quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

O dérbi e a Liga

"O Benfica joga aqui cartada fundamental, direi mesmo quase decisiva se não vencer. Se ganhar, o penta ficará ali bem à mão.

O grande dérbi
A horas inusuais e injustificadas, a não ser pela imposição televisiva, joga-se hoje o sempre apetecido e imprevisível Benfica - Sporting.
Todas as doutas análises, que sempre precedem estas dérbis, foram já exaustivamente feitas, ditas e escritas. Este é um dos jogos onde qualquer resultado se pode esperar. Se apenas olharmos para o nível exibicional dos últimos tempos, os leões levam alguma vantagem, embora menos do que aquela que se vem apregoando. Se pensarmos no carácter mais decisivo do resultado para cada uma das equipas, é claro que é o Benfica quem mais arrisca neste encontro, o que até pode vir a ser um factor distintivo nos 90 minutos. E, por fim, a Luz sempre é luz.
Por ora, deixo de lado essa ignominiosa manobra mediática em ambiente patologicamente dito concorrencial de ver quem mais agita e manipula, logo acolitada por outros estômagos ainda aziados pelo tetra benfiquista de, nas vésperas deste importante jogo, lançarem atoardas sobre jogadores do Rio Ave num jogo contra o Benfica. Curioso é o facto de, dois jogadores visados, um estar previamente ausente do jogo por castigo, outro ainda nem sequer era jogador dos vila-condenses e o outro ter sido então considerado o melhor jogadores do Rio Ave neste encontro!
Não deixa de ser curiosa a circunstância de, pondo de lado cada um dos jogos dos três grandes no Bessa, onde o Benfica foi o único que perdeu numa partida com uma série de circunstâncias pouco comuns, Benfica, Sporting e Porto estariam exactamente com os mesmos pontos.
E se quanto ao Porto há que reconhecer que está a fazer o melhor campeonato de entre os três sempiternos candidatos à vitória final, poderemos ver que o Sporting tem uma pontuação que até poderia ser bastante inferior. Senão vejamos: 2.ª jornada, Vitória de Setúbal em casa, com um golo de penálti bastante duvidoso no fim do jogo; 5.ª jornada, Feirense (fora) com um golo de penálti escusado na última jogada; 10.ª jornada, Rio Ave (fora) e que o Sporting nem sabe como venceu; 11.ª jornada, Sp. Braga em casa, safando-se da derrota com um penálti tonto dos bracarenses no último lance. Ou seja, nestes jogos o Sporting somou 10 pontos, mas se os 'deuses' estivessem todos contra, poderia ter somado apenas 3 pontos.
Já o Benfica venceu o Chaves (fora) no derradeiro minuto da 2.ª jornada e na 5.ª jornada foi feliz contra o Portimonense na Luz, com uma vitória não merecida. Ou seja, somou 6 pontos, mas até poderia só ter ficado com 2. Comparando, os dois rivais poderiam estar com os mesmos pontos na classificação. Tudo isto excluindo os confrontos de ambas as equipas com o FCP.
Não que isto sirva de consolo aos benfiquistas até porque a equipa deve e pode fazer bem melhor, mesmo com algumas inoportunas contrariedades e uma displicente programação do plantel. Mas, o certo é que as sempre tão repetidas e encomiásticas apreciações da equipa leonina, se correspondem a uma boa classificação, têm algo de fortuna e de acaso em que os jogos são férteis.
O Benfica de Rui Vitória joga aqui cartada fundamental, direi mesmo quase decisiva se não vencer o jogo. Não que, nesse caso, as distâncias não fossem assim tão largas, faltando ainda disputar uma segunda volta completa. Acontece que este ano é muito grande o fosso entre os clássicos candidatos e a maioria das outras equipas. Noutra Liga, meia dúzia de pontos de atraso não é quase nada, porque ao virar de uma jornada a probabilidade de perda de pontos é relativamente elevada. Aqui isso acontece cada vez menos, por isso, a sombra do desaire no Bessa paira no horizonte encarnado como 3 pontos que podem ser fulcrais.
Se o Benfica vencer o dérbi será um tónico fundamental para os 18 jogos que ainda há nesta época. E o penta ficará ali bem à mão.

