sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Ganhar, ganhar ou... ganhar

"Pela cabeça do Jonas, do Jardel ou do Rúben Dias. Pelos pés do Cervi, do Pizzi ou do Rafa. Pelo Raúl, pelo Seferovic ou num cruzamento-remate do André Almeida. Sou sincero: eu quero lá saber quem marca. Quero é ganhar.
O jogo de amanhã, em Portimão, será complicadíssimo. Não podemos facilitar. O Benfica terá pela frente uma equipa recheada de talento, não só demonstrado pelas goleadas dos dois últimos jogos (vitórias por 4-1, frente ao Rio Ave, e 3-0 nos Barreiros diante do Marítimo), mas também como comprova a movimentação do Portimonense no mercado de Inverno. Seja qual foi o adversário, o respeito e o empenho dentro de campo devem ser totais. Quando o duelo é contra um décimo classificado que até se dá ao luxo de emprestar de boa vontade um dos seus melhores jogadores ao líder do campeonato, o alerta deve ser ainda maior. O Paulinho chegou ao FC Porto e uma semana depois já era titular na Liga. Se fosse no Benfica, nada a dizer: fazendo fé nos especialistas, impera a ideia de que, dada a escassez de qualidade, qualquer reserva de um clube do CNS teria lugar no 11 de Rui Vitória. Como se trata do imparável FC Porto, fico espantado pela prontidão com que uma contratação vinda do Portimonense convence Sérgio Conceição. Imagino a satisfação com que colegas da mesma posição olham para este caso. Em prol do grupo serão, certamente, compreensivos. Não acredito mesmo nada que Óliver Torres, por exemplo, lá por ter custado 20 milhões de euros, não vá agora compreender que um atleta acabadinho de chegar - por empréstimo - de um clube do meio da tabela e nada entrosado com as dinâmicas da equipa lhe esteja a roubar espaço. Deve transpirar saúde aquele balneário."

Pedro Soares, in O Benfica

Flores pelos outros

"Hoje quando cheguei à Fundação tive uma grata surpresa!
Um sócio com mais de 80 anos e um número de cartão invejável mandou entregar na Luz um grande ramo de flores agradecendo o trabalho da Fundação em prol de crianças e jovens com 'grande orgulho benfiquista'.
No arranjo de aniversário, por entre as muitas flores, pontuavam 9 estrelas douradas. Uma por cada ano de vida da Fundação e pelo meio um bilhete pessoal com uma mensagem sentida que fechava com chave d'ouro esta surpresa.
Se fosse um acto irreflectido ou desinformado, não lhe daria esta importância, mas eu conheço o Senhor Alberto (não revelo o apelido por discrição, mas ele sabe quem é...). Sei que segue há décadas o dia a dia do Clube, nunca beneficiou directamente da Fundação e tem anos que chegam para saber das coisas importantes da vida e de tudo o que o Benfica pode fazer além do futebol...
Os meus colegas da Fundação, mais jovens que eu, ficaram igualmente impressionados, mas sem surpresa. Já estão habituados aos mimos constantes dos benfiquistas que são também adeptos do trabalho da Fundação. Algo que não se aprende na universidade e que só é possível quando o traalho social materializa a mística de um grande Clube.
Por isso, no início das suas vidas profissionais, quando ingressaram no coração da família benfiquista, não sabiam que era possível receber flores simplesmente por cumprirem o seu dever sem esperar mais em troca.
Mas no Benfica é possível, sim, e sabe muito bem!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Unidos

"1. Se ao intervalo a angústia começava a fazer-se sentir entre os mais de 53 mil benfiquistas presentes no Estádio da Luz, a segunda parte do Benfica - Rio Ave foi um verdadeiro festival de futebol e golos.
O onze encarnado regressou dos balneários com vontade férrea de ganhar, e colocou em campo um grau de intensidade, de rapidez, de versatilidade e de fluência de jogo notáveis, atributos diante dos quais dificilmente algum adversário resistirá até final da temporada.
Logo veio o empate, depois a reviravolta, a confirmação, a tranquilidade e a goleada. Foi uma delícia para quem teve o privilégio de assistir. E do outro lado estava o quinto classificado.
É com aquele espírito de união e de conquista que temos de atacar as treze jornadas que faltam. Se assim acontecer, o Penta será uma realidade.
2. Foi bonito ouvir Rui Vitória dedicar o triunfo ao nosso líder. Luís Filipe Vieira é o melhor presidente da história do Sport Lisboa e Benfica, e já demonstrou a sua seriedade em milhares de decisões que tomou em nome do clube, prestigiando-o no país e no estrangeiro, junto dos mais diversos interlocutores. Jogadores, antigos jogadores, treinadores, parceiros comerciais, entidades financeiras e agentes diversos estão aí para o confirmar.
Infelizmente, no nosso país qualquer cidadão está sujeito ao julgamento sumário nas televisões e nos jornais, à margem do que seria suposto acontecer num Estado de direito. E quando toca a Benfica, logo tempos um venenoso exército de arma apontada, aproveitando a ocasião para nos tentar atingir. Cabe-nos demonstrar que não o conseguem."

