quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A boa notícia: O campeonato voltou (a 1.ª jornada do 2.º terço)

"O Benfica chega a esta jornada com os mesmíssimos pontos do ano passado e mais quatro do que há dois anos.

Depois de mais uma jornada europeia de tão má memória para o Benfica, voltou-se a jogar para o Campeonato Nacional. Confesso que, três semanas volvidas, tenho de puxar pela memória para me recordar dos resultados e classificações. Mas, neste campeonato de regime gota-a-gota, e antes que venha nova interrupção natalícia obrigatória por cá, realizou-se a primeira de mais um curto período de três jornadas consecutivas.
Com os resultados alcançados, temos os três candidatos a dependerem deles próprios para serem campeões. Mesmo o Benfica, a quem jornalistas e comentadores já haviam feito o funeral para esta época. Tudo fruto de um desaire relativo do FC Porto nas Aves, onde - diga-se de passagem - a única equipa que merecia ter vencido o jogo foi a de Lito Vidigal. O Sporting venceu num campo difícil, ainda que com alguma felicidade. Já o Benfica cilindrou o Vitória de Setúbal, num jogo bem conseguido e psicologicamente reabilitador. Dirão alguns, que foi fácil demais. O certo é que há uma semana, para a Taça, não foi assim e o Benfica melhorou bastante, sobretudo pelo facto de Pizzi ter voltado aos níveis a que jogou na época passada e Krovinovic ser cada vez mais nuclear no jogo encarnado. Enfim, no campeonato, duas saborosas vitórias de Vitória contra os dois Vitórias (agregado 9-1). E na Luz, seis jogos, seis vitórias, 19 golos marcados e dois sofridos.
Reconheço que a actual classificação e distâncias entre os grandes está agora mais de acordo com a justeza das 12 jornadas já passadas. O FCP merecidamente em primeiro lugar, o Sporting em segundo (com pontos arrancados a ferro, vide V. Setúbal, Estoril e SC Braga em casa, Feirense e Rio Ave fora...) e o Benfica em terceiro, mas a depender apenas de si próprio. Mesmo que em alguns jogos tenha estado abaixo do que seria exigível, o Benfica chega a esta jornada com os mesmíssimos pontos do ano passado e mais quatro do que há dois anos. E, em ambos os casos, foi campeão...
Na sexta-feira joga-se o FC Porto-Benfica. Um teste importante para ambas as equipas, ainda que mais fulcral para o Benfica. Será importante que Rui Vitória estabilize o modelo, a dinâmica e a constituição da equipa. Visto de fora, é difícil entender o ioiô de jogadores que oscilam entre serem titulares e nem sequer se sentarem no banco em jornadas seguidas ou vice-versa. Por outro lado, seria bom perceber por que razão excelentes jogadores como Zivkovic e Cervi andaram postos de lado e tantos jogos e Filipe Augusto é quase sempre preferido face a Samaris.
Como bem escreveu José Manuel Delgado na segunda-feira, bom será que os pirómanos costumeiros não poluam, por antecipação, o que deve ser uma luta leal no relvado entre duas equipas favoritas ao ceptro de campeão. «Metem baixa», referiu. Que médico a conceda, adianto.

