terça-feira, 8 de maio de 2018

Malfadada paella

"Um desejo gastronómico que podia ter eliminado o Benfica da Europa.

Depois de vencer, em casa, o Real Madrid por 5-1, o Benfica rumou à capital espanhola para disputar a 2.ª mão dos quartos de final da Taça dos Clubes Campeões Europeus 1964/65. Por terras de nuestros hermanos enfrentou alguns percalços, mas nada que impedisse o triunfo na eliminatória.
Com o desafio agendado para 17 de Março, a equipa 'encarnada' partiu de Lisboa dois dias antes. A viagem decorreu sem sobressaltos e 48 minutos depois de levantar voo 'desembarcou em Barajas. Foi o tempo de tomar um café. Se algum dos viajantes receava o «voo»... não chegou a ter tempo para se assustar'. Porém, nem tudo foi um mar de rosas...
Desde que haviam aterrado em Madrid, 'os jogadores do Benfica «sonhavam» com a «paella». Referiam-no a cada passo'. Provavelmente cansado de os ouvir, o treinador anuiu e, 'ao jantar, a célebre «paella» foi servida, a toda a caravana benfiquista'. Se tivessem intuído o resultado, certamente teriam optado por um menu idêntico ao do almoço: '«Merluza coziada e «ternera», ou para falarmos à portuguesa, a tradicional pescada cozida e carne de vitela'. Segundo consta, o típico prato espanhol não caiu nem nos estômagos portugueses, provocando 'sérias perturbações, de carácter intestinal', a vários elementos da comitiva e muitas 'noites mal dormidas...'.


No dia seguinte, no treino, quando se soube da 'falta de Simões e de Calado nos trabalhos por motivo de desarranjos intestinais' e que Costa Pereira 'nem chegou a sair do hotel', começou o chorrilho dos 'mais desencontrados boatos'. Houve até quem insinuasse que a intoxicação poderia ter sido propositada, com 'a intenção de provocar a quebra física dos homens do Benfica'. Numa coisa toda a imprensa estava de acordo: 'em véspera de um jogo de importância transcendente', autorizar um jantar de paella revelava 'a sua ponta de imprevidência'. Acidental ou propositado, o certo é que no dia 17 'todos os elementos da equipa estavam em forma e prontos para o jogo'.
O galhardete entregue por Gento, capitão do Real Madird, a Coluna antes do apito inicial é um dos muitos objectos que constituem o acervo do Sport Lisboa e Benfica que, não integrando a exposição permanente do Museu Benfica - Cosme Damião, se encontram em reserva no Departamento de Reserva, Conservação e Restauro."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

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