Luís Fialho, in O Benfica

O Presidente

"Vibrei imenso com o triunfo frente ao Rio Ave e, sobretudo, com a vitória dedicada a quem tudo merece - o Presidente do Sport Lisboa e Benfica. Todos percebemos que o principal objectivo dos nossos inimigos é abater o principal activo do Clube - Luís Filipe Vieira. Foi ele quem lhe restituiu credibilidade. Foi ele quem lhe conferiu idoneidade. E foi ele quem liderou o combate mais difícil - a conquista da reputação. Desde Novembro de 2003, a política do Presidente foi clara - situação regularizada perante as entidades públicas e privadas. Ao fim de 15 anos, Luís Filipe Vieira pode orgulhar-se de liderar uma instituição que não tem qualquer situação de incumprimento perante o sistema financeiro, os seus fornecedores e trabalhadores. Só ele pode erguer a bandeira que muito poucos conseguem - não ter sido objecto de qualquer medida de reestruturação com o sector financeiro abrangendo perdão de dívida, utilização de produtos híbridos ou qualquer espécie de benefício ou incentivo financeiro face às condições inicialmente contratadas. Eu sei que o Presidente sente imenso orgulho por comandar uma nau que apresenta contas consolidadas, auditadas por um auditor internacional de prestígio e sem reservas materiais. Com ele o 'Grupo Sport Lisboa e Benfica' passou a ter procedimentos, órgãos e obrigações de controle, reporte, supervisão, auditoria e fiscalização, cumprindo as suas obrigações. Sob a sua liderança foram conquistados mais de 750 títulos. E no futebol, soma já 20 títulos, sendo o presidente mais titulado da história do Glorioso."

Pedro Guerra, in O Benfica

Obrigado, Rui

"Hoje cumpre-se mais um ciclo na história do nosso jornal, visto que este é o derradeiro número de O Benfica cuja edição é assinada pelo jornalista Rui Manuel Mendes. A propósito desta circunstância, permitam-me uma reflexão de natureza especial.
Aqui, bem sabemos que os verdadeiros jornalistas nunca desempenham o papel principal no teatro da comunicação, porque todos temos presente que cada publicação semanal tem, antes de si, milhares de edições com que se foi sedimentando um desígnio deontologicamente rigoroso, na defesa da informação, do Desporto e do Benfica e que isso nos obriga, a cada um de nós, a um permanente exercício de humildade. Mas, neste caso e neste momento, é inteiramente justo sinalizar que, durante os quatro anos menos três semanas em que o Rui assumiu a Redacção com o seu profissionalismo, a sua alma benfiquista e o exemplo de uma impressionante dedicação à missão do jornal, ele deve ser considerado como um dos (mais reservados) protagonistas de um verdadeiro ciclo de outro da longeva história do semanário oficial do Sport Lisboa e Benfica.
Apesar dos anos exaltantes que desportivamente vivemos no Clube, tanto nas ocasiões de celebração como nos contextos mais complexos e difíceis, nunca lhe faltou a disponibilidade, nem o ânimo, nem sequer a serenidade de análise com que, semana após semana, criativamente concebia a organização das páginas, distribuía as operações e determinava a necessária cadência dos trabalhos da equipa, contribuindo, ele mesmo, com o generoso exemplo de uma escrita sempre talentosa e ágil.
Essa capacidade de escrita característica de Rui Mendes e a sua ampla compreensão do universo desportivo benfiquista, bem como a fina percepção das expectativas dos adeptos tantas vezes manifestada nas nossas páginas, assim como nas intervenções que a BTV lhe solicitava no campo das Modalidades do Benfica, mas, também, o seu humilde sentido de responsabilidade e o permanente respeito pelo trabalho dos seus colegas,distinguiram-no como um opinion-maker conhecedor e como líder eficaz. Por essa razão, lhe é agora atribuída uma nova e complexa missão, no quadro da Direcção de Comunicação do Sport Lisboa e Benfica, junto das estruturas das Modalidades de alta competição, para o que (de certo modo, orgulhosamente), e com a maior gratidão, lhe auguro o melhor que, sem dúvida, o nosso Benfica merece e ele próprio, também.
Todos temos, pois, diante de nós, na Redacção do nosso jornal, um estimulante desafio. Em especial, aquele que se apresenta ao jornalista José Marinho, a quem caberá, já a partir da próxima edição, interpretar e prosseguir da melhor maneira o exemplar legado de Rui Manuel Mendes, a favor do interesse dos leitores benfiquistas, da vigorosa cultura do nosso jornal e do Glorioso Benfica.
Boas-vindas, José."

