segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Uma questão de realismo

"Querer encontrar um culpado para a derrota do Benfica com o Bayern é não querer perceber que ela é, só, o reflexo do futebol que temos

Rui Vitória tornou-se num alvo fácil. Seja porque adeptos e comentadores o consideram como grande culpado pelo Benfica ter perdido, na última época, a oportunidade de conquistar o tão sonhado penta - foi um dos responsáveis, sim, mas é discutível que tenha sido o principal e de certeza que não foi o único - ou porque, mesmo sendo bicampeão nos dois primeiros anos na Luz, nunca caiu no goto de uma boa franja dos benfiquistas, o treinador do Benfica está sempre no olho do furacão. Estando o Benfica na liderança do campeonato e tendo, num mês de enorme desgaste e, admita-se, com algum brilhantismo até, garantido a passagem à fase de grupos (e aos mais de 40 milhões de euros) da Liga dos Campeões, aproveitaram os sempre prontos críticos do treinador encarnado a derrota com o Bayern para voltarem ao ataque.
Que fique claro que Vitória não está - como não está nenhum treinador - imune às críticas. Pode-se, falando em concreto do jogo com os alemães, discutir se enfrentar o Bayern querendo jogar no campo todo é a estratégia correcta; ou questionar as substituições de Salvio e Pizzi quando se percebia serem eles dois os únicos capazes de criar alguns problema ao adversário; ou, até, o facto de ter mantido, teimoso, o 4x3x3 quando já perdia por 0-2 e o jogo pedia à águia maior poder ofensivo. Tudo isso é, sejamos claros, válido. Já menos compreensível é que se aponte o dedo ao treinador, aproveitando estes (ou apenas alguns destes argumentos), como responsável pela derrota - a primeira, convém frisar, do Benfica em 2018/2019. Como se não fosse natural os encarnados perderem, mesmo em casa, com o Bayern. Como se o gigante alemão fosse uma equipa qualquer. Não é. E todos sabemos que não é.
O Benfica perdeu  e perdeu bem. Basicamente porque o Bayern não é só melhor equipa, é muito melhor equipa. E em dez jogos contra o Benfica (ou contra qualquer outra equipa portuguesa) ganhará, no mínimo, nove. Seja essa equipa orientada por Jorge Jesus, José Mourinho, André Villas Boas ou Rui Vitória. Não é, percebe-se, um problema do treinador, é apenas o reflexo das enormes (e cada vez maiores..) diferenças entre o futebol português e os principais campeonatos do mundo. As coisas são como são e nem vale a pena procurar responsáveis para elas. Só temos, afinal, de ser realistas. E percebermos que a tendência não é melhorar. Pelo contrário...
(...)

Lapidar
«Quando cheguei a Portugal o meu sonho era jogar num grande. Nem nos melhores sonhos me imaginaria no Benfica»
Jardel, defesa central do Benfica
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Ricardo Quaresma, in A Bola

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