"Depois da crise desencadeada pelo post do dirigente leonino no Facebook a criticar a exibição de vários jogadores do Sporting após a derrota com o Atlético de Madrid, na primeira mão dos quartos de final da Liga Europa, percebemos de imediato que Bruno de Carvalho não ia ceder a ninguém. Agora, mesmo com os atletas no limite, com as demissões na Mesa da Assembleia-Geral e no Conselho Fiscal e Disciplinar, com apelos à sua demissão e debaixo de fogo no seio leonino, o presidente do Sporting resiste ao colapso.
A sua eventual saída não iria, contudo, apagar uma das cenas mais tristes do desporto português, nem tão-pouco aliviar a agressividade física e verbal que se cravou nos vários palcos competitivos, que, note-se, ultrapassaram há muito tempo o âmbito do futebol profissional. Pancadaria num jogo de râguebi, que suspendeu o campeonato nacional, árbitros agredidos em jogos distritais e torneios universitários, e claques alimentadas por ódio são os sinais mais recentes de uma grave doença que não se minimiza com promessas de leis contra a violência no desporto ou declarações vazias de governantes. Há centenas de clubes desportivos que todos os dias, sem meios e sem qualquer financiamento, fazem um trabalho notável e muito esforçado para formar milhares de jovens. E por estes, que adquirem valores e atitudes, o país tem de fazer muito mais, ou pelo menos não estragar o que é bem feito. A criação de uma autoridade nacional contra a violência no desporto é uma boa medida, mas não suficiente. É preciso investir mais.
"Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e colectividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto", diz o artigo 79.º da Constituição da República Portuguesa, referente à Cultura Física e Desporto. Mas onde está a democratização do desporto quando a grande maioria dos clubes e associações não têm orçamentos? Quando pequenas e médias empresas que patrocinam as colectividades das suas terras não têm benefícios fiscais? Quando há atletas de formação a ter de pagar para poderem vestir as cores dos seus emblemas? Quando se diferenciam os apoios destinados à preparação olímpica e paralímpica?
Há certamente mais uma série de perguntas a colocar. Ao contrário de outros países, Portugal tem uma cultura desportiva low-cost, no investimento e na mentalidade. E são os pequenos detalhes que fazem a diferença."
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