quinta-feira, 12 de abril de 2018

Sobre várias vésperas

"O certo é que, no fim de contas, os jogadores são os melhores quando comparados com certos dirigentes, responsáveis e (inter)comunicadores

1. Estaremos a poucos dias, muito provavelmente, de saber quem será o campeão nacional. O jogo da Luz entre Benfica e Porto só não será absolutamente determinante se houver um empate. Se o Benfica vencer, fica com uma margem de 4 pontos que, em tese, será suficiente. Se o Porto ganhar, ficará com a possibilidade de poder empatar um jogo, a quatro jornadas do fim. Nestes dias ouvir-se-ão todas as análises, teorias e doutrinas sobre a partida de domingo. Tenho cá para mim que neste tipo de jogos há sempre factores que não são possíveis de programar como se de um computador se tratasse. Creio que, num encontro destes e no relvado, o risco do erro é superior ao ganho de inspiração. Ir à frente pode ser também uma vantagem, ainda que diminuta. Jogar em casa constitui, em tese, uma posição mais favorável. Neste aspecto, a Luz tem sido um verdadeiro suporte das conquistas encarnadas neste últimos campeonatos.
O Benfica foi feliz no Bonfim, há que reconhecê-lo. O empate seria o resultado mais ajustado ao que se passou perante um Vitória capacitado e sem fazer qualquer anti-jogo. Mas os campeões também se moldam nos jogos menos conseguidos com um querer inabalável de conquista e uma insuperável coesão e solidariedade entre todos os intervenientes desde a direcção, à equipa técnica, aos jogadores titulares e aos que se convencionou chamar reforços e que estão ou podem estar no banco. Realço aqui dois aspectos de grande simbologia para nós, benfiquistas: o primeiro tem a ver com Raúl Jiménez que, desta vez titular, fez de Jonas mexicano, jogando com um profissionalismo e uma capacidade de luta insuperáveis. É o nosso 'suplente insubstituível' que no Bonfim foi o nosso 'titular-clone'. O segundo ponto relaciona-se com o modo tão genuíno, como de puro benfiquismo, como Jonas exaltou com o golo vitorioso do seu colega. Assim se viu a saúde que respira o colectivo e o verdadeiro sentido de união que faz os campeões também terem direito à sorte.
No fim do jogo veio-me à memória um outro penálti no Bonfim, com o resultado empatado. Foi Cardozo que, dessa vez, não foi capaz de o converter. Sei quão dramático é perder pontos depois dos 90 minutos, como é fascinante ganhar nessas mesmas circunstâncias. Desta vez, foi muito bom, o que só ainda havia acontecido na segunda jornada quando, em Chaves, o então titular Seferovic fez o 1-0 aos 93 minutos.

2. Neste imbróglio todo que se respira no nosso futebol, eis que, nas últimas semanas em movimento uniformemente acelerado se vem assistindo a mais uma triste expressão mediática. Refiro-me, sobretudo, aos insidiosos e perversos processos de intenção com que, em função da cor clubista, as agências internas de comunicação dos clubes, algumas das quais são verdadeiros centros da mais despudorada contra-informação, estão a tentar enlamear alguns profissionais de futebol.
Ele é o feirense Tiago Silva que, por ter jogado no Benfica, se deixou expulsar para facilitar a vida à equipa de Rui Vitória. Ele é Vagner, guarda-redes do Boavista que passou a bola ao Herrera para que o FCP pudesse ficar tranquilo no jogo contra os axadrezados. Ele é todo o Belenenses que iria facilitar no jogo em que derrotou os portistas. Ele é Fábio Pacheco do Marítimo que foi o 'principal responsável' pela derrota por 5-0 na Luz. Ele é um tal Luís Felipe (que, confesso, nunca tinha ouvido falar) que entrou com o propósito de cometer uma grande penalidade a favor do Benfica. Eles são todos os árbitros, aqui em função do resultado dos jogos e de acordo com as pressões e conveniências que se querem fazer. Etc., etc.
Só faltou dizer que o ex-candidato a presidente do SCP e excelente e honrado treinador do Vitória de Setúbal, José Couceiro quis ajudar o Benfica com a entrada do defesa Luís Felipe. Ou que, no jogo Porto - Aves, um defesa do Aves 'passou' a bola a Octávio para acabar com o jogo no Dragão.
Uma prova vergonha de profissionais da mentira e da boataria que continuam, impávidos e serenos, a debitar postas e posts à velocidade da luz (com um 1 minúsculo, evidentemente) para agitar e multiplicar o ódio e tornar ainda mais poluído este nosso futebol doméstico.
O certo é que, no fim de contas, os jogadores são os melhores quando comparados com certos dirigentes, responsáveis e (inter)comunicadores. A sua revolta é justificada e merecem ser considerados, independentemente da cor clubista e dos erros que cometem (ou será que as excelências do ódio e da intriga não comentem erros).

