sábado, 2 de junho de 2018

Rua da Constituição

"Nesta semana dei por mim a passear no Porto, na Rua da Constituição. E lá ia Pedro Proença, trajado com um fato da moda, camisa aprumada, gravata vistosa com nós exemplar e penteado impecável, brilhantina quanto baste.
Decidi seguir no seu encalço e tive a sensação de que reparou em mim. Disfarcei como pude e meu benfiquismo para não afugentá-lo, quase lhe elogiei a carreira na arbitragem numa tentativa de me passar por portista, que certamente revelaria frutífera, mas pareceu-me distraído. Depois vi vários jornalistas à entrada de um edifício moderno, Proença cumprimentou-os, atravessou a porta, e os tais jornalistas repetiram o movimento. Juntei-me ao séquito, seria uma conferência de imprensa na sede da Liga.

Bernardo Ribeiro, do Record, por estes dias algo desocupado por não lhe ser conveniente escrever sobre o Sporting era um dos escribas presentes. Perguntei-lhe sobre Bruno de Carvalho, amuou e sugeriu-me que entrasse na sala da conferência, pois Proença anunciara medidas importantes para o futebol português. Será que, passadas quatro semanas, a Liga castigaria, ou pelo menos censuraria, os jogadores portistas que, nos festejos do campeonato, insultaram o Benfica e os benfiquistas? Acordei quando Proença tomou a palavra. Ao contrário do pintor Piskariov, emanado da mente brilhante de Nikolai Gógol, que se apaixonou por uma mulher que sonhara ter visto na Avenida Névski, em Sampetersburgo, não sofrerei insónias. Piskariov, desesperado por não controlar os sonhos, tornou-se incapaz de adormecer por ansiar o contacto com a mulher sonhada. Já eu cairei no sono sem qualquer dificuldades. De Proença, positivo para o futebol português, nada espero..."


João Tomaz, in O Benfica

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