quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

É a hora de Vieira

"Se Rui Vitória sente dificuldade em indicar aos jogadores a caminho para alcançar o objectivo supremo, alguém terá de fazê-lo

Pausa nas competições do futebol e, deseja-se, também na barulho patrocinado por insignes figuras da classe dirigente e por não menos notáveis especialistas da área da comunicação.
A poucos dias de mudar o ano e com o Campeonato a duas jornadas da sua metade, na frente da classificação estão os candidatos do costume. O FC Porto é primeiro, por ter marcado mais golos e sofrido menos, mas vês o Sporting colado na sua roda com igual número de pontos. Logo atrás, perfila-se o Benfica, tetracampeão, com desempenhos inconstantes que já provocaram a exibição de lenços brancos por parte de franjas mais irritadas de adeptos. No entanto, olha-se para a tabela e verifica-se que o atraso da águia para dragão e leão é de três pontos, diferença insignificante em competição de 34 jornadas disputadas entre Agosto de um ano e Maio do seguinte, pelo que, apesar dos percalços dos encarnados, se mantém viva a discussão do título a três.
Pode parecer estranho, mas apesar dos muitos reparos que têm sido dirigidos ao trabalho de Rui Vitória, e boa parte deles com fundamento, a verdade é que, mesmo a jogar poucas vezes bem, algumas assim-assim e muitas mal, ainda não deslocou dos rivais, nem se sabe se irá deslocar.
O Benfica já jogou no Dragão e não perdeu, que era o propósito, derivado das circunstâncias, mas no momento presente, depois de vistosa exibição em Tondela, que não passou de oásis no deserto, voltou a enervar a Luz, diante do Portimonense: «Um minuto à Benfica e... todo o resto deprimente», foi com este nítido retrato que o jornalista Nélson Feiteirona titulou a sua crónica em A Bola.

Apesar da depressão ser notória na águia e o duelo com o leão assinalar a entrada no Ano Novo, o treinador encarnado assegura que na luta pelo pentacampeonato é grande a convicção e a determinação, mas como provavelmente lhe escapa a solução para o problema, a terapia aplicada é reflectir, ou prolongar a reflexão que começou no retiro do Seixal, cujos efeitos foram praticamente nulos.
Vitória não precisa de um milagre, mas um empurrãozinho dar-lhe-á jeito, no sentido de devolver o talento e a eficácia que uns perderam a meter na cabeça de outros que um jogo de futebol não é comparável a uma passarela de vaidades: ou há predisposição para meter o pé, correr e lutar com mais força do que os adversários ou, então, se calhar, devem mudar de clube ou de profissão.
Para tentar aliviar a pressão no Benfica aproveitou-se a quadra festiva. Foi toda a gente de férias. Sábia medida, quando se começa a caminhar em circuito redondo e as ideias se esfumam o melhor é parar para pensar. Quase uma semana para espairecer e recuperar ânimo porque importa não desaproveitar a oportunidade que resta ao clube, o Campeonato, a conquista do almejado penta, entendendo eu que ainda há tempo para embrulhar os muitos disparates ditos e feitos, a começar por uma pré-época sem nexo, e fazer coincidir a mudança do ano com mudança de atitude da equipa, à qual se deve exigir que deixe de ser intermitentemente ganhadora para passar a ser continuadamente vencedora.

Não adianta chorar sobre o leite derramado, principalmente sobre o inimaginável descalabro europeu que julgo não ter merecido de Rui Vitória a atenção devida. Foi grave, muito grave, ao pretender justificá-lo como se de um percalço vulgar se tratasse. Foi um lapso comunicacional grosseiro, até de algum desrespeito pela massa adepta. Não o fez por mal, mas neste percurso aos solavancos o próprio treinador, além de embaraçado, ficou prisioneiro do último resultado: se é negativo, diz que é a vida; se é positivo, afirma que a fase é boa.
É pois nesta altura pouco tranquila e a reclamar urgentes respostas que presidente e treinador benfiquistas reflectem, distantes um do outro. Mas, sinceramente, reflectir sobre quê? A meio da época decide-se a avaliam-se responsabilidades. Se há um ano, segundo Vitória, a culpa era de períodos atípicos, agora é de desequilíbrios mentais, o que me leva a supor que o plantel necessita mais de um psicólogo do que de um treinador e, meio a brincar, meio a sério, talvez esteja aqui a chave do problema, aliás um pouco à semelhança do que aconteceu em temporadas transactas.
No essencial, o objectivo supremo mantém-se de pé e vai continuar de pé além do dia 3 de Janeiro, quando o Benfica receber o Sporting, em que os limites da diferença pontual entre ambos vão oscilar entre o zero e o seis, podendo até ficar tudo como está.
Com Champions, Liga Europa, Taça de Portugal, Taça da Liga, todas deitadas à rua, irrecusável é o facto do penta ainda se vislumbrar na linha do horizonte e se Rui Vitória sente dificuldade em indicar aos jogadores o caminho para o alcançar, alguém terá de fazê-lo, e esse alguém é Luís Filipe Vieira, o presidente. Tarefa que para ele não esconde segredos. Já a executou antes..."

Fernando Guerra, in A Bola

1 comentário:

  1. Tenho grandes dificuldades em perceber o que se passou com esta organização 10 anos há frente da concorrência !...Até eu que me considero um Leigo percebi que o Benfica ia ficar mais fraco e que não ia Conseguir ir para a Frente dos Seus rivais costumeiros , enfim espero que ponham as Rodas nos carris senão este Ano já Era !...

    ResponderEliminar

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!