Um mistério
Um castigo aplicado a um jogador tem a sua eficácia, facilmente comprovável pela sua ausência num ou mais jogos. Um castigo aplicada a um treinador, embora seja também verificável pela sua ausência no banco, já é menos escrutinável. Quer dizer, não pode orientar directamente a equipa ou estar no balneário antes e no intervalo de um jogo, mas, sobretudo com as novas tecnologias (e em Portugal...) poderá estar em contacto com que o substitui no comando no relvado. Isto, evidentemente, se o castigo for de suspensão, pois, não rato, se limita a umas multinhas esmolares. Por fim, um castigo a um dirigente de um clube, máximo o seu presidente, é um bico-de-obra para se saber onde começa ou acaba a punição. Desde logo, bom seria saber se se aplica ao presidente de um clube ou ao também presidente da administração da SAD de mesmo clube, o que, a ser assim, levará à total ineficácia de qualquer castigo. É a sempre invocada salamização de funções no nosso país, desde logo na politica, com a habitual escapatória de que fulano ou sicrano não está a falar como ministro, mas antes a título partidário, senão mesmo pessoal, em que tudo vale como se a pessoa fosse divisível e de manhã fosse uma, à tarde outra, e à noite uma terceira. Ora, voltando à bola, o presidente castigado pode invocar que está a falar como responsável da SAD umas vezes, ou como presidente do clube, se lhe for mais conveniente. Mas a balbúrdia e contrafacção cada vez mais espúrias de tudo isto têm a ver com os limites da acção de quem é punido. Por exemplo, não pode representar o clube, estar no banco de suplentes, etc., mas poderá opiniar sobre tudo e mais alguma coisa nas redes sociais ou dar entrevistas públicas, ainda que em canais cativos? E, já agora, quem paga a multa pecuniária? O clube ou o dirigente pessoalmente? Admito que não estou de posse de todos os meandros jurídicos desta parafernália sancionatória, mas, vista de fora, estamos diante de uma palhaçada que só descredibiliza quem pune e não é capaz de repor a ordem por que se regem os agentes desportivos. É, por esta e outras razões, que, por cá, tudo é permitido, mesmo o que é proibido. Se tudo isto se passasse no contexto da UEFA ou da FIFA outro galo cantaria. E, assim, alegremente, o rei vai nu ou, na melhor das hipóteses, vestido, mas andrajosamente.

Lisboa, capital do desporto
Uma boa notícia, ainda que pouco falada, talvez ofuscada por não ser regional e politicamente correcta. Lisboa foi escolhida pela ACES Europe como a capital europeia do desporto para 2021, assim batendo a candidatura holandesa de Haia. Outras capitais e cidades como Madrid, Copenhaga, Estocolmo, Milão, Varsóvia, Dublin, Istambul já haviam sido anteriormente escolhidas para anfitrãs desta iniciativa. Em 2017 é Praga que detém este estatuto.
É um justo reconhecimento de uma cidade crescentemente aberta ao desporto e aos desportos. Segundo o município de Lisboa, «223 mil pessoas praticam regularmente actividade física desportiva nas instalações da cidade» apoiando 118 clubes e associações desportivas no ano passado. Está previsto um investimento de 26 milhões de euros em equipamentos desportivos até 2021.
«É uma candidatura que representa o reconhecimento e a consciência da cidade de Lisboa para importância da actividade física e do desporto como factores determinantes na construção da cidade humana, inclusiva, moderna e sustentável», lê-se no site da candidatura agora premiada.
Os meus parabéns aos autarcas de Lisboa e à cidade. E que se aproveite 2021 para se dar um salto qualitativo na promoção do desporto e do desportivismo.

Contraluz
- Palavra: Absurdo
O desrespeito pelo telespectador de novo na BTV. Há semanas foi a interrupção do Benfica - FC Porto em basquetebol com um resultado disputadíssimo a 60 segundos do fim, para transmitir os primeiros momentos de uma conferência de antevisão do futebol. No passado sábado, o mesmo, agora com o disputadíssimo Benfica - ABC em andebol, secundarizado para um liliputiano ecrã lateral onde nada se via para dar primazia a mais uma conferência de futebol igual a tantas outras e que bem poderia esperar mais três ou quatro minutos. Lastimável e pouco adequado ao ecletismo estatutário do SLB.
- Frase: «Em Itália, nada é mais definitivo do que o provisório» (Corriere della Sera, 29/11)
A propósito de o belíssimo Fratelli d'Italia só agora se tornar oficialmente o hino de Itália, passados 71 anos (desde 1946!). Em muitas coisas, que não no hino, somos muito parecidos. Basta recordar os impostos provisórios que se eternizam definitivamente...
- Número I: 101
Os golos alcançados por um fantástico profissional: Jonas. Aos 33 anos de idade, continua a ser um futebolista de eleição e quão decisivo tem sido para o Benfica desde que lá chegou recambiado do Valência!
Parabéns Jonas.
- Número II: 80
A fazer fé no publicado nos media, este é o valor em euros de ingresso para parte dos adeptos benfiquistas no jogo de sexta-feira no Dragão e na arquibancada nascente (os portistas pagam para a mesma zona, 20 euros!). Aqui se cruzam a exploração do sempre invocado futebol para o povo com a esperteza de espremer a carteira de espectadores que transportam o pecado original de serem adversários desportivos. E a Liga a dormir, como de costume..."

Bagão Félix, in A Bola

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