"Seria decerto impensável que um responsável de uma instituição, empresa ou associação proferisse sucessivas declarações públicas atentatórias da dignidade de terceiros, mas já se ignora a gravidade desse tipo de comportamento quando protagonizado por dirigentes dos clubes de futebol... Ninguém seguiria por muito tempo um comentador que vociferasse permanentes alarvidades, mas quem fala de futebol no espaço público mediático pode dizer tudo... Não passaria imune a duras críticas um jornalismo especulativo nos temas, estruturado por fontes enviesadas e por forças que pouco têm a ver com a noticiabilidade, mas a informação jornalística sobre o futebol muitas vezes parece ser assim. E isso é demasiado perigoso para todos nós. Liga e Federação Portuguesa de Futebol, tutela governamental do desporto e Entidade Reguladora da Comunicação Social devem, por estes dias, tomar medidas que parem esta estranha forma de terrorismo. Com determinação.
O futebol é, sobretudo, emoção. Por isso se constitui como uma espécie de cola que une tantas pessoas, muitas de amizades improváveis. Também é o lugar onde cresce uma economia que se fortalece com disputadas vitórias nos diferentes campeonatos, com musculados acordos à volta dos passes de jogadores, com avultadas negociações de publicidade ou de direitos de transmissão televisiva dos jogos... O futebol é muito mais do que um jogo dentro das quatro linhas. Todavia, este desporto não poderá converter-se num espaço de terrorismo verbal entre dirigentes desportivos, de hooliganismo entre claques, de violência entre adeptos. Mas hoje o futebol português é isto. Porque alguns dirigentes sem qualidades tomaram de assalto os clubes e de lá não querem sair? Porque os treinadores se mostram incapazes de promover uma competição saudável entre os seus jogadores e estender esse ambiente aos respectivos adeptos? Sim, em parte. Mas há também outras variáveis a equacionar: a organização interna dos clubes, incapaz de expurgar do seu interior elementos tóxicos; a passividade dos órgãos que supervisionam os clubes, avessa a medidas correctivas; e, claro, a mediatização que se faz a esse nível, promotora de permanentes tensões e favorável a discursos indecorosos e a comportamentos violentos.
A ampla cobertura do futebol é comum à escala global, nomeadamente por parte dos canais televisivos. Todavia, já não será tolerável abrir a antena durante horas para antecipar um jogo com informação de grau zero, seguir acriticamente conferências de Imprensa de dirigentes e treinadores de futebol que vozeiem enunciados atentatórios da boa imagem de terceiros, colocar em estúdio comentadores que gritam obscenidades uns aos outros... Talvez seja demasiado optimista esperar uma autorregulação dos média em relação a este desporto, mas será expectável que instâncias reguladoras do desporto e dos média ajam com determinação face a tantos abusos. Precisamos de repensar tudo. Rapidamente e em força.
O futebol é um desporto que mobiliza milhões. De pessoas e de euros. Será sempre um campo de inegável interesse público e, simultaneamente, suscitando um colossal interesse do público. Contudo, não poderá converter-se num universo tomado de assalto por hooligans que transformam os estádios e os espaços circundantes em verdadeiras batalhas campais, nem dominado por dirigentes que desrespeitam adversários e abusam do poder que têm sobre as respectivas equipas.
Na política, quando algum elemento é suspeito de corrupção, desrespeita o adversário ou comete actos atentatórios da dignidade de terceiros normalmente demite-se ou é demitido. Os jornalistas que mediatizam este campo seguem registos noticiosos algo neutrais que, por norma, respeitam o princípio do contraditório. Os comentadores, ainda que possam esgrimir argumentos robustos contra posições contrárias à sua, não recorrem a obscenidades, nem a gestos próximos das agressões físicas dirigidas aos seus interlocutores. No futebol, não é assim. E ninguém faz nada para parar esta guerra que há muito começou?"
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