quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Clássico q.b.

"O Benfica está na luta e, só de pensar nisso, a coligação fica em estado de permanente sudação

1. Interessante, sem ser deslumbrante, o clássico do Dia da Restauração. Se tivesse havido um vencedor, manda a isenção dizer que teria sido o FC Porto. Jogando no seu ambiente, fez, na segunda parte, as despesas da casa e teve mais oportunidades de golo. Há algumas semanas, essa vitória teria acontecido naturalmente, mas agora, houve um Porto já um pouco menos incisivo do que antes e um Benfica mais pragmático e esclarecido do que entre jogos da Champions.
Também duas jornadas atrás houve muita gente que exultou antecipadamente com um Benfica arredado do título, antes do Natal. Seriam 8 pontos atrás do líder e a 6 pontos do Sporting. A coligação anti SLB é de tal monta que se compraz com o sonho das antevisões garantidas. Jornalistas e opinadores encartados também não quiseram ficar atrás, quais gestores de agência funerária sempre solícitos para passar a certidão de óbito. Mas, independentemente do que se possa ainda passar nas 21 jornadas por realizar, nada disso aconteceu. O Benfica está na luta e, só de pensar nisso, a coligação fica em estado de permanente sudação.

2. Quanto ao jogo visto através da SportTV, começo por esta, para destacar, em primeiro lugar, um lobo que fica amansado sempre que comenta ao pé de um dragão. Um dia hei-de contar as vezes que o comentador emprega a palavra 'grande' para expressar o seu espanto perante a maravilha do dragão. Grande jogada, grande jogador, grande cruzamento, grande movimento, grande equipa, grande remate, grande superioridade, grande defesa, grande corte, grande vontade, grande passe, grande desmarcação, grande Brahimi, grande Danilo, grande Marega (até falhar), grande Aboubakar, grande Herrera, grande Alex Telles, grande Felipe, grande Marcano, grande José Sá, grande Ricardo, grande Sérgio Oliveira, grande... Já quando ao relator, fico intrigado para saber a razão por que nem uma palavra disso sobre o abalroamento de Jonas por Felipe.

3. Ora, por falar, neste lance, importa analisar a arbitragem do jogo. Ambas as equipas têm razões de queixa. Não foi uma noite feliz de um bom árbitro, como é o portuense Jorge Sousa. O caso mais falado foi o de um erro claro e uma deslocação de Aboubakar precipitadamente assinalada que, além do mais, impediu o VAR de corrigir o fora-de-jogo mal assinalado num segundo remate que teria dado um golo aos portistas. Sobre este lance, duas notas: a primeira, sobre a qual já aqui escrevi a propósito de um offside mal assinalado ao Braga (em Alvalade) e que impediu a validação de um golo limpo, e que tem a ver com a precipitação em não deixar prosseguir a jogada que depois poderá será validada ou invalidada pelo VAR; a segunda, pouco destacada, foi a circunstância de Bruno Varela ter feito uma defesa notável e, deste modo, ter dado tempo para a errada falta ter sido assinalada. Ou seja, caso a bola entrasse, não estou seguro se Jorge Sousa teria tido tempo para apitar antes.

4. Já quando ao pretendido penálti de Luisão, malgrado o modo pouco ortodoxo como o central benfiquista se fez ao lance, estamos na presença de uma situação passível de dupla interpretação, como é cada vez mais frequente em casos semelhantes no futebol. Não tendo havido outros ângulos de transmissão (tal como sucede com o árbitro), fiquei com a sensação que a bola bate no braço colado ao corpo e que o movimento do braço junto ao corpo foi apenas levando a mão às costas. Mas, reconheço, sem dificuldade que é lance de 50%, 50%. Esta jogada aumenta, em mim, que bolas no braço, braço na bola, braço com aumento de área de intervenção milimétrica ou não são cada vez mais perto de subjectividade e discricionaridade, sem que se entenda, afinal, qual é a norma justa e indiscutível. Um critério adequado é o de julgar este tipo de possíveis infracções na grande área como são julgados no resto do campo, onde é raro haver celeuma.

