sábado, 30 de junho de 2018

Campeões Nacionais de Juvenis

Benfica 5 - 0 Corruptos


Vitória justíssima, provavelmente da melhor geração do Benfica, do CFC !!!
Talento a transbordar, e hoje, vários dos jogadores que não jogaram, seriam titulares em qualquer dos nossos adversários!!!!

Parabéns, ao Renato, ao scouting... e aos jogadores, que após um início de fase final hesitante, 'acordaram' a tempo...

Foi pena, o título perdido ingloriamente nos Iniciados, pois fariamos o 'tri' nas camadas jovens!!!

Frustrante...

Sporting 3 (2) - (0) 3 Benfica

Muito frustrante, perder um campeonato após dois 'match-points' perdidos nos penalty's!!!
Hoje, provavelmente até terá sido o nosso melhor jogo da Final... mas quando em 4 penalty's não se consegue marcar um golo!!!!!!!!!!!!

As ameaças resultaram, porque os apitadeiros são cobardes!!! Nestes últimos jogos, perdi a conta a expulsões perdoadas aos Lagartos, hoje tanto o Merlin com o Varela tinham que ter visto o vermelho... além dos constantes festejos/provocadores dos Lagartos para com os adeptos do Benfica!!!

A humanização de Cristiano Ronaldo

"Se Cristiano Ronaldo não fosse Cristiano Ronaldo dir-se-ia, em bom futebolês, que tinha sido aquele o sujeito que "enterrou" a nossa selecção no jogo com o Irão e a fez cair para o indesejado 2.º lugar no Grupo B. Não só desperdiçou uma grande penalidade como se arriscou a ser expulso depois de uma semi-cotovelada num adversário. Essa amável agressão, em termos práticos, serviu para elevar os níveis de hostilidade do público, dos jogadores iranianos e até do árbitro e do VAR que, minutos depois, lavariam as consciências apontando uma grande penalidade bastante duvidosa contra a equipa portuguesa. Mas como Cristiano Ronaldo é Cristiano Ronaldo o que importou verdadeiramente foi que tivemos o privilégio laico de o vermos não como uma divindade mas "humanizado" pelas falhas. Hoje, no entanto, convém que se "desumanize" outra vez a partir das 7 da tarde.
Ricardo Quaresma e Carlos Queirós trocaram um chorrilho de acusações no rescaldo do jogo da última segunda-feira. Pode-se dizer que, até ao momento, foi este o único episódio folclórico da campanha corrente, o momento "tuga" da presença nacional na Rússia. E basta. Esta novela picaresca, recheada de contas antigas e de crispações modernas, teria todos os ingredientes – ódios, vinganças, baixarias – para se constituir num êxito mediático com o consequente furor de audiências a arrastar tudo e todos para uma discussão sem fim sobre os méritos e os pecados dos intervenientes. Mas não foi nada disso que se passou. A altercação entre compatriotas durou pouco mais de 24 horas e extinguiu-se com a naturalidade com que se extingue qualquer vulgar caso do dia embora, neste confronto, se registassem inúmeros elementos retóricos do tipo animalesco e de lesa-Pátria que são tão do agrado das multidões.
Poderia, de facto, a guerra Quaresma-Queirós ter obtido os favores do público para se transformar no grande entretenimento nacional merecedor de aberturas de telejornais e de programas televisivos que lhe fossem inteiramente dedicados. E teria sido assim, certamente, se não estivesse o país ainda esgotado psicologicamente com a novela anterior que se arrastou por meses e só terminou na madrugada de domingo passado no palco da Altice Arena com choros, ranger de dentes, ameaças físicas, insultos e forte presença policial. Nos tempos mais próximos e depois de uma coisa daquelas torna-se muito difícil, quase impossível, que qualquer outro dramalhão consiga agarrar a devoção dos consumidores. A desintoxicação do público vai demorar."

