quarta-feira, 14 de junho de 2017

‘Super-Humans’

" "Trabalhamos até ao osso. Suamos até não conseguirmos sequer abrir os olhos. Puxamos por nós até à exaustão, mesmo quando o nosso corpo nos diz para parar. Arranhamo-nos, cortamo-nos, queimamo-nos, lesionamo-nos e... sob a total exaustão, o que fazemos? Limpamos as nossas feridas, colocamos gelo, colocamos ligaduras, tomamos um analgésico e... voltamos a treinar. Todos os dias nos inspiramos a sermos ainda melhores... nas competências que possuímos e nas que queremos aprender. Todos os dias puxamos por nós próprios, e pelos nossos colegas, não para ser "bons" mas, para sermos extraordinários. Para sermos incríveis."
Hannah Brady, performer
Nos últimos dias, a imprensa tem sido inundada com mais um "feito português". Desta feita, o nome de Hugo Soares Martins, que lançou as qualidades dos performers portugueses no panorama mundial, na área da Direção Artística, ao tornar-se o primeiro Diretor Artístico português, da renomada companhia Cirque do Soleil, mais precisamente no espetáculo "Toruk" (entrevista AQUI).
Uma vez mais, e à semelhança do que se escreve acerca das pessoas que realizam feitos extraordinários, fica a faltar, de facto, o "outro lado" da entrevista ou, por outras palavras, a identificação clara de todos os sacrifícios diários (pessoais e profissionais) que este tipo de performers (no caso, da área artística mas, de igual forma, em tantas outras áreas, como tenho vindo a referir ao longo de diferentes artigos) fazem e que, todos nós (aqueles que gosto de chamar carinhosamente de "normalecos") somos incapazes sequer de considerar.
Por esta razão, gosto tanto do texto que transcrevi inicialmente que, de alguma forma, nos permite vislumbrar o quotidiano destas pessoas.
De facto, este tipo de performers agarra o seu percurso profissional, com uma espécie de inevitibilidade, numa lógica de missão - se falarmos com eles, um dos aspectos mais diferenciadores é que, na realidade, na sua cabeça não há sequer "outra opção" do que "ser aquilo"/"escolher aquilo" e, por essa razão, Todas as escolhas diárias, bem ou mal decididas, são sempre na direcção do sonho que se pretende vir um dia a vivenciar.
Não porque se quer ser "o melhor", ou ser "visto por milhares" mas porque, inevitavelmente, se quer participar "daquele show" (seja ele um campeonato do mundo, uns Jogos Olímpicos, uma companhia de teatro, ou qualquer outro...).
Entenda-se: "daquele" quer dizer que é "aquele" e não qualquer um outro.
Por esta razão, Existe propósito e direcção nas suas acções.
Por esta razão, e quando esta espécie de paixão (para muitos quase "obsessão") se cruza com capacidade de resistência à frustração e de sacrifício, muitas vezes, o propósito alcança-se.
A entrevista agora lançada, sob o formato vídeo (que aconselho a ver no link supra citado) e escrito, evidencia uma história quase "hollywoodesca" de alguém que, perseguindo um sonho, alcançado aos 41 anos de idade, chega até a abdicar de uma carreira com um "conforto de sonho" (de piloto de aviação comercial) para se dedicar a um propósito e deixa-nos, a todos, com a vontade de, quem sabe, seguir os próprios sonhos.
Contudo, este mesmo material biográfico, não evidencia ao grande público, as dores "físicas" sofridas numa carreira de atleta, escolhida numa modalidade tão pouco apoiada em Portugal (Ginástica Artística) e que foi abraçada anos a fio, 6h por dia, em treinos bi-diários para representar Portugal. 
Não evidencia, de igual forma, a angústia diária transportada numa escolha, muitas vezes caracterizada pelo meio por ser quase irracional, de trocar o conforto de uma carreira segura pela dedicação em exclusivo às Artes - uma angústia de quem teme pela sua própria subsistência e pela subsistência das pessoas que escolheu dirigir - como aconteceu, por exemplo, com a companhia Lisboa Ballet Contemporâneo, a qual foi totalmente financiada por si, por acreditar que, em Portugal e com Portugueses, seria possível criar uma companhia de Excelência (que viria, na realidade, a encher as salas de espectáculo, com projectos de Dança novamente).
De facto, longe do olhar de todos, fica o verdadeiro lado humano desta história:
o lado onde se instala o medo, a insegurança, onde se falha e, ainda assim, se prossegue.
E, sim, esta é a verdadeira mensagem que estes performers passam a todos nós nas "entrelinhas":
O medo existe, a insegurança faz parte, o erro também e, acima de tudo, o que nos diferencia é a nossa capacidade em prosseguir.
"(...) Todos os dias puxamos por nós próprios, e pelos nossos colegas, não para ser "bons" mas, para sermos extraordinários. Para sermos incríveis."
Exemplos vivos como este, existem nas mais diferentes áreas, às vezes, mesmo ao nosso lado... e, que seria de nós (políticos, empresas e sociedade em geral) se agarrássemos, com igual "obstinação", este propósito de vida?
Seríamos enormes, sem dúvida."

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