quarta-feira, 29 de março de 2017

Penálties. Que penálties?

"Pelo que se ouve dizer, se têm sido marcados os 485 penálties que reclama só nesta temporada, por esta altura, o Porto liderava o campeonato nacional e seria favorito a vencer a Champions. Mas como penálties por marcar há para todos os gostos e todas as repetições televisivas, talvez valha a pena fazer outro exercício: olhar para os penálties efectivamente marcados.
Os números, de facto, impressionam.
Nos últimos quatro anos, o Sporting teve 36 penálties a favor; o Porto 32 e o Benfica 26. Será que este indicador nos diz alguma coisa? Se pensarmos que o Benfica foi a equipa que mais venceu e também a mais atacante nos últimos anos (288 golos marcados contra 256 do Porto e 249 do Sporting), é estranho que esta dinâmica atacante resulte num número inferior de grandes penalidades.
Tão relevante como o número de penálties é, como é sabido, o momento em que são assinalados. E aqui, de novo, uma série longa causa estranheza: dos 36 penálties de que o Sporting beneficiou, 14 foram assinalados com o jogo empatado; no caso do Porto, o rácio é ainda mais favorável, 17 em 32 (isto é, mais de metade); já o Benfica, em 26 penalidades, apenas seis foram marcadas com o marcador empatado.
Projectemos agora o exercício à actual temporada. Enquanto o Porto teve seis penálties a favor, cinco deles foram assinalados com o resultado empatado; já o Benfica beneficiou de quatro penálties, mas apenas um com o jogo empatado. É estaticamente curioso que a equipa que mais atacou nos últimos anos seja aquela que tem menos penálties, e ainda mais curioso que estes sejam menos decisivos para a marcha do marcador.
Querem mesmo continuar a falar de penálties?"

Ranieri & Wenger

"A chicotada psicológica é um clássico do futebol. Na América do Sul, é mesmo uma rotina. Por cá, este ano tem sido um fartote: já vamos em 17 mudanças na 1.ª Liga.
Ao invés, onde mais rara é esta figura de resgate salvífico face a maus resultados, é na mátria do futebol: a Inglaterra. Verdade seja dita que já foi menos usada, quando os clubes não eram pertença, como agora, de riscos-cometa em modo árabe, russo, asiático ou chinês.
Dois casos merecem mais a atenção. Um foi o despedimento de Claudio Ranieri de técnico do Leicester, que alcançou um de todo impensável titulo de campeão inglês perante os tubarões de Manchester, Liverpool e Londres. Este ano sucedeu o esperado: o clube voltou à normalidade e luta pela permanência. Mas Ranieri foi amargamente despedido e substituído por um curioso Shakespeare. Logo a seguir ao promissor 1-2 em Sevilha para a Champions que, como se viu, foi essencial para esse novo feito das raposas: chegar ao grupo dos melhores 8 da Europa!
O outro caso é o oposto deste. Refiro-me à permanência há 21 (!) anos de Arsène Wenger como líder do Arsenal. Uma eternidade que, diferentemente de Ferguson no Man. United, não se explica pela quantidade de títulos (teve-os, mas escassos). Ainda agora com o Bayern perde os dois jogos por vergonhosos 2-10. Fala-se que continua a haver hipóteses de renovação do contrato que ora termina. Não sei se me hei-de espantar mais com a credulidade dos dirigentes arsenalistas se com a infinita paciência e placitude dos seus adeptos.
Como, através de opostos, Ranieri e Wenger se fundem!"