Salve, Maradona

"Uma bola de futebol com uma coroa de Cristo e algumas gotas de “sangue”, uma árvore de Natal com fotos do ídolo penduradas como “estrelas”, um terço em cuja ponta aparece uma chuteira em vez de um crucifixo, o nome “Diego ” em substituição de “Amen”, uma infinidade de objectos e rituais seguidos com devoção por milhares de fiéis da chamada Igreja Maradoniana.
Para uma legião de fanáticos, só há uma certeza à face da Terra: Diego Armando Maradona é o Deus Supremo do futebol. Uma loucura? Não é o que pensam mais de 100 mil pessoas espalhadas por todo o mundo.
“Para os argentinos, o futebol é vivido como uma religião. E como cada religião tem o seu Deus, o Deus do futebol é Diego. É lógica pura”, explicou ao Expresso Alejandro Verón, um dos três fundadores da Igreja Maradoniana, a Mão de Deus, em alusão ao famoso golo marcado com a mão contra os ingleses no dia 22 de junho de 1986, ano em que Maradona era considerado o melhor futebolista do mundo.
A Igreja Maradoniana nasceu em 1998, na cidade de Rosario, quando, por brincadeira, o jornalista Hernán Amez começou a festejar o Natal no dia do aniversário de Maradona. Logo a seguir juntaram-se a ele Alejandro Verón e Federico Canepa. “No início eu pensava fazer um clube de fãs. Achava que teríamos problemas com os padres católicos, mas fui voto vencido ”, lembra Verón, concluindo: “Esta é uma homenagem em vida. Neste país, somos muito ingratos. Todos são valorizados depois de mortos. É preciso dizer o que as pessoas são enquanto são vivas, e Diego é o nosso Deus.” Para os seguidores da Igreja Maradoniana, o dia de Natal é a 29 de outubro.
“Diego está na galeria dos mitos da Argentina, na galeria onde estão Ernesto 'Che' Guevara, Evita e Juan Domingo Perón, Carlos Gardel, e Juan Manuel Fangio. Havia, em relação a todos eles, uma devoção quando eram vivos, mas o mito veio com a morte. Maradona é um mito vivo”, acredita Daniel Arcucci, autor do livro “El Diego de la Gente” (“O Diego do Povo”), considerado pela igreja como a Bíblia de Maradona (ver noutro texto os 10 mandamentos da Igreja Maradoniana).
Centenas de pessoas reúnem-se duas vezes por ano para celebrar as duas datas emblemáticas para a Igreja: o dia de Páscoa, a 22 de junho, e o de Natal, a 29 de outubro. Durante a comunhão espiritual, o público explode em cantigas. A mais repetida é a preferida de Diego Maradona: “Voltaremos, voltaremos. Voltaremos outra vez. Voltaremos a ser campeões, como em 86.”
De repente, a procissão irrompe no salão. Apóstolos com batinas brancas carregam os símbolos daquele que é considerado por aqui o maior jogador de futebol de todos os tempos. No centro do cortejo, um presépio apócrifo em forma de igreja com uma réplica em miniatura da estátua de homenagem a Maradona na cidade argentina de Mar del Plata. São 10 os apóstolos. O décimo primeiro seria Maradona, para completar a equipa.
Não há décimo segundo. “Não existe Judas nesta religião do futebol. Nem tudo tem paralelo com o catolicismo. As coisas surgem, simplesmente. É o folclore do futebol”, conta Verón.
O ritmo do cortejo é marcado com uma oração liderada pelos fundadores da Igreja. “Em nome de Dona Totaaaaaaa. de Dom Diegoooo (pais de Maradona). e fruto desse amoooor”, pronunciam. 
“Diegooooooo.Diegoooo”, responde o público, em tom de amen. “Dieeeegooooooooo queridooooooooo, obrigado pela tua magia eternaaaaaaaaaa”, avança a liturgia.
Os olhares são de admiração e de respeito. Não há espaço para brincadeiras. “Este é um movimento num tom muito sério, por mais que alguns o queiram definir como uma paródia. Isto nasceu verdadeiramente do amor a um ídolo, num momento em que Maradona não estava bem. Em países como a Argentina, o futebol é um fenómeno inexplicável. É sanguíneo. Aqui não se permite nem uma derrota, porque o povo fica inabilitado para ser feliz por, pelo menos, uma semana”, interpreta o diretor técnico de futebol José Caldeira, autor do livro “Igreja Maradoniana, a Mão de Deus”, que ele define como “um movimento único no mundo que transformou um jogador de futebol numa religião”.
Esses mesmos fiéis reuniam-se em anos anteriores para celebrar o Natal Maradoniano e para rezar em cadeia pela saúde daquele que consideram Deus na Terra, internado várias vezes por problemas cardíacos e pulmonares, como consequência do consumo de cocaína e álcool, que o colocaram em risco de vida.
“No terreno do futebol, ele foi e continuará a ser um exemplo. Na sua vida privada, não. Na vida desportiva, estamos com Diego até a morte. Na sua vida privada, cada um é responsável pelos seus atos. Nem tudo o que ele faz está bem. Temos consciência disso”, concorda Alejandro Verón.
Mas salienta: “Quando Diego estava mal numa cama e quando todos esperavam que ele morresse, não era fácil ser maradoniano. Nós enfrentamos as balas com o próprio peito. Aguentamos tudo. Fomos fortes. Agora queremos desfrutar.” “Como qualquer fenómeno desse tipo, não há uma explicação racional. Nesta altura, a glória do futebol, os grandes feitos da carreira são quase uma desculpa para justificar a idolatria. Isso cresceu até sair do campo de jogo.
Diego representa a fantasia dos argentinos sobre essa atitude de rebelar-se contra quase todos e vencer. O exagero também faz o mito”, analisa Daniel Arcucci, o jornalista que mais bem conhece Maradona, segundo o próprio ídolo.
Dezenas de noivos casaram-se pela Igreja Maradoniana. Mas o ritual mais repetido é o do baptizado. A cerimónia consiste em reproduzir o golo que Maradona marcou com a mão contra a Inglaterra em 1986. O fiel salta, com o braço esquerdo levantado, diante de uma imagem gigante do guarda-redes inglês Peter Shilton, para imitar o famoso e polémico golo que, posteriormente, o próprio Maradona justificaria dizendo que foi como “a mão de Deus”. Cada fiel recebe um certificado atestando a sua nova condição de membro da Igreja Maradoniana.
São já mais de 100 mil, em 54 países, entre os quais locais tão improváveis como o Suriname, o Vietname e o Uganda. Entre os membros há figuras ilustres como Ronaldinho, Deco, Careca, Messi e até os ingleses Gary Lineker e Michael Owen. Ou o ex-seleccionador brasileiro Dunga. No Brasil, a Igreja tem mais de dois mil membros.
Para a Igreja, não existe Satanás, embora numa certa altura tenham pensado em Pelé. “Não, não. Pelé é o rei do futebol. Até esse ponto ele chegou. Mas Diego é Deus: está acima”, compara Verón.
“Mas temos hereges: Havelange (o brasileiro João Havelange, que foi presidente da Federação Internacional de Futebol-FIFA durante muitos anos) e Josep Blatter”, completa.
Quando chega a meia-noite, os fiéis repetem um coro: “Feliz Natal! Seremos campeões outra vez, como em 86.” A sala volta a tremer. Maradona está ao telefone: “Obrigado por tanto carinho. Isso que vocês cantam é o sonho que eu tenho. Agradeço-lhes com a alma. Deus estará connosco, como em 86. Tenham fé em Deus... (“Deus é você! ”, gritam ao fundo)... digo, no Deus verdadeiro, e tudo vai dar certo”, respondeu Diego. Pelos rostos de muitos dos presentes corriam lágrimas.
Vários fiéis da Igreja Maradoniana acreditam em milagres. É o caso de Nicolás Vallina, cuja mulher não conseguia engravidar. Depois de uma visita de Nicolás ao Hospital de Crianças, para distribuir brinquedos em nome da Igreja Maradoniana, ela engravidou. Nicolás só tinha ido ao hospital devido à insistência dos fundadores da Igreja, que lhe diziam que o Deus do futebol o iria ajudar a tornar-se pai. “Foi um milagre do Deus do coração, do Deus do futebol”, acredita Nicolás.
Contudo, os fundadores da Igreja não querem ouvir falar em milagres. “Já ouvi algumas histórias, mas não queremos incentivar essas coisas. Muita gente pedia que ele se curasse quando estava mal. Diziam que, se melhorasse, seria milagroso. Pediram trabalho, e até o conseguiram. Sinceramente, não vejo isso como um milagre - e desvirtua a nossa ideia original ”, diz Alejandro Verón.
Seja como for, a devoção não tem limite. Lionel Gorosito, da cidade de Rosário, foi avisado pelo chefe de que seria despedido se se fosse embora para Buenos Aires (a 310 km de distância) para ir apoiar Maradona à porta da clínica onde ele estava internado na altura. Perdeu o emprego, mas não se arrepende.
Uma devoção semelhante é a de Pablo Lescano, que aparece na abertura do filme “Amando Maradona”. Pablo tem o rosto do seu “Deus” tatuado no peito. Nos momentos críticos em que Maradona corria risco de vida, Pablo viajava durante duas horas e meia todos os dias, ficando à porta da clínica até às quatro da manhã. Dormia apenas uma hora, antes de ir trabalhar.
“Eu amo mais o Diego do que a minha própria família. Nem por um parente eu faço isso. A minha avó está doente e eu não a vou ver”, admite. Daniel Astilleta, outro fiel da Igreja, mostra, orgulhoso, a filha Bianca, de apenas um mês. Bianca nem sabe, mas acaba de ser batizada na Igreja Maradoniana. “Na intimidade, chorei por ele. Sofri muito quando ele estava doente. Quando recuperou, chorei de emoção”, desabafa.
“Que a minha mulher não me ouça, mas eu gosto mais do Diego do que dela. É mais forte o que sinto por ele. Eu morro por ele. Calculei que a minha filha nasceria perto do Natal e decidi batizá-la primeiro na Igreja Maradoniana.”
Outro crente, Lionel Díaz, sabe tanto de Maradona que ganhou um concurso num programa de TV da ESPN no qual foi submetido a todo o tipo de perguntas sobre Maradona. A final do concurso era uma disputa contra o próprio Maradona, para ver quem sabia mais sobre a vida do ex-jogador. Lionel respondeu mais rápido que o seu próprio “Deus” - e ganhou.
O casal de namorados Fabián da Silva e Elizabeth Galvani observa todo o folclore em torno do futebol com um brilho nos olhos. No meio de tantas canções de louvor a Maradona, pouco mais podem fazer - ambos são surdos.
“Diego é um exemplo para nós. A mensagem que ele nos transmite é a de que, apesar de tudo, é possível uma solução. Ele entrega-se com muita força, sem se importar com o que dizem os outros”, escreve Elizabeth. No dia 22 de junho de 1986, quando Maradona eliminou a Inglaterra com dois golos históricos, Fabián fazia três anos. “A minha casa era pura alegria. Foi o melhor presente da minha vida. Isso marcou-me para sempre”, conta.
Todos os membros da Igreja têm como segundo nome Diego - um dos mandamentos da Igreja. Uma coisa é o registo civil, com o nome de batismo, outra é o registo da Igreja. “O meu nome é Alejandro Fabián Verón, mas na Igreja sou Alejandro Diego. No caso do filho, é diferente. Muitos põem mesmo Diego como primeiro nome do filho. O meu chama-se Matias Diego”, explica Alejandro, um dos fundadores da Igreja.
Pablo Miño respeita o mandamento. O filho, com três anos, chama-se Diego Sebastián Miño - e por pouco não se chamou Diego Armando. “Ele nasceu num 3 de outubro, durante o programa de Maradona na TV”, conta Pablo orgulhoso, referindo-se ao programa “La Noche del 10”. Há mesmo o caso de um pai que arranjou forma de colocar Maradona no nome da filha: Ángeles Mara Donna Marchi."

Um bigode tão pequeno num focinho tão imenso!