José Nuno Martins, in O Benfica

Manipulação

"Os tiques autoritários e ameaçadores deram lugar ao desabafo carente de solidariedade, à lamúria pela incompreensão...

Foi difícil para o Sporting Cube de Portugal a semana prestes a findar. Pese embora os sucessos alcançados nos Europeus de Atletismo, os acontecimentos ocorridos antes e depois da Assembleia Geral do Clube do passado dia 3 de Fevereiro vieram fazer esmorecer o entusiasmo em que se encontrava o universo leonino, consubstanciado na conquista da Taça da Liga e na recuperação do 1.º lugar na prova máxima do futebol nacional. Se, relativamente aos resultados desportivos, os insucessos recentes devem ser encarados com normalidade (há ainda muita competição pela frente), já no que concerne ao vendaval emergente da reunião magna leonina, trata-se de um verdadeiro case study, cujas responsabilidades são de imputar, na sua maior parte, ao Presidente do Conselho Directivo (CD), Dr, Bruno de Carvalho (BdC) que, relembre-se, foi eleito para o cargo há menos de um ano.
Se a ninguém é lícito questionar o direito de BdC apresentar as alterações estatutárias que entender, já o mesmo não se poderá dizer da prepotência, má educação e falta de respeito que evidenciou (em conjunto com os restantes elementos do Conselho Directivo) não só para com os sócios como também para com os restantes órgãos sociais, ao abandonar a Assembleia Geral do passado dia 3 de Fevereiro. Para além da atitude (inédita na história do Sporting), BdC, com uma estranha e inusitada agressividade que a ninguém passou despercebida, logo que se apercebeu da derrota iminente, não se coibiu de retirar os 2 pontos da ordem de trabalhos ainda em discussão, um dos quais nem sequer era proposta do CD. Não contente com a rábula, não se fez rogado, lançando mão, para espanto geral da comunidade leonina, da bomba atómica de uma eventual demissão que, mais tarde, confirmaria, acentuando, sem se achar mandatado para tal, que a mesma era extensível a todos os órgãos sociais. É obra!
Os factos que se seguiram são sobejamente conhecidos, sendo de realçar, no entanto, a mudança do estilo e estado de alma com que agora se apresenta no tonitruante facebook. Os tiques autoritários e ameaçadores deram lugar ao desabafo carente de solidariedade, à lamúria pela incompreensão, ao desgosto por falta de reconhecimento do sacrifício feito e do pesado fardo que teve de abraçar, com prejuízo de toda a sua estabilidade na vida. Deixemo-nos de brincadeiras! A ameaça de abandono é pura ficção que não se concretizará, mesmo em caso de derrota (como se espera) na próxima AG. O Presidente do Sporting, eleito há menos de um ano, há-de arranjar um qualquer truque de prestidigitação para fazer sair um coelho da cartola, dando o dito pelo não dito. A verdadeira arte da manipulação como melhor forma de esconder uma autoritarismo verdadeiramente serôdio.
A palavra final, porém, caberá aos sócios. Ah! Já me esquecia: Je Suis Sportingado."

