quinta-feira, 9 de março de 2017

A normalidade da Champions

"O futebol tem no seu código genético uma ilusão esperançosa ilusória que, aqui e acolá, até se concretiza..Não foi o caso de ontem. Contra factos (Borussia) não há (nem houve) argumentos. Os alemães são melhores, nada a dizer. Concretizaram em casa o que falharam na Luz. Aubameyang marcou em Dortmund (3) o que não alcançou em Lisboa. Até aos 2-0, o Benfica estava a aguentar-se bem melhor do que na primeira mão e até teve uma grande oportunidade de empatar, imediatamente antes do golpe final alemão.
Está provado que só um sorteio favorável ou duas noites transcendentes permitem às equipas portuguesas ultrapassar os oitavos da Champions, que funciona cada vez mais a duas velocidades. Mas o Benfica está bem acompanhado no grupo das equipas até agora eliminadas:Arsenal, (sofreu 10 golos), PSG (levou 6) e Nápoles (levou outros 6). Dos 8 encontros, só o Benfica e o PSG desafiaram a lógica, ganhando os jogos em casa.
O Borussia havia ganho ao Real Madrid o primeiro lugar na fase de grupos. Tem jogadores muito bons, mas sobretudo um modo directo, linear, simples, tacticamente corajoso e inovador de jogar à bola. Sem rodriguinhos, sem manhas, sem desculpas para o chamado "azar".  Verdade que o Benfica apresentou um futebol abaixo do que, no ano passado, resistiu ao poderio bávaro. Agora é concentrar-se no campeonato e perceber que chegou onde poderia ter chegado na Europa. Gostei do apoio dos adeptos.
Uma última palavra para o apuramento do Barcelona. Para as grandes equipas não há impossíveis. Um hino ao futebol."

Bagão Félix, in A Bola

PS
Nada me move contra o Barcelona... mas a não marcação do penalty sobre o Di Maria ao minuto 84, é uma das coisas mais absurdas que vi nos últimos tempos...!!!
Elogiar a remontada do Barça, sem destacar a 'forma' torta como foi obtida, é ser conivente, para que os jogos de futebol continuem a ser decididos por factores estranhos aos 22 jogadores em campo!!!
Ontem, nos dois jogos, da principal competição de clubes a nível Mundial, as decisões erradas dos árbitros tiveram influência directa no resultado das eliminatórias... e coincidência das coincidências, as equipas 'favoritas' ganharam!!!

A vitória de 18 mil sportinguistas e de... 6 milhões de benfiquistas

"Até lá, todos os falhanços serão compreensíveis face à promessa (pequenina) de ser campeão neste mandato (1 em 8).

Quase unanimidade
No dia seguinte às eleições, encontrei, em Francisco Proença de Carvalho, o resumo perfeito de tudo o que pensávamos!
«Coisa rara, mas acontece: benfiquistas e sportinguistas estão de acordo. Ambos acordam este domingo com a convicção de que o Sporting está no rumo certo».
Todos, não... como na aldeia de Asterix, que teima em pôr em causa a pax romana na Gália de então.
Todos, não... porque há sempre incompreendidos, liderados, neste caso, por Pedro Madeira Rodrigues, que tiveram razão antes do tempo (que é o mesmo que não ter razão).
Eu sei que a expectativa que a alternativa gerava era fraca!
Então, se comparada ao super adepto que confunde e - pelo que vi anunciado - vai confundir ainda mais a sua vida com o clube de que é presidente...
Não o fez e não vai fazer nada de relevante, a não ser cumprir o que, uma vez, afirmou: lá ficar, pelo menos, 20 anos!
Como diria o Embaixador Fernando Fafe - recentemente falecido a quem presto a minha homenagem na vertente que aqui interessa, a de fervoroso academista e que, apesar de ser um homem de cultura, não tinha vergonha de gostar de futebol -, ... «da ideia que uma pessoa faz de si, posso antecipar a sua resposta a uma situação»!

