sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Nem um

"Não troco nenhum jogador do plantel profissional do SL Benfica por qualquer atleta dos outros alegados candidatos ao título nacional de futebol. Nem um. Por cada uma dessas 'estrelas' idolatradas pro directores de comunicação, jornalistas, comentadores e cronistas avanço com uma razão muito clara: nenhum deles sabe o que é ser campeão em Portugal.
E nenhum deles joga com a nossa camisola.
Claro que nem preciso falar do defesa uruguaio que aquece o banco do FC Porto nem do também defesa português de cabelo pintado que se arrasta por Alvalade. Esses sabem o que foi ser campeão - e como o devem recordar, coitados... - mas não entram nas contas. Afinal estamos a falar de hipotéticas escolhas de qualidade, e eles já não entram nessa lista. Não vou referir nomes do nosso plantel, porque esse seria o maior erro de todos. E que anda a ser cometido por muitos benfiquistas. O nosso plantel é - e tem sido - um todo e não um conjunto de partes. Na baliza, na defesa, no meio-campo e no ataque há grupos de jogadores que valem por si e em conjunto. Os nossos quatro guarda-redes serão sempre melhores que os três ou quatro dos outros. Sempre, em qualquer dia, a qualquer hora. Os nossos defesas, tão criticados por quem tem memória curta, já nos levaram a um, dois, três, quatro campeonatos. Seis, no caso do capitão.
Os nossos médios têm mais qualidade, mercado e reconhecimento que qualquer outro médio que os jornais assumem como vendido a cada época de transferências. E não é por meia dúzia de paraquedistas os assobiar que vou mudar de opinião.
E quanto aos nossos avançados, os números não metem. Dão dez a zero a qualquer grupo de atacantes dos outros.
E é com os nossos que vou festejar em Maio no Marquês,"

Ricardo Santos, in O Benfica

Atraiçoados pelo calçado

"O Benfica viajou ao Funchal para medir forças com o Marítimo no Complexo Agrícola dos Barreiros. Apesar de o nome do clube sugerir o mar como habitat natural, é na terra lavrada que os insulares se sentem confortáveis. Admirei, confesso, a destreza campestre por eles exibida durante toda a partida.
Logo a abrir, o Charles foi colher uma batata ao fundo das redes com elevada agilidade - aquela que lhe faltou para os pontapés de baliza nos últimos 20 minutos. Este início terá entusiasmado muitos, porém, eu fiquei desconfiando. Tenho motivos suficientes para acreditar nesta equipa em jogos de futebol - deram-me fortíssimos argumentos para isso nos últimos anos. Todavia, a confiança é quase nula quando se trata de embates agrários. Dizem, alguns, que tínhamos obrigação de fazer mais e melhor. Concordo em parte.
A esse propósito, devo dirigir-me ao presidente Luís Filipe Vieira. Aplaudo de pé a aposta no Seixal, mas esta exibição colocou a nu algumas fragilidades do projecto. Tanto quanto sei, as tão apregoadas condições do CFC, englobam, por exemplo, bolas. Também balizas. Chuteiras, presumo. Parece-me francamente pouco. Agora, não há como esconder certas carências: foices e enxadas.
Ao que parece, para se ganhar não basta saber ser bom em futebol - é ainda necessário dominar a agricultura. Eu bem vi, a meio do jogo, o Salvio esbarrar numa plantação de cebolo ao tentar driblar dos camponeses, perdão, adversários. Juro que avistei o Cervi a cruzar, por engano, uma beterraba para a área. Até reparei, imagine o leitor, que o Jonas estava a jogar de chuteiras.
De facto, é inevitável investir. Neste jogo, fizeram imensa falta 14 pares de galochas."

Pedro Soares, in O Benfica

É de todos nós!