"Sochi - Há oito anos, no Mundial da África do Sul, eu e o exorbitante Carlos Mateus dávamos à taramela numa rua de Durban quando um brasileiro passou por nós aos gritos agarrado a um telemóvel: “Cara, tou no Durban. Issaí é iguauzinho a Nordesti. Tem coqueiro e mangue e tudo. Iguauzinho.”
Ora bem, ninguém negará que os brasileiros têm muitos dos defeitos e das virtudes dos portugueses, embora aquecidos pelo calor dos trópicos, e as capacidades dilatatórias do calor são indiscutíveis. Esta de andar pelo mundo a comparar tudo e mais alguma coisa com o que se tem em casa é matéria comum. Ainda há dois dias, uns portugueses que jantavam no mesmo restaurante que eu pediram palmenis e refilaram: “Ora, é canja...” Outros olharão de soslaio para a pirâmide de Keops e desdenharão: “Em Aveiro temos umas do género mas em sal...”
Vem a história das comparações a propósito de um episódio passado com o escritor alemão Arnold Zweig, e isto porque a Alemanha está na ordem do dia por ter sido posta, como dizer?, na ordem. Em 1927, Zweig assistiu a um comício de Hitler e, impressionado, escreveu para a mulher: “Parece o Charlot!” Curiosamente, em 1940, seria Charlot a parecer Hitler em “O Grande Ditador”. Já não sei quem foi que sentenciou uma vez: “A gente distrai-se colectivamente e, zás!, o fascismo!”
Não foi por uma distracção colectiva que Hitler chegou ao poder, mas a verdade é que o mundo foi apanhado com as calças na mão e, num instante, já as hordas nazis estavam às portas de Moscovo. Bertolt Brecht, que dedicou a Adolf um ódio muito especial e requintado, nesse ano de 1927 já tinha escrito, com o seu parceiro Kurt Weill, uma ópera chamada “Aufstieg und Fall der Stadt Mahagonny” (“A Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”), na qual dava palco às brutalidades emergentes. Não se pode desmentir que tinha uma razão absoluta: “Perguntei a mim mesmo: que tipo de frieza/ Tomou conta desses desgraçados?/ Quem os levou à torpeza?/ Quem os fez baixar o nível?/ Vocês precisam de os ajudar rapidamente, coitados./ Se não, vai acontecer algo que pensariam impossível...”
Aconteceu.
Hitler levou a Alemanha à torpeza.
Mas Brecht, condenado ao exílio na Suécia e nos Estados Unidos, nunca perdeu o veneno do humor. Num poema chamado “Comboio de Serviço” dedica-se a descrever um comboio de luxo mandado fazer expressamente para levar o Führer ao congresso do partido em Nuremberga. “Pelas largas janelas veem os camponeses alemães mourejar os campos./ Se por acaso transpirassem nesse momento poderiam tomar banho em cabines cobertas de ladrilhos”.
A maravilha da indústria ferroviária alemã atingia o cúmulo da perfeição: “Sem sair da cama, os passageiros também podem ligar o rádio, que transmite as grandes reportagens sobre os erros do regime./ Jantam, se assim o desejarem, no respectivo apartamento, e fazem as respectivas necessidades em privados revestidos de mármore./ Cagam na Alemanha.”
Vendo bem, é mais ou menos isso que, neste momento, acontece por aqui, em Sochi, entre adeptos e jornalistas e simples passeantes. Há países que são assim, como as pessoas: suscitam respeito, mas nunca simpatia. Os erros de cada um prolongam-se pela sua vida e vão tendo, aqui e ali, réplicas como os terramotos.
A selecção do Brasil está instalada a uns 50 quilómetros de distância da cidade e a moçada de camisola amarela espalha-se pelas ruas com a alacridade tão própria de quem aproveita qualquer musiquinha para tocar pandeireta numa caixa de fósforos. Os 7-1 de 2014 como que foram vingados por mexicanos e coreanos até à beira do achincalho. Ou do esculhambanço, se preferirem um termo mais tropical. Coisa que Brecht sempre tentou fazer a Adolf Hitler. E, por isso, quando lhe pediram uma opinião sobre o figurão, resumiu: “Um bigode tão pequeno num focinho tão imenso!”"

VARridos

"Ainda que agora se agite como o peixe fora de água, Bruno de Carvalho acabou enquanto actor do palco desportivo nacional

Portugal foi VARridos do primeiro lugar do grupo com duas decisões simultâneas do VAR, nos dois jogos do grupo B. Enquanto se marcava um penálti para o Irão, validava-se um golo à Espanha. Tudo na televisão e depois do minuto 90. Portugal terá por isso que jogar contra o Uruguai, uma das melhores selecções destes oitavos de final, em vez de jogar contra a Rússia, a pior desta frase competitiva. Mas esta é, em potencial individual, uma das melhores selecções portuguesas desde que eu me conheço, e por isso exige-se não fique até ao último minuto em sofrimento contra um limitado Irão.
Teremos que jogar como ainda não o fizemos se quisermos disputar o jogo contra o Uruguai. Terá que aparecer o Portugal que desejamos para vencer o primeiro campeão do mundo de futebol.
Mesmo que Cristiano Ronaldo seja o tema das conversas de Marcelo Rebelo de Sousa com Donald Trump ou Putin, não será nunca num jogador que está a solução para vencer o Uruguai. Portugal foi campeão da Europa numa final sem Ronaldo e o indiscutível jogador português valerá tanto mais, quanto menos a equipa estiver na sua dependência e à sua espera...
Quem também foi varrido de presidente do Sporting, foi Bruno de Carvalho. Mas neste caso, sem recurso ao auxílio de grandes vídeos, porque estava à vista de todos os seus comportamentos e atitudes. Não havia árbitro, por mais tendencioso que fosse, que não o reconhecesse. Ainda que agora se agite como o peixe fora de água a caminho do fim, Bruno de Carvalho acabou enquanto actor do palco desportivo nacional. Os posts do Facebook serão cada vez mais, mas aqueles que os lêem serão cada vez menos. Agora sempre que quiser ir a jogo, será para ter cada vez menos apoio, cada vez menos palco e cada vez menos interesse.
O Sporting mostrou maturidade institucional, que nem sempre é fácil em situações de tamanha gravidade.
O Benfica regressou aos trabalhos. Esperamos por dia 10 de Julho contra uns desconhecidos sérvios para ver novamente a equipa em acção. Será sempre importante que os regressos ao trabalho sejam o mais breve possível pois quanto mais cedo houver a estabilização dos recursos melhor. Ter jogadores a chegar, sem ritmo, sem férias, em cima da competição, é fatal como o destino, dá mau resultado."

Sílvio Cervan, in A Bola

Futebol português

"Há uma dose de sinceridade em Bruno de Carvalho, comum à grande maioria dos sportinguistas, que me garante um certo descanso na rivalidade com o Sporting. Por norma, os sportinguistas tendem a atribuir ao Benfica a responsabilidade, ou pelo menos parte dela, dos seus insucessos. O ódio, nos casos mais extremos, ou a inveja e desconfiança dos moderados resultam na demonização do Benfica, desencadeando comportamentos e atitudes caracterizados, sobretudo, pela previsibilidade e constância. Por vezes incomodam, nas raramente produzem qualquer efeito. Não passam de barulho que, conforme a civilidade dos protagonistas de ocasião, somente varia no tom.
Contrariamente ao que possa parecer - e ao que os sentimentos primários poderão indicar -, um Sporting fraco não nos beneficia, pelo contrário, prejudica, porque, quando nada resta aos sportinguistas para festejar, sobra  anseio de que também os benfiquistas nada tenham para celebrar. E refastelados e observarem esta dinâmica e dela procurarem retirar vantagens estão os portistas, os verdadeiros beneficiários da descaracterização leonina verificada nos últimas décadas.
Acresce que, desde o início dos anos 80, os diferentes protagonistas portistas, sempre sob a mesma liderança, não obstante a evidente obstinação anti-benfiquista, têm sabido dissimular a sua postura, ora optando pelo confronto declarado, ora gerindo o silêncio e emprestando o palco, geralmente ao Sporting, mas não sempre (Braga em 2010, também o anónimo em 2018), para que os 'custos' da luta contra o Benfica sejam distribuídos.
Recorrem, para isso, a tácticas sórdidas e a alianças de ocasião, não é novidade. Caber-nos-á sempre superiores a isso tudo."

João Tomaz, in O Benfica

Nações Unidas

"Na segunda-feira que passou, cheguei uma hora antes à zona do mercado de Arroios, em Lisboa. Uma hora antes do jogo de Portugal com o Irão. No restaurante nepalês, além dos funcionários oriundos dos Himalaias, havia um grupo de homens de meia e toda a idade sentados à mesa. Vibravam copos de tinto e de branco para ajudar a atenuar o calor e a nervoseira. Entre a esplanada e o balcão circulava um benfiquista com camisola oficial preta e um requintado bigode, quase monárquico na aparência - o bigode, entenda-se. Nas mesas e junto ao balcão, estava vários representantes e descendentes de famílias dos países africanos de língua oficial portuguesa (um grande abraço, caro sócio), um senegalês, uma senhora alemã, uns quantos portugueses. Já com o jogo do Campeonato do Mundo a acontecer lá longe da Rússia, chegaram dois indianos com a camisola da selecção vestida. As cervejas frescas e os copos cheios de vinho multiplicavam-se, só os golos não. Até que Ricardo Quaresma fez aquele passe de magia. E as nacionalidades misturaram-se todas num grito desfasado que foi saindo dos vários cafés, restaurantes e casas das proximidades. A culpa é do delay das transmissões e daquela mania que algumas pessoas têm de ouvir o relato no rádio enquanto veem as imagens pela televisão.
'Joga mais rápido' e 'Passa a bola' foram algumas das frases mais gritadas durante a segunda parte. Não adiantou. Os iranianos acabaram por empatar. Houve quem preferisse a Rússia, mas calhou o Uruguai. E nestes estádios da Luz improvisados um pouco por todo o país, amanhã a história vai repetir-se. A uma só voz e com vários sotaques."

