sexta-feira, 28 de abril de 2017
Ainda faltam quatro finais
"Artur Soares Dias até poderá ser o melhor árbitro português da actualidade - o que, por si só, pouco significa, em tempos também Pedro Proença o foi - mas esteve francamente mal no dérbi. As três grandes penalidades sonegadas ao Benfica mancharam a sua actuação, que creio ter sido, no entanto, bem intencionada. O problema é que, na dúvida, preferiu não arriscar uma eventual má decisão a nosso favor, prejudicando-nos claramente, talvez condicionado pela campanha vil que tem sido empreendida pelos nossos adversários. E também, quem sabe, por se treinar à porta aberta no Centro de Alto Rendimento da Maia, sujeito a joelhadas e caneladas de adeptos que depois se vangloriam, nas redes sociais, de prestarem visitas a árbitros.
Por isso soa ainda mais a ridículo, sem que me surpreenda, que tenha havido uma queixa leonina relativamente à arbitragem. Parece que Lindelof marcou o livre que resultou no nosso golo a uns extraordinários dez centímetros de onde supostamente deveria tê-lo feito. É pena que tanto rigor não se aplique nas suas acções de propaganda. Bem poderão apresentar em letras garrafais que são a maior potência desportiva nacional que ninguém precisaria de uma lupa para ler, nessa patetice, apenas e só uma tentativa frustrada de iludir a realidade. Continuem a iludir-se, que nós continuaremos a tentar ganhar.
E os outros... Enfim, que bem que lhes deverá saber terem uns aliados em Lisboa... Felizmente não os têm em Braga e na Feira... Quanto à liga Salazar, ou são profundamente ignorantes, ou julgam que os seus adeptos são todos mentecaptos. O que vale é que a arte da desinformação não marca golos e os apitos já não são dourados."
João Tomaz, in O Benfica
Borda d'Água 2017
"Um dos meus avós vivia numa quinta, depois de Coruche, encostada ao Couço, tida como a freguesia mais 'vermelha' de Portugal, graças aos resultados em quase todas as eleições. E sei que também tinha muitos Benfiquistas. Um verão passei lá umas férias. Eu devia ter uns 15 ou 16 anos e ouvíamos o relato da Volta a Portugal em bicicleta pela Antena 1. O campeonato estava parado, mas havia sempre ciclismo para nos entreter. Nas poucas conversas que tínhamos, o velho Cancela ensinou-me uma das lições que a vida feita de trabalho na terra nos dá: 'Para quê invejares o que o vizinho tem, se não fazes nada com o teu quinhão de terreno'. Todos os dias, às seis da manhã, ele levantava-se, ia dar de comer aos animais, abrir regos para a água passar para a horta e para o pomar, tratava de arranjar lenha, inventava enxertos para as laranjeiras e sacava os ovos às galinhas. Tinha as melhores laranjas da região e um orgulho imenso nelas.
Olho para o nosso campeonato e para a realidade das duas equipas que lutam para ser o primeiro dos últimos e revejo-me nesse verão, quando começou a primeira Guerra do Golfo. FC Porto como Sporting CP só se preocupam com aquilo que brota da nossa terra. Invejam as nossas laranjas, o nosso departamento de comunicação, as nossas vitórias, o nosso marketing, os ovos de ouro das nossas galinhas. Socorrendo-me do pouco de agricultura que aprendi, parece-me que, tanto os vizinhos próximos como os mais afastados, só têm uma solução: manter-se no pousio por mais uns anos e trabalhar de forma mais árdua. Ou então, fazer uma queimada no terreno e rezar para que chova."
Ricardo Santos, in O Benfica
Unidos!
"Estávamos em Maio de 2013. Ao Benfica bastava ganhar, na Luz, ao Estoril e ao Moreirense - precisamente as duas equipas recém-promovidas ao escalão principal - para festejar aquele que teria sido o seu 33.º título. Todos nos lembramos do resto da história.
Pois se então tudo parecia fácil, agora parece bem mais difícil. Precisamos, não de duas, mas de quatro vitórias (ou, pelo menos, três vitórias e um empate). Temos deslocações muito duras, onde arrancámos triunfos suadíssimos na temporada passada. E começamos por receber o…Estoril.
Pese embora a última jornada nos tenha corrido de feição, o caminho ainda é longo e sinuoso. O céu pode esperar.