" “O Benfica é nosso!”. Ouviu-se na última AG, como lema de uma minoria contestatária que parecia pretender impor pela força os seus pontos de vista. O Benfica é de facto nosso. É meu, é do caro leitor e consócio, e é de mais duzentos mil espalhados de norte a sul do país e pelos quatro cantos do mundo. Não é exclusivamente, nem preferencialmente, de qualquer facção, grupo de adeptos, claque, bancada, blogue, faixa etária ou localidade. É de todos.
Tratando-se de um clube onde a democracia antecedeu, em muito, a do próprio país, é à maioria que cabe escolher o caminho. Independentemente do legítimo direito à crítica, o poder dos sócios materializa-se essencialmente pelo voto. E o rumo seguido desde 2001 tem sido sucessivamente sufragado por amplas maiorias de associados.
Quem não está de acordo tem total liberdade para promover e apresentar alternativas. Já aconteceu, e certamente voltará a acontecer no futuro - o que, diga-se, é salutar para a vida do clube. Também a exigência é saudável. Todos exigimos vitórias e títulos. É disso que se alimenta a nossa paixão. 
Porém, essa exigência tem de ser exercida dentro dos parâmetros institucionais, e do respeito por quem nos representa. Nesta última AG alguns jovens, numa idade em que as certezas são maiores do que a sabedoria, não tiveram esse cuidado. Não é com petardos, cadeiras pelo ar ou agressões, que se resolve seja o que for.
Os nossos dirigentes foram eleitos há menos de um ano, com mais de 90% dos votos, em acto bastante participado. Desrespeitá-los é desrespeitar a esmagadora maioria dos sócios. É desrespeitar o próprio clube."

Luís Fialho, in O Benfica

A histórica intervenção de Luís Filipe Vieira

"No Desporto, além de nunca jogarmos sozinhos e de termos pela frente outros - e outras equipas - a quem precisamos de vencer, é absolutamente crucial que, a cada momento do jogo ou da corrida, consigamos superar-nos a nós próprios, sejam quais forem as dificuldades que tenhamos de enfrentar.
Luís Filipe Vieira representou mais uma vez, na Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica realizada na passada sexta-feira, o exemplo vivo dessa capacidade de auto-superação em ambiente adverso que só os grandes desportivos, os maiores líderes sociais ou pessoas invulgares conseguem demonstrar, nas ocasiões mais delicadas. Por mim, classifico como histórica a intervenção do Presidente Luís Filipe Viera na reunião magna de 29 de Setembro.
Em linguagem comum, pode dizer-se e com propriedade, que o Presidente 'virou' literalmente a Assembleia com a clarividência das provas que enunciou, para desconstruir, uma por uma, todas as imputações que erroneamente haviam sido aventadas (algumas em tom e com procedimentos intoleráveis), naquele tradicional contexto democrático das Assembleias Gerais do Benfica, em que até a asneira é absolutamente livre, mesmo que seja totalmente despropositada.
A frontalidade com que enfrentou a gritaria - tantas vezes injusta e autoflageladora para o Benfica - e a energia, a contundência do seu improviso calaram fundo na Assembleia. Vieira, com indesmentível coragem e pleno de razão nos argumentos, fez questão de dissipar todas as dúvidas e de reafirmar os objectivos e os projectos que estão, há muito, definidos. E o Povo do Benfica que, por experiência própria de quatorze anos (a completarem-se no fim deste mês) confia nele, uniu-se em volta do seu Presidente. Mais uma vez, para desespero dos outros, o Benfica ficou ainda mais poderoso, para ganhar tudo o que só nós juntos, afinal, quisermos vir a ganhar."

José Nuno Martins, in O Benfica

Contas do Clube

"A Direcção do Sport Lisboa e Benfica apresentou, na última Assembleia Geral, o Relatório & Contas do Clube e aquilo de que desconfiávamos confirmou-se - 2016/17 será um dos anos mais dourados da história. Numa conjuntura difícil, conseguir apresentar rendimentos operacionais de 65,7 milhões de euros, um aumento de 56%, resultados operacionais de 35,3 milhões de euros, um aumento de 122% e resultados líquidos de 35 milhões de euros, ou seja, mais 124%, só está ao alcance dos grandes gestores. Como se tal não bastasse, conseguir o milagre de fazer aumentar o activo em 140%, passando de 25 para 61 milhões de euros, é extraordinário!
E se os resultados económico-financeiros são impressionantes, o que dizer dos resultados desportivos! Tivemos conquistas em todas as modalidades - Atletismo, Basquetebol, Futsal, Andebol, Hóquei em Patins, Voleibol, Canoagem, Judo, Duatlo, Triatlo e no Projecto Olímpico. Na apresentação, o vice-presidente Nuno Gaioso apontou ao futuro. No âmbito desportivo, a aposta será no core business do Clube - o Futebol de Iniciação e as Modalidades -, integrando e potenciando os atletas oriundos da formação.
No âmbito não desportivo, continuará o reforço do papel do Sócio como principal activo, centrado no investimento das Casas, no Red Power e no Merchandising.
A mais complexa das tarefas será no âmbito económico-financeiro, com a consolidação da estratégia de credibilização e de afirmação do SL Benfica. A manutenção do investimento com gestão equilibrada dos gastos e a recuperação gradual dos Fundos Patrimoniais do Clube, com a manutenção da exploração lucrativa e sustentada, serão outros desafios exigentes."

