segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Lixívia 21

Tabela Anti-Lixívia
Benfica .. 50 (-4) = 54
Corruptos. 52 (+3) = 49 (-1)
Sporting . 50 (+9) = 41

Semana sem erros com impacto nos resultados, mas com apitos muito tendenciosos... principalmente na Luz!

Toda a gestão do jogo por parte do Manuel Oliveira foi parcial... toda!
No penalty sobre o Jonas, até lhe dou o benefício da dúvida, pois o contacto é de facto mínimo... e mesmo o VAR tem 'desculpa' ao não 'inverter' a decisão!
Mas nos cartões perdoados não tem qualquer desculpa: Bruno Teles e Leandrinho tinham que ser expulsos. Bruno Teles tem uma entrada gravíssima sobre o Almeida que fica sem Amarelo...; e o Leandrinho que acabou o jogo sem qualquer Amarelo, faz duas faltas graves: faz falta sobre o Rafa quando este seguia isolado para a baliza; e no lance do 2.º golo do Benfica, tem uma entrada faltosa, por trás, sobre o Pizzi... curiosamente, a falta, acabou por 'enganar' o Cássio, e a bola entrou...
A premeditação da parcialidade, é fácil de provar: nos minutos seguintes ao 1.º golo do Benfica, com o 3.ª anel a 'empurrar', os jogadores entusiasmados, foi o árbitro que com 3 ou 4 decisões, todas contra o Benfica, permitiu ao Rio Ave respirar... Duas faltas à entrada da área do Rio Ave não assinaladas, e faltas contra o Benfica, só porque sim!!!
Ainda houve lance, que nos Estádio me deixou dúvidas: falta sobre o Zivko... na televisão é fácil de ver que o contacto é fora da área, e assim não podia recorrer ao VAR... mas o erro de apreciação 'ao vivo' é indesculpável!!!

No Dragay, o Macron cometeu um erro grave: penalty sobre o Corona! A luta de braços 'aceita-se', mas também existiu contacto nas pernas... Aqui o VAR tem poucas desculpas!
Disciplinarmente, vários erros... para os dois lados!

Na ventosa Amoreira, excelente arbitragem do Mota... e quando os Fiscais erraram, o VAR (Luís Ferreira) ajudou!!!!
Se no 2.º golo do Estoril e no golo anulado ao Montero, a câmara do fora-de-jogo estava praticamente alinhada com a linha defensiva... no golo anulado ao Estoril, isso não aconteceu. Com as linhas virtuais, é 'fácil' de ver que o VAR decidiu bem, mas não é fácil decidir estas jogadas com as câmaras desalinhadas... e até em alguns casos, podem 'enganar' o VAR!
No nosso jogo da Luz, com o Portimonense, o Veríssimo anulou bem um golo aos Algarvios... que sem linhas virtuais, não era fácil... O problema, é que nestes casos, 'apertados' ficamos sempre com a sensação que o VAR afinal tem acesso às linhas virtuais, algo que oficialmente, não têm...!!!


Anexos:
Benfica
1.ª-Braga(c), V(3-1), Xistra (Verissímo), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado
2.ª-Chaves(f), V(0-1), Sousa (Tiago Martins), Prejudicados, (0-3), Sem influência no resultado
3.ª-Belenenses(c), V(5-0), Rui Costa (Vasco Santos), Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Rio Ave(f), E(1-1), Hugo Miguel (Veríssimo), Prejudicados, Impossível contabilizar
5.ª-Portimonense(c), V(2-1), Gonçalo Martins (Veríssimo), Prejudicados, (4-0), Sem influência no resultado
6.ª-Boavista(f), D(2-1), Soares Dias (Esteves), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
7.ª-Paços de Ferreira(c), V(2-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
8.ª-Marítimo(f), E(1-1), Sousa (Godinho), Prejudicados, (1-2), (-2 pontos)
9.ª-Aves(f), V(1-3), Almeida (Vítor Ferreira), Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
10.ª-Feirense(c), V(1-0), Godinho (Xistra), Prejudicados, (2-0), Sem influência no resultado
11.ª-Guimarães(f), V(1-3), Soares Dias (Malheiro), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
12.ª-Setúbal(c), V(6-0), Godinho (Pinheiro), Prejudicados, Beneficiados, (8-0), Sem influência no resultado
13.ª-Corruptos(f), E(0-0), Sousa (Hugo Miguel), Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
14.ª-Estoril(c), V(3-1), Pinheiro (Manuel Oliveira), Beneficiados, Sem influência no resultado
15.ª-Tondela(f), V(1-5), Tiago Martins (Malheiro), Nada a assinalar
16.ª-Sporting(c) E(1-1), Hugo Miguel (Tiago Martins), Prejudicados, (5-0), (-2 pontos)
17.ª-Moreirense(f), V(0-2), Mota (Godinho), Nada a assinalar
18.ª-Braga(f), V(1-3), Soares Dias (Godinho), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
19.ª-Chaves(c), V(3-0), Esteves (Vasco Santos), Prejudicados, (5-0), Sem influência no resultado
20.ª-Belenenses(f), E(1-1), Paixão (Rui Oliveira), Nada a assinalar
21.ª-Rio Ave(c), V(5-1), Manuel Oliveira (Vítor Ferreira), Prejudicados, Sem influência no resultado

Sporting
1.ª-Aves(f), V(0-2), Tiago Martins (Pinheiro), Nada a assinalar
2.ª-Setúbal(c), V(1-0), Paixão (Hugo Miguel), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
3.ª-Guimarães(f), V(0-5), Hugo Miguel (Sousa), Nada a assinalar
4.ª-Estoril(c), V(2-1), Godinho (Tiago Martins), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Feirense(f), V(2-3), Soares Dias (Tiago Martins), Nada a assinalar
6.ª-Tondela(c), V(2-0), Manuel Oliveira (Tiago Martins), Nada a assinalar
7.ª-Moreirense(f), E(1-1), Godinho (Pinheiro), Beneficiados, (2-0), (+1 ponto)
8.ª-Corruptos(c), E(0-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
9.ª-Chaves(c), V(5-1), Rui Costa (Esteves), Beneficiados, Prejudicados (5-2), Sem influência no resultado
10.ª-Rio Ave(f), V(0-1), Sousa (Capela), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
11.ª-Braga(c), E(2-2), Xistra (Rui Costa), Beneficiados, (1-4), (+1 ponto)
12.ª-Paços de Ferreira(f), V(1-2), Tiago Martins (Xistra), Beneficiados, (1-1), (+2 pontos)
13.ª-Belenenses(c), V(1-0), Almeida (Godinho), Nada a assinalar
14.ª-Boavista(f), V(1-3), Godinho (Vasco Santos), Nada a assinalar
15.ª-Portimonense(c), V(2-0), Capela (Xistra), Nada a assinalar
16.ª-Benfica(f), E(1-1), Hugo Miguel (Tiago Martins), Beneficiados, (5-0), (+ 1 ponto)
17ª-Marítimo(c), V(5-0), Xistra (Esteves), Nada a assinalar
18.ª-Aves(c), V(3-0), Pinheiro (Sousa), Beneficiados, (2-1), Impossível contabilizar
19.ª-Setúbal(f), E(1-1), Veríssimo (António Nobre), Beneficiados, Sem influência no resultado
20.ª-Guimarães(c), V(1-0), Godinho (Hugo Miguel), Nada a assinalar
21.ª-Estoril(f), D(2-0), Mota (Luís Ferreira), Nada a assinalar

Corruptos
1.ª-Estoril(c), V(4-0), Hugo Miguel (Luís Ferreira), Nada a assinalar
2.ª-Tondela(f), V(0-1), Veríssimo (Malheiro), Beneficiados, Impossível contabilizar
3.ª-Moreirense(c), V(3-0), Manuel Oliveira (Tiago Martins), Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Braga(f), V(0-1), Xistra (Esteves), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Chaves(c), V(3-0), Rui Oliveira (Hugo Miguel), Nada a assinalar
6.ª-Rio Ave(f), V(1-2), Sousa (Godinho), Nada a assinalar
7.ª-Portimonense(c), V(5-2), Luís Ferreira (Sousa), Nada a assinalar
8.ª-Sporting(f), E(0-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
9.ª-Paços de Ferreira(c), V(6-1), Manuel Oliveira (Veríssimo), Beneficiados, (5-1), Sem influencia no resultado
10.ª-Boavista(f), V(0-3), Hugo Miguel (Tiago Martins), Nada a assinalar
11.ª-Belenenses(c), V(2-0), Veríssimo (Luís Ferreira), Beneficiados, (0-2), (+3 pontos)
12.ª-Aves(f), E(1-1), Rui Costa (Esteves), Nada a assinalar
13.ª-Benfica(c), E(1-1), Sousa (Hugo Miguel), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
14.ª-Setúbal(f), V(0-5), Tiago Martins (Rui Oliveira), Beneficiados, (0-3), Impossível contabilizar
15.ª-Marítimo(c), V(3-1), Mota (António Nobre), Nada a assinalar
16.ª-Feirense(f), V(1-2), Veríssimo (Paixão), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
17.ª-Guimarães(c), V(4-2), Soares Dias (António Nobre), Prejudicados, Beneficiados, (4-2), Impossível contabilizar
19.ª-Tondela(c), V(1-0), Godinho (Soares Dias), BeneficiadosPrejudicados, (2-0), Impossível contabilizar
20.ª-Moreirense(f), E(0-0), Luís Ferreira (Manuel Oliveira), Nada a assinalar
21.ª-Braga(c), V(3-1), Hugo Miguel (Almeida), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado

Jornadas anteriores:
Épocas anteriores:
2016-2017
2015-2016

Bruno de Carvalho e a lei de Murphy

"Luís Filipe Vieira tem razões para estar grato, do ponto de vista da agenda mediática, a Bruno de Carvalho. Quem diria, não é?

