quarta-feira, 27 de junho de 2018

Epílogo

"Espero que esta seja a última vez que escrevo, aqui no Record, sobre Bruno de Carvalho. E, já não sendo ele presidente do conselho directivo do SCP e presidente do conselho de administração da SAD, não haveria, em rigor, grande fundamento para ser tema desta crónica.
Estes últimos dias do seu mandato, na vertiginosa sucessão de acontecimentos, muitos deles por si provocados, causaram-me, contudo, a maior impressão. Não por causa do Sporting, porque, infelizmente, já nada do que ele possa dizer e escrever me espanta. Desta fez, foi Bruno de Carvalho, himself, que teve o condão de me surpreender. Que o destituído presidente tinha perdido o respeito pelos outros, dentro e fora do clube, é coisa de que toda a gente já se tinha apercebido.
A esta faceta veio acrescer, porém, outra: é que ele perdeu o respeito por si próprio. Com efeito, toda a volatilidade comportamental exibida ao longo do fim de semana, em que não ia à assembleia e foi, em que ia impugnar a destituição, mas acabou por não o fazer, em que ia impedir Sousa Cintra de entrar e saiu pela esquerda baixa, revela, no mínimo, um profundo desprezo por valores existenciais mínimos, como a coerência e a dignidade.
Lembra a história do actor, que, não conseguindo ser protagonista principal, por já não encantar o público, tudo faz para se manter o centro das atenções; no caso do Dean Martin, envolvia-se em todas as cenas de pancadaria de Hollywood, só para ser falado.
Mutatis mutandis, foi o que aconteceu ao presidente destituído: desde que o ouvissem, desde que não o apeassem do palanque, dizia tudo e o seu contrário. Não sou psiquiatra, mas, seguramente, este padrão patológico, vem nos livros e tem um nome.
Acaba por me fazer pena alguém, que, devendo saber ter uma vida para além do Sporting, imola desta forma todos os pressupostos de uma respeitabilidade futura. Porque o presidente destituído até poderá defender - e tem-no feito - que aquilo que fez e disse, foi-o na defesa dos interesses do Sporting; mas face aos acontecimentos da assembleia geral e outros que se lhe seguiram, quem vai acreditar nisso? É, na verdade, um triste epílogo."

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