"Nem todas as infâncias são de ouro, mas as crianças, sim, são-no todas! Esta frase, dita assim em sentido figurado, parece tirada de uma canção do Zeca inspirada numa cantiga popular, 'o meu menino é de oiro...'.
Todos a conhecemos pela beleza singular de letra e da meio-dia, e todos nos remetemos ao seu significado simbólico e à protecção de que as crianças carecem cada vez mais em todo o mundo. E por isso já lhes fizemos cartas universais de direitos, instituições e apoios sociais e familiares, de tudo um pouco, ou talvez fosse melhor dizer de tudo muito pouco, mesmo muito pouco, face ao que se impõe fazer.
A verdade é que, apesar dos grandes avanços sociais e económicos do pós-guerra no século passado e do extraordinário século de progresso sem paralelo que vivemos actualmente, as crianças estão expostas, hoje como nunca, a riscos e situações de violência e exploração a uma escala sem precedentes. Continuam a ser vitimadas, e são-no cada vez mais, seja porque catástrofes ambientais cada vez maiores e mais frequentes asa atingem violentamente, seja porque conflitos regionais de grande escala as envolvem a atiram para êxodos forçados ou mesmo para a morte.
Apesar dos desígnios éticos e religiosos próprios da condição humana, construímos um mundo em que a tecnologia permite produções alimentares que chegariam para alimentar sem problemas todo o planeta, mas em que a fome é a realidade de muitos. Em que a riqueza produzida é cada vez maior e a sua repartição cada vez mais injusta, com uma concentração nunca vista nas mãos de uma minoria ínfima. Em que a saúde, quer na prevenção quer na clínica, está ao alcance da tecnologia e da ciência mas não é alcançável pelos sectores desfavorecidos nos países desenvolvidos ou por toda a população em subcontinentes inteiros. E por aí fora... Olhamos o mundo e percebermos que os países mais desenvolvidos são os que menos se reproduzem e mais envelhecem. São aqueles que, apesar das condições únicas de paz e abundância que detêm, não encontram ainda assim estímulos positivos para que as gerações se renovam pelo menos em igual número. Compensam, isso, invariavelmente, com as migrações e, também invariavelmente, vitimizam ou ostracizam os migrantes e os seus filhos.
Tudo isto não pode estar certo nem do ponto de vista ético e humano nem do ponto de vista económico, mesmo à luz da crueza dos números. E Portugal já vai em 5.º no ranking, o que quer dizer que um país com a dimensão que temos e com a história desproporcionalmente impactante no mundo que também temos corre o risco de perder relevância por 'falta de portugueses' num horizonte muito próximo, a duas ou três gerações as contas da nossa demografia já não são famosas.
Para nos mantermos no grupo dos privilegiados do mundo, como país desenvolvido que somos, precisamos de reproduzir a nosso capital humano, criar condições para tornar mais famílias felizes e capazes de ter crianças saudáveis, educadas e plena de valores. Mas também precisamos de cuidar como tesouros de todas as crianças que existem na nossa sociedade, mesmo daquelas que a sorte remeteu para as margens ou para a exclusão. É delas o futuro, o nosso futuro! E esse futuro só poderá melhorar se, em vez de, como hoje acontece em Portugal, nasceram cada vez menos crianças e de entre essas cada vez maior proporção em pobreza e exclusão, formos capazes de as arrancar nos destinos de má sorte, então teremos um excelente capital humano. Teremos portugueses qualificados em todas as áreas ao melhor nível do mundo como sabemos que somos capazes, e aí, sim, teremos ouro. Porque, como cantava o Zeca, '... o meu menino é de oiro, é de oiro fino...' e pode ser mesmo, assim saibamos, mimá-lo e dar-lhe tudo o que pudermos. Pelo nosso lado, o Benfica dá de si o mais que tem: o sorriso e o carinho dos atletas!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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