Bruno de Carvalho teve um fim-de-semana para esquecer, provavelmente o pior momento desde que assumiu a presidência do Sporting, onde a lei de Murphy se fez sentir em todo o seu esplendor. O que podia ter corrido mal ao líder dos leões, correu ainda pior, cada decisão que tomou, cada gesto que teve, cada ameaça que deixou no ar, foram tiros que lhe saíram pela culatra. E porquê? Por nada...
- Que razão obscura terá feito com que apresentasse à AG uma série de alterações regulamentares susceptíveis de criar cisão no universo leonino, num momento em que o clube precisava de uma ordem unida para enfrentar os desafios que se aproximam?
- Que deriva narcisista fez com que visse nas críticas de alguns sócios um crime de lesa-majestade, como se não fosse próprio de qualquer democracia o confronto de opiniões e ideias?
- Com poucos meses de um mandato legitimado por uma vitória eleitoral muito expressiva, qual a razão para vir para o espaço público indiciar que estará de saída do Sporting, como fez no post a propósito dos êxitos do atletismo verde-e-branco?
- E os termos que usou, não só na AG, como ainda, de forma mais desabrida, no Facebook a propósito de uma festa? Qual o propósito, qual a mensagem, qual a dignidade institucional? E não há, no seu círculo próximo, quem consiga colocar algum tento nestes modos e desmandos?
- E ainda a propósito das redes sociais utilizadas por Bruno de Carvalho: Colocar listas negras de sportingados, onde constam pessoas acima de qualquer suspeita no que toca à ligação afectiva e até umbilical ao clube, ajuda a um Sporting melhor?
- Depois, a questão desportiva: Quis o destino que, no meio deste turbilhão de insanidade, o Sporting fosse derrotado no Estoril. Perante a instabilidade que derivou da AG de sábado, a pergunta é simples e inevitável: Este comportamento ajuda de alguma forma a equipa de Jorge Jesus?
- Derradeira questão. Uma semana que começou muito complicada para o presidente do Benfica, acabou por ser suavizada pelo comportamento autofágico do Sporting, que fragilizou os leões e deu alento aos rivais. Luís Filipe Vieira tem razões para estar grato, do ponto de vista da agenda mediática, a Bruno de Carvalho.

O culto de personalidade como método
«Não podemos, em nenhuma circunstância, alienar aquele a quem devemos o facto de hoje ainda termos e sermos Sporting»
Nuno Saraiva, director de comunicação do Sporting
O processo de dramatização em curso, no Sporting, explica que o culto da personalidade do presidente seja levado à enésima potência, num registo sem precedentes no desporto português. O Sporting é uma enorme instituição que tem na sua massa de adeptos a maior riqueza e o único garante de um futuro seguramente risonho e ganhador. Isso é o mais importante.

Ás
Ivo Vieira
Estoril Praia aproveitou bem o mercado de inverno, por acção e por omissão, e vai revelando uma capacidade competitiva suficiente para garantir a permanência. Ontem, na primeira derrota nacional do Sporting 17/18, a estratégia foi bem pensada por Ivo Vieira e melhor executada por Evangelista e companhia...

Ás
Jardel
Decisivo na vitória do Benfica sobre o Rio Ave, o capitão encarnado mostra estar de regresso à melhor condição física e ao comando da defesa da Luz, onde está a fazer com Rúben Dias aquilo que num passado recente fez com Lindelof. Estamos perante um dos jogadores mais influentes, ao dia de hoje, da equipa de Rui Vitoria.

Duque
Bruno de Carvalho
Fim-de-semana alucinante e alucinado. Abriu a Caixa de Pandora numa AG com timing errático, criou desestabilizado no clube, multiplicou-se em ataques e insultos nas redes sociais, ameaçou demitir-se e ainda, qual cereja no topo do bolo, viu o Sporting ser derrotado na Amoreira. Difícil imaginar um cenário pior...

O fascínio mexicano pela Europa do futebol
O futebol mexicano é uma potência regional relevante, com 16 presenças em fases finais do Campeonato do Mundo. Alguns dos melhores jogadores do México evoluem na Europa e ainda ontem três deles, que marcaram nos respectivos campeonatos, tiveram direito a manchete do 'Esto': Chicharito, Jiménez e Reyes.

Incerteza azul
A vida do Clube de Futebol Os Belenenses continua complicada e as decisões da tumultuosa assembleia geral do último sábado vieram adensar ainda mais o enredo. O clube decidiu romper o protocolo com a Codecity, dona da SAD, e daqui para a frente a única coisa certa é a incerteza porque estamos perante território virgem, numa área onde a clareza dos regulamentos deixa muito a desejar. Resumindo e concluindo, em limite será Pedro Proença a ter um problema indesejado nos braços neste divórcio litigioso entre Belenenses clube e a SAD."

José Manuel Delgado, in A Bola

Ironia das ironias

"Seria fácil associar a derrota do Sporting no Estoril à pseudocrise aberta por Bruno de Carvalho quando, no momento em que o futebol profissional vive o melhor momento dos seus mandatos, ameaçou demitir-se como forma de pressionar a AG a aceder aos caprichos de quem vê como hipocrisia o simples facto de ser sócio de um clube e não apoiar todas as ideias do seu presidente. Não, não foi por isso que o Sporting perdeu ontem, foi só porque não conseguiu ser melhor do que o adversário. Mas não deixa de ser tremenda ironia a equipa sofrer a primeira derrota a nível interno um dia depois de Bruno de Carvalho ter criado um pequeno (e desnecessário) foco de instabilidade, colocando-se ainda mais a jeito dos que o criticam - e até de alguns que o apoiam.
Bem vistas as coisas, o que se passou no sábado foi só o presidente do Sporting a ser o que sempre foi. A tentação do poder absoluto não é exclusiva de Bruno de Carvalho. Tentar calar os críticos é prática antiga, no futebol e não só. Há os que o fazem sem levantar ondas, chamando para as suas fileiras os que lhes fazem frente, e há os que fazem do confronto a táctica para todas as batalhas. Bruno de Carvalho optou pelo modo mais violento, aproveitando o bom momento do futebol para infligir maiores danos aos adversários. Fê-lo por saber que, depois de tantos anos do deserto, até o quase serve de oásis para matar a sede. E é por isso (apesar da derrota de ontem) que ganhará esta batalha. Porque o Sporting está onde já outros estiveram: no ponto em que alguém (ou alguém por ele...) se atreve a apelidar-se de salvador, como se o clube não tivesse existido (e ganho) antes dele ou não possa existir depois dele. Nunca é assim, sabemo-lo bem, mas chega para convencer a maioria. E a maioria chega, por agora. Até que se começa a ganhar menos vezes e aparece outro com o mesmo discurso. É clássico. E cíclico."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Há falta de 'catenaccio' e sobra barbárie

"Por muito que o por vezes irritantemente optimista discurso de Rui Vitória o negue, os recentes acontecimentos que mantêm, com razão ou sem ela, o nome do Benfica nas manchetes generalistas fazem os jogadores sentir o peso da responsabilidade acrescida que chega de fora: os encarnados precisam desesperadamente de ganhar – por causa do penta e do resto. Na partida com o Rio Ave, depois de uma primeira parte decepcionante, a equipa reencontrou-se no segundo tempo e goleou, deixando-me duas simples interrogações: por que não joga Rafa com regularidade? Por que não vemos Raúl Jiménez mais vezes como titular? O golo do mexicano, parecendo fácil, fez lembrar Luís Suárez ou Lukaku, pela espontaneidade no remate que define os pontas de lança.
A propósito do Benfica-Rio Ave, volto a um tema que desenvolvi, há duas semanas, na minha página da "Sábado": a passagem do técnico ítalo-franco-argentino Helenio Herrera, um dos grandes treinadores da história – com resultados fantásticos no Barcelona e no Inter – por Portugal e pelo Belenenses. HH só optava pelo futebol de ataque quando dispunha de artistas para o pôr em prática e sabia como poucos tapar os caminhos para a baliza das suas equipas – ou não fosse ele um dos mais fiéis intérpretes do célebre "catenaccio", de Nereo Rocco. Mal se apanhasse a ganhar, em especial com adversários fortes, aplicava o plano B e era uma chatice. Recordo-o porque não compreendo como é possível estar a vencer na Luz o Benfica, ao intervalo, e entrar para a segunda parte sem alterar o esquema tático, na tentativa já não digo de triunfar, mas ao menos de não levar "chapa 5". Ainda se fosse uma equipa do fundo da tabela... mas o quinto classificado?
Já tinha acontecido na última assembleia-geral do Benfica e voltou a suceder agora com as de Sporting e Belenenses. Em Alvalade, o "savoir faire" de Jaime Marta Soares parou a festa quando sobraram os insultos, enquanto no Restelo os sócios chegaram mesmo a vias de facto. Não me vou alongar em considerações, apenas referir os factos na esperança, ténue, de que algum dia haja vergonha.
Em contraciclo com a barbárie, saliento o comovente minuto de silêncio com que Old Trafford assinalou, no sábado, antes do jogo com o Huddersfield, a passagem de 60 anos sobre a queda do avião que vitimou oito jogadores do Manchester United e mais 15 passageiros, a 6 de Fevereiro de 1958, em Munique. As câmaras de TV focaram em particular um dos sobreviventes, o já lendário Bobby Charlton, hoje com 80 anos, perante o impressionante silêncio das bancadas. Refiro essa homenagem porque entre nós, desgraçadamente, um momento desses logo seria manchado pelos urros e assobios de uns quantos anormais. Como se tem visto nos últimos tempos – em recintos desportivos, zonas de acesso aos estádios ou assembleias-gerais – a civilização tarda em instalar-se em Portugal. E será que chega algum dia?"