Ricardo Santos, in O Benfica

Vamos lá despachar os uruguaios

"Dois empates e uma vitória na fase de grupos: melhor do que isso nem em sonhos. Após uma qualificação de acesso ao Mundial 2018 desastrosa, sem o registo de qualquer empate, o nosso Portugal está de volta. Empatámos dois jogos e lá fomos obrigados a ganhar um, visto que, ao contrário do Euro 2016, desta vez ninguém sugeriu aquela brilhante ideia de apurar para os 'oitavos' alguns dos melhores terceiros classificados. Enfim, truques de secretaria neste sujo vale-tudo para prejudicarem a nossa selecção.
O próximo obstáculo é o Uruguai, cuja maior ameaça está nos dois defesas, Godín e Giménez, e nos dois avançados, Suárez e Cavani. Não será nada fácil travar estes craques, pelo que o ideal seria a aparição de um multimilionário qualquer do Catar ou dos EAU a persuadir algum deles a trocar de nacionalidade. Bem sabemos que a receptividade dos uruguaios em atropelar o sentido de lealdade se torna bem maior à medida que o saco das moedas vai ficando mais pesado. Será particularmente interessante acompanhar o duelo entre Pepe e Luís Suárez (se não aparecer o tal multimilionário, claro). Ambos valentes, combativos e desprovidos de um ou dois neurónios. Se o Pepe fizer marcação cerrada ao avançado do Barcelona, prevejo que aos 20 minutos ele já estará no banho. Como é evidente, não vou dizer a qual deles me refiro. É um tiro no escuro.
Espero que o Coates jogue, de modo a aumentar as nossas hipóteses. O pouco tempo decorrido ainda não permitiu que ele apagasse da memória aquele momento de terror que vivenciou ao acabar a época: a final da Taça de Portugal, no Jamor. E tal como o Aves, nós também temos um Guedes. É um bom prenúncio."

Pedro Soares, in O Benfica

Vale e Bruno

"Quando, em Abril de 2017, após um Sporting-Benfica em Alvalade, e na sequência de uma proposta tão despropositada quanto cínica e ofensiva, Luís Filipe Vieira comparou Bruno de Carvalho a Vale e Azevedo, um exército de sportinguistas reagiu em rebanho, clamando a indecência da comparação, e acusando o nosso presidente de atentado à virtude e honra do ocupante da cadeira local. Passado mais de um ano, é interessante recordar esse episódio. De facto, durou tempo demais o equívoco (?) dos adeptos do clube rival face a uma figurinha que, desde cedo, mostrara o que era e ao que vinha. Populismo e demagogia, depois provocações e instigações ao ódio, por fim insultos a tudo e todos, e o mais que ainda poderá vir à tona - os próximos tempos prometem.
O resultado está já à vista: um clube feito em cacos, que não sabe muito bem como se reerguer do buraco para onde aquele aventureiro mitómano e desequilibrado o empurrou.
Enquanto o alvo foi o Benfica, e o clima de hostilidade e provocação era virado para o exterior, todos lhe batiam palmas e achavam graça. Foi preciso a criatura virar as suas cóleras para dentro, para então perceberem quem ele era e do que era capaz.
Está ainda por perceber a verdadeira dimensão do mal que Bruno de Carvalho fez ao Sporting. E do mal que fez ao desporto português, cujo clima irrespirável nos mais variados quadrantes muito deve à sua postura arruaceira.
No passado, alguns benfiquistas também se enganaram. Mas apenas uma vez. Em Alvalade só à quarta perceberam que, afinal, neste grotesco 'dérbi' entre um Vale e um Bruno não se sabe quem mais fica a perder."

Luís Fialho, in O Benfica

Manietismo

"A capacidade de manietar os factos chegou ao seu apogeu. Hoje o que interessa não é a defesa pelas vias normais, justas e sinceras, mas sim o ataque controlado, dirigido e instrumentalizado.
Zezé é um menino muito feio e especializou-se, além de não pagar as constas, em criar manobras de malabarismo encenadas.
Percebendo que a convicção de acreditar em algo é directamente proporcional a uma descrição de factos pormenorizada, mesmo que eles sejam inventados, senta-se na sua carteira de escola velha e mofa e com os lápis de carvão começa a escrever uma história como se estivesse a elaborar uma redacção.
Sentado ao seu lado, está o elemento instrumentalizador, que, por estar ligado à autoridade e ao poder, se disponibilizou para servir de carril.
No entanto, qualquer encenação precisa primeiro de uma divulgação pública, porque permite duas coisas: a satisfação do ego de quem a faz e a criação da convicção na opinião pública de que tudo é verdadeiro e punível, o que hoje em dia é facílimo!
Munidos deste background, está aberta a via para a realização do passo seguinte: as folhas velhas e decrépitas, iguais a quem as escreveu, são introduzidas no sistema informático da bufaria, originando a criação de um kafkismo hilariante, a que habitualmente se designa por processo.
O sistema sabe quem podem ser os seus mais fiéis oradores, à imagem do corneteiro do rei que, antes de este chegar a qualquer lugar, soprava sofregamente uma corneta de lata para anunciar a sua chegada. Esse surgimento em cena seria sempre seguido de uma grande aparato, para meter medo e criar a convicção de que vinha defender o povo.
O passo seguinte à cornetada é a recolha desenfreada de informação, sem limites nem regras, acompanhada ao segundo pelos corneteiros do poder.
Para quem tem nível é difícil hoje em dia conseguir viver numa sociedade toda empestada pelo cinismo, violência, manipulação e baixeza. O que mais custa é quem tem a obrigação de mudar este estado de podridão nada faz e, bem pelo contrário, participa na manipulação."

Pragal Colaço, in O Benfica

A farsa continua

"Numa altura em que atravessamos a melhor década de sempre, quer do ponto de vista desportivo, quer em relação aos resultados económicos-financeiros, voltámos a ser atacados por um manto de mentiras, difamações e suspeições torpes. Todos sabemos os valores que existem no Sport Lisboa e Benfica e todos temos orgulho por ser dirigidos por um naipe de grandes dirigentes, com um presidente que defende o nosso clube como ninguém. Luís Filipe Vieira deu, nesta semana, mais um lição de serenidade, determinação e transparência. Podem plantar todas as semanas mentiras e suspeições sobre a nossa instituição, que nada nos abalará. Todos sabemos quem está por trás desta farsa gigantesca e quem são os farsantes. Pode demorar, mas chegará a hora em que os difamadores profissionais irão sentar-se no banco dos réus. Eu bem sei que as conquistas desportivas do SL Benfica deixam de cabeça perdida alguns dos nossos adversários, e a única forma que encontram para travar a onda vitoriosa do maior clube português é montarem e alimentarem uma política de difamação permanente. A desfaçatez é tanta, que já perderam a vergonha e dão-se ao luxo de anunciar o que aí vem. Enganaram-se na porta, pois o SL Benfica é gerido por gente séria, honrada, humilde mais muito determinada, e que faz do fair play a sua forma de estar. Eu bem sei que custa olhar para os números e enfrentar a realidade. Nas últimas 10 épocas, considerando apenas seis modalidades (futebol, andebol, basquetebol, futsal, hóquei em patins e voleibol), em equipas seniores masculinas, conquistámos 96 títulos. O FC Porto conquistou 46, e o Sporting, apenas 33. Os números falam por si e ajudam a explicar a razão de tanto desprezo. Mas não pode valer tudo. Por isso, a minha convicção é que os Benfiquistas saberão dar a resposta certa, mantendo-se unidos e concentrados em apoiar os nossos dirigentes e as nossas equipas em todas as frentes."

Pedro Guerra, in O Benfica

sexta-feira, 29 de junho de 2018

O Voo da Águia

"Este Voo da Águia começa no sintético da Luz com 18 equipas e 250 atletas que vieram de todo o país movidos por uma mesma vontade de vencer e pelo convívio esperado de extraordinário dia à Benfica. Nem todos vibram com as nossas cores, mas todos respeitam os nossos símbolos e a nossa História e todos sentem um grande orgulho em vir aqui equipados disputar um jogo de futebol. Sentem isso com um privilégio, e não é para menos: há uma coisa comum a todos estes atletas, é que nenhum tem menos de 50 anos. Além disso têm em comum o gosto pela prática do futebol e a vontade de se manterem activos, de boa saúde e com elevado moral.
Walking Football é tudo isto e muito mais, para além do exercício físico e da melhoria da qualidade de vida, é uma garantia de prevenção para a saúde, precisamente nas idades de maior risco. Mas se é verdade que o corpo pede cuidados, não é menos verdade que a alma também precisa deles e que o pior risco é a solidão e os sentido de inutilidade que a idade vai instalando nos sentimentos de cada um. Esse risco estes homens e estas mulheres não correm!
O remédio é simples e universal, um medicamento esférico que dá pelo nome de 'bola' e que tem o condão de os ligar a todos e de lhes trazer alegria, amizade e saúde. Dir-se-á que não é tudo, mas são três ingredientes fundamentais da felicidade humana! Ainda por cima, para apimentar a coisa, juntámos alguns nomes da Glória Benfiquista num passado recente e ainda muito vivo na memória de todos. E então, sim, foi o máximo, pisar o campo com o capitão Veloso, com o Ramires e com o Paulo Santos e entrar por uma imersão total no mundo Benfica com entrada no estádio e um bom almoço nas áreas Corporate a mostrar que para nós os seniores merecem tratamento VIP. Em cima de tudo isto o voo da águia. E sempre que o Benfica homenageia o povo, a águia voa mais alto!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Comunicação por fora e por dentro