A Taça da Liga
Lembram-se do que o Sporting e o Porto diziam desta taça, quando quase era monopólio de conquistas por parte do Benfica? Cobras e lagartos, taça dos pobrezinhos, taça Lucílio Baptista, taça em que nem vale a pena competir. Mesmo assim, e certamente contrariados por atingirem a final, o Sporting já perdeu duas e o Porto outras tantas. Pois este ano e inesperadamente, a taça CTT tornou-se-lhes um troféu apetecido e apetecível, uma glória para o seu acervo museológico, um brilharete para a sua estatística. Sempre o Benfica a servir de bitola: se está e ganha, a tacinha é pechisbeque, se não está e é de outro, a tacinha vira taçona e é de ouro: que lhes faça bom proveito. Mas ponham-se a pau, porque só um vai à final e lá poderão ter o primeiro vencedor da Taça da Liga, o Vitória de Setúbal.

G13
«Quando os pequenos se tornam grandes», assim intitulava A Bola o resultado da Assembleia-Geral da Liga. Boa manchete que bem define um momento que espero de viragem neste nosso futebol doente e resignado. Para isso, a revolta do G13 não precisou de nenhuma G3. Bastou-lhe usar o bom senso e o espírito de equidade. Assinalo como bem-vinda a proposta aprovada de não poder haver mais do que um jogador emprestado por clube (num máximo de seis), o que, aliás, poderá ser um desejável convite ao emagrecimento do número de jogadores contratados, pelos grandes, mas que nunca lá poisaram. Também aplaudo o descondicionamento dos sorteios (pena é que não se faça como em Inglaterra, em que cada volta tem sorteio separado), bem como o aumento da moldura penal para papagaios, periquitos, cucos, melros e pica-paus.
É claro que a 'associação da amizade Lumiar-Campanhã' abandonou a assembleia e se ouviram os habituais dislates sobre o seu funcionamento e resultado. É sintomático que os arautos da mudança, os guerrelheiros anti-sistema, os extemosos defensores da justiça desportiva só gostem de decisões que, afinal de contas, são as que convêm ao establishment e ao sistema de dois (ou mais) anéis. Uma lógica lampedusiana que, creio, eles gostariam que se eternizasse: é preciso que mude alguma coisa para que tudo fique na mesma. Pois não, esta AG veio trazer uma esperança de que é preciso que muito mude para que nada fique na mesma.

Contraluz
- A frase do ano: «Em Portugal, só jogo no clube A»
É o que se vê? Ele é Fábio Coentrão. Eles são uma série de jogadores exportados, mas que juram, se ninguém lhes ter pedido, eterno amor de Deus, poupem-nos a essas declarações que vão por água abaixo ao menor sinal, sobretudo monetário. Esta frase vem assim acrescentar actualidade a outra mentira habitual de afirmação peremptória de que «sou do clube X desde criança» ou «é o meu clube do coacção» (órgão vital logo derrotado pelo bolso munido de carteira).
- O marcador do ano: Harry Kane, do Tottenham Hotspur.
Não, não foi Ronaldo, nem Messi. Foi um brilhante avançado inglês de um clube mediano da melhor da liga do mundo, de apenas 24 anos. Marcou, no seu clube e na selecção inglesa, 56 golos em 2017, assim superando Messi, Ronaldo & Cª. Está para breve o fim do duelo, às vezes patético, entre o português e o argentino e vem aí a 'democratização' dos prémios, botas e bolas de ouro!
- Ameaça: Cristiano Ronaldo diz que quer sair.
dias, nova notícia em A Bola, sobre um eventual desejo de CR7 querer sair do Real Madrid por razões... salariais! E já vão não sei quantas ameaças de saída. A anterior foi no defeso de Verão. Fisco oblige...?
- Fracasso: André Moreira
Lembram-se do que se disse de o Benfica ter deixado que o Braga lhe 'roubasse' o promissor guarda-redes do Atlético de Madrid? Em boa hora, a Direcção encarnada não comprou o passe do jogador, que assim foi cedido por empréstimo aos minhotos. É que acaba de se saber que vai ver Braga por um canudo, agora que foi para o Belenenses... Ao menos, aqui o Benfica poupou umas massas.
- Saudades: Fim de carreira de grandes jogadores.
Em 2017, por exemplo Lahm, Lampard, Pirlo e Totti despediram-se dos relvados. Ausências dificilmente substituíveis."

Bagão Félix, in A Bola

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