Os bons sinais no Restelo, em Paços e Moreira e o quase milagre do Boavista

"O nível médio da Liga actual tem sido genericamente fraco, mesmo entre os grandes. O Sporting desmente Jesus na proclamação imprudente de uma versão mais “italiana”, o Porto fez das tripas coração - de um plantel curto extraiu uma equipa competente - mas revela uma falta de criatividade que lhe complica alguns jogos e o Benfica oscila na razão directa do maior ou menor rendimento das suas mais destacadas unidades. Daí para baixo, o quadro também não é muito animador, a começar nos habituais candidatos à Europa: o Braga precisa de melhorar e diversificar o processo ofensivo para ser mais que o campeão dos não-grandes, o Marítimo perdeu rendimento em vez de ganhar e não apresenta futebol atractivo e o Vitória de Guimarães é uma desilusão evidente, apenas pontualmente eficaz e num futebol feito mais de correria que de pensamento. Além dos muitas vezes citados Rio Ave e Chaves, faz sentido destacar um Boavista em que Jorge Simão deixa a marca do melhor rácio da prova entre qualidade disponível e rendimento em campo. Com um dos plantéis mais fracos, a equipa do Bessa mostra-se conhecedora das suas forças e fraquezas e segue segura na tabela agarrada a um futebol com critério, não muito elaborado mas eficaz, raramente sedutor mas sempre corajoso. À organização defensiva de qualidade que já vigorava com Miguel Leal, Simão acrescentou a ambição de jogar mais vezes e mais tempo no meio campo contrário. Estar na primeira metade da tabela só não é um milagre porque no futebol não há milagres. Só de trabalho competente pode resultar o que tem acontecido no Bessa.
E surgem, finalmente, outros bons sinais, de um futebol audacioso que pretende agradar ao espectador e não apenas somar pontos, visíveis no Paços de Ferreira, no Belenenses e mesmo no Moreirense. Quem só vê essas equipas quando defrontam os grandes, pode pensar que pouco ou nada mudou, mas não é verdade: o Paços de João Henriques não precisou de muito tempo para mostrar um novo rosto face ao herdado de Petit, o Belenenses transfigurou-se em duas semanas apenas face aos tempos de Domingos e o Moreirense de Sérgio Vieira é incomparavelmente mais organizado que o do arranque da temporada com Manuel Machado, Mais que questionar os técnicos cessantes, que hão-de decerto ter razões que explicam um rendimento fraco e formas de jogar que não entusiasmavam ninguém, vale a pena olhar para o que os novos técnicos tentam mudar. Não são ainda mais do que sinais, princípios de intenção, mas alguns já são sinais evidentes.
A primeira sensação de mudança está na escolha dos jogadores, no perfil que se procura, particularmente dos médios. No Restelo foi finalmente possível ver ao mesmo tempo (e frente ao Benfica!) André Sousa, Filipe Chaby (joga tão bem!), Diogo Viana e Fredy, numa mensagem clara de que o momento ofensivo conta tanto ou mais que o defensivo, abandonando a sobreposição de Yebda com Bouba Saré ou Tandjigora. No primeiro jogo de João Henriques pelo Paços, a mesma mensagem (e o jogo era fora, nas Aves, frente a um rival directo), que o jogo de iniciativa e posse confirmou. A chegada de Ruben Micael não implicou que Pedrinho saísse da equipa, nem Xavier, o que se repetiu no jogo seguinte, já com Assis na equipa e sempre com o também criativo Andrezinho a ser lançado. Só podia melhorar e acredito que crescerá mais ainda. No Moreirense Tózé deixou de ser apenas o baixinho improvisador sempre deslocado para um flanco. Surgiu no corredor central, com gente de qualidade ofensiva nas alas – Bilel e Arsénio – e sempre com objectivo de jogar com o ponta de lança, Edno, e não apenas de o servir em cruzamentos. Foi assim que conseguiu empatar com o Porto e ganhar em Tondela.
A escolha desse tipo de jogador, que sugere mas também reclama um jogar feito de iniciativa, é o indicador seguro de que uma equipa pretende jogar mais vezes em função das próprias competências que apostando sobretudo em anular o melhor de qualquer rival. Todos os treinadores falam de identidade mas ela só pode ser reconhecida numa equipa que sabe o quer fazer e não apenas impedir que o opositor faça. Numa equipa com limitações – não, não se aplica só às melhores – a intenção de jogar, de correr mais riscos, tem duas vantagens imediatas: a primeira é muito concreta e resulta da importância de repartir a gestão dos ritmos, de não oferecer a bola ao rival com facilidade (se for um grande aproveitará para sufocar essa equipa perto da área); a segunda é menos óbvia mas muitas vezes determinante e traduz-se numa mensagem de confiança aos próprios jogadores, fazendo-os acreditar que podem lutar sempre no campo todo, pensando em ganhar mesmo contra os melhores, num incentivo decerto mais eficaz que o garantido em sessões de coaching ou por um guru motivacional. Passar aos profissionais a mensagem de que não servem pra mais do “feijão com arroz” nunca ajudou ninguém a ser melhor. Nem no futebol nem em qualquer outra actividade que eu conheça.

PS: O pior de Jorge Jesus vem ao de cima sempre que está por cima. Bastou ganhar um troféu, mesmo sem deslumbrar, e vencer um jogo (sofrido) que lhe valeu a liderança e lá voltaram as palavras fanfarronas (“somos uma equipa mais italiana, como a Juventus”) ou insensatas (“Gelson e Dost são mais de 50% do Sporting ofensivamente”). A seguir aconteceu no Estoril o mesmo que o ano passado em Vila do Conde, quando após o bom jogo em Madrid proclamou que “a melhor equipa em Portugal é sempre a que eu treino”. Nem todas as palavras são levadas pelo vento."

Isto não é um cachimbo

"O MP está a fazer militantemente o pior que pode acontecer à justiça: vive na idade do espectáculo. Sabe-se o que acontece depois.

um quadro famoso do surrealista René Magritte, "Ceci n'est pas une pipe", com um desenho de um cachimbo que tem, por baixo, uma frase: "Isto não é um cachimbo." Ou seja, o objecto representado não o é. Este exercício parece ser agora o guia de comportamento do Ministério Público português. Por baixo de uma estátua da justiça, com a deusa vendada e com uma espada e uma balança nas mãos, o MP (e a PGR) parece querer, num momento inspirado na observação cuidadosa de quadros de naturezas-mortas, inscrever a frase: "Isto não é justiça." Este exercício de frugalidade ficou agora patente num dos mais patéticos e infantis exercícios do poder judicial nos últimos anos. Alguém, no MP, leu nos jornais ou viu nas redes sociais que Mário Centeno tinha pedido dois bilhetes para um jogo do Benfica e, num exercício de Sherlock Holmes manhoso, reparou que havia algo com uma isenção municipal a uma empresa de Luís Filipe Vieira. Aí descobriu o segredo da electricidade e viu a luz: tudo está ligado. Rapidamente se fez soar que Centeno estava a ser investigado e fez-se uma busca às instalações do Ministério das Finanças. Depois de se ter conseguido colocar em causa a presença de Centeno à frente do Eurogrupo, a PGR veio anunciar, célere, o "arquivamento por falta de provas". Se isto não fosse uma prova de incompetência infantil e o caso não fosse sério (porque envolve a imagem do Estado) até poderíamos pensar que já estávamos no Carnaval.
O MP acha que a justiça é um serviço de pizzas ou de frango assado ao domicílio. Mas, para isso se concretizar, não instrui processos: cria uma empresa de distribuição. A questão é que, depois desta actuação trapalhona, não se escutou uma palavra da agora endeusada Joana Marques Vidal. Nem um pedido de desculpas da PGR. Nem o anúncio de um inquérito interno à palermice do MP. Cioso de ser autónomo face aos poderes eleitos, o MP parece precisar de uma Supernanny. O MP está a fazer militantemente o pior que pode acontecer à justiça: vive na idade do espectáculo. Sabe-se o que acontece depois."

