quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Krovinovic benzeu o 4x3x3

"Mais do que deslindar se a goleada imposta ao desenxabido Tondela serviu mesmo para o Benfica exorcizar, de forma duradoura, as suas abentesmas, o jogo na Beira Alta certificou duas evidências: a equipa benfiquista está mais aglutinada, dinâmica e competente desde que mudou de sistema táctico, mas esse upgrade só se tornou verdadeiramente lucrativo quando Krovinovic entrou na equipa para ocupar um dos vértices mais subidos do triângulo no meio campo. Por falta de inscrição, o jovem (22 anos) croata não esteve disponível para a Champions (já estava recuperado da operação à hérnia inguinal, mas Rui Vitória optou por inscrever Svilar, por, naquela altura, não estar suficientemente esclarecida a gravidade da enésima lesão de Júlio César), o que levou a que as primeiras experiências com o novo figurino integrassem jogadores tão distintos como Felipe Augusto, Samaris e até João Carvalho como interiores, que só serviram para atestar que não existe uma maneira certa de fazer uma coisa errada. E o refinamento da aposta só verdadeiramente se iniciou quando Krovinovic se estabilizou como médio interior no importante triunfo em Guimarães, no início de Novembro. Daí para cá, na liga interna, o Benfica goleou o V. Setúbal (6-0), empatou a zero no Dragão, bateu o Estoril (3-1) e pulverizou o Tondela (5-1), o que não deixa de ser um saldo muito estimável. A verdade é que, quando a bola está nos pés do croata, o adepto pode desviar o olhar para a frente, para os que fazem as diagonais, tentando adivinhar a carambola. Krovinovic é dos que gostam e sabem cozinhar o jogo. É um amotinador nato e, com ele, o Benfica recuperou o toque, as combinações e a partitura, até porque ele faz parte do restrito grupo dos que conseguem transladar grande parte do jogo para a zona do campo onde actuam. Salvaguardando as devidas diferenças, descobre-se nele um poucochinho de Modric, o que não deixa de ser pertinente num médio que o Rio Ave vendeu por 3,5 milhões de euros. E os ganhos da sua presença não podem ser vistos apenas em função do que ele produz, porque praticamente todos os seus colegas de equipa beneficiam do seu futebol associativo. Foi também à custa disso, por exemplo, que Pizzi surgiu revigorado de Tondela e acabou como melhor em campo. Mas outros, como Jonas, Salvio e Cervi, também saem beneficiados – e Zivkovic e mesmo Rafa só não o estão a ser porque o seu imenso talento continua a ser desperdiçado de forma difícil de compreender. Vale a pena ainda acrescentar que Fejsa parece mais imperturbável e operativo desde que se assumiu como único pivot de cobertura, sendo mais um dos beneficiados com a mudança de sistema.
Hoje é impossível não dar agora razão a Rui Vitória quando ele diz que o Benfica, em Tondela, mostrou estar a melhorar os seus processos e aplicou quase tudo o que o 4x3x3 exige. Eu até diria mais: se tivesse jogado sempre assim, ninguém teria arriscado dizer (e eu fui um deles) que lhe faltava processo, qualidade de jogo e era demasiado dependente do individual. Claro que ainda está por esclarecer se a melhoria aconteceu apenas por o 4x3x3 permitir, logo à partida, uma ocupação mais racional do campo, ou se, por outro, a equipa beneficia de o técnico benfiquista ser mais hábil e experimentado a trabalhar este sistema do que o 4x4x2 clássico herdado. Mas aquele que perde é quem normalmente encontra novos caminhos e, hoje, o Benfica tem muito dos méritos reclamados pelo seu treinador: dinâmica, automatismos, capacidade de variar o centro de jogo e de encurtar os espaços, reacção à perda e presença na área (que ajudou aos elevados níveis de eficácia).
Mas Rui Vitória, empanturrado pela goleada em Tondela, não se conteve e chegou a falar em perfeição e exibição de gala. É legítima a sua vontade de criar uma onda positiva, mas tanta exaltação resultou hiperbólica se atendermos às fragilidades gritantes do Tondela de Pepa. Levando em conta a imensa qualidade do Rio Ave, até acabou por ser mais marcante o que o Benfica foi capaz de fazer em Vila do Conde nos primeiros 45 minutos. Acabou eliminado da Taça de Portugal, é certo, mas na primeira parte conseguiu reduzir o garboso adversário como ninguém o havia feito até agora. Mas esse jogo, tendo sido ingrato e desafortunado para o Benfica, também serviu para confirmar que Miguel Cardoso nunca abdica da sua ideia de jogo (e era muito tentador, naqueles instantes finais, lançar mais um central e/ou baixar as linhas quando o Benfica atacava a profundidade com um farto exército ofensivo). Ao invés, o Benfica pode queixar-se de o Rio Ave ter dado a volta à desvantagem sem ter feito o suficiente para o justificar, mas também terá de fazer mea-culpa por não ter acreditado e respeitado o seu novo ideário até ao fim. Rui Vitória não resistiu a fazer regressar o seu 4x4x2 cada vez mais cristalizado e a lesão de Luisão só serviu para acentuar um cataclismo que soou a castigo divino. Mais do que isso, deixou a dúvida se o técnico acredita mesmo no novo caminho ou se só o mudou por ter perdido azimute…

Cinco estrelas -- Madrid reinventa-se
O Real tem esta rara qualidade de se reinventar: mantém-se campeão do mundo e não perde uma final internacional desde 2000. Em 23 meses, Zidane ganhou 8 títulos (em 10 possíveis). E Modric consagrou-se e é o melhor centrocampista do planeta. Só falta pagar (mais) a Ronaldo.

Quatro estrelas -- Kaká, o craque rico
Kaká fugia ao estereótipo de craque pobre e leigo, mas marcou uma época, principalmente quando (2007) se tornou o melhor do planeta e venceu a Champions por um Milan que tinha Maldini, Pirlo, Seedorf e Ancelotti. Despediu-se dos relvados aos 35 anos.

Três estrelas -- G15 já rende
O cada vez mais G15 (V. Guimarães e Moreirense aderiram) já terá valido a pena se conseguir cumprir a promessa de conter a apenas um o número de jogadores que FC Porto, Sporting e Benfica podem ceder a cada primodivisionário, num máximo de seis.

Duas estrelas -- O chicote de Gattuso
Depois da contundente derrota ante o Verona, o Milan cancelou o tradicional jantar de Natal e vai manter-se em regime de concentração por tempo indeterminado, indícios de que o inenarrável Genaro Gattuso acredita poder resolver a crise com o chicote.
(...)"

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