"Um dia destes, à tarde, depois da concisa conferência de imprensa do presidente Luís Filipe Vieira, dei comigo a ver a SIC Notícias, onde peroravam três 'independentes' causídiacos, todos com ferrete verde. O que mais custa, nos dias que correm, é ver a sanha assumida, agora despudoradamente, por órgãos de comunicação outrora tidos como neutrais relativamente às normas da informação e por opinadores encartados das suas sabedorias profissionais. O mais acabado desprezo pelo sentido ético ou pelo rigor deontológico com que uns e outros se apresentam diante dos públicos parece ser o novo modelo generalizado da comunicação portuguesa - já ninguém disfarça, mesmo nos fora tidos como mais 'sérios' e convencionais.
Os incautos espectadores, ouvintes e leitores que, dantes, só de longe e de tempos a tempos, percepcionavam aqui e ali, um sinal ou uma leve indicação acerca da preferência deste ou daquele jornalista quanto ao tema em análise, têm cada vez mais que se conformar agora, com o descaramento e a impudícia com que os 'jornalistas' bolçam sentenças e apresam juízos, com que os 'moderadores' conduzem capciosamente os debates e sem que sejam respeitados e avocados os soberanos princípios do contraditório e da dúvida. Os programas cumprem-se em promíscuos rituais pastosos em que se especula e se insinua, não para esclarecer, não para destrinçar, não ao serviço das realidades e da verdade dos factos, mas, antes e exclusivamente, para escarafunchar e induzir conclusões previamente estabelecidas em pérfidos guiões, conforme convenha aos seus próprios e respectivos interesses pessoais, de classe, de partido, de clube ou de corporação dos protagonistas de serviço e às conveniências e alinhamentos comerciais dos seus patrões.
Se formos a ver, tirando os canais do serviço público, em que, salvo raras excepções, patentemente tudo é sempre só azul por fora e por dentro, a 'informação' de cada um dos canais generalistas tem pelo menos duas cores: uma que serve para fora, e outra (ou outras duas), que verdadeiramente a(s) define(m) lá por dentro, para executar inflexíveis dictats editoriais anti-benfiquistas. A primeira cor que domina a imagem e o ambiente dos telejornais das restantes estações portuguesas - o mais importante de todos os programas de uma TV - nos cenários, nos mobiliários, nas auto-promoções e nos grafismos, normalmente só serve para atrair e enganar o espectador desprevenido: sem se aperceber da manigância, ele é inconscientemente levado a identificar-se com a cor que lhe vai na alma...
Mas os reiterados factos nos induzem a supor é que, nas sedes de decisão, os elencos das redacções estejam, afinal, a ser preferentemente constituídos não se acordo com critérios profissionais, mas segundo alinhamentos clubísticos, partidários ou de outras crenças, desde que determinados pelas chefias, de modo a que possam cumprir-se os mais enviesados desígnios. Os canais, à primeira vista distraída, até parecem que 'são' todos do Benfica. Mas, no fundo, no fundo, dominantemente, ali só se deixa que os artistas pensem, escrevam, falem ou vomitem... desde que seja em azul ou, então, em verde."

José Nuno Martins, in O Benfica

Como um deus que dorme

"Sochi – Sinal de decadência é quando o Chico Buarque aparece em Lisboa e a gente já não joga mais aquelas peladas contra o Polytheama, a equipa que nunca perde, porque o Chico não aceita a derrota e, mesmo derrotado, dá os parabéns ao adversário por se ter batido num jogo que nunca poderia ganhar. Está uma lua cheia, enorme, quase grávida no céu de Sochi. Ouvi-o cantar: “O malandro/ Na dureza/ Senta à mesa/ Do café/ Bebe um gole/ De cachaça/ Acha graça/ E dá no pé.” E ao ouvir o balanço desse sotaque musicado a que Olavo Bilac chamava “Última flor do Lácio”, parece que desencaixa da “Die Dreigroschenoper”, de Brecht e de Kurt Weill, MacHeath, Mackie Messer, Mack the Knife, que Bobby Darin cantava mais languidamente – “Oh, the shark, babe/ Has such teeth, dear/ And it shows them pearly white/ Just a jackknife has old MacHeath, babe/ And he keeps it, ah, out of sight” – e o grande Francis Albert, de Hoboken, repete no espaço do bar que ameaça fechar, deixando-me ao sereno com aquela sede própria das madrugadas.
Um grupo barulhento de uruguaios foi-se desintegrando e se alguém andar por aí, “sneakin’ round the corner, could that someone be Mack the Knife?”
A rapariga morena que tenta levar para casa o amante circunstancial tem, de facto, dentes afiados de tubarão. Saem ambos tropeçando no céu como se fossem bêbados e recebo dela um último olhar, desencantado mas decidido. Com aqueles dentes, o que lhe fará ao pescoço? Olhos embotados de cimento e lágrima. Levanto-me e o Sinatra ainda canta: “Oh, that line forms on the right, babe/ Now that Macky’s back in town.” Também estou de volta à cidade. Pela porta entra a humidade do mar Negro como a noite. Lá fora, um silêncio estranho. Como se Deus dormisse."

Paraquedista de Berna

"No Rússia’2018, não mais jogará a Alemanha. Em momento de tristeza germânica, lembramos Friedrich Walter, capitão no primeiro título alemão, em 1954 e um dos melhores de sempre da selecção. Participaria ainda no Mundial da Suécia’58 e, aos 42 anos, recusaria a possibilidade de marcar presença no Chile’62.
O capitão Fritz foi guerreiro dentro e fora do campo. Em 1940 e já em plena Segunda Grande Guerra, venceu o primeiro combate pela Alemanha (9-3), derrubando com três golos uns indefesos romenos. Em 1942, a selecção germânica teve de suspender a sua actividade no dia em que Fritz contribuía para derrotar a Eslováquia por 5-2. Após 19 golos, a guerra calava os seus festejos e o futebol alemão e chamava o capitão para o pior dos jogos: o de matar para sobreviver.
Despida a camisola da selecção, Fritz foi convocado para vestir o uniforme da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) como paraquedista do III Reich e, a partir dos céus da Europa, conheceu outros estádios… de terror, acabando na Rússia como prisioneiro de guerra. Após o conflito, o seu paraquedas nunca mais se abriu e os combates silenciaram a sequência de Mundiais de 1942 e 1946, impedido a participação alemã no Brasil, em 1950. Depois da Guerra, o futebol resgataria a Alemanha das cinzas com o título Mundial à custa da Hungria, uma das melhores selecções da história, comandada pelo Major Galopante Ferenc Puskas.
Durante seis anos, a Hungria perderia somente ‘o tal’ jogo! O poderio húngaro ficou patente na fase de grupos, ao vencer os alemães, por 8-3, num grupo com a Turquia e os sul-coreanos, agora de má memória! Aos 34 anos, Fritz, com o irmão Ottmar Walter, ergueu a Taça Jules Rimet e tornou-se o herói orgulhoso de uma guerra inócua. Foi capitão, comandou a selecção e fez explodir de júbilo os alemães com o ‘Milagre de Berna’.
Joachim Löw igualou o recorde negativo com 80 anos do seleccionador alemão Sepp Herberg, responsável pela eliminação germânica na primeira ronda do França’38. Porém, foi Hergerg que, 16 anos depois, venceu o Mundial’54. A reter: há sempre novo jogo! Com ou sem Löw, mas nunca com Löw… expectation!"