Três baixas de peso

"Como por magia, os três candidatos ao título ficaram privados quase em simultâneo de jogadores fundamentais.
Primeiro foi o Benfica, que perdeu Krovinovic; depois o Porto, que perdeu Danilo; logo a seguir o Sporting, que ficou sem Gelson Martins.
É difícil dizer qual dos três foi a baixa mais importante. Recordo que Rui Vitória assumiu abertamente o 4x3x3 para poder meter Krovinovic. Até aí fazia experiências, umas vezes jogava em 4x3x3 e outras em 4x2x4, metia Filipe Augusto no meio-campo ou Seferovic ao lado de Jonas - até que Krovinovic se impôs como o grande patrão do meio-campo, ao lado de Fejsa e de Pizzi. E deu ao jogo do Benfica outra fluência, outra intensidade, outra velocidade de circulação de bola.
A melhoria da equipa do Benfica observável nos últimos tempos devia--se muito a Krovinovic. E era talvez o jogador do Benfica mais difícil de substituir. No jogo contra o Belenenses bem se sentiu a sua falta. Mas se as aparências não iludirem, a adaptação de Zivkovic a esse lugar, experimentada contra o Rio Ave, pode ser a solução.
O caso de Danilo, jogando numa posição completamente diferente, tem semelhanças com o anterior. O Porto é um com ele e outro sem ele - porque o plantel não dispõe de outro jogador com as mesmas características. Um médio defensivo puro, com muita presença física, que permitia aos jogadores da frente jogarem à vontade - porque sabiam que nas suas costas existia um obstáculo quase intransponível.
Danilo era importante na estratégia defensiva - mas também na estratégia ofensiva, pois dava tranquilidade aos avançados. E além disso marcava golos, aproveitando-se da sua altura e do porte físico. Sem Danilo, a equipa não joga com a mesma confiança e autoridade. Contra o Moreirense, isso já se viu... e contra o Braga também, pois o Porto concedeu ao adversário oportunidades de golo pouco habituais.
E assim chegamos a Gelson Martins. Outro jogador insubstituível. Não só no Sporting mas no futebol português, onde não há outro jogador como ele: rápido, repentista, imprevisível, muito habilidoso. Era o jogador que acelerava o jogo do Sporting. E, acima disso, era o principal municiador de Bas Dost. Aquele que abria as defesas e lhe punha a bola na cabeça ou nos pés.
A lesão de Gelson foi, pois, fatal. E, juntando-se às ausências de Bas Dost e Podence, tornou o Sporting uma equipa quase inofensiva. Viu-se e desejou-se para marcar um golo ao Guimarães e não conseguiu marcar nenhum ao Estoril, o que valeu a primeira derrota no campeonato.
As ausências de Krovinovic, Danilo e Gelson mexem profundamente com a dinâmica das respectivas equipas. Até hoje, o Benfica foi quem melhor superou a adversidade. Mas é preciso esperar pelos próximos jogos. E isto acontece num momento decisivo do campeonato."

Ministério Público “meteu o pé na poça” no inquérito a Centeno

"O Caso Centeno
1. Este inquérito a Mário Centeno foi um absurdo. O MP "meteu o pé na poça". É fácil de explicar.
a) Pedir convites para ir para o camarote presidencial de um clube pode ser politicamente errado, imprudente ou insensato. Mas não é crime.
b) E não é crime porquê? Porque ir por convite para o camarote presidencial de um clube é um uso e costume. É uma conduta habitual. Ora, quando uma alegada vantagem corresponde a um uso e costume, deixa de haver crime. Nesse caso, não há recebimento de vantagem indevida. É a lei que o diz. E o Ministério Público devia sabê-lo bem, até porque há magistrados que já várias vezes usufruíram desse uso e costume em camarotes de clubes de futebol.
c) Depois, o Ministério Público também devia saber que a concessão de isenções de IMI é uma responsabilidade dos Municípios e não do Ministro das Finanças.
2. Não me canso de elogiar a acção do Ministério Público. Mas, neste caso, só posso criticar. O Ministério Público precipitou-se e sai muito mal nesta iniciativa. É uma mancha grave na sua actuação. Dizia aqui há dias um magistrado do Ministério Público: a boa intervenção judicial exige 25% de conhecimento de direito e 75% de bom senso.
* Neste caso, faltou tudo – o direito e o bom senso. E a prova é que este inquérito foi supersónico. Fechou em meia dúzia de dias para que o disparate não se prolongasse por tempo de mais.
3. Pior que o Ministério Público só mesmo o PPE que queria discutir este Não Caso no Parlamento Europeu. Isto é a prova de que a falta de bom senso não tem fronteiras, está internacionalizada – é cá, é lá e pelo caminho. Valeu aqui, para impedir o disparate, a intervenção de Paulo Rangel. Está de parabéns. Uma coisa é a divergência partidária, outra é o sentido de responsabilidade e o interesse nacional.

Operação Lex
1. Sobre este caso, há dois lados da questão a analisar:
a) Primeiro, temos o lado negativo: dois juízes desembargadores a serem alegadamente corrompidos é um choque. O país fica chocado. Então a corrupção já chegou ao mais alto nível da justiça? Isto perturba as pessoas. Abala a sua confiança na justiça. Mina a sua crença nas instituições em geral. É um certo abalo. Um enorme murro no estômago.
b) Depois, temos o lado positivo: a justiça é igual para todos e é implacável com todos. até com os seus próprios pares. Ninguém escapa.
* Investiga-se um ex-PM, um grande banqueiro, altos gestores, um procurador do Ministério Público, dois juízes desembargadores e até dirigentes do futebol.
* Saber que ninguém fica impune, seja político, banqueiro, magistrado ou dirigente desportivo é o lado positivo que devemos valorizar.
c) Ou seja: em todos os sectores de actividade há gente séria e gente não séria, há pessoas honestas e pessoas que o não são. O importante é que ninguém escape à investigação quando prevarica. E este é o maior legado da actual Procuradora Geral da República. Depois de Joana Marques Vidal a investigação tornou-se mais livre, mais independente e mais abrangente.
2. Novas violações do segredo de justiça. Este é o ponto negro de mais esta investigação – novas violações ao segredo de justiça. Mas desta vez foi de mais. Chegámos a dois pontos inqualificáveis: primeiro, as televisões chegarem à casa de Rui Rangel antes dos magistrados que iam fazer as buscas (o que significa que alguém as avisou, marimbando-se para o segredo de justiça); segundo, o juiz Rui rangel ainda nem sequer foi ouvido, mas já está condenado na opinião pública (porque a acusação já pôs tudo cá fora). E aqui há três coisas a dizer:
a) Primeiro: é inexplicável que os vários agentes da justiça (juízes, Ministério Público, polícias e advogados) não se juntem para encontrarem uma solução.
b) Segundo: é inexplicável que a Ministra da Justiça não faça nada e cruze os braços.
c) Terceiro: se não têm a coragem de fazer cumprir o segredo de justiça, deixem-se de hipocrisias e acabem com o segredo de justiça.

Separar Futebol, Política e Justiça
1. Independentemente das questões judiciais, há lições a retirar destes dois casos (inquérito a Centeno e investigação LEX). E essas lições passam por uma conclusão: a política e a justiça devem separar-se o mais possível do futebol.
Quatro maus exemplos a evitar:
* Deputados que periodicamente se juntam no Parlamento para jantares com os presidentes dos grandes clubes de futebol. Parece uma iniciativa inócua. Mas não é. É má para o prestígio da política e às vezes chega a ser ridícula.
* Partidos que escolhem como candidatos autárquicos pessoas ligadas ao futebol. Como ainda em 2017 fez o PSD a respeito de Loures. Outro mau exemplo!
* Magistrados que são candidatos a dirigentes do futebol, como sucedeu com Rui Rangel, candidato ao Benfica. Essas candidaturas não deviam ser autorizadas. Misturar magistrados com dirigentes desportivos só descredibiliza os magistrados. O futebol é paixão, a justiça é razão!
* Magistrados nos órgãos dirigentes da Liga ou da FPF. Não deviam ser autorizados. Juntar a justiça ao futebol é uma mistura explosiva. Só dá em prejuízo para a imagem da justiça.
2. Nada disto exige muito esforço. Exige apenas algum distanciamento; algumas regras básicas; algum bom senso. E exige, sobretudo, que as pessoas se dêem ao respeito. Para poderem ser respeitadas.

Ranking das Escolas
1. Estes rankings valem ou não valem a pena? Uns dizem que sim, outros dizem que não. A minha posição é um meio termo: nem oito nem oitenta. Nem valorizo excessivamente, nem respeito liminarmente. Estes rankings são um instrumento de avaliação. Entre outros instrumentos de avaliação que também devem ser levados em atenção: por exemplo, as avaliações que são feitas periodicamente pela Inspecção Geral de Educação.
2. Há grandes surpresas nestes rankings? No essencial, NÃO. As melhores escolas são, como sempre, as privadas. E aqui há 2 coisas que devem ser ditas:
a) Primeiro: não é justo comparar, sem mais, escolas públicas e privadas. Porque as privadas podem escolher os seus alunos e as públicas não. O que faz grande diferença.
b) Segundo: também não é correcto fechar os olhos a esta outra realidade – apesar de haver escolas públicas e privadas na mesma localidade e com alunos do mesmo nível socioeconómico, mesmo assim as privadas têm melhores resultados que as privadas. Dá para reflectir.
3. Há algo de novo nestes rankings? Sim, este ano há uma novidade: os rankings não olham apenas para os resultados dos exames. Avaliam também o percurso do aluno. Ou seja, medem o sucesso do aluno ao longo de todo o ciclo de estudos.
* É uma avaliação mais completa.
* E os resultados são algo diferentes. Aqui já há escolas públicas e privadas nos primeiros lugares (nas 3 mais bem classificadas há uma pública à cabeça e duas privadas a seguir).
4. Nota final: mais importante do que estes rankings é comparar o comportamento de alunos portugueses com alunos de outros países com a mesma idade. E aí, sem embandeirar em arco, temos boas notícias:
* A última avaliação do PISA (2015) mostra que Portugal está pela primeira vez acima da média da OCDE, à frente dos EUA ou da França, por exemplo.
* Melhorámos muito desde o início do século. Mas ainda estamos longe dos primeiros lugares: Singapura, Japão ou Canadá.

