quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O que há ainda a escrever sobre o Benfica, desilusão da Europa

"Perante uma Europa que tem servido de kryptonite, Rui Vitória escolheu o mal menor.

O Benfica é a grande desilusão na Europa.
O campeão português, cabeça de série, marcou um golo, sofreu 16, e não somou qualquer ponto. O grupo, recorde-se, era tão acessível que praticamente obrigava à qualificação primeiro na Champions e depois, e já com um travo a desilusão, para a Liga Europa. Falhou em ambos os objectivos e ao mesmo tempo.
Tenho a certeza de que a Liga dos Campeões acabou para os encarnados na goleada de Basileia. Colocou a nu todas as fragilidades da equipa, ofensivas e defensivas, e encostou Rui Vitória e os jogadores contra a parede: teriam de bater o Manchester United para ter reais hipóteses de qualificação, algo de que nunca estiveram perto.
É o fracasso europeu, sobretudo, que leva o treinador tenta algo de novo, o 4x3x3, que adopta para os jogos seguintes da temporada.
A Europa tem servido de kryptonite, esta temporada, para o Benfica. A primeira derrota da época é vivida na Luz frente ao CSKA, e acumula-a logo depois com o desaire no Bessa para o campeonato e o empate com o Sp. Braga na Taça da Liga. À goleada em Basileia, os encarnados acrescentam um empate na Madeira, perante o Marítimo. Há então um primeiro ensaio do 4x3x3 na recepção à equipa de José Mourinho, mas abandonado nos dois jogos seguintes na Liga, até voltar em Old Trafford e permanecer até hoje.
Os encarnados parecem ter estabilizado no novo esquema, embora os resultados na Europa o não confirmem de todo, com a ressalva de que aí Krovinovic, essencial para uma boa execução ofensiva, não esteve disponível.
Rui Vitória, parece-me, já perspectivava a mudança táctica ainda na pré-época, quando falou da eventualidade em entrevista, mas só as dificuldades, expostas na Europa e sublinhadas num ou noutro jogo no campeonato, a recuperação de um Krovinovic que chegou lesionado, as dificuldades de afirmação de Filipe Augusto e as intermitências de Pizzi, levaram o técnico a encarar a alteração como inevitável. Sem que o plantel tivesse sido preparado para tal.
O 4x3x3, ao qual também falta trabalho, está muito assente no croata, que não tem substituto no plantel – Chrien e João Carvalho não parecem para já alternativas consistentes, tal como o já referido Filipe Augusto –, o que leva a pensar que até nesta alínea a preparação da temporada foi mal feita. Rui Vitória tinha a sensação de que algo iria acontecer que o levaria a mudar, mas não se preparou condignamente para quando mudasse. Não se trata só de ter mais ou menos um médio, mas também opções que envolvem a profundidade e definição dos extremos, e até a presença dos mesmos e do avançado-centro na área. Ou seja, o Benfica também não está bem preparado para o 4x3x3, embora esteja por chegar o mercado e, apenas com um consumo interno pela frente, o modelo até possa chegar.
O decréscimo de qualidade, conjugado com sectores mais envelhecidos e unidades não tão fiáveis fisicamente, terão estado na origem de tão grande queda na Champions.
Perante este cenário de kryptonite europeia, Rui Vitória terá optado pelo mal menor. Sair sem pontos e debaixo de um mar de decepção que nunca seria afastado por um eventual melhor resultado frente ao Basileia era esse mal menor. Ao colocar um 11 alternativa, não expunha a sua melhor equipa nesta fase a mais um mau resultado e a criar um retrocesso da recuperação do que estará a tentar fazer nas provas nacionais. Entende-se. Se funcionou ou não, só o saberemos dentro de algumas semanas.
O que não se compreende é a resposta desse onze alternativo, incapaz de criar reais situações de golo e de incomodar suficientemente um Basileia disposto a aproveitar todos os erros de transição defensiva dos encarnados e de resposta às bolas paradas – nos dois golos aparece Douglas (não só) na fotografia, e está longe de ser coincidência.
Acredito que Rui Vitória já esqueceu a Europa, e de facto nada fica que tenha valor positivo para ser recordado. O Benfica não teve qualidade suficiente para a competição. No entanto, os erros não ficaram estanques na competição europeia, e valha a pena continuar a olhar para a equação e tentar resolvê-la.

