quarta-feira, 14 de junho de 2017

Obrigado, Liverpool!

"Vivemos num tempo manietado pelo efémero, fugaz, repentino, vulgar, acessório. As notícias, em geral, e as redes sociais reflectem esse lado dito mais mediático, mas também mais descartável das pessoas, instituições e sociedades. Talvez pelo cansaço a que me leva este modo de se dar mais relevo ao que não tem importância face ao que transporta mais significado, gosto de parar e pensar em notícias, ainda que escassas, assinalando que ainda há princípios e atitudes a reter.
Vem isto a propósito do que li em A Bola de quinta-feira, 8 de Junho. Com o título Liverpool pode desculpa, conta-se a situação gerada à volta de um central holandês do Southampton Virgil Van Dijk. É que o Liverpool assediou o referido jogador sem, previamente, ter feito qualquer contacto com o seu actual clube, ao qual está contratualmente vinculado até 2022. «Pedimos desculpa ao dono, direcção e adeptos do Southamptom por qualquer mal-entendido acerca de Van Dijk. Respeitamos a posição deste clube e podemos confirmar que terminou qualquer interesse ao jogador», assim a Liverpool emendou em comunicado a sua anterior atitude, ética e contratualmente incorrecta. Isto foi em Inglaterra. Como lá foi, por exemplo, há anos, o pedido do Arsenal para repetir um jogo que havia ganho com um golo ilegal.
E por cá? É o que se vê e prevê. Com jogos e jogadores e treinadores. Sem se perceber que, a prazo, todos perdem. Para lá da competição dura e sem tréguas dentro das quatro linhas, há linhas vermelhas que não se devem ultrapassar. Não só as que estão previstas na lei e nos regulamentos, mas sobretudo no plano ético e negocial."

Bagão Félix, in A Bola

Vamos ter que encontrar um substituto !!!

"A Associação Chapecoense de Futebol, entidade desportiva, pela presente, comunica, infelizmente, o cancelamento da partida amistosa entre as equipes de futebol da Associação Chapecoense de Futebol e o Sport Lisboa e Benfica, que seria realizada na data de 22 de Julho de 2017, na cidade de Lisboa, Portugal, “Taça Eusébio Cup”, pois, atendendo o estabelecido na Cláusula Terceira, 3.2, letra “h”, do contrato firmado, solicitou autorização a CBF, contudo, conforme documento em anexo, esta expressou que devido à existência de jogos oficiais do Campeonato Brasileiro e Copa Sulamericana, não ser possível a transferência de datas, por isso indeferiu a autorização, o que impossibilita a realização da partida amistosa.
Chapecó, 13 de Junho de 2017"

A Dama de Caxias

"1. A previsão para o clima do futebol português aponta para um claro desanuviamento a partir de domingo, por força de uma frente vinda da Rússia. Pode parecer estranho que país por norma gélido traga bom tempo aqui a este cantinho. Mas não é. Entre em acção a Dama de Caxias - localidade que nos últimos tempos acolheu a sede da FPF - a Excelentíssima Senhora Selecção Nacional na Taça das Confederações. A Dama está casada há muito com D. Cristiano, o Vitorioso, um rei quase incontestável que apenas encontra resistência em quem teima fazer uso constante da última palavra dos Lusíadas. Não se lembra qual é? Inveja.
Às vezes ainda tentam pisar os calos à Dama de Caxias quando esta não chama para a ajudar um ou outro elemento de uma determinada facção, mas passa depressa. No entanto, pelo menos por uns tempos vai deixar de se ouvir falar de cigarros eletrónicos, e-mails, padres, Salazar - que infelicidade -, vouchers, árbitros, demissões; amores e desamores e acólitos acéfalos.
Porém, a avaliação final o bom ou o mau - por parte dos talibãs dos diversos regimes estará sempre dependente do resultado final na prova. Valha-nos o facto de a Dama continuar a dançar independentemente de haver ruído de bombo ou música clássica a tocar.

2. Há muitos anos alguém me disse que o melhor do futebol era a bola. Perguntei porquê. A resposta: é a única que não fala. O excesso de conversa talvez seja mesmo dos maiores problemas do futebol português. Acredito que na Assembleia Geral da Liga se tenha falado imenso. Mas não havia nada mais interessante para propor do que a proibição de cigarros electrónicos nas zonas técnicas ou a autorização para que os dirigentes possam participar em programas televisivas? E que tal discutir fórmulas para aumentar a competitividade do futebol nacional? Talvez não fosse mal pensado, digo eu..."