Militares Batem o Pé
1. Segundo o Expresso, os militares bateram o pé ao Governo por discordarem da decisão de só autorizar a contratação de 200 novos efectivos para as Forças Armadas.
2. Por que é que isto sucede? Há dois planos a considerar:
a) Plano factual: porque os militares gostavam de poder contratar mais pessoal. Isso é óbvio. Não tem novidade. Os militares querem contratar sempre mais pessoal e os governos são sempre mais contidos. Mesmo assim o número de 2018 é maior que o número autorizado no ano passado.
b) Plano político: o que é novo é que há um certo mal-estar nas chefias militares, sobretudo no Exército e na Força Aérea, por causa da nomeação do novo CEMGFA.
* Nos próximos dias o Governo vai escolher o novo CEMGFA – e vai escolher o actual CEMA. Uma excelente escolha, de resto.
* Ora, o Exército e a Força Aérea não gostam muito da ideia: o Exército porque acha que o critério da rotatividade na escolha deve acabar; a Força Aérea porque acha que o critério da antiguidade deveria ser o critério a adoptar.
* Assim sendo, esta tomada de posição é um pretexto para Exército e Força Aérea baterem o pé. Não é por acaso que o CEMA não esteve presente na reunião que aprovou aquela posição, tendo-se feito representar.
3. Nota final: ontem já depois da notícia do Expresso, saiu um comunicado dos Chefes Militares a tentarem corrigir o que tinha vindo a público. Na prática, mais coisa, menos coisa, a dar o dito pelo não dito. É como no caso de Tancos: primeiro, o roubo era muito grave; depois, para agradarem ao Governo, já não havia gravidade nenhuma. A sensação que fica é que estes Chefes Militares (ou alguns deles) são muito vulneráveis às pressões do Governo e pouco independentes.

Economia Crescer
1. Estão prestes a ser divulgados os dados do crescimento da nossa economia em 2017 – Portugal deverá ter crescido entre 2,6% e 2,7%.
a) É um óptimo resultado. O melhor desde o início do século e melhor que a Zona Euro, que deve crescer 2,3%.
b) Mesmo assim, convém ter em atenção: há 18 ou 19 países da UE que deverão ter crescido mais do que Portugal. Ou seja: o mérito é mais da economia europeia em geral e não tanto da acção governativa de cada país em particular.
2. Em 2018 como vai ser?
a) Vamos continuar a crescer. E bem.
b) Vamos crescer ligeiramente menos que em 2017. Mas não é significativo.
c) Mas, segundo as previsões da União Europeia, vamos ter 21 países da UE a crescer mais do que nós. Só 5 países farão pior resultado do que nós (Dinamarca, Reino Unido, Itália, França e Bélgica). 
d) Ou seja, sendo rigorosos, devemos dizer que andamos sobretudo à boleia da conjuntura europeia. Nada, portanto, de embandeirar em arco.

CGD com Lucros
A Caixa Geral de Depósitos voltou em 2017 aos lucros. É uma excelente notícia.
a) Primeiro, porque voltou aos lucros um ano mais cedo que o previsto.
b) Depois, porque este é um momento de viragem depois de anos e anos de prejuízos, de irresponsabilidades, de crise e de ruído desgastante.
c) Terceiro, porque mostra que os sacrifícios feitos estão a dar resultados.
d) Finalmente, porque significa que a Caixa tem uma gestão competente e voltou a ser notícia por boas razões."

Ressacas do verão

"Portugal cai no ranking da UEFA, mas é rei nas transferências para outros países. Um paradoxo ou um alerta?

No país do oito e do 80, uma notícia podia ter marcado a semana não fosse essa outra sobre Rui Rangel e a forma enviesada com que, no caso pessoal, mostrou acerto ao dizer que os juízes eram a "classe menos confiável em Portugal". Tem, obviamente, direito à presunção de inocência, mas por agora e pelo que foi tornado público (por quem deveria zelar pelo segredo de justiça) prová-la não se afigura simples. O mediatismo dos envolvidos, com Veiga e Vieira a fazerem a ligação à omnipresença do futebol na vida lusitana, tiraram protagonismo à tal outra notícia, que Carlos Tê fez o favor de recuperar na última página desta edição: o lucro dos clubes portugueses com transferências internacionais em 2017 esteve perto dos 570 milhões de euros. Mas este dado assombroso tem um lado crítico que não pode ser desprezado dentro do conceito "keep the customer satisfied". E os clientes só se manterão satisfeitos se o produto que pagam (a peso de ouro) for bom. André Silva, Lindelof, Mitroglou e Rúben Semedo são quatro dos membros do "top 10" e cujas vendas somaram 102 milhões de euros. São discutidos, não são indiscutíveis e o central ex-Sporting até tem sido notícia por razões extrafutebol. O "top 5" do ano anterior também dá que pensar: João Mário, Renato Sanches, Slimani, Guedes e Gaitán renderam 160,5 milhões, mas tiveram de descer um degrau para não se apagarem, à excepção do argentino, que nem conta no At. Madrid... Com a decrescente competitividade europeia das equipas nacionais e o acesso à mina da Champions mais estreito, só faltava que o "produto nacional" começasse a ganhar má fama nos mercados compradores.
570 milhões de euros em transferências internacionais fazem de Portugal campeão desta liga. O difícil é, depois, conseguir justificar esse estatuto.
Referência final para os Jogos Olímpicos de Inverno e como, com a aproximação aos vizinhos do Sul, o regime norte-coreano parece ter arranjado forma de atirar com o odioso do conflito político e da corrida ao armamento para o lado do regime norte-americano. Como sublinha aqui ao lado o embaixador português em Seul, convém sermos prudentes, mas se as duas Coreias entrarem mesmo de mãos dadas no desfile de abertura é coisa para pôr Trump a fazer beicinho..."

"Um dia, eu e o Bossio atámos os pés e as mãos e tapámos a boca a um funcionário do Benfica e deixámo-lo no corredor do hotel"

"- Nasceu em Oliveira de Bairro e é filho de professores, certo?
- Sim, os meus pais eram ambos professores, já estão reformados. A minha mãe do ensino primário, e o meu pai de educação física no ensino secundário.

- Tem irmãos?
- Tenho um irmão e uma irmã, ambos mais novos do que eu.

- Na família tinha alguém ligado ao futebol?
- O meu pai foi jogador toda a vida, mas só jogou no Oliveira do Bairro por decisão dele, porque naquela altura deu preferência aos estudos e à carreira do ensino.

- Na sua infância era um miúdo calmo ou nem por isso?
- Acho que era um miúdo como os outros, gostava de andar a brincar na rua e fazia o necessário para passar de ano.
- Não gostava da escola?
- Sempre gostei da escola e sempre acabei; e fiz o que tinha que fazer. Eu chego primeiro ao ensino superior do que ao futebol profissional.

- Como é que começa o futebol?
- O futebol começa desde que comecei a andar. Pelo menos é o que me contam. Oficialmente, começou aos 10 anos, no Oliveira do Bairro, porque antigamente não havia escalões de formação inferiores aos infantis. O Oliveira do Bairro foi o único clube que representei nas camadas jovens.

- Foi para o clube porque pediu ao seu pai ou foi ele que o levou por sua iniciativa?
- Não faço ideia, sei que fui lá treinar e, no primeiro treino, fugi.

- Fugiu porquê?
- Por vergonha, por medo, não sei.

- Mas não chegou a fazer o treino?
- Não. O meu pai deixou-me lá e foi fazer não sei o quê e eu assim que percebi que ele não estava lá, fugi para debaixo da bancada e estive o treino todo escondido (risos).

- E depois?
- No final do treino, o meu pai foi perguntar ao treinador que era colega dele de Educação Física como é que tinha corrido e ele disse-lhe que eu não tinha treinado. Ainda apanhei umas lambadas bem valentes. Depois foi pacífico, foi só o primeiro treino, depois foi normal.
- Faz a formação toda no Oliveira do Bairro mas dispensam-no quando chega a sénior.
- Sim, eu mais uns cinco colegas juniores. Fomos todos para um clube da distrital de Aveiro. O Arbiscal foi quem nos recebeu.

- Quando foi dispensado deve ter apanhado um “balde de água fria”. Como é que reagiu? 
- Seguramente deve ter sido, mas depois esqueci-me rapidamente porque a paixão de jogar era tanta, que onde tivesse que ser, seria.

- Começou logo como avançado ou noutras funções?
- Fiz a minha formação toda a jogar no meio campo, o meu primeiro ano de sénior também foi no meio campo, embora sempre fosse um jogador que tinha muita apetência pelo golo. No primeiro ano de sénior, mesmo numa equipa muita fraquinha, fiz 12 golos. No ano seguinte fui contratado por uma equipa melhor, chamada Águas Boas, para jogar a médio também.

- Tinha quantos anos quando se estreou como sénior?
- 18 para 19, quando joguei no Arbiscal, e 19 para os 20 no Águas Boas.

- É no Águas Boas que se torna avançado?
- Sim, fiz um terço da época no meio campo, ou se calhar nem isso, e, curiosamente, no dia em que ia ser suplente houve um central que teve uma indisposição, não pôde jogar, o meu colega do meio foi para central e eu entrei para o meio e marquei quatro golos. No final o treinador disse-me: “Desculpa João mas nunca mais vais jogar no meio, vais começar a jogar à frente”.

- Disse há pouco que prosseguiu sempre com os estudos...
- Sim, embora tivesse chumbado no 8º ano. Estava numa turma muito má, com más influências e depois como eu era um ano mais novo do que eles, também me deixava levar pelas brincadeiras mais idiotas.

- Os seus pais como é que reagiram?
- Muito mal e o castigo era não jogar futebol. Estive dois ou três períodos enquanto atleta de formação, sem jogar. O meu pai proibia-me de jogar até eu subir as notas.
- Só chumbou no 8º ano?
- E no primeiro ano da faculdade, não entrei logo directo.