Dortmund, Atletico Madrid, Mónaco e Nápoles, as outras decepções.
Quatro equipas em momentos diferentes, mas a terminar bem aquém das expectativas na Liga dos Campeões.
O Borussia Dortmund arrancou a temporada a todo o gás, sob o comando de Peter Bosz, e também começou por mostrar fragilidades na prova europeia, antes de se deixar contaminar na Bundesliga. Não ganhar um jogo ao APOEL é o espelho de toda a campanha, num grupo com a exigência de ter o campeão europeu em título Real Madrid e um bom Tottenham.
O Atleti também tinha um grupo exigente, logo com Chelsea e Roma, mas também fracassou. Há quatro anos que passava sempre a fase de grupos, com a presença em duas finais (2013-14 e 2015-16), umas meias-finais (2016-17) e uns quartos de final (2014-15), sempre com o rival Real como carrasco, e o afastamento confirma uma certa perda de fulgor da equipa de Diego Simeone, que já vem desde o ano passado.
O Mónaco, campeão francês, tenta reestruturar-se após a sangria no mercado. Saíram muitos jogadores, de todos os sectores, e há muita juventude, o que levará certamente algum tempo a Leonardo Jardim para reequilibrar a equipa. Dificilmente será este ano, perante um super-PSG nas competições internas, mas o técnico provou precisamente há um ano o que era capaz de fazer. Tudo somado, no entanto, o último lugar do Grupo não chega a ter nota suficiente.
Por fim, o Nápoles. Uma equipa com uma ideia de jogo bem trabalhada, com excelente executantes, que não teve qualquer hipótese frente talvez ao melhor conjunto da actualidade, o Manchester City, e ainda teve de lidar um Shakhtar muito forte, sobretudo em casa. Talvez seja das equipas com menos desculpas, mas também aquela que apresenta melhores soluções para recuperar rapidamente do fracasso."

3 comentários:

  1. Partamos as máquinas!
    Quando o fumo e o óleo substituíram o cheiro a bosta e a cavalo nas principais cidades europeias oitocentistas e as máquinas chegaram para substituir o trabalho braçal, os operários partiam as máquinas convencidos de que elas eram responsáveis pelo desemprego surgido. Digamos que em Portugal também há muita gente "desempregada" dos velhos hábitos que começou a partir as "máquinas" simbólicas do futuro do Benfica em construção. Exaltada com as derrotas no futebol de onze - como se o Benfica se reduzisse ao futebol de onze e aos euroganhos na Champions -, essa gente vê o futuro como o anjo do quadro Angelus Novus de Paul Klee via o futuro da modernidade: um montão de ruínas, uma tempestade, um desastre total.
    Ora, quando analisamos este Benfica (Benfica é um processo) temos dois defeitos: o primeiro consiste em reduzir o Benfica ao futebol de onze; o segundo consiste em pretender resultados vitoriosos instantâneos no futebol de onze.
    Muito em particular, benfiquistas exaltados, falsos benfiquistas e capangas das hostes do Puto da Camorra e do Mestre Ubu atacam o futuro formador e universitário do clube cujos trabalhos já começaram. A ideia é esta: deixemos o oneroso futuro formador em paz e ponhamos o Benfica da Liga A com reforços externos de jeito e a ganhar tudo sempre. Não há meio termo: é sempre para sempre com reforços. Por outras palavras: temos a alma na estranja, os bons jogadores só podem estar lá fora. Santos de casa não fazem milagres - eis a filosofia do benfiquismo periférico, de aldeia atraída pelo néon exterior.
    Nesse interim, emocionados, hostis à formação cientificamente conduzida, não somos capazes de ver a actual fase de transição, híbrida, mestiça, em curso: o Benfica está a sair de uma fase da sua história e começou a dar os primeiros passos na outra fase, a fase da modernidade formadora e empresarial. Estamos de tal maneira agarrados a partes da fase antiga que estamos cegos ante o futuro em marcha, futuro que amaldiçoamos com todas as nossas forças como o anjo de Klee. Futuro que contempla em absoluto novos métodos de formação dos futuros atletas e, entre outras modalidades, a do futebol de onze. Futuro que é caro, futuro que exige dinheiro para múltiplos usos, futuro que será cada vez mais mundializante, multinacional. Os desaires que estão a acontecer no futebol de onze - nas outras modalidades nada disso sucede - têm absolutamente a ver com a entrada na nova fase. Os pistons são outros, o carburador é diferente. A pouco e pouco estão a chegar - e continuarão a chegar - à equipa do futebol de onze novas caras, jogadores jovens, novas modalidades de jogo, processo que requer tempo e acertos. Isto é um processo dialéctico, não um estado fixo, não obra apenas de A ou B. Desaires hoje, vitórias reforçadas amanhã.
    Raivosos, sedentos de agressão, investimos contra LFV, contra RV, contra o que alguns chamam depreciativamente "superestrutura", queremos linchamentos imediatos, cabeças penduradas, a catarse das coisas cheias de sangue.
    Mas o que verdadeiramente sabem os benfiquistas dos processo em curso no clube? O que verdadeiramente sabem sobre a modernização em curso? O que verdadeiramente sabem sobre a modernidade nas outras modalidades? Quando deixarão os benfiquistas de reduzir o clube ao futebol de onze imediato, ao futebol de onze sopa de pacote, ao futebol de onze pronto a servir com reforços pagos a peso de ouro?
    Quando abandonarão o benfiquismo medievo, o benfiquismo chorão, o benfiquismo das vísceras, o benfiquismo do presente, o benfiquismo-Cro-Magnon?
    https://oubenficaouracha.blogspot.com/2017/12/partamos-as-maquinas.html