Hugo Forte, in A Bola

PS: Duas notas:
- continua o discurso politicamente correcto, de meter todos no mesmo saco... onde estão os 'talibãs' do Benfica, que inventam as teorias de conspiração difamatórias sobre os outros?!
- curioso toda esta 'inquietação' com os cigarros electrónicos, o ano passado aprovou-se a regra contra os comentadores televisivos (inconstitucional...) e ninguém ficou escandalizado... Este ano, foram dezenas as medidas propostas 'contra' o Benfica, tanto pelo Sporting, como pelos Corruptos, umas aprovadas outras desaprovadas... o Benfica responde com UMA medida 'anti-Lagartada', e é o fim do mundo...!!!

O outro lado do planeta do futebol

"A justiça espanhola decidiu acusar Cristiano Ronaldo num processo de alegada fuga ao fisco, semelhante àqueles em que outros jogadores, nomeadamente Messi e Neymar, já estiveram envolvidos. O veredicto final, esgotadas todas as instâncias, será, um dia destes conhecido, dando razão ou sentenciado CR7. Porém, há danos de imagem que são indeléveis e que, em casos futuros, com outros jogadores de nomeada, devem receber uma ponderação diversa. A páginas tantas não valerá a pena correr qualquer risco, mesmo que exista uma presunção razoável de legalidade na via escolhida para lidar com a fiscalidade.
Mas, ainda no futebol fora das quatro linhas, valerá a pena assinalar a intervenção importante de Pep Guardiola, enquanto porta-voz do movimento independentista da Catalunha. A visibilidade interna e o reconhecimento internacional de um dos melhores treinadores do mundo juntam-se a uma campanha que pode redefinir o mapa da Península Ibérica; e um dos grandes apoiantes dessa demanda por uma Catalunha independente é o Barcelona, que abandonou a neutralidade política habitual nos clubes desportivos e aceitou ser ponta-da-lança na luta que está na rua.
Mas há mais: os Golden Stade Warriors, vencedores da NBA em 2017 e uma das melhores equipas da história do basquetebol, fizeram saber que não se deslocariam à Casa Branca para a habitual recepção do Presidente dos Estados Unidos aos campeões. Uma declaração política fortíssima!

PS - Por falar em declarações políticas: o fait-divers dos cigarros electrónicos, na última AG da Liga só pode ser visto como um aviso à navegação..."

José Manuel Delgado, in A Bola

‘Super-Humans’

" "Trabalhamos até ao osso. Suamos até não conseguirmos sequer abrir os olhos. Puxamos por nós até à exaustão, mesmo quando o nosso corpo nos diz para parar. Arranhamo-nos, cortamo-nos, queimamo-nos, lesionamo-nos e... sob a total exaustão, o que fazemos? Limpamos as nossas feridas, colocamos gelo, colocamos ligaduras, tomamos um analgésico e... voltamos a treinar. Todos os dias nos inspiramos a sermos ainda melhores... nas competências que possuímos e nas que queremos aprender. Todos os dias puxamos por nós próprios, e pelos nossos colegas, não para ser "bons" mas, para sermos extraordinários. Para sermos incríveis."
Hannah Brady, performer
Nos últimos dias, a imprensa tem sido inundada com mais um "feito português". Desta feita, o nome de Hugo Soares Martins, que lançou as qualidades dos performers portugueses no panorama mundial, na área da Direção Artística, ao tornar-se o primeiro Diretor Artístico português, da renomada companhia Cirque do Soleil, mais precisamente no espetáculo "Toruk" (entrevista AQUI).
Uma vez mais, e à semelhança do que se escreve acerca das pessoas que realizam feitos extraordinários, fica a faltar, de facto, o "outro lado" da entrevista ou, por outras palavras, a identificação clara de todos os sacrifícios diários (pessoais e profissionais) que este tipo de performers (no caso, da área artística mas, de igual forma, em tantas outras áreas, como tenho vindo a referir ao longo de diferentes artigos) fazem e que, todos nós (aqueles que gosto de chamar carinhosamente de "normalecos") somos incapazes sequer de considerar.
Por esta razão, gosto tanto do texto que transcrevi inicialmente que, de alguma forma, nos permite vislumbrar o quotidiano destas pessoas.
De facto, este tipo de performers agarra o seu percurso profissional, com uma espécie de inevitibilidade, numa lógica de missão - se falarmos com eles, um dos aspectos mais diferenciadores é que, na realidade, na sua cabeça não há sequer "outra opção" do que "ser aquilo"/"escolher aquilo" e, por essa razão, Todas as escolhas diárias, bem ou mal decididas, são sempre na direcção do sonho que se pretende vir um dia a vivenciar.
Não porque se quer ser "o melhor", ou ser "visto por milhares" mas porque, inevitavelmente, se quer participar "daquele show" (seja ele um campeonato do mundo, uns Jogos Olímpicos, uma companhia de teatro, ou qualquer outro...).
Entenda-se: "daquele" quer dizer que é "aquele" e não qualquer um outro.
Por esta razão, Existe propósito e direcção nas suas acções.
Por esta razão, e quando esta espécie de paixão (para muitos quase "obsessão") se cruza com capacidade de resistência à frustração e de sacrifício, muitas vezes, o propósito alcança-se.
A entrevista agora lançada, sob o formato vídeo (que aconselho a ver no link supra citado) e escrito, evidencia uma história quase "hollywoodesca" de alguém que, perseguindo um sonho, alcançado aos 41 anos de idade, chega até a abdicar de uma carreira com um "conforto de sonho" (de piloto de aviação comercial) para se dedicar a um propósito e deixa-nos, a todos, com a vontade de, quem sabe, seguir os próprios sonhos.
Contudo, este mesmo material biográfico, não evidencia ao grande público, as dores "físicas" sofridas numa carreira de atleta, escolhida numa modalidade tão pouco apoiada em Portugal (Ginástica Artística) e que foi abraçada anos a fio, 6h por dia, em treinos bi-diários para representar Portugal. 
Não evidencia, de igual forma, a angústia diária transportada numa escolha, muitas vezes caracterizada pelo meio por ser quase irracional, de trocar o conforto de uma carreira segura pela dedicação em exclusivo às Artes - uma angústia de quem teme pela sua própria subsistência e pela subsistência das pessoas que escolheu dirigir - como aconteceu, por exemplo, com a companhia Lisboa Ballet Contemporâneo, a qual foi totalmente financiada por si, por acreditar que, em Portugal e com Portugueses, seria possível criar uma companhia de Excelência (que viria, na realidade, a encher as salas de espectáculo, com projectos de Dança novamente).
De facto, longe do olhar de todos, fica o verdadeiro lado humano desta história:
o lado onde se instala o medo, a insegurança, onde se falha e, ainda assim, se prossegue.
E, sim, esta é a verdadeira mensagem que estes performers passam a todos nós nas "entrelinhas":
O medo existe, a insegurança faz parte, o erro também e, acima de tudo, o que nos diferencia é a nossa capacidade em prosseguir.
"(...) Todos os dias puxamos por nós próprios, e pelos nossos colegas, não para ser "bons" mas, para sermos extraordinários. Para sermos incríveis."
Exemplos vivos como este, existem nas mais diferentes áreas, às vezes, mesmo ao nosso lado... e, que seria de nós (políticos, empresas e sociedade em geral) se agarrássemos, com igual "obstinação", este propósito de vida?
Seríamos enormes, sem dúvida."