Em Alvalade fomos a melhor equipa (como, de resto, já havíamos sido no jogo com o FC Porto). Um conjunto de infelicidades - que começou com a ausência do nosso melhor jogador, continuou com um erro nada habitual do grande Ederson, que nos custou um golo na alvorada da partida quando ninguém o justificava, e terminou com uma sucessão de três lances de óbvia grande penalidade que Soares Dias não viu - não nos permitiram ir além de um empate. Do mal, o menos, para uma equipa que mostrou tamanha força mental na resistência a todas essas adversidades, salvando um ponto que, tendo em conta as circunstâncias, acabou por ser saboroso.
PS: Passaram-se muitas coisas em redor do “Dérbi” (uma tragédia, e algumas comédias de mau gosto) que nada têm a ver com futebol. Sobre elas o nosso Presidente falou, e bem. Tudo o que possamos dizer agora será redundante, ou mesmo perigoso. Vamos continuar unidos, e focados naquilo de que verdadeiramente gostamos."
Luís Fialho, in O Benfica
Uma pequena história
"Quando eu era pequeno, adorava ler as histórias do Tintim, do Michel Valillant, do Mickey dos Irmãos Metralha, mas especialmente apreciava muito a personagem do Pateta.
Em 1932, Michey já era uma personagem muito famosa no mundo inteiro, quando os cinemas lançaram um novo desenho animado com o pequeno astro:
'Mickey's Revue' (A Revista Teatral de Mickey). Nesse filme havia um novo personagem, muito 'desligado' e bastante simpático.
Essa personagem era o Pateta, que aprecia pela primeira vez. Logo agradou em cheio! Seu nome em inglês é Goofy, um termo de gíria que quer dizer tonto, enlevado, pateta.
Paul Murry, um desenhista dos estúdios Disney, inspirou-se num cão nativo da Austrália para criar o Pateta. Mas do espertíssimo cão australiano ficou apenas a figura. Porque a graça do Pateta consiste justamente nisto: ele não é nada esperto.
Em compensação, é um grande trapalhão, arrumador de encrencas e o maior despreocupado do mundo: nada, absolutamente nada, parece perturbar o Pateta. Por mais confusões que ele crie, vai sempre em frente, sem perder seu eterno bom humor. Mas são justamente essas qualidades que tornam o Pateta um dos mais queridos personagens de Walt Disney e o grande amigo do Mickey, de todas as horas e todas as aventuras.
Mas o Pateta tem um segredo! Ele possui em seu jardim uma plantação de super-amendoins e, quando come alguns deles, transforma-se no Super-Pateta. É quando ele vira um super-herói, super-forte, super-etc, e tal, mas também uma super-trapalhão, metendo-se nas mais incríveis super-confusões enquanto argumenta que está a defender os mais necessitados.
O único que conhece esse segredo é o seu sobrinho Gilberto que, às vezes, ajuda seu tio nas sua super-aventuras, transformado-se no Super-Gilberto.
Quando não está fazendo de super-herói, Pateta vê emocionantes aventuras policiais ao lado do seu velho amigo Mickey, ou então está com o próprio Gilberto que, de vez em quando, fica muito irritado com as patetices do seu tio Pateta...
(...)"
Pragal Colaço, in O Benfica
Milhões de vitórias
"Os resultados do novo empréstimo obrigacionista provam que o Sport Lisboa e Benfica é uma instituição confiável. Com um valor de 60 milhões de euros, a procura chegou aos 92 milhões. Esta é, provavelmente, uma das grandes vitórias do maior clube português. No curto espaço de uma década o presidente Luís Filipe Vieira resgatou e recuperou a credibilidade e a idoneidade do SL Benfica. A reputação do Glorioso tem permitido que estas operações se transformem em verdadeiros casos de sucesso. O objectivo dos dirigentes da SAD merece ser aplaudido - substituição da dívida bancária. No passado dia 4 de Abril, em entrevista ao Record, Domingos Soares de Oliveira deu-nos uma boa notícia, anunciando que a facturação do Grupo SL Benfica está entre os 230 e os 250 milhões. Em 2004, quando chegou ao clube, o total da receita era de 40 milhões de euros. Hoje a receita atinge os 240 milhões. Estes resultados provocam inveja nos nossos rivais. Na entrevista à CMTV, o Presidente anunciou que a redução do passivo será prioritária. Para atingirmos esse objectivo vamos ter que trabalhar todos juntos e ainda mais. Uma das provas mais evidentes da pujança da nossa instituição é o Football Money League, estudo anual da prestigiada Deloitte. Em relação à época 2015/16, as receitas combinadas dos 20 maiores clubes aumentaram 12%, chegando a um valor recorde de 7,4 mil milhões de euros. O Manchester United lidera com uma receita de 689 milhões. O Benfica é o único clube português no Top 30, ocupando a 27.ª posição, com uma receita de 152 milhões. O nosso Clube figura nesta lista desde 2009/10. Em relação ao Matchday, figuramos em 14.º lugar, com 36,5 milhões. Quanto à Media TV, encaixámos 64 milhões, permitindo uma honrosa 20.ª posição. Já quanto ao Comercial atingimos os 51,5."
