"Em Maio de 1980. Benfica e Ajax estiveram frente a frente no Torneio de Paris. A vitória dos encarnados foi impressionante: 5-1. E, acima de todos, brilhou a luz de uma avançado irrepetível: Nené. Marcou todos os cinco golos!
Eis-nos no meio de dois jogos entre Benfica e Ajax. Há que dizer que, no final dos anos 60 e início dos anos 70, o confronto como que se tornou um clássico da velha Taça dos Campeões Europeus.
Depois, os sorteios mantiveram os dois fidalgos à distância.
O que não quer dizer, naturalmente, que as refregas não se tenham dado noutro plano: o dos jogos particulares e dos torneios internacionais.
Era aqui que eu queria chegar.
O Torneio de Paris foi, durante muito tempo, um dos mais luminosos do mundo, não fosse a capital de França a Cidade-Luz.
Não se esqueçam de que foi aí que Eusébio se deu a conhecer ao universo num jogo extraordinário frente ao Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pepe e Pelé. Edson Arantes do Nascimento: por extenso, Pelé, como dizia o bendito Nelson Rodrigues.
Em 1980, o Benfica voltou ao Torneio de Paris.
As coisas não correram muito bem: afastamento da final por contra do Standard de Liége. 1-1 nos noventa minutos e, em seguida, 4-5 no desempate por grandes penalidades.
Norton de Matos foi o marcador da penalidade decisiva a favor dos belgas. Ele que jogara no Benfica.
Nené marcou o golo dos encarnados numa cabeçada fulminante. Nesse torneio, Nené chegaria aos píncaros da Luz.
Faltou a final
Não restava aos encarnados mais do que tentar o terceiro posto.
No Parque dos Príncipes, defrontaram o Ajax. E os holandeses já tinham dado amargos de boca aos portugueses. Não admira era uma equipa extraordinária!
Já não havia Cruyff, Kaizer nem Neeskens. Mas ainda havia Schrivers, Arnesen, Soren Lerby, Jensen e o bailarino Tahamata.
O Benfica tinha Humberto Coelho e Shéu, Carlos Manuel e Pietra, Diamantino, Toni e Reinaldo. Ah! E Nené!
O que aconteceu nessa tarde de Paris não se repete.
18 minutos: livre na direita apontado por Carlos Manuel, Humberto Coelho na grande área do Ajax a provocar um desvio na bola. Nené surgindo velocíssimo para o toque derradeiro. 1-0.
'Isto promete', terão pensado os adeptos portugueses nas bancadas. E preparam-se para o que aí vinha. O problema é que ninguém estava preparado para o que veio.
36 minutos. Humberto Coelho, ao seu estilo, entra no meio-campo holandês. Do seu pé direito sai um passe primoroso para as costas da defesa contrária. Nené não se faz esperar. Felino vai ao encontro da bola e, isolado, marca de novo 2-0.
O intervalo parecia garantir a vitória lusitana.
Mas havia mais: muito mais!
63 minutos. Carlos Manuel, interpreta uma cavalgada do quilé, como diria o grande Fernando Assis Pacheco. Vai para cima de Jensen, passa por ele com à-vontade, fica com Schrivers pela frente. À saída do guarda-redes, toca a bola para o lado. Nené, que acompanhara a corrida do companheiro, só tem de tocar par a baliza abandonada. 3-0.
Em quatro golos do Benfica, nesta edição do Torneio de Paris, Nené assinara quatro. E não estava satisfeito.
65 minutos. Novamente Humberto a entrar no meio-campo adversário. Passe medido, orientado: Nené fica cara a cara com o keeper do Ajax: meteu-lhe a bola por cima num toque de suprema categoria. 4-0.
76 minutos. Desta vez a bola passou pelos maravilhosos pés de Shéu. Tão redonda, que fazia impressão. Nené recebe-a carinhosamente e, de imediato, atira para trás do defesa que vinha na sua direcção. Segue-a um remate espectacular de força e colocação, 5-0.
Nas touradas, dir-se-ia: Nené - cinco golos cinco!
Os holandeses teriam direito a reduzir, a três minutos do fim, por Lerby.
De pouco lhes serviu.
Nené era o príncipe de Paris! O seu nome brilhava intensamente no coração da Cidade-Luz."
Afonso de Melo, in O Benfica
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