Um estado de graça que se esgotou em menos de 24 horas
Pois ele acha-se um verdadeiro predestinado e por isso atropela, desrespeita, desconsidera e insulta tudo e todos!
Nele tudo é encenação, tudo é teatro, tudo parece ensaiado, ... nada parece espontâneo!
Até os impulsos parecem preparados.
E foi esse improviso que começou a matar uma legitimidade, reforçada nas urnas, especialmente por aqueles números!
E o que fez quem ganhou dessa maneira?
Começou, logo ali, a delapidar o seu capital.
Com um insulto sem qualquer justificação (a não ser ele pensar mesmo aquilo).
Para depois prometer o que havia prometido no início dos 4 anos que ali terminavam... como se eles não tivessem existido.
Prometendo o céu como se não fosse ele o responsável pelo inferno do que tinha acabado.
Como se estivesse acabado de chegar e pudesse fazer do passado - do seu passado - uma coisa que não lhe dissesse respeito.
Com a conivência de quem o elegeu, mas com quem ele não se confunde.
Percebe-se - naquele discurso, como em todos os outros - que se considera acima deles, como um predestinado do universo verde branco, mas não um deles.
E isso é evidente em cada frase, em cada afirmação, em cada declaração em que se coloca - a ele - de um lado e os sócios de outro.
É a distância que cultiva, como se ela lhe garantisse o carisma que a natureza não lhe ofereceu!
Porque, sendo sócio, é mais do que um sócio!
Por isso se sente incomodado com jornalistas e... comentadores, porque a liberdade de expressão... só o banaliza.
Um predestinado que no resultado do jogo de domingo, viu esfumar-se outra parte substancial da sua legitimidade.
Que ainda tentou remediar... ao pedir desculpa pelo 1-1 de que ele - semi Deus reeleito - não teria tido qualquer responsabilidade.
Desculpa que viu logo destruída quando destinatário dessa culpabilização (ainda não tinham decorrido 18 horas de anúncio da vitória) se apressou a dizer que o empate era fruto da... inexistência de uma estrutura.
Que ele, agora reeleito, deveria ter construído nos últimos anos.
Para bom entendedor...
E assim começaram 4 anos... como tinham acabado os 4 anteriores: sem ganhar e sem que alguém fosse responsável!

Do sonho do resultado aos pesadelos de JJ  e PMR
Apesar de ter delapidado esse capital com o insulto e o resultado, tentou ganhar, para si, todo o tempo que pudesse!
Fazendo do tempo um aliado, ao prometer ser campeão... em 4 anos.
Tem, por isso, esses mesmos 4 anos para poder falhar!
Apenas precisando de ir à frente ou ter hipóteses de ser campeão na época de... 2020/2021, quando houver eleições.
Até lá, todos os falhanços serão compreensíveis, face à promessa (pequenina) de ser campeão neste mandato (1 em 8)!
Só que vai ter adversários de peso!
Os que jogam contra a equipa dele e... outros dois!
Um que quer ser despedido por ele... e o outro que o quer despedir!
Um é o treinador que lhe vai infernizar a vida sempre que não ganhar... porque, não tendo, nunca, a culpa de nada de mau, deixará quem o contratou sozinho sempre que isso for necessário.
Ele só ganha, porque quem empata ou perde são os jogadores ou a estrutura, ou seja,... o presidente.
O outro é quem se tem arvorado - com ou sem razão, com ou sem legitimidade, com ou sem proveito - em ser o salvador do clube!
E o agora eleito terá de, em cada momento, tentar não ser, na sua cadeira, um qualquer ocupante de um lugar que está reservado a quem se acha com legitimidade para o ocupar.
E não sei sequer a quem terá sido mais conveniente saber-se de uma gravação onde o pretendente explicava como corrigir os desvarios da gestão do clube com um investimento de... 30 milhões de euros.
Se ao actual presidente se ao outro candidato.
A quem conviria divulgar uma conversa daquelas, a poucos dias das eleições quando se sabia que a vitória já não fugia a quem não fugiu?
A quem senão a quem, indo ganhar, poderia desmascarar o ex-inimigo que agora se fazia passar por amigo?
O agora amigo que - parece-me, pelo que vejo - quer o lugar dele, mas não quer ir a eleições... imitando José Roquete (como se a História, depois de ser uma tragédia, se pudesse repetir sem ser uma farsa, como diria Karl Marx).
Isto promete, como prometeu ver a fila interminável de quem, o odiando, optou por o apoiar.
Assim, não ficam de fora do main stream da coisa e se quiserem, como me parece que querem, tentar o golpe palaciano, será mais fácil afastar alguém com 6 anos sem nada a ganhar, do que alguém recém chegado para iniciar tudo se novo!
Mas há uma coisa que todos sabem!
Este que agora voltou a ganhar que se acha um semi Deus, mas que os predestimados nunca deixarão que seja um deles, tem que cair por dentro.
Porque... em eleições, mesmo perdendo no campo, nunca mais o tiram de lá.
Como diria João Gabriel, no dia seguinte... citando Philip Dick (autor das obras de base de Blade Runner ou Minority Report) - «realidade é aquilo que, quando paramos de sonhar e prometer, continua a existir».
E a realidade - por aqueles lados - confunde-se com o preto dos calções e não com o verde das camisolas!!!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Dortmund, território maldito