Abrantes Mendes, in A Bola

Memória curtíssima

"Dar uma opinião e em seguida afirmar o seu contrário começa a ser prática demasiado corrente no nosso futebol profissional. Curiosamente, estes lapsos, acontecem mais vezes a quem não entra em campo para disputar os jogos. Os que jogam falam pouco, até porque nem sempre os deixam falar e são os mais importantes elementos do jogo. Os que vivem à volta do jogo, e têm opinião, vão mais longe, têm sempre soluções para todos os problemas. Pensam ser o centro do jogo, os que decidem, quando na realidade são a periferia do mesmo. Têm destaque pelo sucesso que as equipas atingem, e afastam-se do insucesso para que não sejam confundidos com quem não conseguiu os objectivos. São os únicos que conseguem quase nunca perder. Melhor, só têm uma derrota, a última e definitiva.
Na realidade o tempo acaba por dar razão a quem tem adversários e não inimigos. O respeito entre adversários é um principio basilar do desporto. Não podemos permitir que uns quantos elementos inseridos no futebol profissional destruam o que muitos construíram durante décadas.
Este é um dos maiores desafios que os dirigentes do futebol profissional têm nos próximos anos. A utilização do jogo, da grande indústria de entretimento em que se tornou, com a exposição mediática associada, tornaram o futebol num espaço apetecível para quem quer ter visibilidade rapidamente. As entidades reguladoras têm atitudes diferentes em situações idênticas. As regras têm que ser claras e a sua aplicação rigorosa. O que hoje é verdade não pode ser amanhã mentira, como afirmou Pimenta  Machado há mais de 20 anos. Estamos neste altura em situação idêntica. Talvez pior. A velocidade da informação, o poder da comunicação e a força da imagem obrigam a ser muito mais rigoroso do que nos tempos em que os reguladores eram amadores."