Bagão Félix, in A Bola

Carta aberta a Gianni Infantino

"Exm.º presidente da FIFA.
Bem sei que o senhor esteve na semana passada em Portugal e foi muito elogioso para com o futebol cá do burgo. Os louvores endereçados têm toda a razão de ser. Afinal, um país de 10 milhões de almas residentes à beira-mar conseguiu conquistar o Euro no pino do verão passado - sabe, damo-nos bem com o calor e, normalmente, reagimos bem às provocações e à altivez, como fizeram os franceses.
O senhor é ítalo-suíço e, por isso, vive entre a frieza e a organização helvética e o meio caos e o sangue quente italiano. Como convite entre dois mundos, talvez perceba o pedido que lhe vou endereçar. Pronto, cá vai: não dá para autorizar a organização de uma grande prova todos os anos na qual Portugal esteja obrigatoriamente presente?
Sei que este meu desejo será um bocado complicado de satisfazer - talvez que tenha de recorrer ao lado italiano do desenrascanço - mas talvez seja a solução para desanuviar o ambiente, já que nem nos jogos de Selecção em solo nacional as guerrinhas e as polemicazinhas deixam de transbordar dos gabinetes do poder.
Sabe, senhor Presidente da FIFA, o futebol é das raríssimas indústrias em que conseguimos ser competitivos a nível mundial, mas por vezes quando olhamos para tudo aquilo que envolve o processo interrogamo-nos como conseguimos tão bom produto.
Enquanto decorrem as grandes competições, normalmente vê-se um país envolvido, empenhado e os clubes atarefados em preparar novas épocas e em descobrir mais um craque num qualquer lugar recôndito (ou não) do mundo e pouco falam.
Se estivermos sempre numa boa competição, se ganharmos festejamos; se perdermos discutimos os motivos dos desaires. Mas, pelo menos, não há estas coisinhas. Não dá mesmo para me fazer a vontade?"

Hugo Forte, in A Bola

Estado de guerra

"Para quem gosta verdadeiramente de futebol (o que é substancialmente diferente de gostar de um clube, embora sejam sentimentos compatíveis em mentes sãs), parece que às vezes a única forma de manter saudável essa ligação, em Portugal, é desligarmo-nos, no espaço entre jogos, de tudo aquilo que rodeia esse futebol e que é cada vez mais podre, sujo, doentio. O estado de guerra permanente sugere a contratação de generais em vez de directores desportivos, ao mesmo tempo que se recrutam soldados entre os fracos de espírito e se promove a comunicação e a politica ao estilo dos ministérios de propaganda das ditaduras. E a culpa é de todos. A começar pelos três grandes, que deviam dar o exemplo.
O Sporting, na era Bruno de Carvalho, só sabe semear ventos e colher tempestades, tornou-se no clube mais conflituoso de que há memória; o FC Porto, habituado que estava à hegemonia, procura encontrar todas as razões e mais alguma (menos o mérito desportivo) para justificar o recente sucesso encarnado e procura sabotar qualquer hipótese de as águias chegaram ao tetra, através de um tresloucado jogo de vale tudo (até flatulência verbal); o Benfica, que em anos e anos a fio também não soube reconhecer o mérito do FC Porto no período dominador dos dragões (com conquistas europeias pelo meio, não esquecer), agarrando-se a apitos dourados e afins, surge nesta recta final de temporada a dar exemplo máximo de hipocrisia, ao trocar o silêncio cómodo de quem parecia estar a caminho do tetra pelo ruído constante de quem viu a vida complicar-se com a aproximação do FC Porto.
Dentro do campo, que é o que interessa, a luta tem sido bonita, e sábado, no dia das mentiras, a única verdade será a daqueles 90 minutos, mesmo que um erro do árbitro possa ditar o desfecho. Oxalá que não aconteça, mas acreditem: prefiro mil vezes isso do que a vitórias das estratégias primitivas, saloias e malcheirosas. Não quero um futebol de anjos mas estou farto de demónios."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: Estive para não 'postar' esta crónica. Estas são as crónicas que mais me irritam...!!! Mas vamos por partes:
- Um Benfiquista, que desvaloriza o Apito Dourado e afins... para depois afirmar que está farto de estratégias malcheirosas: não faz qualquer sentido!!!
- Como é que é possível falar do suposto 'silêncio cómodo', e na mesma frase criticar o 'ruído' recente do Benfica, quando esse 'ruído' foi na consequência de uma pública invasão do Centro de Treinos dos Árbitros, com ameaças e intimidação, públicas... com a omissão total dos responsáveis da Liga e da FPF, dando força ao clima de intimidação, e com consequência directa do resultado final dos jogos do Benfica e dos Corruptos?!!!!
- Sendo que a 2.ª fase do 'ruído', foi dirigida exclusivamente ao CD da FPF...
- Como é que é possível confundir isto tudo, com o 'ruído' dos Lagartos e dos Corruptos: com coacção pura e dura sobre as nomeações... e sobre os processos no CD!!! Além das ofensas constantes ao Benfica, aos nosso dirigentes e a todos os Benfiquistas que defendem o Benfica em público...!!!
Este é mais um exemplo de como um Benfiquista, garante 'tacho', projectando uma imagem de imparcial, misturando tudo...!!!
Até consegue concluir, que depois disto tudo, a 'luta tem sido bonita'!!!!!!!!
Esta crónica, também explica, como é que A Bola vai perdendo qualidade com o tempo, como foi possível observar hoje com uma capa surreal, no dia seguinte a um jogo da Selecção!!!!! Onde um castigo que peca por escasso a um deficiente mental, que por acaso é Presidente do Sporting, é transformado num castigo a 'pedido' do Benfica!!!

