domingo, 17 de junho de 2018

A liderança de Fernando Santos e o dia em que vamos regressar

"Escrevi noutro espaço desportivo, em Maio de 2016, que considerava estarem reunidas as condições para Portugal ser campeão europeu. Não previa todos os empates, a sorte e o azar em alguns jogos, mas falava acima de tudo da liderança situacional e que eu considerava ser a mais adequada para aquele contexto. Falei de alguns atletas que atingiam a sua última e derradeira oportunidade de serem campeões pela selecção depois de terem vencido pelos clubes como Ricardo Carvalho ou Ronaldo. Falei da importância num plantel de ter alguns jogadores campeões como Eliseu e da irreverência de um Renato. Mas acima de tudo, considerava que Fernando Santos conseguia ser o que a grande maioria dos atletas precisava em diferentes alturas.
E agora? Peço desculpa, mas não aposto que possamos chegar até à final. E não creio apenas porque é um Mundial e um contexto radicalmente diferente, com selecções favoritas como o Brasil ou a Argentina. E nem quero entrar na questão se o nosso grupo é mais ou menos fácil.
A questão, em vários pontos, é esta: 
- Fernando Santos é um líder situacional. Não considero que seja o melhor ou pior estilo de liderança de um treinador. É o que é e considero sinceramente que numa selecção é o estilo mais adequado. Especialmente quando se trabalha tão pouco tempo e temos de colocar no mesmo grupo os estreantes, os aspirantes, os maduros, os top e a estrela maior. Mas em função disso, Fernando Santos é provavelmente o melhor treinador neste momento para estar com Rui Patrício, William, Bruno e Gelson. Porque construiu com Ronaldo uma relação que até agora, nenhum treinador de clubes conseguiu. Porque consegue ser um pai, um treinador e mais não sei o quê. Mas o contexto é diferente e Fernando Santos já percebeu que não pode dizer em que dia volta, dado que existem muitas mais coisas que ele neste Mundial não controla e lhe passam ao lado comparativamente com o Europeu.
- Os jogadores (ex?) do Sporting. Não sabemos aferir o grau de impacto na selecção. Mas não podemos acreditar que aqueles quatro jogadores estão bem. Ou nas melhores condições. Logo, especialmente porque falamos de 3 a 4 possíveis titulares, estamos a afirmar que mais ou menos 30% do onze previsto está condicionado psicologicamente. Mas eles estão longe e a coisa tem menos impacto? Claro que não! É bom que estejam na Rússia e não em Caxias. Mas, até neste ponto, Fernando Santos e a sua equipa têm de trabalhar mais e com diferentes enfoques na autoestima daqueles jogadores.
- Já não somos os potenciais candidatos, mas também não somos favoritos. Então o que somos? Somos algo que seguramente não nos coloca no top 5 dos favoritos, mas daremos mais motivação certamente às outras selecções, porque até terminar o Mundial, somos a selecção com o maior título recente do futebol. E isso fará de nós, não os constantes favoritos com uma estrela, mas o campeão europeu em título. Vamos ver como a selecção reagirá a isso. Mas um factor adicional.
- Mente competitiva. Naturalmente todo o ser humano gosta de ganhar. Nem todos (poucos, aliás) fazem o que é necessário e o que não é necessário para se ganhar. E dizem que o que custa não é chegar ao topo, é manter-se lá. Enfim, Fernando Santos terá de mudar um pouco o chip e não incutir nos atletas a sede de vencer e mostrar que a selecção merece ser campeã e que temos valor. É preciso agora acrescentar algo mais. Ou virar um pouco o lado, mas a questão é que alguns dos jogadores aqui são campeões europeus e outros não são nada em termos de títulos da selecção nacional e de seniores. Penso que o equilíbrio que o mister fez na convocatória também tem este ponto em conta. Manter um equilíbrio entre o vencer e o continuar a vencer.
- Equipa. A nossa equipa. Estes acontecimentos que têm acontecido aos jogadores do Sporting CP podem até ajudar a que a equipa se agrupe em redor deles. Mas não é daqueles momentos que a selecção necessita. Na final do Europeu, registou-se o fenómeno da antifragilidade. Muito à conta de Nani. Agora ele não estará e sinceramente, para lá do Ronaldo, quem são as nossas muletas? Isto é importante, porque denota um espírito de grupo em termos de relações interpessoais e de desempenho. Quem são aqueles que estão dispostos a assumir a liderança do grupo? Rui Patrício? Pepe? Moutinho? Quaresma? Porque os outros ou são muito novos de idade na selecção ou pouco presentes na mesma.
Espero que venhamos o mais tarde possível porque a selecção e o país precisam disto. Precisa de um misto de ambição e competência. Mas o nosso mister sabe que esta selecção deve assentar num compromisso enorme e que terá um jogador fora do normal para decidir nas horas mais complexas, como foi com a Hungria ou País de Gales. Mas também teremos de ter outras forças e alternativas. Não só em redor da magia do Bernardo Silva ou da experiência de Pepe. Ou de conseguirmos que um André Silva ou Gonçalo Guedes marquem mais do que o esperado.
O fenómeno da liderança e das equipas continua a ser um mistério interessante de se analisar. Mas também sabemos que apesar de não existirem receitas, há denominadores comuns para que as coisas corram melhor. E sinceramente, sou daqueles que gosto de ver Fernando Santos à frente da nossa selecção. Mas muitas das vezes, o máximo da nossa competência pode não chegar para o título. E por outro lado, não chegar ao fim, não significará que estivemos mal."

4 comentários:

  1. Acredito que os jogadores do Sporting estejam de cabeça leve, motivados, frescos e aliviados por estarem na selecção a jogar esta competição por que estão longe daquilo que passaram em Alcochete. Estão num ambiente completamente diferente daquele que estavam sujeitos no Sporting.

    Fernando Santos tem a capacidade de criar um ambiente familiar e descontraído ao mesmo tempo concentrado para tirar o máximo de cada um. E isso é um estimulo, uma vitamina para os rapazes, por que pode não parecer muito visível cá fora mas Fernando Santos consegue transmitir entusiasmo à equipa.
    Não sei como apenas acredito e sinto que seja mesmo assim.

    Fernando Santos parece me mesmo também que é talhado para competições de Selecção do que por clubes onde há um maior desgaste entre jogador e treinador, e assim pode dar tudo o que tem num curto espaço de tempo.

    Para concluir o continuar a ganhar... bem todos nós sabemos que no futebol seja de clubes ou de selecções tudo é determinado por ciclos. Todos têm o seu principio e fim de ciclo. Era bom que o nosso bom ciclo continuasse... mas veremos ...

    Faz parte da vida :)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Isto porque, jogar na Seleção (e no Benfica) é uma alegria, é entusiasmo e é amor! É disso que os rapazes precisam.

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