Pedro Guerra, in O Benfica
Chega!
"Os clubes têm o futebol que merecem. porque são eles, em última análise, que querem o futebol que têm.
Com toda a franqueza, não me apetece perder tempo nem esgotar a paciência do estimado leitor com o péssimo ambiente que por aí se instalou no futebol, por responsabilidade exclusiva de algumas personagens ligadas aos três grandes clubes portugueses. Quanto mais se falar delas mais importância se lhes dá. E o objectivo deve ser exactamente o contrário.
Claro que não é possível ignorá-los. Infelizmente. Se fosse, ou mudavam de atitude ou mudava de esquina.
Não podemos ignorá-los mas podemos dar-lhes a pouca importância que realmente merecem. Já basta temos de lhes aturar a insuportável ironia, a hipocrisia, a insinuação, a ofensa, a provocação, a rasteira, o jogo baixo, a piadinha e a torradinha. Chega. Mas cabe a cada um fazer a selecção e a escolha. Eu já escolhi. Gosto de futebol, gosto de jogadores e de treinadores.
Quanto ao resto, cumpram os regulamentos ou façam novas regras e chamem a polícia se for caso disso.
Os clubes têm o futebol que merecem porque são eles, em última análise, que querem o futebol que têm. Deixem, por isso, de fingir que são todos, apenas e só, pobres vítimas da conspiração alheia, sem qualquer responsabilidade no cartório.
Como insistem em fintar a ética, devia o Estado corrigi-los e obigá-los a ter maneiras. Castigos realmente mais duros, multas muito mais pesadas, regulamentos mais claros, justiça mais rápida, enfim, um quadro que regulasse toda esta desregulação e tornasse respirável este ar tão poluído.
Exemplos de como se deve fazer não faltam. Chegam do Reino Unido (que foi capaz de acabar com o hooliganismo), dos Estados Unidos (que têm a melhor indústria de desporto profissional), da Alemanha (onde quase não se sabe que são os dirigentes), até de Itália, onde as entidades que gerem o futebol tiveram a coragem de promover fortes investigações ao que precisaram de ver limpo, mesmo quando isso implicou atirar para a segunda divisão clubes com a dimensão da Juventus ou do AC Milan.
Que futebol querem os dirigentes dos clubes portugueses? Que futebol quer o Estado português? Este futebolzinho de guerrinhas permanentes e chico-espertices? De abuso de poder e falta de ética? Repito o que aqui deixei escrito antes do derby: com ou sem cartilha, ninguém pode atirar a primeira pedra porque em todos há telhados de vidro. E muitos!
Apesar dos empates da última jornada, Benfica e FC Porto prometem dar a este campeonato emoção até ao fim. E competição. E ainda bem! Ou alguém pode ter saudades daqueles campeonatos ganhos com mais de 15 pontos de vantagem?
No último fim de semana, derby em Alvalade muito intenso e tacticamente muito discutido. Sporting e Benfica meteram o jogo numa caixa de fósforos e por isso se tornou tão difícil de jogar bem.
Não foi, por isso, um derby bem jogado mas foi um derby muito disputado e talvez por ter sido tão metido numa caixa de fósforos é que o jogo só podia mesmo esperar golos de bola parada. Como aconteceu.
No fim, e desta vez, destacou e bem Jorge Jesus a superioridade dos processos defensivos das duas equipas, travando qualquer criatividade ofensiva, e poderia Rui Vitória ter lamentado (e talvez o tivesse feito se tivesse perdido...) dois lances de grandes penalidades não assinaladas pelo árbitro a seu favor. Em vez disso, preferiu afirmar que o Benfica «merecia» ter ganho porque «foi a melhor equipa».