"Nem drama, nem surpresa. O Benfica mora num patamar abaixo deste Dortmund.

54 anos, para esta mesma prova minha da UEFA, o Benfica derrotou o Borussia Dortmund por 2-1 na Luz e foi perder por 5-0 à Alemanha. Desta feita, a história repetiu-se, saindo as águias goleadas por 4-0 do Iduna Park depois de um triunfo por 1-0 em Lisboa. Há, porém, uma diferença substancial entre estas eras. Na década de sessenta o Benfica possuía a equipa mais forte da Europa e só uma série de circunstâncias anómalas ditou o desaire em Dortmund. Hoje, as coisas são muito diferentes, o Borussia tem um conjunto bem mais forte que o Benfica e não haverá, por esse Velho Continente, quem fale em surpresa perante os 4-0 de ontem.
Poderia o Benfica ter feito melhor? Deve dizer-se que, em comparação com a equipa que há um ano foi eliminada pelo Bayern, o Benfica apresenta menos argumentos a meio-campo, o que, a este nível, é fatal. Conhecedor dessa realidade, Rui Vitória procurou maquilhar o mais possível as insuficiências com a entrada de André Almeida, mas a verdade é que o desconforto encarnado, cada vez que a máquina amarela apertava o garrote em acções de pressing muito bem realizadas, era notório e das perdas de bola nasceram situações de grande perigo para Ederson.
O caminho que podia levar o Benfica à glória, nesta eliminatória, era estreito e sinuoso e para ser percorrido com sucesso era imperioso que a eficácia das águias estivesse a cem por cento. Em duas ou três situações os encarnados tiveram hipóteses de marcar e não o conseguiram. Aí esgotaram-se as hipóteses (que já não eram muitas). Quando Rui Vitória mexeu na equipa o destino já estava traçado e não foi por aí, nem deixou de ser, que o Borussia Dortmund, muito superior nos 180 minutos, se qualificou para os quartos de final da Champions.
PS - Não faltou a vingança, servida com a frieza de um hat trick, de Aubameyang. Estava escrita nas estrelas..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Quando a realidade dói

"Percurso encarnado na Liga dos Campeões é motivo de orgulho, mas terminou naturalmente.

Duplo pivô
1. Tendo como pano de fundo o jogo da primeira mão, as dificuldades esperadas em solo alemão era imensas, exponenciadas pelo golo inicial de Aubameyang, a aproveitar marcação fantasma de Semedo, na sequência de bola parada. Temeu-se o pior, mas o Benfica, equilibrado e personalizado, foi mostrando argumentos convincentes e rapidamente o filme de Lisboa passava à história. Apostando num duplo pivô no meio-campo, Rui Vitória mostrava que, apesar do resultado não ter sido animador, as indicações deixadas no jogo em Nápoles indiciavam que esta roupagem defendia melhor os interesses colectivos, pois André Almeida era a muleta que Samaris precisava.

Esperanças
2. Os primeiros 45 minutos mostravam que a abordagem era correcta, sendo possível ao Benfica discutir a eliminatória em território alemão e mostrar que, apesar de apimentado por grande dose de fortuna no resultado da primeira mão, as diferenças reais entre os dois conjuntos eram passíveis de serem diluídas com exibição perfeita nos vários momentos do jogo. O momento defensivo - à excepção do lance do golo - era quase perfeito, com as entrejudas a revelarem-se determinantes para a coesão do bloco encarnado, assim como o controlo da profundidade - aspecto fundamental para parar as constantes movimentações da armada Aubameyang e companhia. Suspirava-se então para que, na posse de bola e com critério, a equipa pudesse ter capacidade para fazer chegar os extremos para perto do isolado Mitroglou. Era o que faltava para que a primeira parte fosse mais promissora e guardasse legítimas esperanças para a segunda parte, assim como o conjunto da eliminatória.