E mais uma vez, tal como em 1942, a Alemanha não chegou a Moscovo

"Moscovo - Tenho a minha conta de aeroportos e, como os últimos Mundiais têm sido em países encorpados, as esperas foram maiores do que serão, certamente, no Qatar daqui a quatro anos, dê-se o caso de até lá me manter em funções pelo menos básicas. Ainda há pouco tempo fiquei preso mais de 14 horas em Teerão por causa da neve, que subiu até à zona das ancas de um homem de estatura meã, e os motivos de entretenimento não eram muitos. É em momentos como esses que tendo a observar e descubro que talvez não tenha sido totalmente generoso com a raça humana, que me inspira tão pouca curiosidade que não faço ideia se quem veio a meu lado, no aviãozinho minúsculo que me trouxe de Penza até Moscovo/Vnukovo (um aeroporto mais maneiro que o de Sheremetievo), tinha barba ou bigode ou suíças ou cavanhaque e, tendo-os, se era um cavalheiro ou uma senhora com pilosidade abastada.
Pacientemente, espero.
Duas horas já passaram, faltam mais três. Pelo que vou espreitando no ecrã, tal como em 1942, também não será desta que a Alemanha chegará a Moscovo.
Se aqui estivesse o grande Torga diria que a meu lado estão sentados homens distraídos da sua condição de almas penadas, mas o Torga também não era propriamente dado a elogios à espécie humana, da qual, muito provavelmente, nem fazia parte, para escrever como escrevia. Papagaiam em inglês. Pelo que falam e nada dizem, depreende-se o muito que sabem e não exibem, e daí a modéstia que lhes perpassa pelos rostos.
Se me virar para a esquerda, este joguinho inofensivo torna-se entusiasmante. Há um senhor idoso que tem problemas com a distinção das raças. Embirra com outro, ao que parece por não serem iguais, embora me dê a sensação de que as cores de ambos são absolutamente normais. Não concordo minimamente com o que diz, mas sinto-me obrigado a defender até à morte o seu direito a ser um perfeito asno. Já Guimarães Rosa teimava que pãos ou pães é uma questão de opiniões.
Outro, de feições orientais, exibe a sua acreditação de adepto, coisa que a organização deste Mundial impôs e faz com que perca a conta da gente que se cruza comigo com o nome dependurado ao pescoço, em caracteres ocidentais e cirílicos, para excluir todas as dúvidas. Ao ver-me olhar para ele, faz um pequeno aceno com a cabeça, próprio dessa educação depurada que transforma todos os japoneses em cavalheiros, mesmo quando são proprietários de cérebros caliginosos, fechados e impenetráveis. Ao longe, ainda vejo bem. Tomo assim conhecimento com Mr. Lawrence, que de repente já não me parece nada japonês, mas evito, como é óbvio, cair na esparrela de lhe desejar “Merry Christmas”. Não há que confiar nas primeiras impressões, por mais impressivas que sejam. 
Passa uma brasileira de calções curtíssimos cor-de-rosa (não, não levem isto para uma questão glandular, porque é mesmo uma moda) e tenho a tentação de cantarolar: “Se um outro cabeludo aparecer na sua rua/ Você vai lembrar de mim...”
Mas ela esqueceu-me e vai perdida no meio das outras garotas de Ipanema. Deve ser russa, afinal.
À medida que observo, sem saber ao certo para onde me virar, como o burro de Buridan, escuto esta babel de dialectos e de sotaques e recordo-me da teoria universal de Carlos V, da Lorena: “O francês é a língua que se usa para falar com um amigo; o italiano utiliza-se para falar com a amada; o holandês serve para nos dirigirmos aos empregados, e o alemão para darmos ordens aos soldados; o espanhol é a língua dos reis; para suplicar a Deus uso o latim; para discutir com o diabo prefiro o húngaro.”
O português pode ser uma língua dos diabos, mas não merece o esquecimento. É em português que falam os poetas. Em que outra língua se escreveria uma coisa assim? “Toulouse-Lautrec/ Foi um grande pintor/ Mas só depois de morto é que/ Lhe deram o devido valor.” Em nenhuma."

Chegados aos "oitavos"

"Mehdi Taremi. Já ninguém se lembra dele, mas a verdade é que esteve muito próximo de se tornar um dos mais agonizantes carrascos da história do futebol português. Se não estão a ver quem é, eu recordo: foi o autor do último remate do Irão no jogo em Saransk. Saiu ligeiramente ao lado e, caso tivesse havido mais pontaria, teria dado acesso aos oitavos-de-final para os persas com a consequente eliminação de Portugal.
O falhanço de Taremi foi festejado por Fernando Santos e o mais importante foi conseguido: a Selecção passou às eliminatórias e vai defrontar amanhã o Uruguai. Após dois jogos sofríveis contra Egipto e Arábia Saudita, Tabárez montou um losango no meio-campo contra a Rússia e essa fórmula foi bem conseguida, independentemente de Smolnikov ter sido visto o vermelho demasiado cedo e de isso ter facilitado. Bentancur não tem de correr tanto a defender como aconteceria no módulo anterior do meio-campo em linha, ficando agora mais perto da zona ofensiva de último passe, devidamente respaldado por Torreira, a formiguinha do meio-campo celeste que garante ligação na cobertura e na projecção atacante que também contempla as roturas de Vecino na aproximação à grande área adversária e a largura de Nández na faixa direita, contando que Cáceres possa defender esse flanco com o mais rotativo Laxalt a entrar pela ala esquerda.
O Uruguai é das melhores selecções mundiais no aproveitamento de pontapés de canto e livres laterais, pelo que deve haver uma atenção redobrada da equipa de FS para não cometer faltas desnecessárias na zona defensiva. Enquanto Guedes (rotura, sprint, cobertura a Torreira) e Bernardo (criação de jogo no espaço descoberto do Uruguai ao lado de Vecino e à frente de Laxalt) podem ter mais contexto neste jogo, apostava na manutenção de William e Adrien, com Moutinho a poder entrar na segunda parte para dominar, até no cenário de aguentar no prolongamento.
Apesar do monte de críticas generalizadas (mais embirrentas do que fundamentadas) em relação a William, FS é dos primeiros a admirar a sua valia a assumir a zona de construção. Aí, estou com Santos. William foi limitado contra o Irão por via da marcação pegajosa de Sardar Azmoun? Foi, como já foram Pirlo e Busquets em situações do género, não sendo precisa grande ciência para perceber que não dá para entrar muito no jogo nessas circunstâncias. E é nessa altura que a equipa, mais do que o jogador em questão, tem de criar escapatórias para que a equipa consiga pegar no jogo. Isso não aconteceu em grande parte do jogo, primeiramente pelo facto de Pepe e Fonte estarem mais encravados na saída de bola. Por outro lado, também se constatou o pormenor de Guerreiro e Cedric estarem mais focados em centrar o posicionamento em campo para que João Mário e Quaresma pudessem alargar o espaço de recepção junto da linha lateral, ao mesmo tempo que protegiam o eixo no adiantamento de Adrien (vide tabela com Quaresma no golo da trivela). Ou seja, se Guerreiro e Cedric não alargavam a receção junto da linha lateral, William tinha logo menos uma ou duas opções mais prontas para libertar a bola.
De qualquer forma, nem Bentancur ou outro uruguaio vão fazer a William aquilo que fez Azmoun. O contributo defensivo de Cavani será sobretudo visível a fechar do lado esquerdo uruguaio. O que vai acontecer é que o centrocampista da Juventus vai andar lá perto no mesmo raio de acção e será dessa forma que irá contribuir defensivamente para o conjunto de Tabárez, sem grandes correrias, mas a defender posicionalmente à sua maneira, para não dar demasiada folga aos médios-centro portugueses. E claro que não haverá marcação individual em William, pelo que este até pode vir a ter um jogo mais participativo e elaborar como sabe, com serenidade e qualidade na entrega para desobstruir."

Querida, não esperes por mim

"Penza - Pushkin, para muitos o grande poeta russo, gostava de pensar na morte. E escreveu: “É triste minha estrada./ E me anuncia/ O mar mau do porvir dor e agonia./ Mas não desejo, amigos meus, morrer;/ Quero ser para pensar e sofrer.”
A morte aborrece-me. Não essa velha inqualificável, mazomba, de gadanha ao ombro e riso cariado. A morte: a morte mesmo de morrer. Não gosto da morte nem dos rituais da morte. Das cerimónias da morte e da tristezas tantas vezes artificiais do luto.
Arnaldo Jabor, o cronista brasileiro, perguntava-se: “Se até o Frank Sinatra já morreu, o que vai ser de mim?” Não sou como Soares dos Passos e não acredito no amor para lá da eternidade, campas lado a lado: “Porém mais tarde, quando foi volvido/ Das sepulturas o gelado pó/ Dois esqueletos, um ao outro unidos/ Foram achados num sepulcro só.” Só noivas sepulcrais têm direito a mortes de novela. Não sei se é possível fazer um embargo à morte, mas talvez alguém já tenha tentado. Aborrece-me de morte (é o termo certo) tudo o que é cerimónia funerária e só quero que acabem num instante no exacto momento em que percebo que duram para sempre.
Vendo bem, não quero mal à morte, apesar de saber que vai levar consigo todos os que amo e todos aqueles que ficam por ali na beirinha do verbo amar.
O meu mano Paulo Pimenta, cuja morte ainda me dói todos os dias desde que amanheço até que anoiteço, tinha um jeito especial e sorridente de chegar sempre tarde e foi até capaz de chegar atrasado ao próprio funeral. Admito que não tenho descaramento igual. E, se calhar, até já vou tarde... Terei, um dia, de viver com ela. Mas, querida, não esperes por mim se vires que não chego entretanto. Pelo menos hoje, para jantar..."