- Para que curso que queria ir?
- Para Educação Física. Só que entretanto na altura não tinha a cadeira de Biologia do 12º ano feita e acabei por não poder concorrer na primeira fase. Não me candidatei à 2ª e fiquei um ano para subir notas e fazer Biologia. Daí só ter entrado com 21 anos.

- Entra em que faculdade?
- Na Escola Superior de Educação de Castelo Branco. Não era a minha primeira opção. A primeira era Coimbra.

- Mas nessa altura ainda não jogava na Académica pois não?
- Não. Entrei na faculdade, ainda fui para o Anadia e só fui para a Académica depois.

- Vai para o Anadia em que época?
- 1995-96.

- Como é que surge a Académica? Na altura já tinha empresário?
- Não, antes não havia nada disso. Vou para a Académica porque quando estive no Anadia, fizemos uma grande época, disputámos os lugares de cima quase todo o ano, fiz uma dupla muito bonita com um colega do Anadia, o Frasco. Ele fez, salvo erro, 19 ou 20 golos, eu fiz 14. Ele era mais velho do que eu uns cinco, seis anos. E no final da época fui fazer testes à Académica.
- Quando era pequeno torcia porque clube?
- Pelo Sporting.

- O seu pai também torcia pelo Sporting?
- É tudo benfiquista (risos). Os meus dois avôs eram portistas e tinha um tio meu que era sportinguista. Foi o único que me deu uma bandeira, e pronto escolhi o Sporting. Era sportinguista mas nunca fui muito sofredor.

- Quando é que faz o primeiro contrato profissional?
- Em 1996-97, quando vou para a Académica.

- Só aí é que começa a ganhar dinheiro?
- Sim, ganhava para comer.

- Mas foi o seu primeiro ordenado?
- Não, o Anadia já pagava e os outros clubes já pagavam, mas o pagamento da Arbiscal era uma nota. Era uma nota mas para mim já era muito.

- Era uma nota de que valor?
- Uma nota das verdes, antigas, cinco mil escudos.

- Lembra-se do que fez com o primeiro dinheiro que ganhou?
- Não tenho a certeza, mas com o segundo salário comprei um casaco de penas. Há 25 anos ter um casaco de penas era um luxo que não estava ao alcance de todos. Custou-me 16 contos.

- Quando vai para a Académica já tem carro?
- Já tinha um carrito, um Renault 5. Custou-me 30 contos.

- Que idade tinha?
- Uns 20 talvez. Sim, quando fui para o Anadia já o tinha.

- Quando vai para a Académica é a primeira grande mudança na sua vida. Deixa a casa dos pais... 
- Sim. Quando vou para a Académica é o primeiro sonho concretizado. Não só por ir representar o clube que é, mas também por concretizar o sonho de ser profissional.
- Nessa altura não lhe passava pela cabeça jogar no Benfica.
- Não, longe disso.

- E o curso?
- Quando vou para Coimbra peço a transferência que foi autorizada e passei a ter aulas em Coimbra. 

- Esteve em Coimbra três épocas e meia. Quando se lembra desse tempo, qual é a melhor recordação lhe vem logo à cabeça?
- O ano da subida, logo na minha primeira época, 1996/97. Embora tenha sido um ano de aprendizagem, um ano difícil para mim, joguei pouco, mas o que joguei foi importante para mim e em determinados momentos importantes para a Académica.

- Ficou a viver sozinho em Coimbra?
- Fui viver para Coimbra mas não me adaptei. Fiquei lá um ano sozinho, não tinha nada para fazer à noite, e no segundo ano decidi regressar a casa dos meus pais. Fazia 60, 70 quilómetros todos os dias.  
- Nessa altura já tinha namorada?
- Sim, já tinha namorada e estar em Coimbra sozinho... Nunca fui um homem solitário.

- É com essa namorada que casa?
- Sim, a minha mulher actual e única.

- Já estão juntos há muito tempo.
- Já levamos mais tempo juntos que separados. São 22 anos de união.

- Ela trabalha?
- Não.

- Na Académica que treinadores é que apanhou?
- Vítor Oliveira, foi o primeiro, Henrique Calisto, José Romão, e o outro que agora não me lembro do nome que faz comentários para a Bola TV, e é pai do adjunto do Sérgio Conceição.

- E dessas três épocas e meia na Académica que outros jogadores apanhou que tenham tido sucesso? 
- O Mickey, o Rocha, o Pedro Roma, os primos Campos, Miguel Bruno, o Vidigal que ainda hoje lá está, uma série deles.
- Deixa de estudar quando vai para o Benfica. Porquê?
- Há determinadas variáveis que influenciam o facto de deixarmos de ir às aulas, como por exemplo, descansar. Mas acho de uma relevância extrema aqueles que treinam e continuam a estudar.

- Também estão na flor da idade, começam a ganhar mais dinheiro, é natural que queiram viver a vida de outra forma e que se deslumbrem um bocadinho…
- Também pode influenciar, mas depois é o meio em que nós estamos inseridos que é um bocado estranho. As pessoas ficam mais reservadas, muitas vezes não gostam de aparecer.

- Como é que surge o Benfica? Quem é que o convida?
- Através do meu empresário, o José Veiga.

- Além do Benfica, teve outras propostas?
- Do meu conhecimento, não.

- Quando lhe falaram do Benfica como é que reagiu? Como é que é ser convidado por um grande?
- É uma situação que muitas pessoas até hoje não compreendem.

- Não compreendem o quê?
- O facto de eu ter saído da Académica para ir representar o Benfica. Ainda hoje sofro na pele isso. Foi muito mal aceite pelas pessoas de Coimbra.

- Porquê?
- Não queriam que eu saísse.

- Nunca o perdoaram?
- Não, não me perdoaram até hoje. Não sabe o que é que aconteceu em Coimbra quando o Famalicão lá foi jogar? [Houve invasão de campo de adeptos das duas equipas e João Tomás director desportivo do Famalicão, foi o principal alvo da fúria dos adeptos da Académica]. Mas não vale a pena entrar por ai. Tenho muita pena que isto seja assim, mas infelizmente é o que acontece. Não gosto de falar sobre isso.

- Quando vai para Lisboa, para o Benfica, vai sozinho?
- Sim, fui viver para um apartamento ao pé do estádio de Alvalade.

- Custou-lhe a adaptação à capital?
- Não custou muito porque todas as semanas acabava o jogo e vinha para cima, ia para Oliveira do Bairro. Mas o tempo que passava sozinho custava.

- Não houve ninguém no clube que o ajudasse a adaptar-se a Lisboa?
- No primeiro ano apanhei João Vieira Pinto, Nuno Gomes, Bossio, Paulo Madeira e esses mais velhos que são exemplos que mantive ao longo da minha carreira. Também cheguei a ser dos mais velhos em várias equipas por onde passei e gostava de colocar os mais novos à vontade.

- Dessa época e meia no Benfica quais foram os momentos mais marcantes para si?
- O célebre Benfica-Sporting, em que marquei dois golos, entre outros. Acho que quando chegamos a um desafio tão grande como esse, e no meu caso, embora não tenha certeza do que vou dizer, mas não são muitos os casos de jogadores que jogam na II Liga e chegam a uma equipa grande, jogam e são vendidos passado um ano e meio, ok? Orgulho-me disso, porque cheguei da Académica, mas da Académica da II Liga, não era a da I. Isso tem peso. Há pessoas que conseguem lidar com isso e outras que não. Felizmente, eu consegui. Em determinados momentos foi difícil? Foi claro.

- Porque é que diz que foi difícil?
- Claro que é difícil. Jogar num clube da dimensão do Benfica é difícil. A exigência é muito grande, temos de estar sempre no nosso melhor. E isso nem sempre é possível e umas vezes as pessoas compreendem, outras não.

- Foi um choque muito grande a passagem de Coimbra para o Benfica?
- Desportivamente foi, embora me relacionasse com a minha profissão exactamente da mesma maneira como me relacionava em Coimbra. Agora, claro que sabia que a exigência era outra porque aquilo que fazíamos muitas vezes não era suficiente, tínhamos que fazer mais e melhor. E se isso pode ser um factor motivacional muito grande, mas também pode ser um factor inibidor em determinadas circunstâncias.

- Sentia que tinha algo mais a provar do que os outros jogadores por ir vir da II divisão?
- (pausa) Nunca pensei isso. Possivelmente, posso em determinados momentos ter pensado que não estaria preparado para aquele desafio, mas depois esqueci-me rapidamente disso e tinha que agarrar todas as oportunidades com unhas e dentes.

- Esses momentos em que chegou a ter dúvidas de si, lembra-se de quais foram em concreto?
- (pausa) Em determinados momentos. Principalmente na segunda época. Já lá tinha estado uma época completa, primeiro com o Heynckes em que as correram correram muito bem, depois com o Mourinho, também muito bem. Depois com o Toni as coisas para o fim já não foram muito positivas. Nesse período de tempo houve momentos em que pensamos que as coisas não estavam bem para mim e não estavam bem para a equipa. Não é por nada que fizemos a pior classificação da história do clube nesse ano.

- Sim, um 6º lugar.
- E isso faz criar dúvidas. Todo o desporto de elite exige muito dos atletas e não é só em termos físicos, claramente. Não é por acaso que qualquer atleta que visita um médico a primeira coisa que este lhe diz é que o desporto de alta competição não dá saúde a ninguém.

- Como é que foi ter o Mourinho como treinador?
- Foi muito positivo. Guardo boas recordações dele, de vez em quando ainda falamos. Foi um período de tempo muito curto que coincidiu com a minha melhor fase no Benfica e isso já diz muita coisa. 

- Ele é realmente um treinador assim tão especial?
- Naquele tempo não sei se era especial, mas era diferente.

