"Quando estudava jornalismo, há quase 20 anos, um dos temas era a progressiva rotina dos directos televisivos desinteressantes, com repórteres nos locais sem nada a reportar, por incapacidade ou impossibilidade. Recordo aula em que se debateu um plano do Douro, de minutos, só a água a correr, nas horas seguintes à ruína da ponte de Entre-os-Rios. Lastimo, de alguma forma, já não frequentar a universidade para ouvir especialistas sobre assunto de agora: a cobertura do terrorismo. Antes, esta seria mais consensual, pois em bombas da ETA, do IRA ou de uma máfia qualquer, havia alvos identificados, e, mesmo que moralmente pudesse ser fácil escolher lado, jornalisticamente nem havia debate sobre se deveria um tal ataque ser ou não notícia. Mas hoje, a versão mais patológica do terrorismo jihadista, de tão arbitrária nos alvos, já não ataca, então, qualquer lado, agride tudo e nada e, assim, noticiá-la torna-se a execução final do acto: o terror. De qualquer forma, a multiplicidade de meios editoriais e pessoais tornaria, creio, qualquer concertação de não difusão num frustrado esforço. É matéria que, espero, esteja a ser dada nas universidades.
No futebol português, o terrorismo é outro. Os clubes que há vinte anos queriam ser modernos, ser empresas e nisso extraordinariamente se tornaram, voltaram agora a uma comunicação personificada, habitual e descortês. O ordinário é o ordinário. Já se vai, abordando, também, a questão de não noticiar insultos de canais oficiais de clubes, contrariando que os media sejam veículos últimos, mas não menores de recados destruidores. Jornalisticamente, não obstante, parece-me ilusório um dia assim, pois neste lodaçal há lados identificáveis e ignorar as mensagens seria desconsiderar os que atacam e proteger os atacados. Espero, ainda assim, que também isto ande a ser estudado nas universidades."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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