José Couceiro, in A Bola

Sporting e Benfica, ou quando os opostos se tocam

"Carlos Bilardo é um homem daqueles à antiga.
Orientou a selecção argentina em dois Mundiais, alcançou um título de campeão e outro de vice-campeão. Tudo isto numa selecção que não era nada de especial. Mas que tinha Maradona.
Bilardo soube capitalizar o talento do astro e montar uma equipa eficaz à volta dele.
Um dia, por exemplo, disse que os jogadores de futebol exigem sobretudo paciência. «São como as mulheres: se te dizem que não a determinada posição, o melhor é não insistir.»
Com humor e atrevimento, sublinhou a marca que o distingue: nenhum esquema táctico ou estratégia é mais importante do que o jogador. No fundo eles é que ganham os jogos.
Ora é impossível não pensar nisto quando olho para o Sporting de Jorge Jesus.
Ao contrário de Bilardo, o treinador leonino insiste no erro. Esta temporada, virou o futebol da equipa do avesso e arriscou um jogo mais longo. As jogadas começam quase sempre num lançamento para o ataque, à procura do jogo aéreo do avançado, para este ganhar de cabeça e lançar a velocidade de um dos extremos.
O lançamento parte quase sempre de Rui Patrício, mas pode partir também de Coates ou Mathieu, como tantas vezes se viu, aliás, na última quarta-feira no Dragão.
Recordo-me que esta ideia correu bem em Turim, frente à Juventus, num jogo em que o Sporting marcou cedo e viveu de transições rápidas: Bas Dost ganhou muitas vezes a bola nos ares e a partir daí o Sporting chegava ao ataque em apenas três toques.
Depois desse jogo, porém, tem sido um fracasso. Foi a ruína do Sporting, na Luz, por exemplo, num jogo em que foi gritante a incapacidade leonina para segurar a bola: cada lançamento para o ataque era uma posse dada ao adversário. Que a partir daí cresceu e cresceu.
Encheu-se de confiança e de certezas, até ser melhor do que o Sporting.
O problema, porém, não esteve só na Luz: esteve numa série de jogos em que o Sporting insistiu neste tipo de jogo. Lembro-me que frente ao FC Porto, em Braga, Jorge Jesus até se irritou com Rui Patrício por este não fazer um lançamento longo que o treinador exigia.
O problema é que este futebol não funciona. O Sporting perde demasiadas bolas, não estrutura bem as jogadas, não se torna avassalador, como devia ser. Os jogadores enchem-se de dúvidas, perdem confiança, enfim. O futebol leonino tem sido uma bola de neve: cada vez mais problemas.
Por isso, e quase sem se dar por ela, já está igualado com o Benfica na classificação.
Ora o Benfica, precisamente, que tem sido o oposto do Sporting.
Jorge Jesus complica, Rui Vitória simplifica. Jorge Jesus cria, Rui Vitória aproveita. Jorge Jesus insiste, Rui Vitória condescende. Jorge Jesus valoriza a estratégia, Rui Vitória enaltece o jogador.
O Benfica lembra-me até uma frase de Zagallo que Vampeta costumava contar.
Aconteceu quando Zagallo treinava o Flamengo e era acusado de já não estar na posse de todas as capacidades mentais. Nessa altura o treinador chegava ao balneário antes dos jogos e dava o onze. 
«Ele começava ‘Júlio César, Alessandro, Juan, Ayala’... e aí alguém o corrigia ‘professor, o nome dele não é Ayala, é Gamarra’, ao que o Zangallo respondia: ‘Ayala, Gamarra, é igual, é tudo paraguaio’», contava Vampeta.
Esta simplicidade de colocar as coisas, esta genuinidade, faz-me sorrir, mas sobretudo lembra-me que muitas vezes é importante ser singelo: quase corriqueiro.
O futebol não precisa de ser sempre uma coisa complicada: precisa de ter ordem, ideias e rotinas, mas precisa sobretudo de capitalizar o talento dos jogadores. 
O Benfica faz isso melhor do que ninguém.
Basta aliás olhar à volta e perceber como o futebol, esse jogo de rivalidades, é muitas vezes uma dicotomia: quando uma equipa está bem, o maior rival está mal.
Acontece com o Real Madrid, este ano, mas acontece também em Itália há várias épocas, com Inter e sobretudo Milan: quanto melhor está a Juventus, pior estão eles.
O que é normal, os jogadores veem o rival a ganhar, desmoralizam-se, enchem-se de dúvidas, perdem confiança e passam a render menos do que normalmente renderiam.
O Benfica, porém, já por duas vezes esteve no fundo do poço e em ambas conseguiu sair de lá.
O início da primeira época de Rui Vitória foi desastroso e o início desta temporada voltou a ser mau. O treinador andou na corda bomba, as notícias apontavam para a sua saída iminente, mas a verdade é que não deixou de ser ele próprio: o mesmo discurso, a mesma forma de trabalhar.
Sem se deixar influenciar pelas vitórias do Sporting, primeiro, e do FC Porto, depois, o Benfica foi levantando o pé do lodo, recuperando pontos, reentrando na luta pelo primeiro lugar.
Como o conseguiu? Fechando-se numa bolha.
Nesta altura é impossível não me lembrar de todas as vezes em que Rui Vitória se recusou responder a rivais, em que não comentou jogos de outras equipas, em que disse que não ia ver o Sporting porque ia jantar com o plantel ou que não ia ver o FC Porto porque ia estar com a família.
Não queria saber. Ponto.
O discurso do treinador encarnado pode parecer vazio, as observações tácticas podem parecer banais, a postura pode parecer trivial, mas a verdade é que a equipa apresenta resultados.
O que prova que ser simples também pode ser um dom: ao contrário do que Jesus pensará."

Futebol-espectáculo!

"Em Portugal começa a ser insustentável que um desporto que deveria representar uma festa represente antes uma verdadeira batalha campal. Vale tudo. Ofensas atrás de ofensas, injúrias de todos contra todos

