segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

As pombas e as serpentes. Outra vez...

"Rui Vitória deve meditar no mote de Fernando Santos para a final do Europeu: «Simples como as pombas, prudentes como as serpentes...»

Regressa amanhã a Liga dos Campeões, com o Benfica a receber o Borussia Dortmund, estando o duelo entre o FC Porto e a Juventus, no que toca a equipas portuguesas. Águias e dragões, que protagonizam um emocionante mano a mano pela conquista da I Liga, vêem-se assim obrigados a diversificar a atenção, cientes da importância económica e reputacional da Champions. É muito difícil actuar em pleno no mercado internacional se não houver jogadores em exposição nas maiores montras. Há um ano, graças ao desempenho extraordinário de Portugal no Campeonato da Europa, houve jogadores que viram, por essa via, a cotação a subir em flecha. Mas em temporadas normais, a Liga dos Campeões é o palco de eleição e um objectivo que qualquer clube deve levar muito a sério.
É isso que vai acontecer com Benfica e FC Porto, com os encarnados a terem, poucos dias depois de medirem forças com os amarelos de Dortmund, uma difícil deslocação a Braga, e os dragões, depois de serem anfitriões da vechia signora, a visitarem os axadrezados, grandes rivais da Invicta.
Não é difícil dizer que nem Benfica bem FC Porto são favoritos nas eliminatórias que lhes couberam em sorte. O Borussia Dortmund, que tem estado a atravessar um mau momento de forma, é a segunda melhor equipa da Alemanha, possui uma enorme experiência internacional (foi finalista da Champions em 2013) e conta com um plantel valiossíssimo, capaz de grandes proezas, especialmente no conta-ataque. Virá a Lisboa por certo lembrado das dificuldades que o Benfica, há um ano, colocou ao Bayern de Munique, ou seja, sem entrar em aventuras atacantes e com os olhos postos na partida da segunda mão, onde contará com o apoio do muro amarelo no Iduna Parque.
O jogo da Luz vai constituir um bom teste à maturidade da equipa do Benfica, que deve ser audaz e ao mesmo tempo pragmática, quiça indo buscar inspiração à frase que Fernando Santos leu no Evangelho e adoptou como mote para a final do Campeonato da Europa: «Simples como as pombas e prudentes como as serpentes».
PS - Continua impressionante a capacidade goleadora do Mónaco de Leonardo Jardim na Liga gaulesa, que lidera: 75 golos marcados em 25 jogos (o PSG marcou 50)!

ÁS
André Carrillo
Finalmente, um jogo ao nível do que de melhor pode e sabe fazer. Não foi fácil, para o peruano, a mudança de lado na Segunda Circular. Não só porque pagou o preço de uma paragem prolongada, mas sobretudo porque em cima dele caiu o peso da rivalidade entre leões e águias, o que se tornou quase insuportável...
(...)

Do sonho ao pesadelo
O Leicester arrisca-se a seguir o caminho do Manchester City, campeão de Inglaterra em 1936/37 e relegado à segunda divisão na temporada seguinte; ou do Fluminense que venceu o Brasileirão em 2012 e desceu de escalão em 2013; ou ainda do Nuremberga, que conquistou a Bundesliga em 1967/68 e foi parar à II Divisão na época seguinte. Ontem, em casa de outro dos aflitos, o Swansea, os 'foxes' somaram a quinta derrota consecutiva e estão apenas a um ponto da linha de água, onde se encontra o Hull City de Marco Silva. Dramático!

'Batalha de Gales' entra na história do râguebi
Quem viu o País de Gales - Inglaterra disputado no último sábado, em Cardiff, a contar para o Torneio das Seis Nações, acabou o jogo extenuado. Foi uma batalha épica, ganha pelos ingleses, que contabilizaram o 16.º triunfo consecutivo, sem misericórdia, sem tréguas, sem perdão. Parabéns a todos. Fantástico!"