Dos pecados e dos árbitros

"De uma forma ou de outra, o que os clubes procuram é seduzir os homens do apito, por vezes empurrando-os para o pecado, não o fazem é da mesma forma.

Os árbitros são humanos, erram e talvez até errem menos do que os avançados na cara do golo. Mas a humidade dos árbitros não se esgota na propensão ao erro: são um grupo corporativo, que reage às críticas com mecanismos típicos de auto-defesa de classe. Talvez seja por isso que os clubes perceberam que, para vencer, não serve de muito criticar as arbitragens. Esta ambição tem tido consequências: de uma forma ou outra, o que os clubes procuram é seduzir os homens do apito, por vezes empurrando-se para o pecado. Não o fazem é da mesma forma.
O Porto tem um histórico sólido de estimular a gula entre os árbitros. Bem sei que, na hierarquia pecaminosa, não se trata de um dos pecados mais graves, mas o desejo insaciável de comida e bebida encontra reminiscências na tradição de agraciar árbitros com 'café com leite' e esta era, de facto, proibida. Mas são práticas que estão distantes da virtude da temperança. Desde Dante que é sabido que quem cede à gula está condenado a perceber atolado em lama espessa. Pior mesmo, talvez seja a luxúria. Esse desejo passional pelo prazer corporal, que nem com 'conselhos matrimoniais' de um Papa pode ser redimido e que sentencia a turbilhões eternos, no vale dos ventos.
O Sporting vive amarrado à inveja. Um desejo exagerado por tudo o que os outros têm. Consumido por este pecado, o clube secundariza o trabalho que deve ser feito para garantir vitórias e procura encontrar justificações para os seus insucessos, também, nos árbitros. Mas desde o início, do livro de 'Génesis', quando Caim matou Abel, que ficou claro que Deus não protege os que se movem a inveja. A asserção é controversa, mas o destino de Caim foi o Leste do Paraíso, um lugar de derrotas.
O Benfica não está livre de pecados. Bem pelo contrário, incorre na soberba, uma propensão para se julgar superior aos outros. os elogios aos árbitros, promovendo o orgulho da classe, podem ser vistos como uma forma inteligente, mas também, por vezes, ostensiva de arrogância. Escolhe-se aqueles que devem ser elogiados e espera-se que a vaidade humana faça o resto. São caminhos que se podem revelar sinuosos.
Como benfiquista confesso, arrisco um conselho: apenas a humildade é capaz de contrariar a soberba. Para continuarmos nesta senda vitoriosa, devemos abandonar a ostentação (as vitórias passadas), agir com simplicidade e cultivar as virtudes. Temos de resistir à propensão ao pecado arbitral no meio de nós.