Pedro Guerra, in O Benfica

Contas Benfica SAD (parte II)

"No artigo anterior reproduzimos os activos correntes e não-correntes da Benfica SAD. Vejamos (...) a evolução dos activos correntes consolidados da Benfica SAD.

Chegámos à conclusão de que, perante os valores apresentados nas contas, o grupo Benfica SAD tem muita disponibilidade financeira. Se cobrar os valores que tem a receber de clientes, pode realizar duas de três operações possíveis - pagar mais passivo corrente e tentar ficar compassivo não-corrente, reforçar a sua equipa de futebol, ou investir em outras áreas, ou tudo junto!
Mas o valor do passivo total tem vindo efectivamente a baixar?

Vejamos (...) o passivo corrente do grupo Benfica SAD.
E quanto ao não-corrente, (...)
Está perfeitamente identificada a situação que caracteriza o passivo do grupo Benfica SAD. São os empréstimos obtidos.
Como primeira nota, a substituição de empréstimos obtidos de passivo corrente para não-corrente equivale ao prolongamento no tempo do seu pagamento,  que possibilita o aumento da percepção de rendimentos que permitam o seu pagamento de forma mais faseada.
Depois, os empréstimos obtidos caracterizam-se agora essencialmente por operações de obrigações.
Essas operações de obrigações têm uma média de durabilidade de três anos, e convém um destes dias dar uma olhada pelo valor que a Benfica Estádio ainda deve ao seu Estádio da Luz. A contracção do naming permitiria acelerar o pagamento integral do Estádio.
Ora, o encaixe de valores significativos de vendas de jogadores permite que se reduza o passivo de empréstimos obtidos de forma considerável, mas há que ter atenção aos custos.
Um clube, hoje em dia, é uma mistura de património e campo. O poder pode vir do campo, mas, se não for acompanhado de uma gestão superavitária, vai acabar por mergulhar nas águas frias do mar do Norte.
É inquestionável que a exigência da formação continua a ser muito grande, pois só se podem substituir com rentabilidade as saídas com a produção de matéria-prima com baixo custo. E aqui, há que olhar e focar.
Há um momento em que se deve partir para horizontes maiores, mas primeiro há que arrumar a casa e criar estabilidade, patrimonial, financeira e desportiva. E, sem estabilidade humana, o que se obtém é zero!
Investir em activos tangíveis de infra-estruturas tem de ser acompanhado num investimento a sério que permita obter rentabilidade, um bocado à imagem do que agora está na moda - contrair créditos à habituação para arrendar em alojamento local e com essa renda pagar o empréstimo.
O Benfica não precisa de ficar neste 'limbo' de mercado, pode perfeitamente arranjar um investimento que não dependa das variáveis do mercado. É tudo uma questão de estudo. Mas que tem uma situação financeira invejável face à sua dimensão, isso tem.
Uma operação pública de venda das suas acções permitiria um encaixe brutal de dinheiro, mas a contrapartida era perder o controlo da SAD. Isso é impossível no quadro cultural actual. Por isso, tem de se reforçar e voltar à ribalta desportiva, com cabeça, tronco e membros. Não é fácil, mas é possível!"

Pragal Colaço, in O Benfica

Até Janeiro, rapazes?