Não foi, com toda a franqueza, esse o jogo que eu vi. Mas o treinador do Benfica é que sabe as linhas com que se cose!...
'Penalty'
Como seria bom que os adeptos fossem capazes de reconhecer o quanto são injustos para alguns jogadores tão mal-amados. No Benfica, o caso gritante é o de Pizzi, que no último derby voltou a mostrar a importância que tem na equipa.
Livre Directo
Mais distante, agora, dos portugueses, outro caso gritante é o do nosso André Gomes, alvo de tão fortes críticas em Barcelona. Pois o jovem campeão da Europa com Portugal mostrou o que vale no clássico em Madrid. E só precisou de um segundo!
Livre Indirecto
O italo-argentino do Sporting, Schelotto, inaugurou um restaurante e recebeu companheiros de equipa e... do Benfica. A Bola TV mostrou tudo, em directo e em exclusivo. Foi uma festa. E viu-se como sabem os jogadores dar bons exemplos!
(...)"
João Bonzinho, in A Bola
PS: Mais um cobarde, que não consegue despir a camisola, e 'mete tudo no mesmo saco'!!!
Morte anuciada
"O clima de excessiva agressividade, até de violência, que se vive no futebol em Portugal, principalmente entre os clubes de maior dimensão, teve no último fim de semana um dos dias mais negros. Nada que não fosse previsível ou sem aviso, infelizmente nunca levado suficientemente a sério. Não se trata de falta de fair-play. Trata-se ter ou não coragem para tomar medidas preventivas e punitivas, que acabem com esta violência gratuita. A começar pela verbal.
Os regulamentos desportivos são por vezes pouco precisos, ou melhor, têm aberturas para diversos recursos. Tal como todo o enquadramento jurídico português. Quando todos os recursos se esgotam levanta-se a constitucionalidade das normas. Temos estado a aumentar a complexidade para a aplicação de regras simples. Tornou-se hábito o recurso do recurso. Vivemos num Estado de direito, princípios fundamentais têm que se assegurados, o que não significa que a Lei e a sua aplicação tenham tantos alçapões. O bom sendo deve imperar para que se criem e apliquem regras eficazes. Como é possível em determinados estádios considerar-se normal a agressividade manifestada para com os elementos da equipa visitante? Até alguns agentes desportivos permitem essa agressividade por não serem castigados ou castigados tão tardiamente.
Mas não são só os agentes do futebol que devem ser responsabilizados. A batalha pelas audiências estabelecida entre os diversos órgãos de comunicação, com destaque para alguns canais por cabo, com um grande número de programas sobre um campeonato limitado a Benfica, Porto e Sporting, também tem ajudado a aumentar esta animosidade entre adeptos. Não se trata de analisar e comentar um jogo de futebol, trata-se de insultar quem não está de acordo. Claro que há quem não tenha esta postura, felizmente. Como em tudo, a maioria é silenciosa. Está na hora dessa maioria exigir mudanças, de se manifestar contra este estado de coisas. É um dever de cidadania que todos deveríamos assumir."
José Couceiro, in A Bola
A estupidez
"Todos temos uma ideia aproximada - uns mais, outros menos - sobre o conceito de estupidez, não sendo necessários grandes conhecimentos ou sabedoria para extrair conclusões acertadas sobre tal matéria. Há que reconhecer, no entanto, que expressões existem, nem sempre condizentes com a realidade das coisas, como, por exemplo, aquele aforismo muito popular de que «É estúpido que nem uma porta». Por muito grande que seja o nosso esforço e a nossa imaginação, tornar-se impossível conceber uma porta imbuída de um tão horrível defeito que é um exclusivo da espécie humana. Seja como for - e basta, para este efeito, consultar qualquer dicionário - a noção de estupidez acha-se intimamente ligada a falta de discernimento, de inteligência, de compreensão e até de imbecilidade. O Povo, com aquele ancestral sabedoria de experiência feita que lhe é tão peculiar, acaba por lançar mão de outros vocábulos que, no meu entender, são bem reveladores, de um conhecimento sólido de estrutura/base de conceito de estupidez. Burro, obtuso e tapado são algumas dessas expressões a que, por vezes, são associadas outras como grosseiro, bruto e indelicado. Alvo de reprovação generalizada dos homens, de boa vontade, até hoje não foi possível descobrir vacina ou antídoto para uma tal maleita, justificando-se a afirmação de Camus de que «A estupidez insiste sempre». Mas temos de reconhecer e enaltecer a luta travada pela inteligência e pela dignidade contra a doença estúpida, bastando atentar no exemplo dado em campo (e fora dele) pelos jogadores do Sporting e do Benfica, no derby do passado Sábado. Para todos os outros agentes desportivos que, antes e depois no jogo, não souberam sequer respeitar a dimensão de tragédia acontecida, direi apenas: «Aprendam a estar!»."