Uruguai: rombo na verticalidade

"O percurso limpo – com três triunfos e sem golos sofridos – no grupo mais acessível gera uma ideia de força acima do real valor do próximo rival da Selecção nacional. O que viria a ser robustecido pelo triunfo contundente ante a frágil Rússia (3-0), após as exibições soporíferas frente a Egito (1-0) e Arábia Saudita (1-0), onde ficou bem patente a abordagem excessivamente conservadora e um divórcio quase total com a bola. Algo que ajuda a explicar que os cinco tentos charruas tenham sido obtidos na sequência de lances de bola parada, claramente a sua principal força. O que obrigará a concentração superlativa lusa para evitar livres frontais, onde Suárez e Cavani assumem total protagonismo, e para obstar ao ataque à primeira – Godín e Giménez (ou Coates) – e à segunda bola – Suárez e Cavani – na sequência de livres laterais, pontapés de canto e lançamentos de linha lateral longos.
Habitualmente fiel a um 4x4x2 clássico, utilizado nas duas primeiras partidas e na maioria dos jogos da qualificação, Óscar Tabárez recorreu ao 4x3x1x2 diante da Rússia, o que poderá ser repetido amanhã. Isto porque ao desenhar um rombo (losango) no meio-campo, o maestro afiançou uma melhor ligação entre sectores, dando finalmente som a um meio-campo rejuvenescido por jogadores associativos e criativos, onde Bentancur assume um papel crucial. Contudo, sem abdicar dos traços fundamentais do ideário do seleccionador: a pressão incisiva, a ferocidade na marcação, e a verticalidade extrema. Algo previsível em ataque posicional, o que é convidativo a uma pressão média-alta/alta que conduza a erros, a selecção uruguaia, além da força extrema que patenteia no aproveitamento de lances de bola parada, sobressai pela incisividade evidenciada na exploração de ataques rápidos e contra-ataques, sempre direccionados a Suárez e Cavani, que visam a busca permanente das costas da defesa rival.
Fortíssimos na reacção à perda e capazes de condicionar a primeira fase de construção do adversário, os uruguaios ainda não viram o seu processo defensivo ser devidamente testado. Isto porque apresenta debilidades no momento de transição, que se agudizam quanto mais subida estiver a linha defensiva, já que são notórias as arduidades em velocidade e no controlo da profundidade. Além disso, a defesa de cruzamentos – em bola parada e em bola corrida –, apesar do tremendo jogo aéreo dos defesas-centrais, é falível, sobretudo se o oponente for sagaz a explorar acções de antecipação (primeira bola) e agressivo no ataque às segundas bolas."

Queiroz, o pequenino

"Portugal, e os portugueses em geral, cresceram muito nos últimos anos. Cresceram em atitude, em consciência, em sentido civilizacional, em postura, e têm mostrado ao mundo de forma clara a nossa raça, boa vontade e responsabilidade. Costumo apontar para a Expo 98 como o marco de mudança de atitude dos portugueses. Acho que foi nessa altura que ganhámos mais consciência das nossas capacidades, algum orgulho e uma determinação que aos poucos foi crescendo, sendo hoje uma característica inata nas gerações mais novas.
Depois da Expo 98 existem mais três marcos que considero importantes nesta reafirmação da grandeza do povo português: são eles o Euro 2004, a intervenção da troika entre 2011 e 2016 e, claro está, o Euro 2016.
As razões são simples: em 2004, mesmo não vencendo, Portugal deu uma lição à Europa de organização, de rigor e, sobretudo, de união. Não tenho memória de um país tão e todo unido em torno de um objectivo, e, claro, justiça seja feita ao homem que pediu para colocarmos as bandeiras nas janelas - Luiz Felipe Scolari.
Sofremos, vibrámos e, mesmo perdendo a final com uma Grécia orgulhosa, caímos de pé e mostrámos que mesmo na derrota fomos grandes.
Depois, a intervenção da troika, tempos duros e de desespero. Não virámos a cara à luta, mostrámos o que significam as palavras solidariedade, rigor e compromisso. Por todo o país assistimos a acções de solidariedade - nas juntas de freguesia, nas câmaras municipais, nas associações foram aos milhares os portugueses que se mobilizaram para ajudar os que mais necessitavam. Muitas famílias ficaram sem emprego e muitas empresas faliram mas, aos poucos, reergueram--se e Portugal saiu de uma das piores crises da sua história mais forte e, uma vez mais, de cabeça erguida.
Por fim, o Euro 2016, um país unido por um sonho alcançado num remate do jogador mais improvável. Com humildade, muito esforço e uma monstruosa capacidade de dedicação e compromisso, Portugal calou os mais críticos e fez justiça na história do futebol, onde há muito devia já ter conquistado um título europeu ou mundial.
Infelizmente, todas estas características e virtudes que os portugueses foram ganhando ao longo destes 20 anos não atingiram todos.
Há pelo menos um que não cresceu como todos nós, que ficou pequenino, que pensa que é gigante mas não passa de um pigmeu - o mister Carlos Queiroz.
Honestamente, nunca percebi porque se lhe dava tanta importância e se lhe atribuía tanto crédito mas, como não sou especialista em matéria futebolística, nunca me preocupei muito.
Queiroz mostrou o quão rasteiro é. Mostrou porque não foi capaz de mobilizar nada nem ninguém quando assumiu o cargo de seleccionador nacional. Mostrou o que de pior há no íntimo do ser humano e, sobretudo, envergonha todos os portugueses.
O que Queiroz fez no passado dia 25 de Junho não é ser bom profissional nem defender os interesses do país que representa. Mostrou rancor, ressabiamento e uma total falta de noção da realidade.
Já os nossos jogadores espelharam todas as características que ganhámos nos últimos anos e deram a melhor resposta possível - uma total indiferença pela triste figura que fez.
Senti-me envergonhado. Muito envergonhado com a atitude de Queiroz. Mostrou que é um homem amargurado com a vida e embrenhado em provar não se sabe bem o quê a um país (segundo palavras suas) que já se esqueceu dele. Que as últimas recordações que tem dele é de falta de liderança e de uma arrogância desmedida.
Queiroz é um homem pequenino e que me envergonha como português. Queiroz não é um homem contra uma nação! É um homem só e iludido pela sua arrogância. Esta nação é grande e já esqueceu que Queiroz existe. E não deixa de ser irónico ter sido Ricardo Quaresma a mandar Queiroz para casa."

Mundial, dia 16: Em defesa de William e Cédric, bons jogadores com má Imprensa

"O que é possível é complementar William com um João Moutinho menos castigado fisicamente (descansou no último jogo) e outros dois futebolistas que rendam, finalmente, o que valem: Bernardo Silva e João Mário. Se isso acontecer, a selecção terá outro nível

