"O ex-presidente do Sporting fala na língua da agressão permanente. É a linguagem dos ultras do futebol, limbo a que pertence. Explora as insatisfações e ressentimentos, para as converter em ódio.
Já chega de tempo ocupado com a verborreia infecciosa de Bruno de Carvalho. Agora, quando já deixou de ter a representatividade de presidente da direcção de um clube com dezenas de milhares de associados, não há que continuar a ligar ao que diz e às chantagens que faz. Que envenene o que quiser no círculo dele, mas o que a criatura diz, salvo alguma improvável declaração com valor consistente, deixa de ter relevância para interesse público, portanto, não é notícia. O que ele tem procurado é apenas propaganda. Há que evitar propagar o envenenamento que tem pretendido.
Não deixam, porém, de merecer atenção os modos rufias de alguns arruaceiros que algumas vezes o acompanham. Os relatos sobre atitudes na assembleia do SCP no último sábado mostram inquietante e intolerável derrapagem para fora do campo do respeito e da tolerância. Os insultos a quem tem opinião contrária e as tentativas de agressão a quem é visto como opositor evidenciam que há ali gente perigosa. É gente como aquela a que invadiu a sessão de treinos em Alcochete, com agressões à equipa de futebol, jogadores, treinadores e técnicos de apoio.
O ex-presidente do Sporting fala na língua da agressão permanente. É a linguagem dos ultras do futebol, limbo a que pertence. Explora as insatisfações e ressentimentos, para as converter em ódio.
As sociedades democráticas distinguem-se por darem voz e voto a toda a gente, mesmo aos ultra-populistas. O voto já resolveu a questão da legitimidade: os associados, a tanta gente que é o Sporting, já decidiu com clareza que não o quer a dirigir. Agora, há que filtrar, no espaço público da decência, a voz que, sem introduzir algum valor relevante para as pessoas, propaga veneno.
A criatura aparece-nos irresponsável, diz e faz de manhã o que desdiz à tarde. Nada do que diz é, portanto, para levar a sério. Mas serve para inflamar gente pronta para a arruaça.
Vale ter em conta a experiência de Itália, onde ultras de claques de “tiffosi” se tornaram sementes de movimentos políticos violentos, geralmente na extrema-direita. O relatório de 2017 do Osservatorio Nazionale sulle Manifestazione Sportive, em Itália, analisa os comportamentos de 328 claques consideradas como activas em Itália. 151 são classificadas como orientadas politicamente: 40 são de extrema-direita, 21 de esquerda radical. Na Lazio de Roma há uma claque, poderosa, que assume ideologia neofascista e que cultiva acções conjuntas com claques irmanadas na ideologia, como as dos búlgaros do Levski Sofia e os polacos do Wisla Cracóvia. Vale analisar se os últimos meses de alguma gente que se veste com cores do Sporting poderá ter sido a tentativa de engordar um movimento extremista com intenção política anti-sistema e, sobretudo, com práticas de intolerância e de violência.
Um positivo dado de confiança nestes dias: a eficaz acção de segurança da polícia em volta da inflamada assembleia do Sporting no último sábado. A polícia foi sóbria nos métodos mas maciça e atenta na presença. Toda a gente relata que deu confiança num lugar com a instabilidade de núcleos de provocadores. Com uma porta-voz que soube ser clara e, também, eficaz.
Também hoje, com o futebol em fundo:
Portugal, Espanha e Irão decidem hoje quem segue em frente no Mundial. O apuramento em primeiro lugar no grupo B coloca no caminho para a final selecções como a da Rússia (oitavos-de-final), provavelmente a Croácia ou a Dinamarca (quartos de final) e a Bélgica ou o México apenas nas meia-finais. A equipa que sair do grupo B em segundo lugar tem pela frente, depois do Uruguai (oitavos-de-final), um pelotão de potenciais finalistas: França (quartos-de-final) e Alemanha, Brasil, Inglaterra e (talvez) a Argentina (meias-finais).
Brasil-Alemanha, a final mais prognosticada deste Mundial pode ser puxada já para os oitavos-de-final. Bastante provável. Capricho do calendário e das surpresas na qualificação: tendência para, num dos percursos para a final, estarem oito equipas que somam 14 taças de campeões do mundo, e do outro lado estarem oito equipas sem alguma vez terem ganho o Mundial (Portugal estará deste lado se sair em primeiro lugar no grupo B).
A segunda jornada do Mundial fechou neste domingo com uma barrigada de golos: 14. Há que contar com Harry Kane, o furacão inglês, melhor marcador (5 golos), após dois jogos para todos. Foi no último fôlego, com o extraordinário golo de Kros, que a magna Alemanha se agarrou à continuidade neste Mundial – mas com a Suécia, cheia de razão, a queixar-se da arbitragem.
A Europa política está frágil como há muito não se sentia, mas a Europa continental do futebol é potência dominante neste Mundial: nove selecções europeias têm boas oportunidades de estarem entre os 16 apurados para a fase seguinte. Decepção neste campeonato: a já eliminada Polónia e o seu ponta-de-lança Lewandowski.
Duas selecções africanas com as quais há que contar neste Mundial: Nigéria e Senegal. Marrocos merecia ter tido melhor sorte e pontaria. Desilusão, o Egipto de Salah.
Uma questão: faz sentido que uma selecção com futebol minúsculo como a do Panamá esteja na fase final de um Mundial que deixa de fora colossos como a Itália, a Holanda e o Chile?
Neste Mundial ainda vamos poder ver o talento de Messi? E o de Neymar? Argentina e Brasil vão despertar?
O resultado que – ainda bem! – ficou ausente das duas primeiras jornadas nos primeiros 10 dias de Mundial: 0-0."
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