José Manuel Delgado, in A Bola

Lei 7 - Duração do jogo

"Abordamos hoje a regra que fala sobre o tempo que dura um jogo de futebol. Uma normal simples e fácil, de leitura acessível, que foca, entre outros, aquele que é um dos aspectos mais debatidos do futebol moderno: as perdas de tempo.
Regra de ouro - um jogo de futebol (a lei aqui refere-se apenas aos jogos de seniores) divide-se em duas partes de quarenta e cinco minutos cada.
Esta era fácil, não era?
Mas o certo é que pode ter outra duração, desde que o regulamento da competição o preveja e que, quer o árbitro, quer as duas equipas estejam de acordo, antes do início do jogo.
Exemplo da excepção: partidas de torneios particulares em que o seu regulamento indique que cada parte terá apenas 35m ou 40m.
No meio dessas duas partes, há uma premissa inabalável: o direito ao intervalo.
Esse período de descanso, segundo a lei, não pode durar mais do que quinze minutos.
Considera-se que é o suficiente para permitir a recuperação de todos os intervenientes.
No entanto, também aqui se permite que esse período possa ser diferente, caso o regulamento da competição especificamente o indique.
Qualquer alteração ao tempo de intervalo só pode ocorrer com consentimento do árbitro.
Agora vamos à parte mais importante e diria até, interessante para o caro leitor: a que se refere às perdas de tempo.
Sabem o que diz, expressamente, a Lei 7?
Que cada parte deve ser prolongada para que se recupere o tempo perdido com:
Substituições (a sugestão é que se acrescente 30 segundos por cada uma);
Avaliação de lesões (pelas equipas médicas) ou transporte de lesionados para fora do terreno de jogo - se nada de anormal ocorrer, a expectativa é que se acrescente um minuto por cada paragem;
Perdas de tempo (por exemplo, manobras estratégicas que retardem, deliberadamente, os recomeços de jogo);
Sanções disciplinares (o jogo fica, muitas vezes, parado para que um árbitro identifique os jogadores, exiba os respectivos cartões e anote essa sanção no seu bloco de notas);
Qualquer outra causa, que inclui o excesso de tempo perdido na celebração de um golo. Aqui também cabem causas inesperadas, como lesão grave de um GR (que não pode ser transportado para fora do terreno), desaparecimento das bolas de jogo, queda de neve que atrase reinício, falha de energia eléctrica, etc.
Como já repararam, apenas sobre as primeiras duas há uma indicação clara sobre o tempo a acrescentar. Sobre as outras, é a contagem "a olho" que deve funcionar.
Esse deve ser rigorosa e, acima de tudo, justa.
Exemplo prático: imaginem que, na 2P, houve 4 substituições e 2 paragens para assistência médica. Apenas isso.
Nesse caso, o árbitro deveria prolongar o tempo em mais 4m, ou seja:
4X30'' segundos (substituições) + 2X1' minuto (lesões).
Percebido?
Para que conste, em Portugal, os árbitros de futebol profissional têm agora instruções claras para adicionarem o tempo que entenderem ser o mais adequado, de forma a não penalizar a equipa que, durante grande parte, possa ter sido "vítima" de anti-jogo.
Muitas vezes, é nesses oito, nove ou dez minutos a mais que ocorrem os piores incidentes: os jogadores estão exaustos, irritados (por se sentirem provocados) e sem grande lucidez. A propensão para o conflito e para actos irreflectidos é grande mas isso são inerências difíceis de evitar.
Quando os árbitros decidem adicionar tempo a mais (se fora do padrão habitual), estão aconselhados a informar os capitães das equipas do tempo que irão acrescentar. Para evitar reacções negativas e protestos desnecessárias.

