quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Sou do Benfica e isso me envaidece. Sempre

"A preparação da época foi, por mais que eu próprio o queira negar, displicente e apenas monetarizada.

1. Terminada a fase de grupos da Champions, gostaria de sobre ela e no que ao meu clube diz respeito, nada dizer. Mas seria uma forma fantasiosamente omissa de contornar um pesadelo. Como tal, prefiro encarar o assunto, para reflectindo sobre o mesmo, tirar algumas conclusões tentativamente positivas, ou pelo menos, construtivas. Sim, não há como nega-lo, a campanha europeia 2017/2018 do Benfica terminou, ingloriamente, em 2017. Sem um pinto de glória, mas com um barril de lástima. Assim como precisei de 69 anos para poder ver o meu Benfica tetracampeão nacional, é com a mesma idade que sinto a desilusão e a mágoa de uma passagem europeia tão nula e confrangedora.
Bem sei que o futebol é conhecido pelos altos e baixos ciclos, de que as competições europeias têm tido exemplos em ilustres clubes. Lembro-me do velho Celtic, do Milan, dos clubes holandeses, do Liverpool, etc. Também o Benfica já subiu e desceu na montanha russa da Europa. Momentos de glória, tempos de prestígio e, ainda que menos, fases de penumbra. Mas, como este ano, não houve.
Seis jogos, seis derrotas, um golo marcado, catorze golos consentidos. A única equipa das 32 (ou das 80 se considerarmos também a Liga Europa) que não obteve sequer um ponto, situação infelizmente inédita nas equipas cabeças-de-série. O Benfica que marcou o único golo no primeiro jogo (aos 50 minutos por H. Seferovic), esteve 510 minutos (!) sem marcar mais nenhum golo. Até um desconhecido Qarabag somou pontos...

2. É assim. Nem sempre se podem tirar coelhos da cartola. Chuva no nabal e sol na eira é coisa que, também no futebol, só por milagre. A  preparação da época foi, por mais que eu próprio queira negar, displicente e apenas monetarizada. Boas vendas, sem dúvida, mas a águia acabaria por ficar parcialmente depenada. É que nem oito, nem oitenta. Nem a relativização e passagem para as calendas das questões de estabilidade patrimonial e financeira, nem a retracção qualitativa e súbita de uma equipa tetracampeã. Quando se extrema uma destas partes, o efeito boomerang é, tão-só, uma questão de tempo. Excelentes operações financeiras, mas dizimando o sector onde se costuma começar a ganhar (a defesa, de que os 14 golos europeus são a indelével prova). Aquisições, sobretudo as que resultaram de empréstimos, ineficazes. Pedro Pereira, Hermes, Douglas, na defesa ou Gabriel (qual 'gol'?) à frente, para quê, afinal? Não há todos os anos descobertas como Renato Sanches, Lindelof, Ederson, Gonçalo Guedes, etc.
Num ápice, receitas voaram e engoliram, em parte, as que resultaram de transferências. A saber: 8 milhões por não se chegar aos quartos de final (já nem conto com a qualificação para a Liga Europa), 6 milhões que correspondem a 3 vitórias, se considerarmos que três vitórias em casa estavam completamente ao alcance, receita de bilhetes por menores assistência e por não haver mais jogos, e, sobremaneira, afastamento da vitrina da Europa para os jogadores que assim são desvalorizados ou, pelo menos, não valorizados. A tudo isto acresce a circunstância de o clube, mesmo ganhando o pentacampeonato, perder o lugar de cabeça-de-série na próxima temporada.
Ou seja, tudo somado, arrisco dizer que esta temporada europeia, entre lucros cessantes e danos emergentes, não andará longe dos 30 milhões de euros. Tanto quando os cofres encarnados terão recebido, em termos líquidos, por Ederson e Mitrolgou!

3. Termino este meu desabafo com a consternação do que vi no último jogo com o banal Basileia. Não me refiro ao profissionalismo dos jogadores ou à seriedade com que jogaram. Mas, que diabo, não jogar com o melhor onze num jogo em que, apesar de tudo, se jogava o prestígio do clube (ao menos para evitar abundantes e não dissimuladas alegrias de adversários, pelos recordes negativos atingidos) e também estava em jogo o encaixe de 1,5 milhões. Ou será que este ganho se tornou, subitamente, um pormenor irrelevante para quem a alta folha salarial de técnicos e jogadores precisa deste tipo de réditos? Também não percebi como é que jogaram dois jogadores (Douglas e Gabriel Barbosa, neste caso deixando de fora Jiménez) que, já se sabe, sairão em Janeiro.
Em suma, teria sido oportuno um pedido de desculpas de todos e cada um (do presidente aos jogadores) perante sócios e adeptos que - é bem lembrá-lo - jamais se dispensaram de apoiar a equipa.