5. Por fim, um lance que poderia ser mais decisivo. Aos 11 minutos o jogador do FCP Felipe, useiro e vezeiro, em cargas para atemorizar os pontas-de-lança, agride (não há outro termo), por trás e sem bola, o benfiquismo Jonas. Ainda que assinalada a falta, nenhum cartão lhe foi exibido. O árbitro, pressentido a delicada fronteira entre mostrar um cartão vermelho ou amarelo, optou manhosamente por os guardar no bolso. Acontece que a impunidade do defesa portista é já uma marca desta época. Basta recordar o jogo contra o Belenenses e uma sequência de graves faltas no jogo contra o Leixões. Não sabemos o que teria acontecido com o Porto reduzido a 10 jogadores com 80 minutos por jogar, mas que se trataria de um forte handicap para os visitantes é uma certeza. Por isso, fazer uma análise de arbitragem numa lógica de soma de erros independentemente das consequências, no tempo do jogo, de cada um deles não é correcto. Rui Santos disse na SIC que, no fundo, o FCP foi mais prejudicado porque, segundo ele, houve três erros graves contra os portistas e só um erro prejudicando o SLB. É uma apreciação aritmética que, neste caso, esquece a magnitude de cada uma delas e a sua precedência. E quando o treinador do FCP fala de erros de arbitragem ficar-lhe-ia bem não omitir este momento para, no fim e ridiculamente, falar no resultado para si justo de 5-1!
Já agora, fico na expectativa de saber qual o tratamento da dita Comissão de Instrutores da Liga quando à instauração de um procedimento por flagrante delito a Felipe. Pelo que é possível comparar, não é diferente do caso de Eliseu no jogo contra o Belenenses em que, por iniciativa daquela Comissão, o processo aberto levou a que o benfiquismo tivesse sido castigado.
Ainda quando a castigos, nada a dizer ao duplo amarelo a Zivkovic que foi, no mínimo,pouco profissional e poderia ter prejudicado seriamente a equipa. A este nível, é imperdoável o que o sérvio fez, ainda  que - ironia das regras - os seus amarelos juntos não valham 10% da pantufada, sem cartão, do Felipe.

6. Destaco, em geral, o profissionalismo e controlo das jogadores de ambas as equipas. Isso foi evidente no fim do jogo, o que contrastou com alguns responsáveis do Porto e com o acto irreflectido do director de futebol do Benfica. O costume, aliás. Quanto ao nível exibicional dos atletas, no FCP, Brahimi demonstrou, mais uma vez, a sua enorme classe e Marega, um poço de energia que pôs em sobressalto um, às vezes comprometedor, Grimaldo. Aliás, o maliano evidenciou neste jogo o bom e o mau: veloz, robusto e sem dar por perdida uma jogada, tudo na base do seu esplendor físico-atlético, mas limitado e trapalhão do ponto de vista técnico que lhe fez perder duas ou três boas finalizações. Do lado do Benfica, Bruno Varela foi fantástico e merece (ao contrário do que aqui já havia escrito) a titularidade, Jardel em ascensão física assim desmentido o que, há pouco tempo, li num escrito em A Bola que o considerava um «jogador apto para jogar à sueca» (!). Samaris merece mais tempo de jogo e Krovinovic é um craque, responsável em parte pela melhoria da equipa.

Contraluz
- Absurdo:
Nesta jigajoga do calendário da Liga, eis que foi anunciado o Benfica - Sporting da 16.ª jornada para 3 de Janeiro pelas 21.30 horas, uma quarta-feira de trabalho! É uma falta de respeito pelos adeptos, sobretudo os que querem assistir ao jogo, mas vivem fora de Lisboa. Impensável.
- Exemplo !: André Iniesta.
Se há jogador que aprecio como atleta de eleição e profissional irrepreensível é este genial médio do Barcelona. Sem adereços tontos, sem vedetismos parvos, sem discussões estéreis e reivindicações gratuitas, Iniesta tem o perfume do futebol puro.
- Exemplo II: Xavi Hermández.
Por falar em Iniesta, não posso dissocia-lo da sociedade que Xavi com ele fez durante muitos anos no Barça. Dois jogadores ímpares. Dois exemplos para mostrar às novas gerações que ainda é possível estar com total limpidez e serenidade no futebol.
- Exemplos III: Conferência conjunta dos treinadores do Tondela e Rio Ave.
Pepa e Miguel Cardoso juntos no fim do jogo de sábado. Uma pedrada no meio do charco. Parabéns.
- Pensamento: «O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol...»
Albert Camus (1913-1960)..
Outros tempos."

Bagão Félix, in A Bola

PS: O consócio Bagão desta vez 'falhou'! Algo nada habitual...!!!
A Comissão de Instrutores da Liga, realmente abriu um processo de flagrante delito sobre o Eliseu no Benfica - Belenenses, mas o CD acabou por arquivar o caso, e o Eliseu não foi castigado. Decisão justificada com a existência do VAR...
A mesma Comissão, fez o mesmo ao Samaris, no Benfica - Braga para a Taça da Liga, e como na Taça CTT não existe VAR, o CD acabou por castigar o nosso jogador. Apesar do CJ ter anulado a decisão, e enviado o processo para 'trás'... Tudo isto após o Samaris já ter cumprido o castigo!!!

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!