Ferido
3. Uma oportunidade desperdiçada pelos encarnados logo no início da segunda parte fez aumentar os níveis de confiança para a crença benfiquista, mas o desenvolvimento do seu jogo ofensivo fazia aumentar a exposição espacial da sua estrutura defensiva, convidando às investidas profundas dos exímios executantes alemães. Dois golos em 2 minutos quando o jogo aparentava equilíbrio, fez perceber que mesmo organizado tacticamente e com os sectores muito compactos a realidade revela que infelizmente para nós, portugueses, é realidade crua e que dói: a diferença de valor individual e colectiva entre o Dortmund e qualquer equipa deste canto à beira mar plantado é imensa e a segunda parte trouxe a nu as gritantes insuficiências encarnadas para nivelar esta eliminatória. A capacidade única dos germânicos em interpretar o primeiro tempo da defesa (transição defensiva), o exímio alinhamento do seu sector defensivo na exploração da lei do fora de jogo, a velocidade dos seus processos ofensivos, tudo somado, atropelava as simpáticas intenções de Luisão e suas tropas, sem argumentos para contrariar o valor superlativo dos visitados. Mesmo recorrendo ao habitual 4x4x2, ou chamando a jogo Jonas e Jiménez, o Benfica nunca mais reentrou no jogo, ferido de morte e moribundo, perseguia de forma mais emotiva que elaborada fugir ao destino traçado pelos panzers germânicos, cada vez mais confortáveis na partida.
O que faltou a Aubameyang em Lisboa (eficácia) sobrou-lhe ontem e qualquer analise mais profunda aos erros encarnados e às virtudes alemãs, qualquer tentativa de descobrir responsabilidades pela derrocada, assenta acima de tudo no que se enfatizou ao longo desta crónica: os 180 minutos desta eliminatória revelaram que o percurso encarnado nesta Liga dos Campeões é motivo de orgulho, mas terminou naturalmente ontem porque o adversário é melhor em quase tudo o que uma equipa contém."

Daúto Daquirá, in A Bola

Adeus Champions, venha o 36

"A mensagem não podia ser mais clara:« Benfica dá-me o 36!» Foi ao som deste cântico que os jogadores do Benfica deixaram o relvado do estádio do Dortmund, conformados pelo apoio dos adeptos mas responsabilizados para o desafio mais importante da equipa. Agora que o Benfica se despediu da Champions, a turba encarnada quer o tetracampeonato.
Cerca de 5000 benfiquistas fizeram da segunda mão dos oitavos de final da Champions uma festa. O centro da cidade de Dortmund foi pintado de amarelo e preto e, também, de um vermelho vivo de esperança. Muita confraternização e fair play, muitos cânticos a ecoarem nas ruas de Dortmund. O mau tempo (temperatura a rondar os cinco graus e alguma chuva) não arrefeceram o entusiasmo dos benfiquistas, esperançados no apuramento para os quartos de final da Champions depois da vantagem alcançada em Lisboa (1-0) com o golo de Mitroglou.
No palco do Dortmund, começou por prevalecer, porém, o cântico que abre a cortina de todos os jogos - You´ll Never Walk Alone (nunca caminharás sozinho), prometiam os alemães á equipa. E o Estádio Westfalen parecia um vulcão em erupção quando Aubameyang marcou logo aos quatro minutos. Eliminatória empatada. Com o passar dos minutos, porém, a força teutónica perdeu fulgor e começaram a ouvir-se os cânticos de apoio à equipa de Rui Vitória. Não pode o Benfica queixar-se de falta de carinho do público.
Consumada a goleada, ninguém vestido de encarnado no estádio deixou de reforçar o apoio. No relvado, jogadores, equipa técnica e restante staff dirigiram-se aos adeptos na bancada, agradeceram por tudo. E foram recordados, então, da responsabilidade de vencer o campeonato. « Benfica, dá-me o 36!», ecoou pelo palco que começava a ficar vazio.
É tempo, por isso, de pensar já no jogo de segunda feira, na Luz, contra o Belenenses. Ficou claro que é mesmo isso que importa. Apesar dos apelos constantes do Benfica ao longo da época, os adeptos encarnados acenderam tochas e a utilização de material pirotécnico pode custar caro à SAD. É certo que não houve rebentamento de petardos mas a UEFA é pouco condescendente com os comportamentos incorretos do público."