Costuma dizer-se que determinados assuntos, bem como determinadas pessoas, só têm a importância equivalente ao espaço de atenção que se lhes quer dar. Podem procurar-se vários argumentos para fugir a esta realidade mas, de facto, ela continuará sempre a fazer sentido. Porém, como viver em sociedade não pode nunca representar viver na indiferença face a tudo aquilo que nos rodeia, circunstâncias que hipoteticamente pudessem caber no que inicialmente se disse acabam por colher atenção do público em geral não pela sua qualidade, mas antes pela saturação que causam por via da repetição e pouca elevação que apresentam.
O futebol é, na actualidade, o exemplo mais paradigmático do que aqui se procura expor, e vai sendo hora de colocar o dedo na ferida. Em Portugal começa a ser manifestamente insustentável que um desporto que na sua essência deveria representar sobretudo uma festa represente antes uma verdadeira batalha campal. Vale tudo. Ofensas atrás de ofensas, injúrias de todos contra todos, pseudodenúncias criminais que mais não pretendem que acicatar as mentes dos adeptos mais ferrenhos e, agora, até conferências de imprensa de presidentes que mais parecem editadas com recurso a uma qualquer enciclopédia do baixo nível.
É demasiado mau. Chega a ser de uma boçalidade tal que de novo nela só se acredita porque as imagens e o áudio que a sustentam passam nas televisões até fartar. Por último, outro problema. É igualmente impressionante, pela negativa, que perante tudo isto, argumentos como “o futebol é assim mesmo”, “quem lá quer andar tem de ser assim”, ou “ deixa-os falar que sempre nos divertem” comecem quase a tornar-se paradigma de justificação para o injustificável. Não pode ser. Há que colocar clubites à parte e que todos os adeptos desta modalidade, bem como toda a sociedade, comecem a exigir a quem representa ao mais alto nível os clubes de futebol uma postura regrada, séria, íntegra, educada e até institucional no exercício dos cargos.
Afinal de contas, os clubes de futebol também têm escolas de formação em que nas crianças de hoje formam os adultos de amanhã. Não é possível, por isso, que qualquer instituição manifestamente comandada por pessoas de pouca formação consiga ensinar distinta postura a todos quantos nela façam parte do seu percurso de vida. Chega de bandalheira. Para isto, que se acabe com o futebol!"


PS: Concordo com o diagnóstico, discordo da solução ("...se acabe com o futebol!"): aquilo que deve acabar é a bandalheira!!!

Justiça e Comunicação

"Se a questão moral não chega para nortear o espírito de quem assegura o funcionamento da Justiça, há que lembrá-los que têm a obrigação legal de o fazer.

Quem trabalha no sistema de Justiça tem de ter consciência da função fulcral que desempenha na sociedade e, por isso mesmo, das limitações que a mesma implica. Uma das limitações mais relevantes é a de comunicar. Não é por acaso que juízes, procuradores, inspectores, funcionários e advogados têm na essência dos seus deveres uma obrigação de reserva e de sigilo.
Mais do que deveres genéricos de profissão, sigilo e reserva são condições sine qua non de dignidade da Justiça e preservação do Estado de Direito (que nasceu para acabar com o “pelourinho”) e dos equilíbrios fundamentais na sociedade. Trata-se de conjugar o direito à informação com o direito à dignidade humana, assente em princípios como o direito à honra, ao bom nome, à privacidade e à presunção de inocência.
Numa sociedade como esta em que vivemos, em que os interesses de informação e desinformação são múltiplos, reconheço que seja complicado, para quem tem a função de zelar pela dignidade e funcionamento da Justiça, cumprir estes deveres. Mas é fundamental. E se a questão moral não chega para nortear o espírito de quem assegura o funcionamento da Justiça, há que lembrá-los que têm a obrigação legal de o fazer. Se não forem as pessoas que trabalham no sistema a dar o exemplo de respeito pela Lei quem será?
Nos últimos tempos, nas redacções, temos assistido ao protagonismo crescente dos jornalistas ditos especialistas em questões de Justiça, a que generosamente chamam jornalistas de investigação. Tenho dificuldade em partilhar dessa generosidade. Na verdade, regra geral, não investigam absolutamente nada. Passaram, simplesmente, a ter acesso, “pela porta do cavalo”, a alguns actores fundamentais do sistema e via aberta para espaços do “aparelho” que deveriam ser uma espécie de locais sagrados. Mas para meia dúzia de jornalistas “bem relacionados” são uma via verde. E, assim, este jornalismo, mais do que informar, é porta-voz da agenda de determinadas fontes dentro do sistema de Justiça. Face ao repetitivo circuito de informação adoptado, toda gente tem, pelo menos, uma fundada suspeita de quem são tais fontes que violam as suas obrigações, mas ninguém tem interesse em encontrá-las.
Já perdemos a conta às vezes que a Senhora Procuradora Geral da República anunciou a abertura de inquéritos à violação do segredo de justiça. Mas também já todos percebemos que não há interesse em terminar com sucesso tais inquéritos. Ou será que nos querem fazer acreditar que um Ministério Público que é cada vez mais eficaz na investigação de matérias bem mais complexas da criminalidade económico-financeira transnacional, não é capaz decifrar coisas mais simples, como apurar quem anda a violar “dentro de casa” os seus deveres de reserva e sigilo, cometendo continuadamente o crime de violação do segredo de justiça e afectando a credibilidade de todo um sistema?
São pessoas que não contribuem para a realização da Justiça, mas antes para a execução de um “justiceirismo” próprio de quem adopta como exemplo fórmulas pouco democráticas de exercício da Justiça e que, mais do que se basearem na Lei, assentam na manipulação da opinião pública como “arma”. Talvez não seja por acaso que a Presidente da Associação sindical dos Juízes tenha declarado publicamente que o “Segredo de Justiça é uma batalha perdida”. Será que se fosse uma “batalha para ganhar” ficaria pedra sobre pedra no sistema?"

