sexta-feira, 16 de março de 2018

Carta aberta a André Gomes

Parabéns, André!
Pela coragem com que assumiste as tuas angústias (e já agora pela escolha do meio para o fazer). 
Obrigado por nos lembrares que os jogadores também têm direito a receios, imunes ao saldo da conta bancária.
Tu próprio reconhecerás que pior está a vida de quem não faz o que gosta, de quem nem sabe se vai ter dinheiro para colocar comida na mesa, ou de quem está longe de ter a saúde de um atleta de alta competição.
Mas isso não quer dizer que sejas indiferente ao teu trabalho, e felizmente mostraste que não és. Que não queres saber apenas se o dinheiro bate na conta ao final do mês, que não estás acomodado a tudo aquilo que já conquistaste aos 24 anos.
É o desejo de corresponder às expectativas que te faz sentir incompleto, é essa vontade de retribuir que não afasta a frustração. Mas nota que muitas vezes a vergonha não é mais do que um sinal de humildade.
E se a crítica deve ser justa, a autocrítica também não pode estar condicionada logo à partida. E afastada a clubite, aqui ou em Espanha, poucos são aqueles que arriscam diminuir os teus méritos. Por isso não o faças tu.
Não é com mera benevolência que se explica a maturidade com que apareceste no Benfica, a firmeza com que te tornaste uma figura no Valência e depois acabaste recrutado pelo Barcelona, clube pelo qual já fizeste 73 jogos, divididos entre dois treinadores. Estás no palco ideal para desfrutar, num balneário onde dificilmente te apontam o dedo por (pretensa) falta de intensidade.
Por isso parabéns, uma vez mais.
Pelo que conquistaste até aqui, e pela entrevista, que me deixou a divagar também nas inseguranças naturais de jovens como Renato Sanches, João Mário ou André Silva.
O bloqueio é mental, André, mas logo perceberás que aquilo que te pesa não é a consciência, são as pernas. E isso faz toda a diferença para enfrentar os medos.
Força.»"

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