"O país, nos últimos dias, praticamente resumiu-se a Alcochete e ao tribunal do Barreiro. As televisões, os jornais, as rádios, os sites e as redes sociais não falam de outra coisa: as bárbaras agressões de uns trogloditas aos jogadores e treinador do Sporting. A atenção que todos nós damos ao acontecimento pode ser exagerada, mas como se sai deste dilema? Nunca tal se havia visto e é de difícil compreensão como um presidente de um clube de futebol consegue congregar à sua volta tantas apreciações negativas e se mantém no cargo.
Não vale a pena falar daqueles que durante cinco anos apoiaram Bruno de Carvalho, mesmo quando ele disse as maiores alarvidades e se comportava como um homem das cavernas. O que me faz confusão é perceber que ainda há tanta gente que o apoia. Calculo que os seus assalariados precisem do ordenado para viver, mas como é que uma parte significativa da massa associativa o continua a aplaudir? Depois do ataque sinistro aos jogadores seria de esperar que Bruno de Carvalho se demitisse imediatamente, até por não ter conseguido defender os seus jogadores.
Mas o presidente leonino demonstra tanta vontade de largar o cargo como eu de ir viver para o Burkina Faso. Bruno de Carvalho está convencido que tendo o apoio da rua não haverá Justiça que o faça demover das suas intenções. E quais são as suas intenções? Fazer uma nova equipa que será tratada como o eram os jogadores romenos no tempo do ditador Nicolae Ceausescu. Recorde-se que na final da Liga dos Campeões que os romenos venceram depois de derrotarem o Barcelona, na final em Sevilha, o guarda-redes herói da partida, depois de defender os penáltis, recebeu um Mercedes por ter sido considerado o melhor jogador em campo. Quando chegou à Roménia, o filho do ditador quis ficar com o carro, mas como Ducadam se mostrava renitente em acatar a ordem, partiram-lhe as mãos deixando o pobre coitado afastado dos relvados durante largos meses.
Com Bruno de Carvalho em Alvalade os jogadores sabem o que os espera: se perderem contra o Marítimo ou contra o Atlético de Madrid não estarão livres de serem reeducados à força pela tropa de Alcochete. E é aqui que entra a política. Os sucessivos Governos sabem bem que as claques gozam de um estatuto de quase impunidade. Se vão jogar fora, espalham o terror em todas as estações de serviço onde podem parar. Se não vão em caravana, o assalto é mais brutal, pois as autoridades, regra geral, só estão à espera das camionetas com os adeptos.
Ainda há dias um funcionário da A2 me contava que quando eles aparecem em grupos de oito ou de dez só têm tempo de se esconderem na cozinha. É uma espécie de bar aberto para a tropa de choque. E o que dizer dos jogos grandes em que as cidades ficam sitiadas, pois as polícias são obrigadas a fazer cordões policiais como se estivéssemos em guerra? Será que as autoridades portuguesas não podem ir aprender com os ingleses que afastaram os hooligans dos estádios, transformando os jogos de futebol num espectáculo de família? É assim tão difícil perceber que este fenómeno de violência só será ‘fechado’ quando os adeptos perigosos forem obrigados a ‘assistir’ aos jogos da sua equipa numa esquadra de polícia?
E qual a razão para também não aprenderem com as regras impostas pela Federação Inglesa, que castiga exemplarmente todos os dirigentes, treinadores e jogadores que utilizam um discurso belicista? Estas simples regras dispensariam mais altas autoridades de sábios para o futebol."
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