Ministério Público ou da Propaganda?


As questões de forma na Justiça são essenciais. Contra ímpetos populistas dos fins que justificam os meios, todos devemos falar a uma só voz, a começar pelo sistema de Justiça, especialmente o Ministério Público (MP). Como cidadãos de uma democracia madura, cabe-nos exigir o cabal cumprimento das regras por parte do Acusador, porque é apenas deste lado da barricada que podemos e devemos tirar consequências como Estado. E o primeiro dever é o de segredo em processos que, por decisão do próprio MP, são submetidos a segredo de justiça.
Portugal tem o vício de não mudar os seus defeitos e de legitimá-los com alterações à Lei: o segredo de justiça é constantemente violado pelo MP e outros funcionários do sistema de Justiça? Então acabe-se com o Segredo de Justiça se uma das partes o viola sem consequências. Mas isto faz algum sentido?! O segredo de justiça é uma das tais questões de forma essenciais para investigações sérias, mas também porque os suspeitos, arguidos e até culpados têm de ser protegidos nos seus direitos, nomeadamente no direito de fazerem uma defesa em fórum próprio: o tribunal. O que o sistema de Justiça não pode ser é um Ministério da Propaganda.
Mas nada disto está a acontecer e com a conivência dos jornalistas que, para conseguirem a melhor capa e satisfazerem os seus egos, se deixam instrumentalizar como fontes que ajudam a construir e a reforçar junto da opinião pública as teses do Acusador.
Mais. Os jornais – alguns – estão de tal forma inebriados com este novo papel que assumiram informalmente de ajudantes do MP, que se apresentam, eles próprios, como os Acusadores. Por isso tivemos o absurdo de ter o nosso ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo na primeira página de um jornal como potencial arguido pronto a demitir-se se fosse acusado, depois de buscas ao Ministério (!) por causa de dois bilhetes para o futebol. Tudo, claro, com a comunicação social devidamente avisada para fazer da investida um reality show. O desfecho foi o óbvio. Não havia caso. A reputação, quando atacada pela Justiça, não é crime. Mas talvez devesse ser.
Sob a capa do interesse público, os jornais – alguns – não se regem pelas mesmas regras dos demais quando se trata de veicular informações sujeitas ao segredo de justiça. De facto, ambos os valores são conflituantes, e esperar que a Justiça faça o seu caminho durante uma década ou mais até que um processo transite em julgado mantendo pessoas de risco em funções de elevada responsabilidade pública e privada, não parece razoável.
Mas é razoável perguntar se cada capa, cada notícia produzida, foi precedida dessa reflexão. É que nas notícias não existe uma diferença entre suspeito, arguido e culpado. É obrigatório e urgente perguntar o que está a ser feito – se é que alguma coisa – dentro do sistema de Justiça para averiguar de onde vêm as fugas de informação que mais parecem comunicados de imprensa velados e aplicar sanções. Mão de ferro nas consequências para quem nos devia proteger como cidadãos e não está a fazê-lo."

Ética, política e fugas

"A mera suspeição destrói o que de maior valor têm os cidadãos: a reputação. Esta é cara e difícil de conseguir, pelo que tem de ser preservada a todo o custo.