4. Por cá, tudo na mesma à espera, à espera das broas natalícias, altura em que o campeonato é interrompido para ressurgir no nevoeiro da primeira quarta-feira de 2018 com um sempre imprevisível Benfica - Sporting. Contra o Estoril, vi um Benfica com o melhor e o menos bom desta época. Veloz no conta-ataque, bom jogo pelos flancos e na subida dos laterais. Mas, algo vulnerável não tanto na própria defesa, mas por causa do buraco no meio-campo por onde as equipas contrárias, avançam com alguma facilidade. O 4x3x3 tem de ser dinâmico. A atacar, como se viu, mas, também, a eliminar as iniciativas de ataque adversário. Confirmar-se Krovinovic como um jogador que, finalmente, pegou de estaca e pode ser decisivo e a (ainda) importância de Luisão no eixo da defesa. Manifestamente, há jogadores que carecem de motivação e que, visto de fora, talvez devessem ser geridos de maneira diferente. Refiro-me a Jiménez, Seferovic e Rafa. E, muito provavelmente, vai gastar-se em Janeiro o que deveria ter sido considerado no Verão, para algumas evidentes situações.

5. Concluo com o meu inabalável benfiquismo, apesar de todas as contrariedades e erros. Eu sou daqueles benfiquistas para quem o Sou do Benfica e isso me envaidece significa passado, presente e futuro. Por isso, espero que a recompensa nesta época seja o pentacampeonato. Estamos na luta, difícil como sempre, com Porto e Sporting bem apetrechados, mas continuo a acreditar. Como continuo a acreditar na política de formação encarnada. No domingo vi o Benfica B - 2, Sporting B - 1 e confirmei que há lá boa pescaria. Por exemplo João Félix, Keaton Parks, Ferro e mais uns tantos.

Contraluz
- Exemplar: Benfica - Sporting em voleibol
Jogo a eliminar, para a Taça de Portugal, com o pavilhão na Luz cheio, emocionante, bem jogado, com (salvo erro) 11 match points para o vencedor Benfica. Um jogo com as duas melhores equipas de Portugal, o campeão Benfica e o bem regressado à modalidade Sporting. Um exemplar desportivismo de jogadores e treinadores.
- Censurável: a narração do Benfica - Barcelona em hóquei em patins na TVI24
Um narrador que gosta tanto do Benfica, como eu de centopeias. Além de gritar em todos os jogos de hóquei em patins, como se o mundo estivesse a desabar, nos jogos do nosso campeonato nem sequer disfarça o anti-benfiquismo. Agora num jogo europeu (Benfica - Barcelona, justamente vencido pelos catalães), o homem ufanava-se e gritava os golos do Barça como se fosse um deles. Além disso, nesta transmissão não se ouvia o público que encheu o pavilhão, talvez para que o narrador fosse mais audível (que nem precisava, obviamente). Na BTV, na mesmíssima transmissão, o som das bancadas era bem audível e empolgante (já agora, parabéns por excelentes 9 anos do ainda jovem canal!).
- Blague: António Costa em Marrocos
disse: «Penso mesmo que Portugal e Marrocos têm a até uma excelente oportunidade para cooperar no futebol, trabalhando para eliminar os outros competidores no Campeonato do Mundo de futebol e continuaram rumo à final». Alto lá, mesmo a política internacional tem limites de bom-senso e razoabilidade. Não sei se Costa vai proximamente a Espanha ou até ao Irão (treinado por um português) e lá repete o mesmo. Ridículo!
- Obrigado: a Júlio César
Grande guarda-redes, grande profissional. Mesmo quando preterido por Ederson e esta época por dois jovens com idade para poderem ser seus filhos, soube ser um atleta solidário e generoso, em vez de intriguista e sectário, como tantas vezes acontece em situações idênticas. E, no mais difícil, saiu com galhardia, dignidade e respeito pelo clube. Será sempre dos nossos!"

Bagão Félix, in A Bola

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