"Quando ficar no plantel é tudo menos um prémio para um jovem

Muito promovida no verão, a aposta na prata da casa acaba por revelar-se, não raras vezes, uma ilusão prejudicial para jovens talentos do futebol português.
Entre Junho e Julho tudo é um sonho: o telefonema a “convocar” para a pré-época, o arranque dos trabalhos, a vontade de agarrar um lugar. Pelo início de Agosto já muitos chocaram de frente com a realidade: as oportunidades resumiram-se aos minutos finais de um ou dois jogos e a esperança de conquistar um lugar no plantel é falaciosa.
Alguns jovens integram os trabalhos de pré-época apenas para “fazer número”, enquanto não chegam os jogadores que estiveram ao serviço das selecções, ou os reforços ainda por contratar. O espaço para afirmação vai diminuindo de semana para semana. O empréstimo surge nos últimos dias de mercado, o que dificulta a conquista de espaço no clube de acolhimento.
Mas ficar no plantel pode ser um presente envenenado, sobretudo quando há quase trinta colegas no balneário, o que logo à partida subverte a lógica das equipas B.
Estes jovens ficam no plantel principal, mas são terceira ou quarta escolha para a posição que ocupam. É o caso de Diogo Gonçalves, tapado no Benfica por Salvio, Cervi, Zivkovic e Rafa. Ou João Carvalho, um «10» sem espaço próprio no modelo de Rui Vitória e até aqui ignorado como opção para «8» ou ala. Ou João Palhinha, recuperado em Janeiro pelo Sporting mas agora atrás de William, Petrovic ou Battaglia nas opções de Jorge Jesus para a posição «6».
Ainda que tenha tirado menos proveito da formação nos últimos anos, o FC Porto tem feito melhor esta gestão. A prova disso é o empréstimo ao Estoril de Fernando Fonseca (20 anos), um lateral que já pedia outro patamar, o que permitiu também abrir espaço para Diogo Dalot (18 anos), que treina com a equipa principal mas continua a ter competição regular na equipa B e nos juniores (onze jogos já disputados).
Estamos já em Outubro e Diogo Gonçalves tem três jogos disputados (dois pela equipa principal e um pela B), João Carvalho fez um (pela B) e João Palhinha ainda nem alinhou em nenhum. Talvez a terceira eliminatória da Taça de Portugal lhes dê uma oportunidade (vamos lá ver), mas a verdade é que o espaço na equipa principal está vedado e ir à B já é de menos, até porque vão tapar outros valores emergentes.
Salvo qualquer alteração de estatuto – que pareceu pouco provável nesta altura-, resta esperar por Janeiro, então, para que acelerem a evolução.
Até lá, rapazes!"

Os atalhos da crença

"No passado dia 4 de Outubro aconteceu história para um modesto clube com o mesmo nome da cidade que o acolhe, Londrina, e que, pertencendo embora ao Estado do Paraná, dista da capital, Curitiba, cerca de quatrocentos quilómetros (380, mais precisamente), parecendo as suas gentes mais afectadas pelos temperos do Estado vizinho, Minas Gerais, do que pela agrura e frialdade do sul: o Londrina, actual nono classificado na Série B do campeonato brasileiro, sacando imprevistas forças lá dos fundos misteriosos de uma secreta crença, arrosta o poderoso Atlético Mineiro, O Galo, (com Robinho, Elias, Fred e companhia) e, segurando heroicamente o zera-a-zero durante os noventa minutos, acabaria, nos penalties, por sagrar-se campeão da Taça da Primeira Liga, a mais jovem competição do quadro competitivo brasileiro (esta é apenas a sua segunda edição) – uma verdadeira aparição que deixou as bancadas, vestidas de azul do céu e branco de candura, literalmente em estado de êxtase.
Mas nem é a singularidade do feito que me motiva à escrita, que nós bem sabemos todos como os jogos “mata-mata” têm o condão de nivelar as forças em contenda.
• Um episódio, aliás, bem à brasileira, despertou a minha atenção: por detrás da baliza de todas as decisões, uma mulher, de branco vestida e de joelhos, com mãos ora erguidas em sinal de imploração ora tecendo gestos sincréticos de sinal da cruz e outras bênçãos (o brasileiro gosta de misturar os antropomórficos ingredientes de sua fé) e implorando ao Alto, sabe-se lá a quantas entidades, os favores de uma vitória, ardentemente anelada por estas gentes cansadas do jejum de glória.
• Vamos lá saber porquê, mas o certo é que algo de estranho aconteceu: o Atlético Mineiro falhou dois dos remates da marca de grande penalidade, enquanto o Londrina convertia os quatro: 4– 2, no final! Onde, porém, a estranheza?
• Nisto: enquanto o César, o jovem guarda-redes do Londrina, defendeu, com destreza, aparato e sorte, dois dos quatro remates efectuados, o Vítor, guardião do Atlético, quase defendia dois dos quatro. Sim, quase. E é neste “quase”, que se encerram motivos sobejos de estranheza: esses dois remates foram adivinhados e ambos bateram, inclusive, no corpo do desafortunado Vítor que, pese embora o nome de vencedor, nada conseguiu fazer para impedir o destino fatal do chuto: a bola anichando-se no fundo das redes – enquanto a fervorosa aliada dos deuses celebrava, com vénias de gratidão dirigidas ao Alto: “gloria in excelsis...”
• Vamos, então, à reflexão: nexo de causalidade entre as preces da devota “torcedora” e o desfecho vitorioso para o seu clube? Resposta: sim e não – ou, não e sim.
• Não, no sentido de que não há um limbo intermédio, gravitando algures sobre as cabeças aflitas dos habitantes da Terra, alegadamente povoado de forças contrárias, por entidades falângicas pertencentes a exércitos opostos, como se o Universo e a Vida fossem regidos por dois princípios irreconciliáveis e equivalentes em poderio, numa popular ressonância da doutrina maniqueísta. Não: Deus não sofre dos caprichos do humor.
• Sim, neste sentido: a crença, potenciada pela emoção e pelo desejo, converte-se em intencionalidade operante que, através de um processo conhecido como “processo de interferência’, transformou aquilo que era uma mera possibilidade de sucesso do Londrina em realidade experiencial.
• Aquela mulher, vestida de sacerdotisa e implorando os favores do céu em acenos de esperança, ali exposta à contemplação de todos, em especial dos jogadores, a todos convocou ao exercício intensificador da crença, ou seja, ela constituiu ostensivamente um sinal desencadeante de um colectivo reforço mental, acreditando no desfecho favorável, tão nitidamente visualizado – por todos. A unidade na fé – eis a chave para o enigma. E, quando antes dos penalties, jogadores e equipa técnica, em círculo e abraçados, ensaiaram, de olhos fechados, aquilo que pareceu ser uma fervorosa oração, disse para comigo: o Londrina já ganhou!
• Por isso, a bola, porque impelida por estado de firme crença, em vez de travar a sua marcha ao embater no corpo do guarda-redes, nada a deteve – como se guiada pelo invisível impulso de uma demiúrgica intenção de todos – e do próprio jogador que chuta.
• É por estas e por outras que advogo de há muito, sobretudo nos clubes de maior dimensão, a criação de um gabinete transdisciplinar de inteligência competitiva, uma espécie de laboratório do sucesso.
• Mas os clubes continuam a preferir pagar ordenados astronómicos a atletas lesionados meses a fio e pagar obscenas comissões a agentes gulosos.
• Até aparecer quem se adiante e antecipe o futuro.
• Que conste: não estou à procura de emprego, embora tenha sido despedido desse sonho num clube que precisa como nunca de remédio para a sua astenia."