“Por favor, quando estou a jogar, sejam apenas os meus pais...”

"O comportamento desadequado de um conjunto de pais que assistia a um jogo de futebol de crianças em Espanha percorreu as redes sociais e a imprensa de diferentes continentes nos últimos dias, dado os níveis de agressividade demonstrados pelos mesmos.
Na realidade, manifestações desta natureza tive, inclusive, a "oportunidade" de assistir no inicio da minha carreira, ao integrar equipas técnicas de escalões de formação seja em contexto de clube ou selecção.
Infelizmente, era (há 20 anos) demasiado frequente ver "adultos" (não sei se na realidade o eram... dada a falta de maturidade exibida), ora a insultar árbitros, ora a insultar a equipa adversária (nota: crianças da idade dos seus próprios filhos). Não menos frequente era, quando leccionava nos cursos de formação de treinadores (de diferentes modalidades), receber de treinadores "exasperados", comentários como: "O que eu gostava é que eles fossem todos órfãos!".
Acredito que, hoje em dia, esta seja ainda uma realidade em muitos locais.
Este é, sem dúvida, um problema multifactorial que se inicia nas casas de cada um de nós e termina nos diferentes níveis de hierarquia desportiva, sendo necessário, para o minimizar, que haja uma acção consertada de envolvimento dos Encarregados de Educação... ora recordando-os, ora ensinando-os acerca da importância do seu papel, enquanto progenitores de crianças que escolheram o desporto como via de expressão da sua própria identidade.
E, é efectivamente aqui que tudo isto que se complica pois, de facto, a experiência performativa precoce (desportiva, artística, outras) alavanca fortemente futuros traços de personalidade... que, irão ser o motor de sucessos ou insucessos futuros.
Recentemente, a organização "I Love to Watch You Play" editou um pequeno vídeo que recomendo vivamente (veja abaixo) onde, simplesmente, foi perguntado a um conjunto de crianças e adolescentes como se sentiam no que respeita à presença dos encarregados de educação nos seus treinos/jogos.

O resultado deste vídeo é verdadeiramente interessante porque evidencia cirurgicamente o que eles sentem: pressão, vergonha... e, se por algum instante lhe ocorrer que "isto é lá nos EUA", na realidade, o fenómeno "cá no nosso quintal" é o mesmíssimo... Ouço-o com muita frequência, ainda nos dias de hoje.
E, sim, de facto, eles desejam apenas o mais "básico":
Sentirem que, independentemente do resultado, dos golos marcados ou sofridos, quando chegam a casa recebem um abraço e lhes seja perguntado: "divertiste-te?".
É, no entanto, um "básico" que, em alguns dias, é praticamente quase impossível de atingir. 
Globalmente, as pessoas andam em "piloto-automático", com muito pouco tempo para darem atenção aos seus próprios sinais de regulação emocional, envolvidas em processos altamente stressantes e esgotantes, com muito pouca capacidade de cuidarem de si próprias, logo, com muita dificuldade de controlo de impulsos, pelo que, um erro do árbitro, de um treinador, um comentário alheio... transformam-se na "desculpa" ideal para extravasar toda a tensão acumulada no dia ou na semana.
No entanto, quando andamos em "piloto-automático", e com o intuito de nos mantermos focados no essencial, às vezes, pequenas "cábulas" para nos recordar o essencial, ajudam muito!"

Regressar ao passado mau

"Recurso a estratagemas antigos que, no caso, visa dois propósitos: impedir que o Benfica chegue ao tetra e retardar o colapso do ministério de Pinto da Costa

