"A final contra o Brasil (0-1), jogou-se no Maracanã no dia 9 de Julho de 1972. O seleccionador de Portugal era José Augusto. A equipa estava assente numa grande maioria de Benfiquistas comandados por Eusébio.
Cumpriram-se, agora, 45 anos. Pois, parece que foi ontem. No dia 9 de Julho de 1972, Portugal e Brasil jogaram, no Maracanã, a final da chamada Minicopa, o Torneio da Independência, comemorativo dos 150 anos de um país dono de si mesmo.
José Augusto era o seleccionador. E ia advertindo, ao longo da prova: «Se me deixarem continuar a trabalhar como até aqui, como eu entendo que é necessário, tenho boas razões para acreditar que pode estar a formar-se uma equipa capaz de figurar muito bem no próximo Mundial». Fase final do Campeonato do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental. A selecção nacional não esteve presente. Como de costume.
Também no Maracanã, frente ao Uruguai. Portugal repete a exibição feita face aos argentinos, mas não consegue repetir o resultado. O seu futebol foi igualmente imaginoso e fluente, mas o golo de Pavoni, marcado aos 20 minutos, e a dureza, às vezes transformada em pura violência, dos sul-americanos obrigaram a selecção nacional a menos toques de bola, menos fintas e menos tabelinhas, recorrendo a mais cruzamentos, mais arrancadas e mais explosões. Jaime Graça empatou em cima do intervalo, e toda a segunda parte foi do domínio português e de imenso sofrimento para o guarda-redes Carrasco. Mas o 1-1 não se alterou e a conjugação dos resultados (a URSS ganhara ao Uruguai e perdera com a Argentina) permitia agora a Portugal um simples empate com os russos, desde que os argentinos não vencessem os uruguaios por mais de três golos de diferença, para chegar à tão ambicionada final.
O jogo foi pobre, e a vitória magra (1-0, golo de Jordão). O estilo combativo de Simeonov, Viktor, Vasenin, Kuksov e Bishovests, que viria, mais tarde, a ser seleccionador da CEI (Comunidade de Estados Independentes) e treinador do Marítimo, serviu para controlar a fantasia de Jaime Graça, Peres, Jordão, Dinis e Eusébio que, além disso, se viu atingindo como tal agressividade, que ficou com o osso da canela à mostra e em dúvida para a tal final tão sonhada com o Brasil, que se apurara entretanto vencendo a Jugoslávia (3-0).
A final
Dia 9 de Julho, portanto. Portugal não jogou de camisola branca, como acontecera na grande maioria dos jogos da Minicopa e como queriam os jogadores, convencidos de que o branco lhes dava sorte. Jogou com o seu habitual equipamento grená e verde, embora fosse, então hábito jogar de calções brancos. Entrou em campo com o onze mais utilizando durante a competição - José Henrique; Artur, Humberto Coelho, Messias e Adolfo; Toni, Jaime Graça e Peres; Jordão, Eusébio e Dinis - e rapidamente tomou conta dos acontecimentos, ignorando a pressão terrível do público do Maracanã, e a aura do campeões do Mundo de gente como Brito, Clodoaldo, Gérson, Rivelino, Jairzinho ou Tostão. Ao contrário do que seria de supor, foram os portugueses a fazer as despesas do futebol de ataque e os brasileiros a oporem-lhes uma toada de contra-golpe. Por uma, duas vezes, Portugal ameaça o golo: Jordão remata ao poste; Eusébio tem uma arrancada sensacional, passando por diversos adversários, arrancando «ohs!» de admiração a um púbico encantado, mas perde a oportunidade de remate por fracções de segundo. Os contra-ataques «canarinhos» são venenosos, mas Humberto Coelho está intratável imperial. Caminha-se para o final do encontro, tudo parece indicar que teremos um prolongamento. Mas, precisamente no último minuto, uma falta desnecessária de Adolfo sobre Jairzinho dá a Tosthão a possibilidade de meter, com um dos seus pés mágicos, a bola na cabeça de Jairzinho. É o golo e a vitória do Brasil. José Henrique queixa-se de que Jairzinho tocou a bola com o braço. O israelita Klein não lhe dá ouvidos e apita para o final. Ainda não tinha chegado a altura de uma vitória num jogo derradeiro. Seria preciso esperar muito e muito tempo."
Afonso de Melo, in O Benfica