Depois dos treinos oficiais, a corrida ao Mundial começa agora. Pelo caminho ficou a Alemanha, com o inevitável estrondo. De resto, todos os outros candidatos estão na grelha de partida, entre os quais Portugal, como era esperado.
O futebol português habituou-se a este nível porque tem jogadores de qualidade, um grande treinador, homem muito experiente e uma estrutura federativa com um perfil sem comparação com qualquer outra época. E é por isso, por estar(em) entre os melhores, que a pressão aumenta.
O percurso até agora pode resumir-se assim: a selecção de Portugal fez uma qualificação aceitável, num grupo difícil. Podia ter feito melhor, que seria ganhar o grupo e evitar aqueles momentos de angústia final contra o Irão, mas cumpriu o objectivo. E não se esqueça a sua principal qualidade, agora que começa a fase ‘a eliminar’: é uma equipa muito solidária, habituada a competir. Não é fácil, para qualquer adversário, derrotar a selecção nacional em 90 minutos – e a prova disso são os 17 jogos (7 vitórias, 10 empates) que leva sem perder em fases finais de grandes competições. Este é o maior contributo de Fernando Santos, o homem que dirigiu 15 destes 17 jogos (os outros dois foram com Paulo Bento, no Brasil’2014, depois da derrota com a Alemanha no jogo em que Pepe foi expulso).
Vamos agora, depois deste dia de descanso, sem jogos, encontrar uma equipa parecida com a nossa. O Uruguai não é só a dupla Suarez/Cavani. Foi a segunda classificada na qualificação da América do Sul. Só o Brasil fez melhor. Cavani, o ponta de lança do PSG, marcou dez golos, mais do que qualquer outro avançado.Trata-se de uma equipa muito combativa, segura, como demonstram os seus números até agora – três jogos, três vitórias, cinco golos marcados, nenhum sofrido.
Perante esta realidade, Portugal tem de mostrar o seu melhor jogo de equipa, que ainda não se viu neste Mundial. A partir de agora, a equipa precisa de mais do que golpes individuais de um jogador para seguir em frente. Não basta ter Ronaldo, ou poder contar com uma ‘trivela’ de génio de Quaresma. Precisa de consistência de jogo, aquela que se lhe viu no Europeu de França, há dois anos.
Para isto é essencial um bom rendimento dos homens do meio-campo, sendo que aí residem as maiores dúvidas na equipa.
Certo é que Fernando Santos não prescinde de William Carvalho. Aliás, não se percebe bem as desconfianças que se têm levantado em relação ao jogador. William é o que é, um futebolista cerebral, muito inteligente. Claro que o óptimo seria colocar a cabeça dele nos músculos de Pogba e ambos animados com a mobilidade e visão de Modric. Pois… Mas não é possível. O que é possível é complementar William com um João Moutinho menos castigado fisicamente (descansou no último jogo) e outros dois futebolistas que rendam, finalmente, o que valem: Bernardo Silva e João Mário. Se isso acontecer, a selecção terá outro nível.
Acredito que, desta vez, o companheiro de Cristiano Ronaldo seja Gonçalo Guedes, que tem a vantagem de ser mais móvel e está naquele ponto em que pode ‘explodir’ a qualquer momento. Guedes é um projecto de futebolista para, em plena maturidade, ficar ali algures entre Nani e Figo. 
Olhando para a defesa, podemos estar tranquilos depois destes três jogos iniciais.
Rui Patrício tem jogado com a segurança habitual. Foi brilhante com Marrocos.
Na defesa tem havido algumas críticas e um alvo especial, Cédric. Também não entendo a razão. Cédric é um bom jogador também com má imprensa. Impôs-se na selecção depois de alguns anos de jogadores sofríveis naquele lugar. Houve um hiato desde Bosingwa. E, de repente, temos muitos laterais-direitos com qualidade: Ricardo Pereira (FC Porto/Leicester), João Cancelo (Juventus), Nélson Semedo (Barcelona) e… Diogo Dalot (FC Porto/Manchester United), até Ricardo Esgaio (Sp. Braga). O futuro será de competição forte entre todos eles, mas só por clubite muito aguda se pode dizer que Cédric não tem categoria para estar onde está. É um jogador fiável, que ataca bem, homem de equipa, que não jogou bem contra a Espanha mas recuperou pronto nos dois jogos seguintes. Depois é preciso não esquecer uma regra muito clara de Fernando Santos: para se jogar na selecção tem de se jogar com alguma regularidade no respectivo clube. E Semedo, por exemplo, é suplente de um jogador (Sergi Roberto) que nem sequer foi convocado para a selecção de Espanha (Lopetegui preferiu Odriozola, da Real Sociedad para suplente de Carvajal).
Até Raphael Guerreiro, que teve uma temporada marcada por lesões, tem estado melhor do que seria lógico esperar. Sofreu com Marrocos, mas aquele Amrabat seria tremendo para qualquer defesa naquela tarde. E, mesmo assim, Guerreiro controlou-o, sendo apontado por muitos analistas internacionais como um dos seis melhores defesas-esquerdo do Mundial.
Se até Pepe e José Fonte não mostram em campo a idade que está inscrita nos respectivos bilhetes de identidade, creio que podemos estar relativamente optimistas para o jogo com o Uruguai. É 50/50. Aliás, nesta fase só há um encontro com um favorito enorme, o Bélgica-Japão. Todos os outros vão ser muito suados."

O jogo passa a ser outro

"Terminaram os jogos da fase de grupos. Na sua generalidade, o Mundial fica marcado por um grande equilíbrio, com os principais favoritos a acusarem algum desgaste físico numa temporada que já vai longa. Surpreendentemente, o campeão está fora da competição: uma Alemanha irreconhecível foi a principal desilusão da prova. E selecções como Brasil, Argentina, Espanha ou Portugal, entre outras, sentiram mais dificuldades do que o previsto para garantirem a presença nos oitavos-de-final. 
A nossa Selecção passou por altos e baixos ao longo de 3 jogos e acabou por sofrer até ao último minuto, minuto esse em que, infelizmente, perdemos a liderança do grupo. A par dos espanhóis, tivemos a prova dentro de campo de que Irão (excelente prestação) e Marrocos (revelação que com outra sorte poderia ter ido mais longe) valiam bem mais do que muitos pensavam.
Para Portugal, o importante foi cumprir o primeiro objectivo: chegar aos ‘oitavos’. A partir daqui o ‘jogo’ passa a ser outro. As equipas vão apresentar-se mais afinadas, focadas apenas na eliminatória e tudo se resolverá em 90 ou 120 minutos. E sabemos como os portugueses têm mostrado maturidade e pragmatismo nesta fase de decisões.
Amanhã teremos pela frente o Uruguai, selecção que tem um percurso imaculado na prova, com 3 vitórias, 5 golos marcados e nenhum sofrido. Trata-se de um adversário que exige máxima cautela, comandado por um mestre do futebol mundial, o experiente Óscar Tabárez, um estudioso que valoriza a estabilidade defensiva, o controlo inteligente dos jogos e o forte aproveitamento das bolas paradas (os 5 golos surgiram assim). E além disso tem um ataque fortíssimo, imensa organização e jogadores essenciais para o trabalho operário. Os médios Matías Vecino, Rodrigo Bentacur e Lucas Torreira (grande jogo com a Rússia), todos a actuar no futebol italiano, e por isso habituados a um futebol táctico, vão dar luta ao meio-campo português. E pode estar aqui uma chave do jogo: neutralizar os homens que alimentam a dupla de ataque Suárez e Cavani.
Será uma eliminatória renhida, na qual Portugal terá de mostrar a sua melhor face para poder aspirar chegar aos quartos-de-final. A equipa portuguesa pode render mais e isso será vital para ultrapassar o próximo rival. Níveis de confiança e motivação no máximo, um jogo concentrado de todo o colectivo e um pouco de sabedoria e felicidade na hora de ter bola e gerir o jogo. São ingredientes que nos podem fazer seguir em frente."

A sorte que tivemos com o presidente Bruno de Carvalho!

"Não foram poucos os “letrados”, “educados” e “ricos” que aplaudiram Bruno de Carvalho contra os viscondes que o antecederam. Na política não é muito diferente.

Não ligo a futebol. É a primeira declaração de (des)interesse a fazer. Quando assim é, e no caso de uma mulher, herdamos o clube do pai. Fica-nos bem. A segunda declaração de interesse é que este artigo não é sobre futebol ou gestões desportivas, vitórias ou derrotas no campeonato. Na verdade, não quero saber. Este artigo é sobre política, governos e governados.
Poucos dias antes da eleição de Bruno de Carvalho – uma vez mais para ter assunto ao jantar com o meu pai – dei-me ao trabalho de ouvir a entrevista, porventura a última, do presidente sportinguista antes de uma reeleição esmagadora com quase 90% dos votos. Indiferente que sou ao Sporting ou adversários, ouvi o político. Um lunático carregado em ombros por uma multidão de adeptos frustrados com as derrotas de um clube. Um homem obcecado consigo próprio que pensava carregar aos ombros o peso da Humanidade. Um salvador. Mal-educado, agressivo. Compulsivo. Um ditador. “A partir de hoje eu sou o presidente de todos os sportinguistas e isso é o mais importante”. Bruno de Carvalho, dixit. Eu represento a vontade de todos. Eu tenho todos em mim.
Agora a política. O descontentamento das massas é terreno fértil para o populismo e para os líderes populistas que encerram em si a tentação da ditadura. Portugal é um país sortudo porque lidou com o problema numa esfera pouco relevante que é o futebol. A Alemanha lidou com Hitler. Agora que as lutas se fazem pela economia e não pelas armas, a Grécia provou do pior do populismo com um governo que primeiro faliu o país para depois se resignar e reconstruí-lo em democracia europeia. Os EUA elegeram Trump. Espanha levou a governo movimentos nacionalistas musculados. Itália, os partidos de extrema-esquerda e direita.
Há reflexões a fazer sobre o que cega as multidões, sem distinção de grau literário ou nível de rendimento. Não foram poucos os “letrados”, “educados” e “ricos” que aplaudiram Bruno de Carvalho contra os viscondes que o antecederam. Em política, um Bloco de Esquerda chegou ao Governo, ainda que por via do apoio parlamentar, porque uma fatia relevante da sociedade se quis zangar com os “viscondes” e resolveu votar em protesto.
Hoje temos um Governo refém dos sindicatos por causa desse voto de protesto. Um país que não cresce porque governa em minoria se as políticas forem orientadas para as empresas e não para aumentos inconsequentes de rendimento à custa de endividamento. Um país de défice artificial (à custa de retenções de impostos e manutenção de austeridade) mas de dívida descontrolada. Eis o preço a pagar por eleições que acontecem contra o status quo a todo o custo e não numa perspectiva de construção. Sem olhar aos protagonistas ou simplesmente sendo vulneráveis a frases eloquentes e galvanizadoras que têm tanto de canto de sereia como de absoluto vazio de realidade.
Por isso, obrigada Bruno de Carvalho. Obrigada por, à custa de uma coisa pouco importante como é o futebol, ter dado uma lição de política aos portugueses, porque a de José Sócrates aprendemo-la tarde demais: pior do que viscondes, pior do que o “antes”, é a cegueira do povo que se encanta com nada porque estava desencantado com tudo."