sábado, 9 de dezembro de 2017

Espiões

"Os Golden Stade Warriors, campeões da NBA, estão acusados por uma adepta, Latisha Satchell, de espionagem por aplicação de telemóvel capaz de gravar conversas pelo microfone dos aparelhos. A defesa do franchise admite que usa software com recurso a sinais sónicos que detectam o posicionamento do adepto no pavilhão e age em conformidade, não obstante apenas para fins comerciais. Acontece que, pelo meio, o software arrecada conversas. É a tecnologia a misturar-se connosco. Faz parte. Geralmente começa pelo EUA, na Califórnia... Daí os Warriors.
Duas considerações primeiro, valorizamos de forma ainda quimérica a nossa intimidade, crendo que onde estamos, o que compramos ou que temos sã zonas de privacidade. Há muito que não são. Segundo, ainda quando cientes deste dano no espaço íntimo, esta ideia de cedência prossegue perturbadora por pensarmos que do outro lado da recolha de informação estão pessoas, quando quem a receciona numa app como a dos Warriors não é um senhor numa mesa, é uma máquina que analisa formas de nos vencer, de nos levar a consumir.
Kenneth Cuckier, autor do livro Big Data, explica-o numa TED Talk: «Nos anos 50, um cientista de computação da IBM, Arthur Samuel, fez um programa para jogar damas. Ele ganhava sempre porque o computador só sabia regras. Então, criou subprograma pelo qual a máquina calculava a probabilidade de determinada disposição do tabuleiro conduzir à vitória. Samuel deixou o computador jogar sozinho para acumular informação e, quando voltou a defrontá-lo, nunca mais venceu. Criara uma máquina que aprende e que ultrapassa a capacidade do criador». 70 anos depois, ainda olhamos para as máquinas como humanos que, ao saber sobre nós, nos apoquentem como num sonho de nudez. Mas são máquinas. E olham para nós como máquinas. Não tenhamos medo da tecnologia, tenhamos medo de nós."

Miguel Cardoso Pereira, in A Bola

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