" "Se a minha esposa me diz para parar, eu deixo o ténis sem qualquer problema (...). É o meu maior apoio. É por causa dela que eu continuo, caso contrário, teria parado de ser jogador de ténis. Ninguém me apoia como ela e faz um excelente trabalho com as crianças. A vida seria muito diferente sem ela."
Roger Federer
Passados poucos dias de mais uma vitória emblemática de Federer, que o transportou novamente para o primeiro lugar do ranking mundial - algo quase impensável num jogador com 36 anos, colocando-o, aliás, como o jogador mais “velho” a ocupar este lugar (desafiando todas as questões fisiológicas que poderiam “contrariar” esta possibilidade) - surge de novo o nome de Mirka Federer.
O reconhecimento público que Federer faz ao papel que a esposa desempenha, enquanto suporte emocional e, no caso, inclusive mentora da sua carreira desportiva é, desde há muito, do domínio público até porque, contrariamente à discrição exibida por Mirka, Federer sempre fez questão de ressalvar a importância do seu apoio, nas diferentes etapas da sua carreira.
O tema, em boa verdade, vai muito mais além do que a própria Mirka... o tema e a reflexão que se impõe, será certamente questionarmo-nos sobre o (importantíssimo) papel que os cônjuges desempenham (ou podem vir a desempenhar) na carreira dos atletas.
Este é um daqueles temas que, seja do ponto de vista da investigação (onde até existem alguns estudos), seja do ponto de vista da intervenção (raríssima), tem merecido muito pouca atenção.
De facto, enquanto que o tema dos 'Pais' é já uma preocupação (tema este que já foi alvo de atenção aqui na Tribuna Expresso) em diferentes modalidades, procurando ajudá-los a encontrar o seu “papel desportivo” no percurso dos seus filhos, quando se aborda (confesso que raríssimas vezes – para não dizer nenhuma) o tema dos cônjuges, gera-se um gigante silêncio...
... ou isso, ou no caso dos atletas masculinos, o que aparece, mais frequentemente, são “rankings” das namoradas/mulheres mais “sexy’s” (??)... o que, se calhar, com um efeito parecido ao “boost” que se sente quando se ingere um quadrado de chocolate, momentaneamente, deverá colmatar algum tipo de lacuna que o atleta possa ter... no que respeita à sua auto-imagem como “homem”... o que, necessariamente, não implica uma alteração do seu rendimento (em competição).
Voltando ao processo desportivo e, simplificando, há uma decisão que deve ser tomada:
- Fazem (ou não) parte , os cônjuges, do processo desportivo?
Se considerarmos que não, então talvez não haja sequer pertinência na discussão do tema...
Se considerarmos que sim, então, será no mínimo muito pouco estratégico (para não dizer “pouco inteligente”), não tentarmos, de facto, enquadrar os mesmos, naquele que é o processo desportivo, onde o seu companheiro(a) se movimenta... às vezes, quase 24h por dia.
Atendendo a que estas pessoas, interagem maioritariamente com os atletas (pelo menos de uma forma mais significativa) na sua fase adulta, onde, necessariamente, se espera que ocorram os melhores desempenhos e a carreira dos mesmos se consolide... talvez seja, de facto, oportuno envolvê-los.
Atendendo a que, de forma positiva ou negativa, acabam por poder ter um impacto (igualmente positivo ou negativo, depende do Atleta) no rendimento dos Atletas (por vezes de forma determinante)... talvez deva ser reequacionada a pertinência e importância da sua inclusão no processo desportivo.
Urge, em boa verdade, repensar todo o processo desportivo, procurando englobar toda a complexidade, multidisciplinariedade e multidimensionalidade que o mesmo comporta, identificando clara e cirurgicamente todos os agentes que impactam no rendimento dos Atletas para, de uma forma sistémica e integrada (na minha experiência, a única possível), podermos munir os diferentes intervenientes (onde, supostamente, se devem incluir, pais e/ou cônjuges), com as ferramentas que possam favorecer a optimização do rendimento desportivo do Atleta.
Porque, de facto, em Alto Rendimento vinga quem, cada vez mais integra todas as variáveis sistémicas, com o propósito claro de elevar o todo à Excelência, através da optimização de todas as (às vezes, aparentemente “pequenas” e/ou “invisíveis”) partes.
Este é, sem dúvida, o desafio."
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