"Como se já não bastasse toda a polémica com os mails, os vouchers e a suspeita na viciação de resultados, o céu parece estar a cair agora em cima do Benfica com as revelações que envolvem Luís Filipe Vieira e o juíz Rui Rangel. Usar a instituição numa troca de favores é um tema grave e, estranho mundo, não havendo nada que prove que é verdade o clima de suspeição instalou se.
Como já escrevi nestas páginas em diferentes ocasiões a presunção de inocência não é apenas um direito dos 'suspeitos' e/ou arguidos. Da parte de cada um de nós tê-la em conta é um dever e tal implica não fazer ou participar em julgamentos sumários. Sei do que falo, e talvez até por isso, nunca o fiz e jamais o farei.
A minha reflexão segue noutro plano. O ruído que existe neste momento ainda não é ensurdecedor mas é já muito significativo. E vai aumentar muito nos próximos dias. Não é possível, no caso de uma figura como Luís Filipe Vieira, fazer a distinção entre as suas actividades privadas e o seu papel como presidente do Benfica. Que aliás não aparecem desligados, no que foi revelado.
É a mesma pessoa, é assim que é vista e percepcionada por todos.
Numa sociedade hiper mediatizada, em que a Justiça faz – em excesso, como se voltou a ver, parte dessa engrenagem os media não vão deixar cair este tema. Nem podem. Porque é efectivamente relevante. Está em causa um eventual ato ou actos de corrupção de um juíz, envolve, numa das componentes, de forma directa ou indirecta o Benfica e é esse dado que lhe confere grande impacto e, como é óbvio enorme atracção junto dos cidadãos. Mas, sejamos claros, existe real interesse público, não é nenhum exercício de voyeurismo.
O Jornalismo será excessivo, não tenho dúvidas, mas fará o seu trabalho e a culpa não é do mensageiro.
É até interessante estabelecermos um paralelo com o que sucedeu, mesmo que em casos muitos diversos, durante anos com Jorge Nuno Pinto da Costa. O presidente do FC Porto esteve envolvido em inúmeras controvérsias com a Justiça, algumas até do foro privado, mas noutro tempo, sem o impacto e a pressão que existem hoje. Não é um detalhe.
Luís Filipe Vieira e a suas equipas jurídica e de comunicação tentarão neste primeiro momento minimizar os danos. Esperam que nos próximos días haja uma descompressão e o volume informativo caia. A menos que exista um grande (e inesperado) acontecimento não é suposto que isso suceda no horizonte de uma a duas semanas. Serão muitos dias. Novas revelações, mesmo que nalguns casos seja baralhar e dar de novo.
Pelo meio é fundamental que a equipa de futebol ganhe e se mantenha na corrida para o título. Rui Vitória dirá que é outro ataque "ao coração do Benfica"?
Mas, mesmo que o ambiente desanuvie, mesmo que haja como defende o advogado João Correia "uma perseguição ao Benfica", o presidente do clube tem que ter em conta os superiores interesses da instituição. A pergunta que Luís Filipe Vieira deve fazer é: se para o Benfica, não para ele, mas – repito - para o Benfica é melhor continuar ou apresentar a demissão.
A lição de Carvalhal
Há uma extraordinária declaração de Carlos Carvalhal no final da (talvez) inesperada vitória do Swansea sobre o Arsenal. Ouvido para a BBC Sport na flash interview, o treinador português explica a sua estratégia e quando é confrontado pelo repórter sobre o facto de o clube ter mudado tanto desde a sua chegada – só perdeu um jogo em oito – e sobre se essa mudança é uma questão de crença, responde que há um Padre no Swansea e que se "acreditar fosse suficiente" a questão seria mais simples. O Padre resolvia.
A seguir enumera o trabalho da equipa, não o seu, mas o de todos. Também não se esconde – está no centro das decisões e tem a responsabilidade. Carlos Carvalhal é um muito bom treinador, minimizado em Portugal, com resultados e cartaz em várias geografias e que em Inglaterra está a deixar a sua marca. Por muito pouco falhou a subida com o Sheffield Wednesday e está agora a mudar a face do Swansea que era um doente em coma na exigente Premier League. A equipa continua em sérios riscos e não tem muitas armas, mas joga muito melhor, tem um líder e uma estratégia. É o principio das coisas.
Rúben Semedo
Custa saber o que se passa com Rúben Semedo, um talento do futebol português com potencial para ser um futuro defesa central da Selecção Nacional e que, por falta de cabeça ou de acompanhamento, ou das duas coisas, se envolveu em rixas sérias em Espanha. A venda de Rúben Semedo foi um bom negócio para o Sporting e, apesar do percurso na formação, o clube não tem nenhuma obrigação com jogadores – para mais maiores e vacinados. Mas se ele tinha problemas, e parece que alguns tinha, um pouco de senso, do Sporting ou de pessoas da estrutura, teria ajudado.
Mathieu
Aos 34 anos e com muitas vidas, Jérémy Mathieu encontrou em Lisboa a felicidade perdida. O seu rosto, de sorriso aberto, após a conquista da Taça da Liga falava por ele. Quando Jorge Jesus diz que é difícil marcar golos ao Sporting isso resulta de um trabalho colectivo, mas no eixo desse esquadrão tantas vezes inviolável, está este francês alto (como o treinador gosta) com grande sentido posicional e capaz ainda de sair a jogar iniciando a construção do processo ofensivo da equipa. Um ás."
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