Fernando Urbano, in A Bola

Da bardam#$da

"Meu caro Dr. Bruno de Carvalho:
Deixe-me contar-lhe a história: Portugal vivia, quente, no PREC - Pavic, o treinador que levara o Benfica a campeão, decidira deixar Lisboa, com um aviso agitado:
- Já passei por uma guerra civil, não quero passar por outra...
e Costa Gomes, o PR, retirou de Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves, o filho de Vítor Gonçalves que jogara na primeira selecção com Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis e que, em 1935, fora o primeiro treinador a fazer do Benfica campeão nacional (sim, é um daqueles que você acha que não vale - e vale) - pôs Pinheiro de Azevedo no seu lugar. Percebendo a ilusão a fugir-lhe, comunistas (& afins...) engalfinharam-se em greves e manifestações, cercaram-lhe São Bento - e Pinheiro de Azevedo respondeu-lhes pondo o seu próprio governo em greve, com frase bombástica:
- Chega! Não gosto de ser ofendido, de ser sequestrado, pá, chateia-me...
Com trabalhadores da construção civil entrincheirados à porta da Assembleia, exigiu a Otelo que o COPCON desfizesse o certo a São Bento, Otelo não lhe obedeceu. 36 horas ficaram deputados à fome, os do PCP não: esses puderam entrar e sair, vitoriados, aclamados. Fora, gritava-se, em fervor e rebuliço:
- Pinheiro de Azevedo fascista...
e ele, explosivo, retrucou:
- Bardamerda para o fascista!
Andara nas candidaturas de Norton de Matos e Humberto Delgado, participara no Golpe da Sé, não admitia que lhe chamassem o que não era - e daí que a reacção ao uivo de quem o insultava, o atacava, tenha sido a que foi: em bardamerda!
Evocando-o, distorcido, como o evocou, o que você mostrou foi diferente: que pior do que não saber perder, é não saber ganhar. Mas mostrou ainda pior: que o presidente de um clube com a grandeza do Sporting ao dizer, em rasquice, o que você disse não se apequena a si mesmo, apequena o seu posto - e, isso, a grandeza do Sporting não merecia por mais ébria que fosse a sua euforia de vitória..."

António Simões, in A Bola

Jonas, o canhão e as moscas

"Acertar em moscas a tiros de canhão nunca foi uma estratégia especialmente inteligente. A paisagem morre e o bicho escapa. Vivinho da silva, inquebrável, qual Henri Charrière. Papillon – o prisioneiro –, se preferirem.
Vem esta ideia a propósito de uma ideia muito minha: Jonas é o melhor futebolista que passou pela liga portuguesa nas últimas épocas.
Jonas, pois então. Juntem-se a mim nesta minha espreguiçadeira da contemplação. Confortáveis? Agora cheguem-se um bocado para lá. Já viram a elegância do senhor?
Já viram a frieza com que executa, a serenidade no momento de decidir? Tudo sem aparente esforço, apenas consequência natural de quem nasceu para isto. Para jogar futebol.
Neste caso, a estatística – 100 jogos, 76 golos – é um eco lógico da realidade, daquilo que os meus olhos analisam e os meus dedos teclam. A renovação do brasileiro com o Benfica é, pois, um prémio para os que não consomem a bola indígena na sofreguidão do fanatismo.
«Oh pá, deixem-se de m….. Um canhão nunca acertou numa mosca! Façam é golos.»
A frase tem direitos de autor. E não são meus. Escutei-a, em pânico, no balneário de um jogo meu no escalão de juniores. Sub19, dizem agora, todos pomposos.
A metáfora explica-se em poucas sílabas: de nada serve bombardear a baliza contrária se a redondinha não entrar onde deve. O mister Luís não tinha nenhum Jonas, o homem dos caminhos certos, e desesperava-se com isso. E desesperava-nos a nós, pobres aspirantes a futebolistas.
As lesões de Jonas nos últimos meses parecem-me uma selva vietnamita pejada de napalm. Vemos as chamas, a destruição, as explosões. Presumimos a inexistência de vida humana. De sobrevivência.
E, no entanto, debaixo da cortina de fogo, provavelmente com uma fita à Rambo na cabeça – prefiro Charlie Sheen em Platoon – lá surge o pacato avançado benfiquista, incólume ao apocalipse e a pedir licença. De Pistola na mão (as Chuteiras Pretas ficavam-lhe tão bem) e ar angelical, um assassino de face cândida.
Em Jonas vislumbro um derradeiro assomo de amor pelo jogo. Uma condição em vias de extinção. Culpa dos serviçais assumidos ou dissimulados dos três grandes e das alucinações que reverenciam. Tudo nos altares que lhes são conferidos nos media.
Só por negligência, dolo quiçá, se pode escrever/dizer/pensar mal do internacional brasileiro. Que trovejem os canhões, Jonas aguenta. Ai aguenta, aguenta."

