sexta-feira, 9 de março de 2018

Perversidade

"De um ponto de vista teórico, a função arbitral representará, porventura, a mais nobre missão num cenário desportivo ideal. O árbitro representa a autoridade decisória perante o desempenho competitivo dos atletas e das equipas, em todos os momentos e em quaisquer incidências de um desafio. Tendo previamente frequentado exigentes programas sequenciais de formação e de treino técnico, físico e psicológico adequados, hoje em dia e em qualquer modalidade, disciplina ou escalão, um árbitro conhecerá de modo profundo, as leis do jogo e as práticas próprias da performance. Por princípio, o árbitro de um jogo estará mais apto e apetrechado do que algum dos praticantes, a fazer respeitar em campo a aplicação daquele conjunto de normas próprias que regem uma competição específica e até, mais genericamente, o torneio da sua especialidade. Ser-se árbitro de um desporto federado, nos dias que vivemos, é uma função cada vez mais difícil e desgastante. O ritmo dos desafios e a cadência das competições exigem esforço, performance e resistência física excepcionais. E no plano intelectual, não são menos necessários os índices extraordinários de percepção e acuidade, de capacidade de raciocínio e decisão em pleno esforço, perante as miríades de incidências características da disputa atlética. Tudo isto, de per si, ou num mix de recursos conjugados, constitui matéria tanto mais indispensável quanto, por exemplo, à medida em que se exacerbam as manifestações dos espectadores nos anfiteatros, a própria capacidade de contenção temperamental do indivíduo-juiz, caso a caso, no campo do jogo, tem de ser dialecticamente compatibilizada com a firmeza e com a frieza de raciocínio, em cada momento do jogo. Mercê do desenvolvimento mediático hoje dominante na sociedade humana, a circunstância, a entourage e o ambiente competitivo expandiram-se a limites outrora inimagináveis, o que ainda acentua mais as características de excepcionalidade que agora se tornaram absolutamente indispensáveis à personalidade de um árbitro para arbitrar um qualquer desafio desportivo. Com esse perfil um árbitro deveria merecer o inquestionável respeito dos jogadores e das bancadas. Mas, na verdade, tudo aquilo não basta. Um árbitro só pode merecer respeito e consideração se, além de patentear todos os atributos que enunciei, se conservar sempre imparcial e neutro em todo o seu desempenho, durante todo e qualquer jogo que arbitrar. E este acaba por ser o factor essencial e decisivo para o correcto desempenho do árbitro. Ora, há anos, há demasiado tempo, que isto não se verifica praticamente em nenhum jogo do campeonato da primeira divisão de Hóquei em Patins em que participe a equipa do Sport Lisboa e Benfica. Há muito que, talvez por mera perversidade, os árbitros escalados para arbitrar as nossas equipas do Hóquei deixaram de se manter neutros e imparciais."

José Nuno Martins, in O Benfica

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!