quarta-feira, 2 de maio de 2018

Venham as férias!

"Este jogo trouxe à tona uma série de equívocos desde o início da época, preparada com a ideia de que bastaria a 'inércia' e o hábito de se ganhar

Ataques: 62 contra 16. Cantos: 14 contra 0. Ainda cedo, 1-0. No fim, Benfica 2, Tondela 3. O penta que já estava quase arredado, já nem em sonhos acontecerá. Nada de trágico, depois de quatro campeonatos ganhos com todo o merecimento, é bom não o esquecer. Evidentemente que é muito custoso perder nestas circunstâncias. Mas, em boa verdade, é isto que faz do futebol uma não ciência, nem determinista e muito menos exacta. Se não houvesse este tipo de desfechos, o futebol, porque demasiado previsível, tornava-se ainda mais monótono do que até já aparenta ser.
O certo é que não nos podemos agarrar à falta de sorte ou à grande exibição do guardião tondelense Cláudio Ramos (a propósito, por que será que ele não é convocável para a Selecção Nacional ou será por não ser de um clube dito principal?).
Este jogo trouxe à tona, uma série de equívocos desde o início da época, preparada com a ideia de que bastaria a inércia e o hábito de se ganhar. Será assunto para, uma vez terminada a temporada, se reflectir e a esta questão voltarei então.
Bem sei que jogámos sem o essencialíssimo Jonas (sem ele o jogo é outra coisa, para pior), Jardel, Fejsa e não esquecendo Krovinovic. Como se isso não bastasse, o titularíssimo André Almeida lesionou-se na primeira parte. Mas, caramba, este jogo tinha de ser para ganhar!
Sinceramente, para além da derrota inédita e absolutamente comprometedora, custou-me ver Luisão, grande símbolo profissional do meu clube, a ser vítima de opções inadequadas e, muito provavelmente, a despedir-se sem glória. Sim, ele teve alguma responsabilidade nos golos do Tondela, mas não deveremos culpá-lo isoladamente. Disseram-me que Jardel (e Fejsa) não jogaram por estarem magoados (terá sido mesmo?). Acreditou-se que este seria ideal para Luisão voltar, ideia de que, aliás, discordo. Notável atleta com 37 anos e há mais de 4 meses sem jogar, a voltar aos relvados e logo contra uma equipa que naturalmente tinha como uma das suas (poucas) armas jogar em profundidade para as costas da defesa encarnada, o que exigiria rapidez de reacção e de corrida, foi demasiado imprevidente.
Um segundo caso: Seferovic, jogador que iniciou a época prometendo ser uma boa aquisição. Mas não é preciso ser mago ou adivinho para se perceber que, de há muito a esta parte, o suíço entra desmotivado, deslocado e perdido. Recordo aqui o princípio deste desmoronamento face ao penta. O golo de Herrera, que dá a vitória ao FCP, tem como afável espectador a meio-metro do portista nada mais nada menos que Seferovic. O homem entrou poucas vezes nos jogos e quando o fez teve 3, 4 ou 5 minutos para jogar. Assim sendo não fácil para um treinador motivar quem quer que seja.
Terceiro ponto: Raul Jiménez. O jovem mexicano corre que se farta, não vira a cara a qualquer jogada ou movimento e, neste jogo, até foi por isso que Pizzi acabou por marcar. Gosto do jogador, sem dúvida. Mas, na minha opinião, ficou definitivamente (ainda que mande a prudência não se usar esta palavra no futebol) evidenciado o carácter bipolar da sua eficiência. É um suplente insubstituível, mas um titular prescindível. É um eficientíssimo jogador de banco, mas um apenas razoável jogador de campo. Há atletas que são assim e devem ser potenciados naquilo em que são melhores.
Falta pouco para as férias... Porém, no próximo fim-de-semana haverá um jogo decisivo para atribuição do vice-campeonato, não apenas pela dignidade (recordo que o Benfica nesta segunda década do século foi sempre campeão (5) ou vice-campeão (3), mas porque estarão em jogo muitos e agora mais milhões face à possibilidade ou não de se atingir a fase de grupos na Champions. Com a vantagem agora do lado do Sporting, pois chega-lhe um empate sem golos. Ou, dito de outra forma, o Benfica terá pelo menos de empatar com golos. Impensável, semanas atrás...