Cadomblé do Vata

"1. Impressionante como a velocidade de jogo do Dortmund é inversamente proporcional ao ritmo a que corre o relógio quando eles têm a posse de bola... é como meter o Roadrunner num filme do Manoel de Oliveira.
2. Na Luz ganhamos por 1-0 mas os adeptos queixaram-se que o SLB jogou mal... hoje controlamos melhor o adversário e enchemos o saco com 4 secos... o Benfica é isto: o adepto quer, o adepto tem.
3. De falta de inteligência na escolha do dia que escolhemos para ser goleado, ninguém nos pode acusar... o SLB é o puto que traz uma negativa no teste de matemática para casa, no dia em que a irmã adolescente anuncia à família que está grávida.
4. Criticar depois do jogo é fácil e o que não falta por aí é quem questione a marcação à zona nas bolas paradas, o Almeida no meio ou o desmontar do meio campo para meter pontas de lança... há até quem diga que aquela do Cervi, o Rafa não falhava...
5. Os portugueses que hoje se deitam deprimidos só têm de se começar a concentrar na carreira do SLB no campeonato e na Taça de Portugal... bem, os portugueses que hoje se deitam de sorriso nos lábios também têm de se começar a concentrar na carreira do SLB no campeonato e na Taça de Portugal."

Um Benjamin Button na defesa, os Pauliteiros do Alto dos Moinhos mais à frente ( (...) viu Mitroglou a fazer nada)

"Ederson
Teve uma noite com pouco trabalho, dada a avalanche de futebol ofensivo criada pelos colegas. Aproveitou a oportunidade para assistir a uma das melhores noites da história do futebol. Infelizmente é tudo o que vos podemos dizer sobre a exibição de Ter Stegen, uma vez que esta colaboração com o Expresso tem como finalidade analisar a exibição de jogadores do Benfica. Mas esqueçamos por momentos a asfixia democrática. As melhores intervenções de Ederson no jogo aconteceram em lances interrompidos pelo fiscal de linha, que convenientemente deixou a bola rolar nos quatro remates que Ederson não conseguiu defender. Em suma, mais uma trama da UEFA. Se aquele pontapé em Aubameyang na primeira mão tem sido mais certeiro, talvez a história hoje fosse outra.

Nélson Semedo
Terá dito aos jornalistas, após o fim do jogo, que quer ficar muitos anos no Benfica, um lirismo futebolístico cuja fiabilidade estatística está ao nível do voto de confiança que um presidente deposita no seu treinador após meia dúzia de derrotas. Na verdade, depois do que se viu hoje, estranhamos que não tenha pedido asilo político. Procurou agir de forma esclarecida, um pouco como um indivíduo bem educado num arrastão em Carcavelos, não evitando por isso meia dúzia de estaladas sem ter feito nada para as merecer.

