quinta-feira, 19 de outubro de 2017

'Striptease' norueguês

"Sou apologista do progresso, a todos os níveis, mas confesso que às vezes a inovação pode ser assustadora. Refiro-me, neste caso, às técnicas de motivação. Ficámos a saber, esta semana, que o treinador do Valerenga (Noruega), Ronny Della (também ele norueguês), se despiu no balneário, na palestra antes do jogo com o Bann, com o objectivo de motivar os seus jogadores para um jogo muito importante na luta pela manutenção, através da ideia metafórica de que teriam de expor-se em campo. E a verdade é que a equipa ganhou 2-1. Não é possível estabelecer relação de causa/consequência, mas convenhamos que é assustador pensar que pode mesmo ter existido. Pelo sim pelo não, era preferível terem perdido.
Primeiro porque me custa a crer que me vou sentir mais motivado se o chefe de redacção do jornal começar a despir-se durante uma conversa motivacional com todos os jornalistas - aliás, no caso do Valerenga, um dos jogadores admitiu que «não foi algo muito bonito de se ver», algo que subscrevo mesmo sem ter estado presente e sem conhecer a forma física de Ronny Della, pois seguramente que nem um esbelto corpo grego trabalhado ao pormenor tornaria o momento menos embaraçoso.
Em segundo lugar porque se a moda pega um dia destes, antes dos jogos, no íntimo do balneário (se ninguém filmar...) temos Jorge Jesus a fazer a dança do ventre, Sérgio Conceição vestido de licra a fazer acrobacias em cima de um step ou Rui Vitória a cantar o We Are The Champions no karaoke, em tronco nu, para referir apenas o caso dos três grandes.
Sim, eu sei que o mais certo é os jogadores entrarem em campo traumatizados e dormirem mal umas quantas noites (ao invés do desejado efeito de uma adrenalina a rebentar pelas costuras), mas e se a equipa ganhar?!
Termino com uma dúvida que me apoquenta a mente: será que Ronny Della meteu música? Sim, aquela do Joe Cocker..."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

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