Tempo Adicional
Essa indicação, a do período de tempo adicional, é dada através de uma placa (habitualmente electrónica, embora ainda manual em muitos dos estádios do futebol não profissional) pelo 4A (ou pelo árbitro assistente do lado dos bancos, quando não houver 4A).
O número que surge nessa indicação corresponde ao tempo mínimo que será adicionado após os 45 minutos.
Quer isto dizer que o árbitro nunca pode terminar uma partida antes de esgotado, no mínimo, esse período adicional.
Pode até prolongá-lo se, entretanto, surgirem novos motivos que o justifiquem (como, por exemplo, substituições em período de desconto).
Outra nota importante (esta não vem na lei):
O ideal é que os árbitros terminem os jogos, sempre que possível, em zona neutra, ou seja, mais ou menos com a jogada no meio campo.
O problema é que, por vezes, isso não é possível (acontece com frequência o tempo adicional esgotar-se e a bola andar a rondar, com perigo, uma das áreas).
Aí, as instruções são:
Deixar que termine a jogada de ataque (se for prometedora). E só depois acabar o jogo (na posse de bola defensiva ou na tal zona neutra);
Caso exista um pontapé livre ou pontapé de canto assinalado dentro do período de descontos, deve permitir que seja executado. Se isso acontecer após esgotado esse período, o árbitro deve dar jogo por terminado.
Exemplo - O árbitro dá 3 minutos de compensação.
Aos 92'58'' a bola sai para canto. Aí deve permitir que o mesmo seja executado. Se for marcado golo aos 93'23'', deve ser validado (porque acontece na sequência de uma bola parada que ocorreu antes do tempo final).
Mas se não for marcado golo e ao invés, houver novo canto (por exemplo, aos 93'02''), aí o árbitro já não deve permitir a sua execução (porque ele aconteceu após esgotado o tempo).
Aplica-se a mesma máxima para os pontapés livre.
Não é uma gestão fácil, mas se a percebermos, tudo se torna mais fácil, certo?
Outra evidência que a lei prevê:
Imaginem que o árbitro engana-se na contagem e, em vez de 45m, dá apenas 42m na primeira parte. 
Pior. Imaginem que ele só percebe que errou no balneário, em pleno intervalo.
Aí, obviamente, não pode compensar as equipas, acrescentando esses minutos na 2P. Essa só poderá ter, na mesma, os habituais 45 + eventuais descontos.
Agora a questão dos penaltis a executar após o tempo de jogo estar esgotado:
Neste caso, a lei prevê que a duração do jogo possa ser aumentada até que o pontapé de penálti seja executado (ou mesmo repetido, se for caso disso).
Mas assim que ele termine o seu efeito (ou seja, se for para fora, se for golo, se for defendido pelo GR ou se ressaltar para o terreno após bater no poste ou na barra), o árbitro deve terminar de imediato. Sem direito a recargas ou novas jogadas.
Porquê? Porque considera-se que o pontapé de penálti foi executado em "prorrogação de tempo".
É como se aquela parte já tivesse terminada e só se permitisse apenas aquela execução.
Nestes casos, é de bom tom que o árbitro informe, antes, os capitães que o jogo terminará assim que o penálti termine o seu efeito.
Por último, referir que a lei prevê, de uma forma geral, que qualquer jogo que seja interrompido - em definitivo - antes do seu termo, deve ser repetido na íntegra.
Todavia abre a excepção de que os regulamentos de competições possam prever algo diferente (como o da Liga Portugal que, por exemplo, admite em alguns casos - motivos meteorológicos, por exemplo - que apenas se disputem os minutos em falta).

NOTA - Em Portugal, os jogos dos escalões jovens têm durações diferentes.
Exemplo: Juvenis (40m cada parte);
Iniciados (35m cada parte).
Tudo dito sobre a Lei 7.
Estaremos de volta na próxima 2F, com a oitava das regras do jogo.
Até lá."

"Fora dos relvados joga-se muito mal"

"Futebol mesmo é no relvado, o resto é só conversa... e normalmente com segundas intenções

