"Lá em casa temos um rafeiro de seis meses. Chamamos-lhe Táxi, é de raça indeterminada, uma mistura de várias, pelo preto e aqueles olhos de carneiro mal morto que desmontam qualquer tentativa de ralhete.
O Táxi, como cachorrito que é, está sempre a fazer asneiras. Vocês que têm ou já tiveram cães novinhos sabem do que é que eu estou a falar. Tudo o que apanha a jeito rói. Seja um bocado de madeira, uma bola de ténis ou um par de galochas que fiquem esquecidas na garagem.
À noite, o Táxi deita-se no alpendre, bem aconchegado e lança uns latidos em direcção ao jardim e ao escuro. Sem sair do lugar, como se fosse um treinador de bancada, a mandar postas de pescada e a esperar que essa atitude tenha resultados.
Não tem. Acaba por adormecer sem ir ver o que se passa. Está visto que, para cão de guarda, não está fadado.
Apesar de eu gostar mesmo a sério do bicho, há alturas em que ele me faz lembrar um adepto de um qualquer clube corrupto ou simplesmente um choramingas. Isto sem ofensa para o canito. É que quando a ração está na malga e temos tempo para a brincadeira, ele é o maior lá do quintal. Já quando a coisa aperta e ele é apanhado a fazer alguma asneira, mete o rabo entre as pernas e desaparece da vista. Nem um latido se ouve. Sabe que meteu a pata na poça, seja por ter roído os tubos da rega ou arrancado um lençol do estendal.
É quase como se não tivessem marcado dois penáltis contra a sua equipa ou se tivessem anulado um golo limpo ao adversário. Nem uma mosca se ouve, sempre na tentativa de passar entre os pingos da chuva que teima em chegar a sério.
O que vale é que, nesta comparação, o Táxi fica sempre a ganhar - ainda é carrochinho e vai com certeza aprender a comportar-se."
Ricardo Santos, in O Benfica
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