"Pedroto mandou-o treinar-se no hotel, respondeu-lhe: «Não sou jogador de jardim»; Mais espantoso, o que fez na URSS
1. Capitalista assustado com o PREC vendeu-lhe um Jaguar por 150 contos. Contratou um motorista, comprou-lhe traje a preceito, exigiu-lhe que andasse sempre assim (de boné e tudo) - e foi por essa altura que Portugal foi jogar ao Chipre. Ao chegar ao hotel, Pedroto mandou os jogadores a treino numa nesga de relva, ele recusou-se: «Não vou, que não sou jogador de jardim!»
2. Em viagem por África, percebera-se-lhe o vício que começara a abalá-lo, o Benfica tentou que se sujeitasse a tratamento psiquiátrico, mas ele fechou a questão, de rompante, amofinado: «Não! Eu não sou maluco, eu não estou maluco».
3. A um outro braço de ferro se atirou, numa entrevista a A Bola: «Sou o melhor futebolista português, sou o Maior, e pelo dinheiro que me pagam não jogo mais no Benfica». Mortimore, que chegou à Luz para o lugar de Mário Wilson, espantou-se: umas vezes aparecia a treinar, outras não. Ausentava-se, voltava, hibernava, pressionava - e sim: deram-lhe o que queria: «Comigo, o Benfica volta a ter grande equipa, sem mim não tinha...»
4. Em Setembro de 1977, o Benfica foi a Moscovo jogar com o Torpedo para a Taça dos Campeões - e os mosquitos por cordas voltaram a notar-se logo no aeroporto da Portela: «Vestia calças de ganga, os outros levavam fatos, calças de fazenda. Ia de chinelas, estava na moda, eles não. Disseram-me que era feio estar assim, mandaram-me mudar de roupa, não mudei, é mentira que me puseram no avião à força».
5. Antes do Torpedo correu rumor de que afirmara a Mortimore: «Disseram-me que os russos são amadores, não jogo contra amadores, só jogo contra profissionais, não conte comigo». Negou-o: «Verdadinha é que, senti dores ao sprintar e disse ao mister que só jogaria se agravando-se a lesão o Benfica me pagasse o ordenado por inteiro durante a inactividade. Disseram não, respondi-lhes que, então, não me sentia em condições, que fosse outro para o meu lugar» - e não, não jogou...
6. No regresso da URSS, Ferreira Queimado, o presidente do Benfica, suspendeu-o. Porém, Toni, o capitão de equipa, convenceu-o a dar-lhe mais uma oportunidade. Deu, alinhou contra o Boavista no desafio seguinte - e até foi dele o passe para o golo de Chalana.
7. Benfica e FC Porto lutavam taco a taco pelo título 77/78. O Sporting foi à Luz, se ganhasse Pedroto poderia ficar mais aliviado - perdeu porque marcou mais um dos seus golos de «levantar o estádio». A festejá-lo, houve peripécia a dar-lhe imortalidade: ao perceber-se que lhe faltava brinco pôs-se a escabichar a relva - Rosa Santos permitiu que o jogo estivesse parado cinco minutos - e não bastou para o encontrarem: «Estou desesperado. Não é por ter custado 10 contos, é porque sem o brinco talvez não volte a ser o mesmo jogador». Após o sumiço não marcou mais golo pelo Benfica...
8. Estava o país ainda em riso pelo exótico episódio do brinquinho perdido - e estoirou notícia de que acabara de assinar pelo Vitória. Em 36 horas, três anónimos contribuíram com 400 contos para o regresso. «O Benfica mandou-me esperar, mas esperar para quê?! Só pedi mais 10 contos do que estava a ganhar por mês, torceram a orelha, azar deles». Exigira 650 contos por mês e um Porche, o SLB aceitara dar-lhe o Carrera e 550 contos de salário mensal ! - e ele foi para Setúbal por 100 apenas.
9. Uma época esteve em Setúbal e do Vitória saltou, em 79/80, para o Boavista. Que foi à Luz ganhar por 1-0 - com golo seu. Em vez de o festejar, correu para o lugar onde perdera o brinco procurou repetir o ritual da busca, os companheiros não deixaram. Não tardou desentendeu-se com Valentim Loureiro - e abandonou jogo a meio: «Sou o Maior e o Maior não pode andar a jogar em pelados...»
10. Em 1984, quando já se afundara na miséria contou a Vítor Serpa: «Deixar o Benfica foi a maior asneira da minha vida. Levantei o Boavista, foram uns ingratos: a mulher com quem vivia, fugiu-me em vésperas do último jogo do campeonato, meti-me num táxi e fui atrás dela - e arranjaram aí razão para não me pagar 200 contos. Tomar, Montijo, Amora, todos me ficaram a dever. Do Monte da Caparica, onde só ganhava por vitória, fui despedido por estar a mijar junto dum carro. Parece que andava criança por perto. Mas eu vi lá a criança...»"
António Simões, in A Bola
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