- Em que aspecto?
- Na forma de lidar, na forma de falar, a forma tão específica com que tratava das coisas; era tudo muito bem organizado. Isso agora é vulgar mas naquela altura não era.

- Já disse que veio sozinho para Lisboa...
- ...mas venho já com o casamento marcado e consegui concretizá-lo.

- Casou quanto tempo depois de ter chegado ao Benfica?
- Fui para o Benfica em Janeiro de 2000 e casei em Junho desse ano. A minha mulher ficou comigo em Lisboa.
- Como surge o Bétis?
- Por convite.

- Hesitou?
- Obviamente que sim.

- Porquê?
- Porque a dimensão de uma coisa não é a dimensão da outra. Mas tínhamos de tomar decisões e as condições financeiras nessa altura pesaram.

- Na altura como estava a situação com o Benfica?
- Tinha mais dois anos de contrato, ainda tentámos uma abordagem para chegarmos a um número que fosse ao encontro daquilo que estivesse próximo do que já havia em cima da mesa, mas não foi possível. E resolvi ir.

- Como foi a adaptação a Espanha e ao clube?
- Muito fácil, muito boa, tudo tranquilo, Sevilha é uma cidade maravilhosa. Conhecemos muitas pessoas, se não vou todos os anos a Sevilha, vou de dois em dois. E se não vou eu, vêm alguns amigos aqui. Tenho uma relação muito próxima com a cidade.

- Como correram as coisas no Bétis?
- O primeiro ano foi muito positivo. O segundo foi mau, também porque me lesionei e tive de ser operado duas vezes ao joelho esquerdo com problemas de ligamentos. A lesão é o nosso inimigo número um.

- Porque sai de Sevilha e vem para o V. Guimarães?
- Porque o treinador decidiu emprestar-me e entre ficar em Espanha na II Liga, que era a proposta que havia, e regressar a Portugal, preferi vir para Portugal. E fui para o Vitória.

- Emprestado?
- Sim.

- Correu bem essa época?
- Não, foi muito má.

- Porquê?
- Também foi má para o clube. Estivemos muito próximo de descer de divisão e por isso não foi fácil.  
- Depois troca Guimarães pelo SC Braga.
- Sim, o professor Jesualdo Ferreira quis-me levar para Braga, fui a Espanha solicitar que me emprestassem mais uma vez e vim. No segundo ano já fiquei a pertencer ao SC Braga.
- Segue-se o Qatar. Foi pelo dinheiro?
- Obviamente que as condições financeiras eram melhores.

- A mulher e filhas também foram?
- Foram. Mas eu fui primeiro. Cheguei ao Qatar cheio de reservas, porque a primeira coisa que fazemos é ir pesquisar na net para saber o que vamos encontrar. Mas quando lá cheguei liguei à minha mulher e disse-lhe que aquilo era tal e qual o que pensávamos, não havia diferença nenhuma para o que víamos na net, só não era tão verde. Estive lá entre 15 dias a um mês sozinho e entretanto elas chegaram. A adaptação foi muito fácil, a minha filha mais velha foi para a escola inglesa. Fizemos a vida como se estivéssemos em Portugal.

- Havia outros portugueses lá?
- Curiosamente, fui encontrar lá um casal de portugueses de Oliveira do Bairro. Embora eles fossem mais velhos que eu, lembro-me bem deles. O mundo é realmente pequeno.

- Em termos desportivos foi encontrar uma realidade diferente, um futebol mais fraco...
- Acho que é injusto chamar-lhe isso mas... com outro nível competitivo sim.

- Porque esteve em dois clubes no Qatar?
- Porque naquela altura, desde que houvesse acordo, os clubes tinham possibilidade de trocar jogadores uns com os outros. O treinador de outra equipa quis-me muito, a minha equipa não se opôs e eu fui para o outro lado.

- Isso obrigou-o a mudar de cidade?
- Não. Não foi preciso mudar nada.

- Não tem nenhuma nenhuma história do Qatar que possa contar?
- História, história não, mas tenho um episódio curioso. Sou aficionado das motas, gosto de corridas de motas, gosto de andar de mota.

- Tem mota?
- Não, não tenho mas gosto de andar de mota. Durante a minha adolescência o meu meio de transporte era motorizada que a minha mãe tinha, que era uma acelera de 1975 ou 76. Só tive essa mota, que era da minha mãe. Mas sempre tive um prazer especial em ver motas. Já fiz inclusivamente test drives em circuitos. E estava eu no Qatar quando um primo meu com quem eu andava de mota na adolescência me diz que ia acontecer o Grande Prémio das Super Bikes, em Janeiro ou Fevereiro, lá no Qatar. Ele diz-me que vai la estar um português que ele conhecia e que ia falar com ele para ele se encontrar comigo no Qatar e eu poder ir ao paddock e ver a partida da pista, etc.

- Quem era o piloto?
- O Miguel Praia. E a verdade é que nos encontrámos e sem nos conhecermos de parte alguma tornámo-nos amigos, mas amigalhaço mesmo de ele dormir na minha casa e eu na dele. Ficou uma amizade para o resto da vida.

- Quando andava de mota nunca teve nenhum acidente, nunca caiu?
- Não. De motorizada caí uma vez ou duas. Mas nada de mais, quem cai a 30 a hora... aquilo só dava 40 (risos). Cai uma vez sozinho naquelas aventuras de adolescentes, um gajo pensa que pode curvar mais do que deve e tumba, lá fui. Estraguei as calças de ganga. Depois, caí outra vez num episódio que tive com o meu primo. Ele caiu à minha frente e eu não consegui travar e passei por cima da mota dele e caí também a seguir, mas não nos magoámos nem nada. Também iamos a 20 ou 30 à hora porque íamos numa estrada da terra a brincar.

- Os seus pais nunca o proibiram de andar na mota à conta disso?
- Não, não. Aquilo não era considerado uma mota. Aquilo era uma bicicleta com um motor mini (risos).

- Voltando ao futebol. Regressa ao SC Braga porquê?
- Porque tinha contrato, eu fui emprestado.

- Tem pena de não ter ficado mais tempo no Qatar?
- Eventualmente, sim. Podia ter ficado lá mais um ano ou dois. Mas também não vinha para o Rio Ave e a história já não se fazia da mesma maneira.

- Já lá vamos. Fica uma época em Braga.
- Sim, também correu muito mal. O SC Braga fez uma época muito má, teve três treinadores, no final do ano dispensaram os meus serviços e fui à minha vida.

- O José Veiga nessa altura ainda era seu empresário?
- Não, ele deixou de ser meu empresário quando fui para Espanha.

- Teve mais algum empresário?
- Tive, mas esse é um assunto do qual não gosto de falar, porque as coisas nem sempre correm bem. 

- Vai para o Boavista.
- Vou para o Boavista na I Liga só que entretanto descemos na secretaria e faço a época na II.

- Sente que teve azar ao longo da carreira?
- (risos). Azar é demasiado pesado, mas alguma falta de sorte, sim (risos). Falta de sorte especialmente com as pessoas que nos acompanham, ou melhor, que nos envolvem, que estão no ambiente que rodeia esta vida.

- É um meio difícil o do futebol?
- É um meio onde tens de estar sempre no auge das tuas capacidades. Quando não estiveres, tudo é esquecido rapidamente.

- Sente que tem de estar sempre com um pé atrás?
- Deves estar sempre com um pé atrás. Não tens que estar sempre mas deves precaver-te. Mas não é exclusivo do futebol. É um meio como todos os outros, como é a sociedade em geral, onde há gente boa e gente má. Ponto.
- Depois do Boavista vai para o Rio Ave.
- O Rio Ave já me queria no mercado de inverno, entretanto não foi possível e no final da época fui. E ainda bem que fui.

- Porquê?
- Porque as pessoas demonstraram sempre grande interesse sem me conhecerem como pessoa e depois, passados três anos e meio, dou-me muito feliz por ter tomado essa decisão. Seguramente as pessoas de Vila do Conde dirão o mesmo porque até hoje mantemos uma relação muito bonita.

- Pelo meio foi emprestado.
- Fui. Eu estava a fazer uma época muito boa no primeiro ano e o mister Manuel Cajuda estava nos Emirados Árabes e veio buscar-me. Fiz cinco meses lá.

- Com ou sem família?
- Sem. Fui sozinho porque eram só cinco meses. Se por ventura tivesse permanecido mais tempo, aí sim a família ia ter comigo.

- Como foram esses cinco meses?
- Muito parecido ao Qatar. Sem problema. Fiquei num aparthotel. Tranquilo.
- Regressa ao Rio Ave e ainda fica lá duas épocas e meia. que melhores recordações tem dessas épocas?
- Muitas e muito boas. Fiz o golo 100 no Rio Ave, tornei-me no melhor marcador da história do clube na I Divisão, fiquei sempre muito bem classificado na tabela dos melhores marcadores a lutar com o Falcão, com o Hulk e com o Cardozo, e isso são motivos mais do que suficientes para me sentir realizado. Conheci colegas com os quais tenho uma amizade que vai permanecer para a vida.

- Pode dar exemplos?
- Tarantini.