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  2. Partamos as máquinas!
    Quando o fumo e o óleo substituíram o cheiro a bosta e a cavalo nas principais cidades europeias oitocentistas e as máquinas chegaram para substituir o trabalho braçal, os operários partiam as máquinas convencidos de que elas eram responsáveis pelo desemprego surgido. Digamos que em Portugal também há muita gente "desempregada" dos velhos hábitos que começou a partir as "máquinas" simbólicas do futuro do Benfica em construção. Exaltada com as derrotas no futebol de onze - como se o Benfica se reduzisse ao futebol de onze e aos euroganhos na Champions -, essa gente vê o futuro como o anjo do quadro Angelus Novus de Paul Klee via o futuro da modernidade: um montão de ruínas, uma tempestade, um desastre total.
    Ora, quando analisamos este Benfica (Benfica é um processo) temos dois defeitos: o primeiro consiste em reduzir o Benfica ao futebol de onze; o segundo consiste em pretender resultados vitoriosos instantâneos no futebol de onze.
    Muito em particular, benfiquistas exaltados, falsos benfiquistas e capangas das hostes do Puto da Camorra e do Mestre Ubu atacam o futuro formador e universitário do clube cujos trabalhos já começaram. A ideia é esta: deixemos o oneroso futuro formador em paz e ponhamos o Benfica da Liga A com reforços externos de jeito e a ganhar tudo sempre. Não há meio termo: é sempre para sempre com reforços. Por outras palavras: temos a alma na estranja, os bons jogadores só podem estar lá fora. Santos de casa não fazem milagres - eis a filosofia do benfiquismo periférico, de aldeia atraída pelo néon exterior.
    Nesse interim, emocionados, hostis à formação cientificamente conduzida, não somos capazes de ver a actual fase de transição, híbrida, mestiça, em curso: o Benfica está a sair de uma fase da sua história e começou a dar os primeiros passos na outra fase, a fase da modernidade formadora e empresarial. Estamos de tal maneira agarrados a partes da fase antiga que estamos cegos ante o futuro em marcha, futuro que amaldiçoamos com todas as nossas forças como o anjo de Klee. Futuro que contempla em absoluto novos métodos de formação dos futuros atletas e, entre outras modalidades, a do futebol de onze. Futuro que é caro, futuro que exige dinheiro para múltiplos usos, futuro que será cada vez mais mundializante, multinacional. Os desaires que estão a acontecer no futebol de onze - nas outras modalidades nada disso sucede - têm absolutamente a ver com a entrada na nova fase. Os pistons são outros, o carburador é diferente. A pouco e pouco estão a chegar - e continuarão a chegar - à equipa do futebol de onze novas caras, jogadores jovens, novas modalidades de jogo, processo que requer tempo e acertos. Isto é um processo dialéctico, não um estado fixo, não obra apenas de A ou B. Desaires hoje, vitórias reforçadas amanhã.
    Raivosos, sedentos de agressão, investimos contra LFV, contra RV, contra o que alguns chamam depreciativamente "superestrutura", queremos linchamentos imediatos, cabeças penduradas, a catarse das coisas cheias de sangue.
    Mas o que verdadeiramente sabem os benfiquistas dos processo em curso no clube? O que verdadeiramente sabem sobre a modernização em curso? O que verdadeiramente sabem sobre a modernidade nas outras modalidades? Quando deixarão os benfiquistas de reduzir o clube ao futebol de onze imediato, ao futebol de onze sopa de pacote, ao futebol de onze pronto a servir com reforços pagos a peso de ouro?
    Quando abandonarão o benfiquismo medievo, o benfiquismo chorão, o benfiquismo das vísceras, o benfiquismo do presente, o benfiquismo-Cro-Magnon?
    https://oubenficaouracha.blogspot.com/2017/12/partamos-as-maquinas.html

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    1. Eu percebo que o Sr ama verdadeiramente o Benfica e o defende inapelavelmente, em qualquer circunstância. Respeito e admiro essa posição. Mas porra!!! É-lhe indiferente a paupérrima capacidade que a nossa equipa de honra demonstra para jogar futebol? É-lhe indiferente que a nossa equipa, no Pote 1 da Champions, termine a fase de grupos com 0 (zero) pontos, 6 derrotas, em 6 possiveis, 1 golo marcado e 14 sofridos? Eu também sou do Benfica, não sei se sou mais ou menos que o Sr, mas não escondo a cabeça na areia, digo umas larachas sobre o brunalgas ou o clube do funcionário do ano e finjo que está tudo bem. Há que ter noção da realidade: num grupo da mais importante competição de clubes do Mundo, em que nos tocou CSKA e Basileia, terminar com 0 pontos e 14 golos encaixados (7 do Basileia) é um autêntico enxovalho!!!

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