"Já andava há muito tempo a tentar terminar de ler um livro cuja autoria é de um tal de Pippo Russo. Esse livro debruça-se sobre a vida profissional do empresário Jorge Mendes e, por arrasto, sobre muitos factos da vida.
Acontece que inospitamente até dei de repente com menções à minha pessoa, sendo designado na segunda menção como personagem como se eu tivesse algum interesse para o caso e não passassem de factos da vida. E é exactamente de factos da vida que o livro deveria somente tratar, pois, aí, o mesmo está muito bem feito.
Na verdade, quem ler o livro nota que possui um excelente trabalho de recolha de factos, laborioso, independentemente de as fontes não serem minimamente objecto de análise crítica da sua fidedignidade, pois todos nós sabemos o quanto hoje proliferam as junk news, ou, o que é o mesmo, notícias de factos falsos!
Mas pior do que junk são os juízos de valor que o mencionado camarada retira dos factos que vai descrevendo e que tanto trabalho lhe deram. Aí é que foi feita uma autêntica 'borrar'!
Para compreendermos o mundo que nos rodeia, em primeiro lugar temos de ir estudar o que é um economia de mercado. Para isso, aconselho o mencionado senhor a ler Paul Samuelson, Economia I e II, Fundação Calouste Gulbenkian, 3.ª edição 1973.
Um sistema de economia de direcção central caracteriza-se por os factores de produção serem detidos pelo Estado, enquanto um sistema de economia de mercado caracteriza-se pelos factores de produção serem detidos por empresas privadas.
Entre um pólo e outro, vão muitas situações, Estados que têm mais factores de produção do que os privados, e Estados que têm menos factores de produção do que os privados. Exemplificando de uma forma muito simplista, até há pouco tempo a TAP pertencia ao Estado e entretanto passou para a mão dos privados. Com o actual Governo, a Carris passou para o património do Estado via poder local - município de Lisboa. Oscilação pendular!
Seja como for, a verdade é que nenhum destes sistemas é perfeito! Se fosse, a União Soviética nunca teria caído e por outro lado nunca teria existido a crise de 2008. Por isso, toda e qualquer luta que afinal foi e será a luta ao longo da história vai andar sempre a bater no mesmo e ora sobressai um modelo, ora sobressai outro, à maneira do corridinho!
Aqui chegados, é evidente que o Homem (H grande), é um Homus Economicus. Por isso o citado livro, quando critica através de juízos de valor o poder de Jorge Mendes, esquece-se de que a vida é isso mesmo. Economia! Ou o citado autor também não quis ganhar umas massas com o livro? Não consta que o mesmo tenha dado donativos às vítimas de Pedrogão Grande como fez Jorge Mendes!
Vamos ser claros e objectivos.
Por acaso, quando vamos de férias para um resort, à chegada somos tratados com um copo de champanhe, mordomias, e quando é a hora de saída, quanto mais depressa sairmos, melhor, e copos de champanhe e mordomias nem vê-los! Vemos é um género de chutos no dito!
Por acaso, quando vamos a um restaurante, o objectivo é matar a nossa fome, ou é o proprietário ganhar algum com a nossa refeição?
Quando vamos a um teatro, os actores estão lá e desempenham um papel porque gostam muito de nós, ou porque precisam de ganhar dinheiro para viverem?
Por acaso, nos programas da televisão com maior audiências os célebres que lá trabalham estão lá para fazer-nos rir, ou para ganharem fortunas?
Querem mais exemplos? É só pensarem mais um bocadinho. Esta é a realidade da vida, e não há nada a fazer! Sempre foi assim. Ou quantos homicídios é que existem porque aquele ficou com o dinheiro do outro, ou não quer repartir a herança pelos familiares?
O futebol é uma actividade económica como outra qualquer, e são aos milhares os que ganham dinheiro com ele - basta ver as televisões e tudo o que gira à sua volta!
Destruir o que é uma enorme fonte de receita, só porque se é espanhol e não se tem essa fonte de receita, ganhando ainda dinheiro com isso, é que, se analisarmos bem, é também ele próprio um exercício de uma actividade económica, como outra qualquer.
Vejamos os números que o Anuário do Futebol Profissional Português da Liga Portuguesa de Futebol Profissional nos dá com referência à época de 2016/17, no que respeita ao seu impacto económico (...).
(€692 M, em receitas
€680 M, volume de negócios
€618 M, em gastos
€456 M, para o PIB
€21,9 M, em impostos
4,3 M, espectadores
2055, postos de trabalho
31% ocupação dos Estádios.)
Meus caros leitores. Ele são impostos, fontes de receita indirectas, criação de postos de trabalho directos e indirectos, criação directa no Produto Interno Bruto, fora os valores indirectos, enfim, uma quantidade de valores que merecem uma análise mais detalhada, a qual será objecto de trabalho no próximo Contas Feitas, Dúvidas Desfeitas. Mas querem acabar com a galinha dos ovos de ouro? Enxerguem-se!
Até para semana."
Pragal Colaço, in O Benfica
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