Nota: o Benfica conquistou o seu 27.ª campeonato de basquetebol. Carlos Lisboa esteve envolvido em 17 destes títulos: como jogador, director e agora treinador. Neste ano de tripleta, acompanhado por um coro de críticas, é caso para dizer que o campeonato foi mesmo do Carlos Lisboa, com muito mérito."

Acabar em grande

"O ruído vai sobrevivendo à custa de pequenas novelas que vão alimentando o quotidiano

Estamos quase no Verão. Estão 30.º C e a maioria dos jogadores, técnicos, árbitros e dirigentes goza de um merecido período de férias. Supostamente este é tempo para recarregar baterias e para preparar o futuro.
No entanto, ainda que em meados de Junho, o ruído não acabou. Pelo contrário. Ele vai sobrevivendo há custa de pequenas novelas que vão alimentando o nosso quotidiano, agora numa fase mais carente de notícias bombásticas.
Nessa matéria, pode-se dizer que estas últimas semanas foram produtivas.
O que não falta por aí é gasolina para a fogueira. Alguns litros lançados de forma mais estratégica e ponderada, outros por manifesta incapacidade de controlar emoções e raivas acumuladas e ainda so quantos atirados sem maldade. De forma quase infantil. Como se fosse possível alguém esquecer-se que, neste mundo de potenciais pirómanos, qualquer palito não fosse confundido com um fósforo.
Em resumo: o «diz que disse, diz que fez, diz que não disse e diz que não fez» anda por aí. De novo.
Digam-me uma coisa: já não estão fartos destes filmes? Que gente é esta que se orgulha patrioticamente dos nossos grandes méritos desportivos e, ao mesmo tempo, consegue lançar a confusão interna, com rumores, intrigas e especulações permanentes?
É que isto acontece recorrentemente. De todos os lados e quase todos os dias. E com o elevado patrocínio das redes sociais que são pródigas em fazer de uma não notícia o assunto mais falado da actualidade.
Será que há alguém com dois dedos de testa que ainda não percebeu que a maioria das pessoas está cansada de teorias de conspiração, de processos de vitimização, de manias de perseguição? Não estamos todos fartos deste ambiente negativo, destrutivo, que alimenta ódios e gera revoltas? É suposto ser assim, o futebol que todos gostamos?
O que vale é que a quantidade dilui a credibilidade. E às tantas já ninguém liga. Ninguém se importa se o que diz é verdade ou meia verdade, se é mentira ou meia mentira.
O que as pessoas normais querem e precisam é de paz, elevação e respeito. Se, de facto, há provas que indiciem a mais ínfima ilegalidade, por favor avancem! Apresentem-nas em sede própria e deixem que a justiça actue a direito, com rigor, transparência e celeridade!
Todos nós queremos e desejamos um mundo mais limpo e um desporto mais são!
Mas se é apenas mais fumo, se não evidências de crime, se nada existe de palpável, então tenham paciência mas não estraguem o jogo que paga o salário a tanta gente.
Repensem a vossa ética profissional, a vossa qualidade enquanto homens, enquanto chefes de família e pessoas sérias que são. Será que era mesmo isto que queriam fazer quando fossem grandes? Será que vale tudo para vencer?
Ainda não perceberam o efeito medonho que estão a criar nos adeptos mais susceptíveis? Os ódios, as ondas de violência verbal, o aumento exponencial da intolerância, da ameaça e do insulto gratuito? Sabem o poder que têm, por força do mediatismo que vos concedem? Sabem o impacto que têm numa franja significativa da opinião pública? Porque não usam de forma construtiva, positiva, diferenciadora? Com classe e brilhantismo?
Honestamente não entendo. Não entendo o que vos move fora do campo quando é lá dentro que se ganham os jogos.
Alimentar, quase diariamente, picardias não repõe o passado, não melhora o presente e não altera o futuro.
Sejam éticos. Sejam profissionais. Sejam superiores a pequenas vendettas.
Chega de darmos tiros nos pés. Chega de vomitar ressabiamentos sem sentido, de levantar suspeitas pouco concretas, de jogar ao gato e ao rato.
O futebol português precisa do vosso lado melhor. Do vosso carácter e da vossa competência. Não dessa sombra de coisa que não vos define.
«When the game is over, the game is over».
Podemos seguir em frente, por favor?"

Duarte Gomes, in A Bola