O campeonato que corre dentro das quatro linhas está a um nível altíssimo no campo da emoção, desde a luta pelo título, passando pelos lugares europeus, até à fuga da despromoção. Tenho visto alguns jogos, não encontro grandes nuances tácticas em relação ao que hoje é o futebol e compreendo muito bem que, pelos objectivos, alguns espectáculos baixem de qualidade, principalmente agora que entrámos na segunda metade da prova e em que os erros começam a ser proibidos e os passos mal medidos passam a ter um peso muito grande na mente dos jogadores, dos treinadores e, no fundo, em toda a estrutura dos clubes. A janela de inverno já fechou e, agora, cada um que vá utilizando as melhores armas rumo a um final feliz.
Valorizo imenso o que se passa no relvado, o que se faz no relvado, em resultado do trabalho que se vai fazendo ao longo da semana. O futebol não é o jogo seguinte, mas sim o jogo de todos os dias, porque quem não olhar para um treino com a mesma concentração com que entra para um jogo vai falhar em algum pormenor, com toda a certeza. O futebol é assim: feito por quem o joga - as tácticas são importantes, mas pouco valem se não houver concentração em cada momento, de treino e de jogo. É isso que exijo sempre aos meus jogadores.
"Este campeonato vai ser resolvido pelos jogadores que têm o prazer de o disputar"
Quem andar no futebol com esta atitude, tem tudo para ser feliz. O futebol também agradece. Já não deve agradecer o que cada vez tem mais espaço fora das quatro linhas. Fala-se muito e joga-se pouco fora do relvado. Num país que é também campeão europeu, joga-se com paixão nos relvados e sem delicadeza fora deles. Nos programas televisivos dedicados ao futebol - ou terei de dizer aos erros, que às vezes nem são, de arbitragem? -, ouve-se um rol de disparates, espaços exaustivos dedicados a tudo menos ao espectáculo. Há até uma completa desfaçatez, quase sem a preocupação de não deixar perceber que estamos em presença não de paineleiros, mas de recadeiros dos clubes. Funcionam, no fundo, como peões de comunicação, como uma extensão daquilo que os responsáveis dos clubes pretendem dizer sem darem a cara. O futebol não ganha com esta falta de responsabilidade, porque ao emitir uma opinião num poderoso meio de comunicação como a televisão, um comentador sabe que vai influenciar espectadores. Muito do ódio ou do hábito que os adeptos têm de dizer mal da arbitragem é muitas vezes forçado pelas opiniões que ouvem de pessoas que, supostamente, deviam estar num canal para defender o futebol e não para o beliscarem. Felizmente que estamos num país livre, que cada um tem a sua opinião e deve dá-la, mas a liberdade é também responsabilidade. Sinceramente, acho que quem assim se comporta nos programas de grande audiência não gosta de futebol, gosta do clube A ou B. Como disse, entendo as estratégias, mas também acredito que, por vezes, estas habilidades saem ao contrário e não chegam onde realmente poderiam fazer mossa, às equipas. Tenho alguns bons exemplos, um deles é o Apito Dourado - todo o aproveitamento que tentaram tirar teve uma consequência: uniu ainda mais a equipa do FC Porto, porque os jogadores, habituados a grandes vitórias, sabiam do seu real valor. Não adianta ir por aí. Este campeonato vai ser resolvido, em cima ou no fundo da tabela, pelos futebolistas que têm o prazer de o disputar. As queixinhas e birrinhas por causa das arbitragens são estratégias que estão há muito ultrapassadas; quem faz esse papel, principalmente nas televisões, só está nessa condição de comentador porque há futebol. Então, tratem bem dele."


PS: Extraordinário, como o discurso Corrupto mudou...!!! Um ex-capitão dos Corruptos, no pasquim mais 'recadeiro' do Tugão, a exigir o fim da controvérsia fora dos relvados... Gostaria de ter lido esta opinião a meio da 1.ª volta...!!!
Agora, a pressão mediática já é um absurdo...
E extraordinário, como o Apito Dourado 'uniu' os injustiçados jogadores dos Corruptos, mas por acaso no ano em que o Apito Dourado foi tornado público, o Benfica foi Campeão...!!!

Treinador: qual a sua identidade e se ela conta no momento da contratação

"A identidade de um treinador é um misto de várias «coisas». Um misto dos seus valores de trabalho, daquilo que gosta de implementar nas suas equipas, o modo como faz o seu trabalho, a sua filosofia de jogo, de ideias e de regras colectivas. Para lá deste conhecimento, a flexibilidade e capacidade de se adaptar a contextos distintos, não apenas na dimensão dos projectos como dos contextos competitivos, exigência e expectativas.
Tal como muitos jogadores falham nas mudanças de um clube para outro clube, não perdendo qualidade técnica, física ou táctica, também muitos treinadores falham no tal salto qualitativo de projecto para projecto. E não acredito que seja «apenas» por falta de conhecimentos para responder às exigências. Muitas vezes falha-se porque a sua filosofia de trabalho e de ideias de jogo estão adaptadas ou totalmente focadas para determinados contextos e o treinador não está disposto ou não consegue transferi-las para outros contextos.
E aí não é apenas o contexto de uma equipa pequena para equipa média ou média para grande. Também pode surgir o inverso. A história está cheia de situações em que treinadores «desaparecem» no momento de mudança. Em que ficam visíveis a incapacidade de adaptação e de ler o «jogo» que se joga fora das quatro linhas. De não compreender a cultura do clube. Dos próprios jogadores que têm modos de funcionamento diferentes.
Estes dados deveriam ser alvo de dois tipos de análises: dos próprios treinadores ao trabalharem questões fundamentais no modo como se posicionam nestas alterações de equipa para equipa; e por parte dos clubes, que na procura de um novo treinador, se foquem para lá daquilo que são as suas ambições desmesuradas de ser tudo e ter o todo.
Acredito que todas as épocas nos darão exemplos positivos e menos positivos desses. Cabe-nos analisar e ir coleccionando dados para podermos perceber que nisto do desporto, não existindo a tal ciência exacta, há coisas que mais vezes correm bem do que mal."

Benfiquismo (CCCLXXVIII)

A tradição de jogar contra os melhores !!!