"O comportamento desadequado de um conjunto de pais que assistia a um jogo de futebol de crianças em Espanha percorreu as redes sociais e a imprensa de diferentes continentes nos últimos dias, dado os níveis de agressividade demonstrados pelos mesmos.
Na realidade, manifestações desta natureza tive, inclusive, a "oportunidade" de assistir no inicio da minha carreira, ao integrar equipas técnicas de escalões de formação seja em contexto de clube ou selecção.
Infelizmente, era (há 20 anos) demasiado frequente ver "adultos" (não sei se na realidade o eram... dada a falta de maturidade exibida), ora a insultar árbitros, ora a insultar a equipa adversária (nota: crianças da idade dos seus próprios filhos). Não menos frequente era, quando leccionava nos cursos de formação de treinadores (de diferentes modalidades), receber de treinadores "exasperados", comentários como: "O que eu gostava é que eles fossem todos órfãos!".
Acredito que, hoje em dia, esta seja ainda uma realidade em muitos locais.
Este é, sem dúvida, um problema multifactorial que se inicia nas casas de cada um de nós e termina nos diferentes níveis de hierarquia desportiva, sendo necessário, para o minimizar, que haja uma acção consertada de envolvimento dos Encarregados de Educação... ora recordando-os, ora ensinando-os acerca da importância do seu papel, enquanto progenitores de crianças que escolheram o desporto como via de expressão da sua própria identidade.
E, é efectivamente aqui que tudo isto que se complica pois, de facto, a experiência performativa precoce (desportiva, artística, outras) alavanca fortemente futuros traços de personalidade... que, irão ser o motor de sucessos ou insucessos futuros.
Recentemente, a organização "I Love to Watch You Play" editou um pequeno vídeo que recomendo vivamente (veja abaixo) onde, simplesmente, foi perguntado a um conjunto de crianças e adolescentes como se sentiam no que respeita à presença dos encarregados de educação nos seus treinos/jogos.
O resultado deste vídeo é verdadeiramente interessante porque evidencia cirurgicamente o que eles sentem: pressão, vergonha... e, se por algum instante lhe ocorrer que "isto é lá nos EUA", na realidade, o fenómeno "cá no nosso quintal" é o mesmíssimo... Ouço-o com muita frequência, ainda nos dias de hoje.
E, sim, de facto, eles desejam apenas o mais "básico":
Sentirem que, independentemente do resultado, dos golos marcados ou sofridos, quando chegam a casa recebem um abraço e lhes seja perguntado: "divertiste-te?".
É, no entanto, um "básico" que, em alguns dias, é praticamente quase impossível de atingir.
Globalmente, as pessoas andam em "piloto-automático", com muito pouco tempo para darem atenção aos seus próprios sinais de regulação emocional, envolvidas em processos altamente stressantes e esgotantes, com muito pouca capacidade de cuidarem de si próprias, logo, com muita dificuldade de controlo de impulsos, pelo que, um erro do árbitro, de um treinador, um comentário alheio... transformam-se na "desculpa" ideal para extravasar toda a tensão acumulada no dia ou na semana.
No entanto, quando andamos em "piloto-automático", e com o intuito de nos mantermos focados no essencial, às vezes, pequenas "cábulas" para nos recordar o essencial, ajudam muito!"
No entanto, quando andamos em "piloto-automático", e com o intuito de nos mantermos focados no essencial, às vezes, pequenas "cábulas" para nos recordar o essencial, ajudam muito!"
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