3. O último e assinalável sinal de dignidade foi dado pelos jogadores do Sporting Clube de Portugal no jogo contra o Paços de Ferreira, também com a ponderação e a razoabilidade de Jorge Jesus. Deram uma grande lição ao presidente do clube, souberam honrar a camisola que envergam. Bem se poderia dizer que o resultado do jogo foi Sporting 2, Bruno de Carvalho 0.
Entretanto, no fim-de-semana passado, houve mais dois acontecimentos que, em nome de um são desportivismo, elegância e urbanidade com que no desporto se deve estar, aqui registo. Curiosamente, um completamente desastroso para o meu Benfica e outro vitorioso. Refiro-me, em primeiro lugar, à copiosa derrota em hóquei em patins na fase de apuramento da Liga Europeia em que, depois de ter ganho por um golo na Luz, os encarnados perderem por 9-2. E o que vi no fim do jogo? Correcção inexcedível de todos os atletas, sem alardes patetas dos vencedores e com os perdedores a aceitarem a supremacia contrária perante colegas do mesmo ofício. E, ainda, o desportivismo dos dois técnicos. No caso do Benfica, Pedro Nunes é um exemplo notável de saber estar e de respeito mútuo.
Em segundo lugar, a final da Taça de Portugal em voleibol. Venceu mais uma vez o Benfica perante um Castêlo da Maia que nunca se deu por vencido. No final, um companheirismo contagiante entre vencidos e ganhadores. Foi lindo de ver, como foi significativo ver o treinador do Benfica José Jardim a comever-se na entrevista que deu e nas pessoas que citou no momento da sua 9.ª Taça de Portugal ao serviço do SLB.
Assim, sim, vale a pena. Ninguém mais do que eu quer que o meu clube ganhe sempre. Mas nos desportos colectivos não se joga sozinho, disputam-se competições contra ouras equipas que têm igual direito de querer ganhar. É só isto e mais nada. É este modo de ver o desporto que gostaria que estivesse sempre presente, em particular no desporto-rei que é, para o bem ou para o mal, o futebol.

Contraluz
- Inesquecível: o golo de bicicleta de Cristiano Ronaldo...
... no jogo em Turim. Já tudo foi dito e escrito sobre o momento glorioso do jogador madrilista. Aqui salientaria três 'detalhes': a beleza dos aplausos dos tiffosi da Juve, rendidos à magia de CR7, o modo como este agradeceu essa bênção e, por fim, o cumprimento de um senhor do futebol mundial em fim de carreira que, quis o acaso, fosse Gianluigi Buffon, o guardião que encaixou o remate de Ronaldo.
- Positivo: a enorme diminuição do passivo bancário da Benfica SAD...
... num total de 97 milhões de euros. Bem sei que em boa parte, esse valor é compensado por dívida de outra natureza e há o que resulta também da consignação de receitas futuras dos direitos televisivos. O certo é que contém três aspectos muito positivos: a muito menos dependência da banca, a redução do serviço da dívida e o não desbaratar receitas estruturais para contingências ou devaneios conjunturais.
- Mudança: do horário dos jogos da Champions a partir da próxima época.
Os jogos passam para as 20 horas e haverá alguns às 18 horas (portuguesas). Ouvi críticas e esta mudança por causa deste último horário. Por mim, acho bem. É preciso não olvidar que só Portugal, Inglaterra, Escócia, Irlanda e Islândia têm estas horas. Ao invés, os países do leste europeu verão os jogos a começar às 22 ou 23 horas (!), pelo que as 6 da tarde acabam por ser o seu melhor horário (isto é, às 20 ou 21h)."

Bagão Félix, in A Bola

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