sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

‘Big Brother is watching you’

"Da era da informação passámos à era da maledicência, da vingança anónima, da efabulação, da perseguição e do medo.

Cena 1:
Um homem toma o pequeno-almoço à mesa de uma pastelaria enquanto lê o jornal. Termina e pede a conta. “Está pago por aquele senhor”, responde o empregado apontando para a porta. Em pânico o homem corre, carteira na mão, chamando o outro: “Você não me desgrace!!”
Cena 2:
Gabinete sóbrio. Dois homens conversam animadamente sobre os tempos da escola que partilharam. Na despedida, um estende um envelope: “Toma lá dois bilhetes para o teatro”. O outro olha desconfiado. “Não te preocupes. São dos mais baratinhos…”.

Longe vai 1984, mas nunca como agora estivemos tão perto de viver a realidade de George Orwell e do seu Big Brother, com a agravante deste ser obra e criação de cada um de nós, que passou a assumir os papéis de polícia, juiz e jornalista. Os tribunais são as redes sociais onde o contraditório não existe e onde a condenação é feita sem apelo nem agravo. Criámos a justiça popular, o linchamento público e assistimos impávidos à destruição do carácter, das carreiras e das vidas das pessoas. Da era da informação passámos à era da maledicência, da vingança anónima, da efabulação, da perseguição e do medo.
Quem tem hoje coragem para falar livremente ao telemóvel, comentar algo, agir em plena liberdade sem pensar que talvez possa ser mal-entendido, descontextualizado ou mesmo punido? Dizer coisas como: “um dia destes dou cabo de ti” ou “tu matas-me”, pode ser entendido como a confissão de uma qualquer culpa. Estar ou ser visto com, pode ser colocado na comunicação social como indício de cumplicidade ou até mesmo de corrupção.
Num mundo em que a informação transformou o tempo e o espaço no “aqui e agora” quem controla a informação que circula? Quem pode travar este Grande Irmão que teimamos em deixar que nos vigie dia após dia? Que é feito da presunção de inocência e da liberdade numa sociedade onde todos espiam todos?"

1 comentário:

  1. Este e um texto digno de se ler,subjectivo mas que se pode tornar realidade a luz do que se passa nos dias de hoje,a justiça no seu nível mais baixo, nao por culpa dela, mas dos seus interpretes que procuram ser os artistas principais nesta opereta.

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