- Nessa altura conseguiu provar que se calhar as coisas não tinham corrido tão bem não por culpa sua mas pelas circunstâncias?
- Não, em Braga já me tinha acontecido isso. Aliás, eu não tinha de provar nada a ninguém. Fiz muitos golos na Académica, fiz muitos golos no Benfica, fiz menos golos no segundo ano de Sevilha e em Guimarães, mas porque as coisas nem sempre correm bem. Mas depois, em Braga, foi muito positivo. Atenção que quando cheguei a Braga já tinha 29 anos, e em termos competitivos, foi muito positivo ter feito a época que fiz. Os 17 golos no Benfica, na I Liga, é um marco difícil de alcançar, mas, na competição pura e dura do que é estar ao mais alto nível, talvez tenha sido em Braga que tenha alcançado isso. Embora por diferentes motivos em Vila do Conde também foi...mas em Vila do Conde já era mais uma sensação de prazer, à medida que as coisas iam acontecendo. É bom relembrar que cheguei ao Rio Ave com 34 anos, ok? E fiz o que fiz dos 34 aos 37 anos.
- Mas ainda vai a Angola.
- Na altura foi uma decisão difícil de tomar porque eu tinha projectos semi planeados aqui.

- Que projectos?
- Deixar de jogar no Rio Ave, assumir uma posição natural...mas não foi possível e fui para Angola. O clube em causa mostrou muito interesse.

- Foi com a família?
- Não, elas ficaram em Portugal por questões de logística, da escola.

- Depois decide colocar um fim na carreira.
- Sim, depois regresso a Portugal em Março de 2014, ainda tentei fazer qualquer coisa no futebol, mas os convites que tive foram da II liga e decidi pôr um ponto final na minha carreira e voltar à escola.

- Já lá vamos à escola, antes quero saber como é que foi a sua experiência na selecção.
- A primeira chamada à selecção A foi quando estava no Benfica. Nunca tinha sido chamado. Antes da A ainda joguei duas vezes na B, que entretanto foi extinta.

- Quem é que o chama?
- O António Oliveira, em 2000.
- Estreia-se com Israel, não é?
- Sim, com Israel, aqui em Braga. Um jogo particular, acho eu.

- Volta a ser chamado?
- Depois, salvo erro, fui chamado mais seis vezes e joguei quatro.

- Chega a fazer o Mundial de 2002?
- Não, não fui convocado.

- Quando se estreou o que achou do ambiente da selecção? É um ambiente muito diferente?
- É o ponto alto da carreira.

- Foi sempre um sonho jogar pela selecção?
- Não, nunca sonhei isso. Isso não se sonha. Ou é ou não é. Se estivermos num grande nível nos clubes, existe essa possibilidade, mas não se sonha, isso é uma consequência do que fazemos.

- Mas estava à espera de que acontecesse naquela altura?
- Nós esperamos sempre.

- O ambiente de selecção, de acordo com o que imaginou?
- Sim. Grande categoria em termos futebolísticos, grande categoria dos colegas, um grande nível. Foi muito positivo e inesquecível.

- Depois do Oliveira só volta a ser chamado pelo Scolari?
- Sim.

- Muito diferentes?
- Reconhecidamente, sim.

- Quais as maiores diferenças?
- O Scolari era uma pessoa mais extrovertida, digamos assim, mas acho que isso não é relevante, até porque já não tenho bem na memória esses detalhes.

- Chegou a fazer algum Europeu ou Mundial?
- Não, a fase final não. Joguei para o apuramento do Mundial de 2002 e para 2006.

- Sente alguma frustração em relação à selecção?
- Não sinto frustração nenhuma, mas reconheço que poderia ter ido mais vezes, isso não tenho dúvida em assumi-lo.

- Acha que isso não aconteceu porquê? Porque havia outros jogadores em pé de igualdade consigo ou por outras razões?
- Não ponho outra razão que não seja a escolha.

- Quando estava em Coimbra chamavam-lhe o “Jardel de Coimbra”. Gostava ou nem por isso? 
- Houve um período que tinha algum sentido, depois deixou de ter, porque eu não era o Jardel de Coimbra, era o João Tomás, ponto.

- Mas não se importava com a comparação?
- Não me importava, nem ninguém se importa de ser comparado a coisas boas, mas quando as coisas boas começam a transformar-se em coisas más, já não gostamos. E chega a um ponto em que já não faz sentido porque também já somos reconhecidos e não faz sentido ser chamado pelo nome de outro.  
- Quando abandonou a carreira em 2014 foi difícil tomar a decisão de “arrumar as botas”?
- Não, foi assumidamente natural. Chega um ponto em que percebemos que não dá. Não vale a pena andar a inventar e a chorar pelos cantos.

- É nessa altura que resolve inscrever-se na faculdade outra vez?
- Sim, para o mesmo curso, embora em moldes diferentes.

- Terminou o curso?
- Sim, em maio passado e já estou a tirar o mestrado. O conhecimento é fundamental para estar na vida. A licenciatura já me deu uma base muito boa para o trabalho que eu tenho agora, embora reconheça que algumas áreas são mais de gestão pura e temos que recorrer às pessoas que trabalham connosco, mas sinto-me perfeitamente preparado para mostrar ainda mais conhecimento também nessas áreas. As pessoas associam muito o trabalho de director desportivo à questão financeira, à questão das contas e da gestão, ok também é, mas não é só.

- O mestrado que vai fazer é em que área?
- Em treino desportivo.

- Não faz parte das suas ambições ser treinador?
- Não, não.

- Vê se mais no papel que está a desempenhar como director desportivo?
- Sim.

- É esse o seu objectivo, ser director desportivo, ou ambiciona chegar à presidência de um clube?
- O meu objectivo é fazer bem aquilo a que nos propomos e eu tomei a decisão em Abril do ano passado, de ter saído da formação do Sporting de Braga para assumir este cargo. A minha ambição é desempenhar bem as funções que desempenho na actualidade.

- Como é que se tornou treinador dos avançados do SC Braga?
- Conheço as pessoas e apresentei um projecto de treino específico dos avançados. Gostaram muito da ideia e resolveram implementaram. Era um projecto de treino específico dos avançados.

- De onde veio essa ideia?
- Da minha cabeça (risos).

- Não se inspirou em lado nenhum?
- Não, sempre falei nisso ao longo da minha carreira e tenho a certeza que continua a ser um projecto interessantíssimo para os clubes que tenham possibilidade de o fazer.

- Sabe se há outros clubes que o façam?
- Que eu tenha conhecimento, não.

- Em que é que consistia esse projecto? Em treinar especificamente o quê, posicionamento em campo, jogo aéreo?
- Tudo, tudo o que envolve o jogo.

- Esteve quanto tempo a fazer isso no Braga?
- Entrei em Setembro de 2015 e sai em Abril de 2017.

- Sai porque vai entretanto para o Famalicão.
- Sim.

- Sempre ambicionou ser director desportivo, é esse seu perfil?
- Enquadra-se naquilo que eu quero. Não tenho ambições de ser treinador, não creio que tenha perfil para isso. Também nunca tive perspectiva de desempenhar este cargo, embora já no tempo do Rio Ave se falasse de eventualmente eu poder encaixar-me nesse perfil de director desportivo quando acabasse a minha carreira.

- O dinheiro que foi juntando ao longo dos anos investiu em quê? No imobiliário, meteu-se em algum negócio?
- Não, não fiz grandes coisas ao nível dos investimentos.

- Sei que fez uma ligação Madrid-Lisboa em bicicleta. É verdade?
- Sim (risos). Em 2015

- Como é que surge?
- Fui convidado pela organização para fazer uma equipa que fizesse Madrid – Lisboa. Eu na altura não estava na formação do Braga quando aceitei esse desafio. Como deve calcular para fazer um desafio destes é preciso treinar muito, senão não fazemos nada, só vamos para lá sofrer e então foram algumas semanas boas, valentes a treinar para que fosse possível realizar isso. E lá fomos nós, foi uma brincadeira.

- Já conhecia o ciclista Rui Sousa?
- Já. Conheci-o através do Nelson e do Sérgio Rosado, os Anjos, de quem sou amigo.

- Conheceu-os onde e como?
- Há muitos anos, na apresentação de uns equipamentos do Benfica. Desde aí não perdemos o contacto.

- Foi muito dura essa ligação Madrid-Lisboa? O que é que custou mais?
- O que custou mais foi pedalar (risos). Tem que se estar medianamente preparado para fazer uma coisa dessas.

- Quando era jogador gostava de fazer noitadas de vez em quando?
- Odeio a noite até hoje. Não gosto nada. Claro que estaria a mentir se dissesse que nunca saí. Saí, obviamente, agora por norma, não. Não me identifico minimamente com a noite.

- Do que é que não gosta?
- Gosto de me levantar cedo e quem se levanta cedo, não se pode deitar tarde. Sempre gostei de dormir as minhas horas de sono, as tão famosas oito horinhas, por isso não há espaço para noitadas.

- E do Benfica, não tem nenhuma história para partilhar?
- Só tenho uma que já partilhei.

- Partilhe connosco.
- No Benfica, nos estágios eu ficava no quarto com o Bossio e havia uma pessoa que costumava ir aos quartos ver se estava tudo bem. E esse tipo tinha a mania de, ao sair do quarto, tirar o cartão que ligava as luzes, a televisão, tudo. Fazia sempre aquilo e eu dizia-lhe: “Uma dia fazemos-te uma a sério”. Ele ria-se, mas não parou. Um dia eu o Bossio esperamos que ele desse a volta a todos os quartos e chamámo-lo. O Bossio que era grande, escondeu-se atrás da porta e quando ele entrou atirámo-lo ao chão prendemos-lhe os pés com fita-cola, as mãos e tapamos-lhe a boca. Metemo-lo no corredor do hotel, um hotel de topo em Lisboa, e deixámo-lo lá sem se mexer, todo preso de boca tapada (risos). Agora desenrasca-te. Passado um bocado ele começa a bater nas portas e os outros jogadores foram saindo dos quartos e desataram todos a rir. (risos).