Fernando Negrão, ex-ministro da Justiça, fez no International Club of Portugal (ICPT) uma dissertação sobre ética e política. O tema é quente quando se associa ética às recentes fugas de informação ligadas a processos judiciais que se tornaram mediáticos, e é relevante quando se associa ética a interesses próprios.
Um amigo que parafraseava um professor dizia que ética e moral é basicamente o que se faz quando ninguém está a ver. Ou seja: ética é o que nós queremos que seja. Dizia Fernando Negrão no ICPT que há decisões legais que de um ponto de vista ético são erradas e deu exemplos facilmente perceptíveis, como os casos em que se emitem decisões que vão trazer benefícios a prazo ao próprio ou à sua organização política ou social, mas o mesmo princípio se aplica quando “o Ministério Público (MP) tem uma investigação em curso e deixa sair informação para gerir investigação criminal, estando em causa direitos, liberdades e garantias”. Depois deu o exemplo extremo de Itália e da judicialização da vida política e empresarial naquele país. “E, claro, desejo que o sucesso do MP não seja “manchado por episódios menos bons”, rematou.
Mas o que está por detrás destes princípios de ética e moral enunciados por Fernando Negrão é algo mais profundo. Com efeito, a ética não condena, ou não permite tirar alguém da prisão, e o papel do MP é a defesa do Estado, sendo que nem sempre através da acusação se defende o Estado. Aliás, há vozes públicas que afirmam que o princípio da legalidade levado ao extremo denega a justiça.
A ética e a política têm ainda outra abordagem e que é pragmática na actual sociedade de informação. A mera suspeição destrói o que de maior valor têm os cidadãos – a reputação. Esta é cara e difícil de conseguir, pelo que tem de ser preservada a todo o custo. A destruição desta mesma reputação representa, para os cidadãos com vontade de ascender a cargos políticos, de gestão ou de liderança, um obstáculo quase intransponível. E voltamos à questão da ética. Fernando Negrão diz ainda no espaço do ICPT que, tendo passado por órgãos judiciais, pelo parlamento e pelo Governo nunca ouviu falar na ética, para concluir que “estas responsabilidades exigem informação ética”. E recorda tempos idos quando, nos vários níveis das escolas, havia disciplinas ligadas a esta área , onde “o princípio da vida era a honestidade”.
A conclusão é óbvia e aplica-se ao actual momento que se vive na política, nos negócios e na justiça. Ser ético (alguns falam em ética republicana) não é apenas ser sério, mas também respeitar um conjunto de guidelines que dão a noção ao cidadão do que é bom e do que é mau para as acções actuais e futuras. Ética é virtuosidade e isso não é exigido a ninguém nos tempos que correm. Aliás, é sintomático que, nas várias áreas do saber, o país não tenha personalidades de referência que possam encher uma única mão."

Já não há bilhetes!

"Ao tornar pública a decisão de que “existem documentos relevantes”, o Ministério Público mantém uma leve suspeição no ar. Parece uma birra

Quando se pensava que o estranho caso dos convites pedidos pelo ministro das Finanças para assistir a um jogo do Benfica já estava devidamente arquivado e remetido para a secção das ridicularias, eis que o Ministério Público faz saber que vai conservar os “documentos relevantes” desse mesmo processo arquivado.
Afinal, há “documentos relevantes”. Assim sendo, desculpem a ignorância, porque se arquiva o processo?
Ao tornar pública esta decisão, o Ministério Público mantém uma leve suspeição no ar. Parece uma birra. Temos de arquivar, mas guardamos uns documentos, não vá aparecer mais qualquer coisa.
Este clima criado à volta da justiça, concretamente o acompanhamento em directo nas televisões de operações de investigação, como as buscas a residências ou a empresas, e mesmo detenções, está a atingir os domínios do surreal.
Gostava de esclarecer, entretanto, que não me incluo na campanha orquestrada por aqueles que querem que a actual procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, não seja reconduzida no seu cargo.
O que acho, sinceramente, é que a mediatização da justiça, da forma como está a ser conduzida, ao contrário de contribuir para a sua transparência, a transforma num lamentável espectáculo.
No limite, e para ser coerente, quem defende este espectáculo mediático deve admitir que os julgamentos passem a ser transmitidos em directo, com horários negociados com as televisões, como acontece, por exemplo, com os jogos de futebol.
No Império Romano, vigorava o panem et circenses, o pão e o circo que garantiam a quietude da plebe.
Transportado para hoje, a necessidade do pão mantém-se, ao mesmo tempo que o circo se encaixa na televisão. E o que há de melhor para entreter a plebe do que um bom julgamento?
Camus, genial escritor francês, disse que “se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo”.
Na verdade, o julgamento mediático é, à partida, uma condenação, sem direito de defesa.
Seja como for, citando o português Guerra Junqueiro, “a justiça não admite reticências”.
O cidadão comum, acredito eu, está cada vez mais farto deste circo.
De facto, “já não há bilhetes!”."