso - é raro encontrar alguém tão entendido numa temática para qual não tem formação como o adepto da bola. É certo que o futebol não é uma ciência, o que abre as portas aos treinadores de bancada. Tal como é certo que o treinador (o real) conhece os atletas melhor do que ninguém, o que deveria trancar as portas a treinadores de bancada. Como é evidente, eu pertenço ao grupo dos que avançam a porta e falam sem habilitação para o fazer. Tenho um inestimável carinho por Fernando Santos. Estar-lhe-ei eternamente grato pela quota-parte num dos momentos capitais do futebol português: a vinda de Óscar Cardozo para o Benfica. Todavia, deve referir o seguinte: recordo-me da explicação do Engenheiro ao deixar André Almeida fora de um convocatória, em 2015. 'Um dos critérios é ter jogadores de raiz nas posições', justificava. Poderia até fazer sentido, não fosse Fernando Santos o mesmo homem que ganhou um Europeu com Vieirinha (extremo de raiz) a lateral direito na fase de grupos, e esta época já chamou Ricardo Pereira (extremo de raiz) e Fábio Coentrão (ora nem mais, extremo de raiz), para alinharem como laterais. Aí não compreendo, porém, noutra posição, sou solidário. Para médio-ala, Bernardo Silva e João Mário dão garantias, mas as segundas linhas não: André Gomes e Bruno Fernandes são peixes fora de água no corredor. Contudo, não há muito por onde escolher. Se ao menos o Pizzi fosse português..."

Pedro Soares, in O Benfica