As meias da Champions
Tudo parece  conduzir a uma final, creio que inédita, entre o Real Madrid e o Liverpool. Já na remediada Liga Europa, cada vez mais afastada das luzes e do dinheiro da principal prova da UEFA, os jogos foram de uma pobreza franciscana e até um sofrível Marselha pode vir a vencê-la.
Duas notas, apenas sobre a Champions. A primeira para voltar a referir a escandalosa protecção do Real Madrid nesta competição. No ano passado foi o que se viu precisamente contra os bávaros Este ano, aquele penalti que impediu a Juventus de ir a prolongamento foi de bradar aos céus. E, agora em Munique, em caso de dúvida sempre a favorecer a equipa de Madrid e quando a acções disciplinares um tal de Carvajal só saiu por lesão, quando deveria ter saído mais cedo com meia-dúzia de cartolinas. É claro que são arbitragens à moda da UEFA, tal como a que deu a vitória ao Sevilha na final da Liga Europa contra o Benfica ou a que eliminou o SCP num jogo contra o Schalke por um penalti forjado. Mas sendo na UEFA, o respeitinho é muito bonito e tudo fica de bico calado. Assim os grandes da Europa se vão afastando cada vez mais dos outros considerados plebe para a lógica (e interesses) uefeiros que, não por acaso, adiam o mais tempo que podem, os VAR e suas variantes. Há quem lhe chame conservadorismo e prudência. Eu chamo-lhe proteccionismo e desfaçatez.
A segunda nota, para referir o notável jogo em Liverpool. Assim sim, o futebol até é um desporto lindo. Ao longo de tantos anos de jogos europeus, este é para mim um dos que ficam no pódio da memória. Curiosamente, um dos que também guardo bem teve como interveniente o mesmo Liverpool que, na final europeia, perdendo ao intervalo por 0-3 contra o soberano Milan, virou o resultado e ganhou a Taça. Velocidade, lisura, golos, movimentos, cor, entusiasmo, técnica, houve do melhor neste fabuloso jogo. E lembrar que a equipa de Jurgen Klopp ficará provavelmente em terceiro no seu disputadíssimo campeonato inglês, tal qual a Roma. Estas constatações evidenciam quão, só por milagre, outra equipa fora das principais Ligas pode chegar a esta fase da competição. E recordo que o Liverpool perdeu Coutinho para o Barcelona em Janeiro e não se ressentiu - bem pelo contrário - com um tridente atacante que creio ser o melhor do mundo neste momento. O egípcio (viva a globalização dos artistas!) Mohamed Salah demonstrou talentoso e que, se houver justiça, este ano pode e deve ser um sério concorrente de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi na já saturante competição-a-dois da Bola de Ouro.

Contraluz
- Despedida: Andrés Iniesta
Despede-se do Barcelona antes de completar 34 anos. Esteve no seu clube 21 anos, o que hoje é quase uma excentricidade. Ganhou todos os títulos, quer no Barça, quer na selecção espanhola. Jogador de incomparável categoria, atleta exemplar, profissional de grande correcção, sem adornos ou marketing aparvalhado. Só lhe faltou - a ele e ao seu companheiro Xavi Hernández - uma merecida Bola de Ouro.
- Homenagem: Óquei de Barcelos
Apesar de ter perdido nos penáltis a final da Taça CERS em hóquei em patins, uma espécie de Liga Europa desta modalidade e jogada em casa do adversário. Foi pena não ter vencido, o que seria inédito, pela terceira vez consecutiva. Ao contrário do futebol, continua a haver excelentes exemplos das nas modalidades de pequenas equipas que têm conquistado títulos cá e lá fora. Citando exemplos, a Oliveirense, também no hóquei e basquetebol, o ABC no andebol, o SC Espinho e Fonte do Bastardo no voleibol."

Bagão Félix, in A Bola

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