Ainda vale a pena verificar os factos?

"Conseguir a ‘cacha’, dar primeiro a notícia e em exclusivo, é uma ambição de qualquer jornalista e uma mais-valia para o meio de comunicação social onde trabalha. O tempo sempre condicionou o trabalho jornalístico. Nas redacções, vive-se o dia-a-dia em função do deadline
 Num diário esse ‘limite de morte’ tem no máximo 24 horas, nas rádios e televisões decompõe-se nos horários dos noticiários. E no digital? A informação online rege-se por regras diferentes. A qualquer instante é possível dar uma notícia. O prazo de entrega é o agora, não há que esperar pela impressão do jornal ou o início do alinhamento.
Este admirável mundo (já não tão) novo representa uma pressão suplementar sobre o trabalho jornalístico. Aboliu as balizas temporais que, de alguma forma, organizavam a investigação e a redacção das peças. Por mais curto que esse intervalo fosse, existia. Agora, pode-se dar já a informação e desenvolver ou alterar depois. E assim nasce a ‘notícia corrigida’.
Este quotidiano do jornalismo digital encerra a perversidade de reduzir a importância dada à verificação dos factos. Cruzar dados, ouvir fontes, reler, confirmar, são tudo operações que levam tempo e deixam o agora à espera. Para quê verificar? Publique-se e, se for necessário, emende-se depois.
Os erros num jornal em papel perpetuam-se em arquivo na Biblioteca Nacional. Talvez seja de pensar duas vezes antes de optar por não verificar uma informação… Agora, no digital? Sem problema, avance-se!
Esta prática muito tentadora põe em causa a credibilidade de quem assina a notícia. Como confiar num jornalista que emenda e volta a emendar o trabalho realizado? Afinal, o que era facto deixou de o ser 15 minutos mais tarde?
Mas será que o profissional dos média deve preocupar-se? Se a correcção foi rápida, terá alguém dado por isso? Quando se entrega a uma plataforma digital aberta um texto, som ou imagem nunca se sabe o que vai acontecer. No segundo seguinte, do outro lado do mundo, alguém pode gostar do que acabou de entrar ‘no ar’. Faz download, guarda, e cristaliza o erro num ficheiro que pode ser partilhado.
Se o disparate é grande, rapidamente chega às redes sociais. Não interessa que já tenha sido emendado. Nada impede o original por corrigir de circular e ser alvo de ridículo. Perde o autor da obra? Sim, claro. Mas perde também o jornalismo. Numa profissão sob permanente escrutínio público, os actos de um contaminam a imagem dos outros. E como da qualidade do jornalismo depende a qualidade da democracia, perdemos todos."

Benfiquismo (DCXVIII)

Em Paris, contra o Bayern, em 1972 !!!