Lindelof
Aproveitou a visita a Dortmund para desafiar a lógica e jogar no erro do adversário, uma concepção táctica que costuma resultar em zonas avançadas do terreno. Quis a ordem natural das coisas que esta aposta favorecesse o atacante. Mistérios do futebol. Lindelof não ganhou um único lance aéreo e, descontente com a falta de protagonismo, ainda ofereceu um golo a Pulisic, cimentando o estatuto de Benjamin Button da inteligência defensiva benfiquista.

Luisão
Deu falsas esperanças a milhões de pessoas quando ganhou um lance em corrida a Aubameyang, levando-nos inclusivamente a escrevinhar uma alusão àquele episódio do Ferrari contra o burro nas autárquicas de 1993. Infelizmente, e apesar da exibição esforçada de Luisão, o congestionamento esperado na linha do Benfica mais pareceu o IC19 às 4 da manhã, proporcionando sprints espectaculares do Saxo Cup de Aubameyang e companhia.

Eliseu
O tempo de reacção a algumas iniciativas ofensivas do Dortmund deveria ter obrigado o nosso campeão europeu a soprar no balão. Quase se tornou herói quando arrancou uma falta a Dembelé que justificava o segundo amarelo. Infelizmente o árbitro não concordou, sujeitando Eliseu mais a 50 minutos na condição de mero Eliseu.

Samaris
Esteve em evidência no primeiro golo e foi talvez quem primeiro antecipou o desfecho da partida. Talvez isso explique as muitas faltas que fez já com um amarelo - a sua cor favorita - como que pedindo para sair de campo antes da coisa descambar. Sempre que fala aos jornalistas parece ser o único futebolista no mundo com um QI igual ao batimento cardíaco em ritmo de jogo, mas infelizmente a verbosidade não marca bem à zona. A dupla formada com André Almeida - os Pauliteiros do Alto dos Moinhos - serve para lembrar, neste Dia Internacional da Mulher, que há também muitos homens crescidos que sofrem por esse mundo fora. Saiu aos 74 minutos ovacionado por dois amigos da sociedade Mensa.

Pizzi
Iniciou a melhor jogada do Benfica nos primeiros 25 minutos, que quase dava em golo de Cervi. Liderou as operações com sucesso até final da primeira parte, dando a sensação de que era possível não apenas sair de Dortmund sem quatro no bucho, como até ter adeptos à espera no aeroporto. A coisa acabou já no balneário com um SMS da mulher a dizer que era melhor chamar um Uber. 

André Almeida
Apresentou um novo penteado, mas deu para perceber que era ele.

Salvio
As incursões de Salvio junto à linha lateral continuam a empolgar os muitos adeptos que desejam vê-lo sentado no banco de suplentes, mas não há forma de Rui Vitória nos fazer a vontade. Os seus piores lances esta época davam para seis temporadas e um filme na netflix, e hoje não foi excepção. Conseguiu ser o menos eficiente de todos os que participaram nos melhores minutos da primeira parte. A partir daí, mais do mesmo: foi desaparecendo do jogo, ao ponto de ter sido necessário usar um detector de metais para o encontrar no relvado. Se algum dia o contratarem terão de pagar aquela placa no braço.

Cervi
Foi o melhor jogador do Benfica. Sem bola, demonstrou o espírito humanitário de um capacete azul no Darfur. Com bola, revelou a clarividência de um taxista em hora de ponta, encontrando quase sempre o caminho mais curto e mais rápido para chegar ao destino pretendido. Até a ser substituído conseguiu o melhor. Saiu de imediato pela linha lateral, o mais depressa que pôde, mas não conseguiu esconder o olhar apreensivo de quem não sabe quando voltará a ser titular. Como nós te compreendemos.

Mitroglou
O que é que um grego mal encarado faz sozinho numa quarta à noite em Dortmund? Exactamente: nada.

Jonas
Continua a treinar sem bola, esperando-se que regresse ao treino sem limitações assim que a infecção no departamento médico do Benfica estiver debelada.

Zivkoviv
Coitado. Nem um vídeo do Guilherme Cabral resolveria os problemas do Benfica nesta fase do jogo. 

Jiménez
Aproveitou o final do jogo para pedir mais minutos em campo. Olha, antes isso que um aumento."

Benfiquismo (CDI)

Muita coisa tem que mudar,
para voltar a ter momentos como este...!!!
Mas tudo tem que ser feito
com os pés bem assentes no chão...
Não existem poções mágicas!!!