sábado, 16 de dezembro de 2017

As paredes de uns e outros

"Todas as quedas do Benfica são estrondosas. O que não admira. Tendo em conta que se trata do maior clube português é sempre estrondoso o impacto provocado pelos sucessos e insucessos do popular Benfica. Para chegar a esta conclusão nem sequer é necessário que a FPF emposse uma comissão de investigadores independentes. E sempre se poupa uma comissão ao país, o que só pode ser estimado como uma boa notícia.
Inspirado pela quadra festiva e, principalmente, inspirado pela dupla queda estrondosa do Benfica na Europa e na Taça de Portugal, o presidente do Sporting – para quem desconheça o facto, o Sporting é desde 1906 o rival histórico do Benfica – aproveitou a ocasião de um jantar de Natal da família verde para responder ao presidente do Benfica que, há coisa de um mês, tinha afirmado no decorrer de uma entrevista que o presidente e o treinador do Sporting se davam tão bem que nem se falavam.
Esta insólita afirmação do presidente do Benfica, para muito boa gente desnecessária porque nem no futebol nem na vida real é de bom-tom falar-se em público do que se passa na casa dos outros, foi diplomaticamente ignorada em todas as plataformas da imprensa e até nos fóruns amadores. O que até se compreende que tenha acontecido e mais pelo respeito devido ao trabalho calado de Jorge Jesus, que é o treinador do Sporting, do que pelo estapafúrdio modo de operar de Bruno Carvalho, que é o presidente do Sporting.
Aproveitou, assim, o presidente do Sporting a ocasião do convívio natalício desta semana para, com recurso a uma analogia, desmentir o presidente do Benfica afirmando que, se antes "havia já o tijolo" (ele próprio) mas "faltava o cimento" (o treinador) agora, como "o tijolo mais o cimento juntos dá uma parede de betão", a relação entre ambos só pode ser inquestionável. E será, porque não? 
Questionável é, no entanto, a sua fórmula de betão que resulta da adição de cimento ao tijolo. E vinda espantosamente de alguém como ele que terá ganho a vida nesse exigente ramo profissional antes de se ver eleito dirigente de um clube de futebol, o que, realidade, é ramo profissional bem menos exigente. Alguém que, ainda recentemente, num momento de fastio com as agruras da sua actual vida presidencial afirmou haver "dias" em que até "tem saudades da construção civil". Pode ter, porque não? Mas a construção civil é que não deve ter saudades nenhumas das paredes do presidente do Sporting.
Emparedado por mais de metade dos jogadores do Benfica em campo – Luisão ainda não tinha metido baixa – bastou 1 jogador do Rio Ave, o excelente Rúben Ribeiro, para se aproveitar do mau ordenamento de 6 tijolos dispostos em seu redor e fazer, sem a ajuda de ninguém, com que o murete viesse abaixo. Há edifícios inteiros que ruem por menos."

1 comentário:

  1. Grande Leonor Pinhão!!!

    Prosa do melhor do que há no nosso jornalismo.
    Acutilância, educação, memória, benfiquismo.

    Os adversários devem detestá-la!
    Mas não tanto como nós, benfiquistas, a amamos!

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