Sérgio Abrantes Mendes, in A Bola
Na NBA é assim. Também queremos!
"Durante o jogo entre os Houston Rockets e os Oklahoma Thunders, a contar para os play-offs da NBA, disputado na madrugada de ontem, o presidente dos texanos, Leslie Alexander, interpelou um dos árbitros, Bill Kennedy, de forma incorrecta. A sanção surgiu pouco tempo depois do final da partida em forma de multa, nada meiga: cem mil dólares (92 mil euros), foi quando a brincadeira custou a Alexander. Quando, por cá, tanto de fala em agilizar e endurecer as penas no futebol, a lição a tirar é que, nessa matéria, já está tudo inventado por quem leva a indústria do desporto muito a sério. Basta querer. Neste particular, até acredito, sem reticências, na boa-fé da FPF e na sua vontade de estabelecer um sistema semelhante àquele que os clubes aceitam sem pestanejar quando estão envolvidos nas provas da UEFA. Porém, e oxalá esteja enganado, tenho as maiores reservas quando à vontade dos clubes. Creio que não pretendem que a coisa não vá mais longe do que uma operação de cosmética, para que no fundo fique tudo na mesma e cada um tenha a presunção de poder influenciar nos bastidores. Há mentalidades que não evoluem e não veem que os jogos se ganham dentro das quatro linhas. Dramatizar erros de arbitragem - e já todos o fizeram! - não serve para outra coisa que não seja procurar esconder os enganos próprios que estiveram na origem dos insucessos desportivos.
Este ano, no que concerne à conflitualidade entre os exércitos dos clubes que não jogam à bola, está a ser pior que mau. Temo que o próximo, quando houver apenas uma vaga directa para a Champions e outra para a terceira pré-eliminatória, possa ser bem pior."
José Manuel Delgado, in A Bola
E se você, leitor, for parte da solução?
"O futebol português chegou a um ponto crítico e não há inocentes: todos somos culpados de levar o espectáculo fora das quatro linhas para o canto perverso em que se encontra.
Jogadores, treinadores, dirigentes, adeptos, jornalistas, ninguém pode ser absolvido.
Mas por partes.
Os jogadores, por exemplo, são culpados por cederem o palco a figuras de interesse duvidoso. Basicamente vendem o direito constitucionalmente declarado de liberdade de expressão: um direito defendido até pela declaração universal dos direitos do homem.
Por que o fazem? Naturalmente por dinheiro.
São demasiado bem pagos para não aceitarem as cláusulas que lhes impõem a obrigação de não fazer declarações públicas sem autorização prévia. Entre um bom contrato e a liberdade básica de expressão, preferem o primeiro.
E mesmo quando falam, não dizem o que pensam nem sequer o que querem dizer: dizem o menos possível, para não perturbar a entidade empregadora. É um direito deles.
Enquanto isso, lá está, cedem o espaço mediático a figuras de interesse duvidoso, e com isso acaba por não se falar de futebol: fala-se de suspeição, ódio e conspiração. É pena.
Nesta altura entram nesta equação os dirigentes.
São, em boa parte, pessoas sem formação e que se deslumbram com a faculdade de manipulação das massas que o posto lhes confere. Deixam-se embriagar pelo poder e sentem uma necessidade vertiginosa de estar sempre nas manchetes.
O delírio do poder é tão grande que acabam até por subverter o próprio princípio básico da democracia: para eles o importante não é serem sufragados pelo trabalho que fizeram, o importante é eternizarem-se no poder enquanto for vontade própria.
Para isso enchem os sócios de teorias absurdas, desculpabilizam fracassos atacando rivais, criam teorias da conspiração, enchem o futebol de ódio, rancor e suspeição.
Manipulam as massas de forma a manter a popularidade e garantir uma reeleição. Como? Criando uma barreira entre nós os bons e eles os maus, nós os leais e eles os corruptos, nós os íntegros e eles os violentos. Raramente, portanto, falam com honestidade.
