"Viagem ao fantástico mundo do desenho crítico. Histórias pelo traço ditas e por quem jeito ele tem, sentindo como ninguém o que dito devia ser.
Vasculhando o baú das memórias logo pula à nossa frente frase gasta por farto uso, prenúncio de contos que nos transportavam, mais céleres que a velocidade da luz, porque à medida certa do nosso querer, para mundos de reis, de príncipes, de cavaleiros, de heróis, do sobrenatural, de animais humanizados, de humanos animalizados, de encantamento, do magnífico, enfim, mundos onde a imaginação cercada não era. As histórias, todas elas, haviam sempre de começar com o mítico «era uma vez...». Tatá! Sinal dado, apertem os cintos para inesquecíveis ida ao mundo do fantástico.
Muitas dessas viagens foram-nos concedidos por intermédio de arte sublime, preceito do desenho, só à mão e pela mão de quem para a coisa nasce e genialidade tem. Dela agora se fala porque a propósito doutras viagens, desde logo uma efectiva até à velha secretaria do Sport Lisboa e Benfica, no Jardim do Regedor, para contemplação de porção do espólio do jornal A Bola, constituída por desenhos insertos em temática desportiva e temperados com acerada e apimentada crítica. E histórias, errantes, por lá andam. Até aqui, nesta página, irromperam sem licença pedir...
Era uma vez um rei, de nome Stuart de Carvalhais, pouco dado às coisas do futebol mas deste querendo saber junto de quem do assunto cuidava para relatos fazer, em razão de mestria de traço e de coerente texto humorístico, dando azo a verdadeiras crónicas em banda desenhada vertidas.
Era uma vez um príncipe, José Pargana assim se chamava, aluno dileto e da sapiência de Stuart apropriando, exímio na extrapolação de traços e na distorção de peculiaridades até à vertigem do produto caricatural final.
Era uma vez um cavaleiro, tímido individuo que por João Martins respondia, porém enquanto artista timidez não conhecia. Acutilante e crítico mordaz, diabólico na perspectiva do Estado Novo e dos seus fiéis guardiões censórios.
Era uma vez um herói, o Francisco Zambujal no apelido, se bem que no apelido Génio podia ter. Mestre no mando da caricatura, muitos foram aqueles que no estilo lhe pegaram. Mais de 25 anos passados sobre a sua morte, ainda hoje é possível ver, na parede dum café de aldeia, bem lá no fundo duma oficina de carros, onze fulanos, campeões de futebol, no traço exacerbados por outro não menor campeão, este no domínio da arte.
Era uma vez outros reis, príncipes, cavaleiros e heróis, ao serviço da caricatura, do cartune ou do desenho simples. Era uma vez milhares de histórias em A Bola contadas. Da Travessa da Queimada para a Rua do Jardim do Regedor, viagem breve para viagem outra, mais longa, dura há já 72 anos..."
Carlos Marques, in O Benfica
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