segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O futebol na sociedade portuguesa

"O futebol português apresenta-se básico e imediatista, submetido à ditadura do proletariado cibernético, em pleno primado do populismo.

O último fim de semana, sem surpresas de monta na Taça de Portugal, acabou por ser marcante quanto à guerrilha que continua a minar o futebol português. Da banda do Dragão, assistiu-se à apresentação de um livro que se perfila como lídimo sucessor do Eu, Carolina. E de Alvalade, pela pena de Bruno de Carvalho, surgiram alguns posts que não deixaram ninguém indiferente, essencialmente pela irreversibilidade dos conflitos abertos...
A este nível, o futebol português apresenta-se básico e imediatista, submetido à ditadura do proletariado cibernético, em pleno primado do populismos.
Mas será que é só no futebol que a sociedade portuguesa se revela com estes contornos? Não, o futebol está plenamente inserido num contexto temporal que nivela por baixo, menoriza protagonistas e vive por ditames circunstâncias.
É verdade que, nos últimos tempos, aquilo que no futebol, em termos de conflitualidade, já era mau, piorou exponencialmente, atingindo níveis de insanidade incompatíveis com uma sociedade civilizada. Mas a dimensão dada a outras matérias - e o caso mais recente de desproporção foi o jantar Web Summit no Panteão Nacional - mostra-nos que cada vez mais estamos sujeitos à influência de uma comunicação sem regras que se impõe através de redes alternativas baseadas na falta de critério e na ausência de escrutínio.
O que é que isto tem a ver com o que se verifica, desgraçadamente, no futebol? Tudo! É farinha do mesmo saco, de um populismo acéfalo que se alimenta do imediatismo, dos comentários impreparados e, last but not least, da escassez de jornalismo, numa era em que se confunde essa área nobre da nossa vida com propaganda e dissertação casuística e irresponsável nas redes sociais.
Regressemos ao futebol e a uma ideia de Henrique Calisto, partilhada na última Quinta da Bola: «Não há situações, por piores que sejam, que impeçam as partes desavindas de se sentarem à mesa para a resolução de problemas comuns». Em tese, Calisto tem razão. Na prática, na vigência dos mandatos de Pinto da Costa, Filipe Vieira e Bruno de Carvalho, tenho as mais fundadas dúvidas sobre a sua exequibilidade. A sensação que me fica é de que os clubes estão à beira do abismo e preparados para dar um passo em frente.

Ás
Carlos Pinto
A pouco e pouco o Santa Clara tem vindo a posicionar-se para nova aventura entre os maiores clubes do futebol nacional. A vitória sobre o Desportivo de Chaves, na Taça de Portugal, veio reforçar essa convicção e mostrar que poderá haver, nos Açores, mais cedo do que mais tarde, novo polo descentralizado da I Liga...

Ás
Marco Silva
O Watford regressou às vitórias e às boas exibições, no culminar de uma semana em que o treinador português andou nas bocas do mundo, assediado pelo poderoso Everton, que estava disposto a abrir muito os cordões à bolsa para garantir o seu concurso. Marco continua a protagonizar uma história de sucesso em fronteiras.

Duque
Oreste Vigorito
O presidente do Benevento, da Séria A italiano, fica na história por razões incómodas: o seu clube, ao perder ontem em casa com o Sassuolo, passou a ser o pior de sempre nas maiores Ligas europeias, com 13 derrotas nas 13 primeiras jornadas! Já trocou de treinador, Baroni saiu e De Zerbi entrou, mas nada mudou.

Tapie, caso de estudo na cidade de Marselha
«O que senti quando 50 mil pessoas me incentivaram no Vélodróme? Senti que devo ter feito alguma coisa relevante...»
Bernard Tapie, antigo presidente do Marselha
Bernard Tapie, antigo presidente do Marselha (afundou o clube em casos de corrupção), ministro nos idos de Miterrand e empresário do jet set, está muito doente, um cancro no estômago e esófago obriga-o a luta sem quartel. Deu ontem para entrevista e afirmou que vai encontrando força sobretudo no carinho que sente dos adeptos do OM. É verdade e dá que pensar...

Campeão do Mundo
Pedro Lamy, fazendo equipa com o austríaco Mathias Lauda e o canadiano Paul Dalla Lana, sagrou-se campeão mundial de resistência de 2017, na categoria LM GTE AM, ao vencer as 6 horas do Bahrain. Longe vão os tempos em que Pedro Lamy, agora com 45 anos, fazia um anúncio televisivo em que dizia «tenho cara de miúdo mas já sou muito rodado» e é uma pena que um acidente numa sessão de treinos em Inglaterra lhe tenha cortado uma carreira muito promissora na F1. Mas o talento continua lá, no melhor piloto português de sempre...
Forma directa de passar mensagem
A Itália falhou a qualificação para o Mundial da Rússia e a indignação dos media transalpinos traduziu a frustração de uma sociedade que há 60 anos não vivia tal provação. A manchete do Il Tempo, reproduzida ao lado, é paradigmática, na brutalidade, à medida da desilusão: «Vão mas é trabalhar!»"

José Manuel Delgado, in A Bola

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