"Este título na era digital e da criptomania não será o título adequado. Talvez o título mais adequado fosse - venda de informação desportiva!
Mas, mesmo assim, o título também não estaria correcto, pela simples razão de que a informação desportiva, que antigamente não passava disto mesmo, fazendo-nos sentir saudades dos jornais desportivos que líamos, hoje deixou de ser descritiva e passou a ser propagandista.
A informação desportiva hoje é ela essencialmente política e económica. Política porque pretende interferir com o rumo dos acontecimentos desportivos e influenciar o pensamento de todos e de cada um, e económica porque em cada momento está sempre subjacente um interesse económico.
'O que podemos observar depende da nossa posição em frente do objecto de observação. O que decidimos acreditar é influenciado pelo que observamos.
Como decidimos actuar relaciona-se com as nossas crenças. O nosso posicionamento está dependente das observações, das crenças, e acções que são centrais para o nosso conhecimento e razão prática', Sen, Amartya (2004:126)
É impossível quantificar qual a importância económica, social e política que possuem os sites de informação desportiva complementares e muitas vezes principais centros de veiculação de notícias.
Como método, podemos partir do pressuposto de existência de três grandes conglomerados que operam na área desportiva e que têm ligações dos jornais desportivos - a Sociedade Vicra Desportivo S.A,. a Cofina Media S.A. e a Controliveste Conteúdos S.A., as quais detêm para o que aqui nos interessa, respectivamente, o jornal A Bola, o jornal Record e o jornal O Jogo.
Faremos o nosso texto utilizando duas fontes de informação, a APCT e os relatórios e contas das identificadas sociedades.
A APCT é a Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação, www.apct.pt.
Desde logo, a Vicra não fornece à mencionada associação a tiragem do seu jornal A Bola. Ficamos assim apenas com as informações referentes ao jornal Record e ao jornal O Jogo.
Vejamos (...) o que nos diz a mesma fonte sobre a tiragem de todo o ano de 2017.
Da análise do que acabamos de reproduzir retira-se que existe uma diferença considerável entre o volume de tiragens e o volume de circulação. As tiragens respeitam a todos os exemplares produzidos, enquanto a circulação respeita apenas ao volume que circula nos balcões de venda por assinaturas.
(...) um gráfico com as tiragens no ano de 2017 de ambos os jornais.
Desconhecemos qual é o volume incluído nas tiragens mencionadas que corresponde a ofertas, ou a outro tipo de não recebimento pelas mais variadas razões.
Considerando que a taxa desses 'gratuitos' corresponderá a 10% temos que, por mês, a empresa do jornal Record facturará de receita em média cerca de 33000,00€ enquanto a empresa que comercializa o jornal O Jogo facturará cerca de 16200,00€ o que dará por ano respectivamente, cerca de 198000,00€ e 972000,00€.
Convenhamos desde logo que são valores muito baixos para os custos que a impressão e a distribuição dos mesmos acarretam.
Por esta razão, as sociedades que comercializam os referidos jornais têm de recorrer e economias de escala, seja pela via do aumento de soluções de receita, seja pela concentração de custos.
Nesse sentido, verifica-se que o grupo Cofina Media S.A. edita/explora o generalista Correio da Manhã, o jornal económico Jornal de Negócios, os gratuitos Destak e Mundo Universitário, a revista de moda Máxima e está também na área dos audiovisuais com a CMTV.
Por sua vez a Controlinveste Conteúdos S.A. marca presença nos sectores da imprensa, rádio e Internet.
Encontramos no sector da rádio a TSF e no sector da imprensa, o Diário de Notícias e o Jornal de Negócios, a marca digital de informação económica Dinheiro Vivo. Na área de revistas contam-se a Evasões, a Volta ao Mundo, de venda autónoma, e a Notícias Magazine e Notícias TV, distribuídas pelos jornais do grupo.
No âmbito da fotografia, vídeo e conteúdos multimédia inclui-se a Global Imagens.
Na imprensa regional, tem ligações ao Açoriano Oriental, ao Jornal do Fundão e ao Diário de Notícias da Madeira.
Mas ambas as empresas operam também na área gráfica e na área da distribuição fechando verticalmente sectores de actividade que acabam por ter domínio em exclusivo.
O grupo Cofina opera assim na distribuidora VASP, que é detida em partes iguais, por si, pela Controlinveste e pela Impresa.
Já na área gráfica a Cofina detêm uma participação de 100% na Grafedisport S.A. e a Controlinveste Conteúdos S.A. detêm presença em duas empresas gráficas (Naveprinter, no Porto, e a participada Empresa Gráfica Funchalense, em Lisboa).
Estamos então na presença de negócios multidependentes e interdependentes, que bem geridos criam receitas significativas.
Quanto à Vicra deixaremos para próxima artigo."
Pragal Colaço, in O Benfica
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