Podemos contar com eles para tornar o futebol um local mais respirável? Claro que não.
Seguem-se os jornalistas, talvez os maiores culpados do ar irrespirável que se sente à volta do futebol português: felizmente dentro do relvado não é assim.
Os maiores culpados por uma razão simples, porque ser jornalista é fazer escolhas. É recusar ser pé de microfone e decidir não publicar o que lhe parece não ser notícia.
Felizmente trabalho num jornal que não tem antigos árbitros a analisar lances, que raramente fala de arbitragens e que não dá voz a dirigentes: não escreveu, por exemplo, uma linha das declarações dos últimos dias de Bruno de Carvalho ou Pinto da Costa, e apenas divulgou uma pequena passagem em que Luís Filipe Vieira falava do dérbi.
A linha editorial é só escrever o que os dirigentes dizem da gestão interna dos próprios clubes. Mas infelizmente não somos a regra, somos a excepção.
Porquê? Quero acreditar que tem muito a ver com a crise na imprensa.
Ainda há dias a Cofina - do Correio da Manhã e Record - despediu 55 pessoas. Há dois anos foi a Controlinveste, de O Jogo, JN e DN. Para o próximo ano pode ser o Público, A Bola ou o Maisfutebol. Sejamos claro: os jornalistas vivem com a corda no pescoço.
O caso da Cofina é paradigmático. Não despediu 55 pessoas porque teve prejuízo, despediu-as porque caiu 14 por cento nos lucros. Teve um lucro de dois milhões de euros, mas para os administradores isso é pouco, significa que não estão a gerir bem a empresa e por isso a solução é despedir pessoas, cortando nos custos com o pessoal.
O que exigem é que os jornais aumentem os lucros, tendo menos gente para trabalhar. Como isso é possível? Não é seguramente fazendo um melhor jornalismo, até porque têm menos meios para isso. A solução é plastificar: dar mais polémicas e sensacionalismos.
Vamos culpar os jornalistas por isso?
Vamos pedir ao jornalista que viu o colega ao lado ser despedido - e que sente que da próxima vez pode ser ele -, que discuta com o chefe de redacção ou com o director que o jornal não deve publicar um presidente a lançar suspeições sobre outro?
A pirâmide de Maslow explica tudo isto muito bem: ninguém pensa em roupas bonitas quando não tem comida na mesa. Chama-se instinto de sobrevivência.
O que sobra, afinal?
Sobram os adeptos: não aqueles adeptos que vão a todos os jogos , que têm bilhetes mais baratos, transporte pago pelo clube e espaço na bancada para desenvolver actividades de legalidade duvidosa. Sobra o outro adepto, aquele que não ganha nada com o jogo: a não ser uma alma cheia e um sorriso nos lábios.
Sobra você, leitor, que se me está a ler é porque gosta de futebol, caso contrário estaria a discutir a liga da verdade num fórum qualquer.
Sobra no fundo você que recusa ser carne para canhão, recusa ser mais um número para as audiências, recusa ser parte da manipulação de massas.
Você que é pai, ou vai ser pai, e não quer que o seu filho seja educado num ambiente de guerrilha como este: um ambiente pesado, cinzento, depressivo. Não quer, enfim, que o seu filho um dia só saiba discutir futebol pelo prisma da arbitragem, sem perceber a beleza do jogo, porque foi a isso que foi habituado durante anos.
Por isso, da próxima vez que alguém quiser comentar a última provocação de Rui Gomes da Silva, diga que não vê esses programas.
Da próxima vez que alguém quiser discutir uma boca de um dirigente, diga que gosta demasiado de futebol para estar a comentar política: mas que está disponível para falar da surpresa que foi aquele livre de Lindelof.
Que está disponível para dividir um garrafa de vinho em torno das memórias que o levaram a apaixonar-se por um clube, que está disponível para jantar enquanto veem o próximo jogo, que está disponível para celebrar o futebol como a amizade: de espírito livre e alma cheia.
Porque só assim é que o futebol faz sentido: no pedestal de jogo mais bonito do mundo."
PS: Como não podia deixar de ser o 'escolhido' para representar os 'maus-paineleiros', foi o Rui Gomes da Silva... senão fosse ele, seria o Pedro Guerra, e se não fosse ele seria o André Ventura...!!! Estes 'tiques' são difíceis de disfarçar...