Neste charco de indecências em que o futebol português chapinha, os acontecimentos mais recentes mostram à saciedade que o vale tudo, sem olhar a meios nem medir consequências, continua activo e apostado em recuperar mordomias perdidas.
Em troca de uma conquista desportiva tudo se permite e tudo se perdoa. É a hipocrisia elevada à máxima potência, por debaixo da qual se aceitam malfeitorias e se promovem bandos de arruaceiros em grupos de bons rapazes que apenas pecam por excessos comportamentais, próprios da idade e cujas responsabilidades são por regra perdoadas.
Quando pensamos que já vimos de tudo, depressa nos damos conta do erro. Há cabeças luminosas que devem funcionar ininterruptamente para inovarem, agitarem e incomodarem quem quer frequentar os estádios apenas para ver futebol, se o autorizarem, de preferência na companhia da família. Na noite de sábado, assistiu-se a uma invasão tranquila vinda de algum lado, com a bendita ideia de apoiar a Selecção. Coisa estranha em lotação esgotada pela única claque unanimemente autorizada e que se chama 'Portugal'.
Tudo não passou de encenação mal amanhada e que, provavelmente, até serviu de ensaio geral para desempenho a condizer de 1 de Abril, embora tivesse sido motivo bastante para gerar indignações de conveniência em fracas memórias, esquecidas, por exemplo, de uma ocasião em que a Selecção viajava para a Galiza e teve de fazer o transbordo em Gaia, entre comboio e autocarro, de maneira a evitar cruzar-se com uma comissão de boas-vindas que tinha sido preparada para recebê-la com beijos e palmas, em Campanhã.
Estamos a assistir, nem mais nem menos, a uma tentativa de regressar ao lado mau do passado, depressa e em força, como alguém terá ordenado em tempos. É o recurso a estratagemas antigos, é o tal vale tudo que, no caso,visa dois propósitos: impedir que o Benfica chegue ao tetra e, consequentemente, retardar o colapso do ministério de Pinto da Costa.
É evidente que nenhum problema resulta de águias e dragões quererem ser campeões e lutarem por esse objectivo com todos os argumentos disponíveis. Rui Vitória e Espírito Santo são treinadores competentes e com trabalho relevante, por isso estão no topo da classificação. A rivalidade forte e leal dá saúde ao jogo e eleva a qualidade do espectáculo.
O problema não reside nos treinadores, muito menos nos jogadores. Localiza-se, sim, hoje e ontem, em dirigentes que ora se consideram donos da razão, ora, quando a intimidação não pega, recorrem a emaranhadas teias de influências no sentido de interferirem e, se necessário for, adulterarem o normal desenvolvimento de uma competição.
No antigamente, era precisamente por estas alturas que os árbitros eram chamados ao palco para acerto de conversas alinhavadas em espaços comerciais que  a confraria do apito patrocinou e alimentou durante anos. Utilizo o verbo numa forma passada com intenção. Árbitro que quisesse subir na carreira sentia-se obrigado a frequentar determinados estabelecimentos de comida e de bebida para ficar bem visto. Os nomes desses locais eram conhecidos, mas a memória débil das pessoas (quase) tudo esquece...
Acredito, porém, que o presente é diferente, muito diferente, para melhor, obviamente. O sector dea arbitragem quer libertar-se e proclamar a sua independência ética e moral, mas há forças contrárias que o querem manter obediente e silencioso.
O Benfica lidera, mas tem gaguejado no seu futebol, o Porto é segundo, mas tem mantido seu caminho ascensional, e o campeonato está próximo do fim: condimento para transformarem o clássico do próximo sábado em jogo mais especial ainda e prometerem rajadas de boçalidades até lá, como a 'peregrinação' à Luz deu para entender. Mais uma vez sem culpas nem culpados.
Nota - Afirmou o chefe da claque dos Super Dragões à SIC Notícias que a única questão preocupante no Portugal-Hungria se limitou a pretensa agressão a Jaime Marta Soares. A isto chama-se genuíno espírito solidário na afinidade FCP-SCP. Quem diria!... Fernando Madureira abordou, no entanto, outro ponto que considero merecedor de reflexão: o Benfica não tem claques legalizadas, mas dá-lhes cama e comida, o que vai dar a mesmo.
(...)"

Fernando Guerra, in A Bola

PS: É incrível como o argumento das claques 'legalizadas' continua a desbravar crónicas!!!
Será que as claques legalizadas pagam impostos?! Será que as claques legalizadas deixaram de ter comportamentos desviantes? Será que algum dirigente das claques legalizadas foi penalizado pelo comportamento da respectiva claque?
E já agora, os nomes (e outros elementos de identificação) dos elementos das claques legalizadas, que foram entregues às autoridades, são dos membros das Direcções das respectivas claques?!
A hipocrisia como se continua a falar de claques legalizadas, ou se deve a pura ignorância ou então é simplesmente para desviar as atenções...!!!